1 ADESÃO AO TRATAMENTO NA HIPERTENSÃO E DIABETES MELLITUS E IMPLICAÇÕES À ENFERMAGEM: REVISÃO INTEGRATIVA TREATMENT ADHERENCE IN HYPERTENSION AND DIABETES MELLITUS AND IMPLICATIONS FOR NURSING: AN INTEGRATIVE REVIEW ADHERENCIA AL TRATAMENTO DE LA HIPERTENSIÓN Y DIABETES MELLITUS, IMPLICACIONES PARA ENFERMEIRA: UNA REVISIÓN INTEGRADORA RESUMO: Objetivo: analisar a produção científica sobre as causas para adesão ao tratamento da hipertensão e diabetes mellitus tipo 2 (DM2). Método: revisão integrativa da literatura que buscou responder a seguinte questão: Quais são as principais causas de adesão e não adesão ao tratamento de pacientes com hipertensão e DM2 e suas implicações para as intervenções de enfermagem? As buscas foram realizadas nas bases de dados LILACS e PubMed nos últimos dez anos. Utilizou-se um instrumento que constava referência completa do periódico, descritores, objetivos, método e delineamento, sujeitos do estudo, resultados e conclusões. Resultados: inicialmente encontrou-se 45 artigos, após leitura, resultou em uma amostra de 20 que atenderam aos critérios de inclusão. Conclusões: os fatores de adesão ao tratamento na hipertensão e DM2 são relacionados ao paciente, ao tipo de terapêutica e ao sistema de saúde; os quais se constituem em importantes questões a serem abordadas pelos enfermeiros. Descritores: Adesão à medicação; Cooperação do paciente; Diabetes mellitus; Enfermagem; Hipertensão. ABSTRACT: Aim: to analyze the scientific literature on the causes of adherence to treatment of hypertension and diabetes mellitus type 2 (DM2). Method: integrative literature review that sought to answer the questions: What are the main causes of adherence and non-adherence to treatment of patients with hypertension and DM2 and its implications for nursing interventions? Search were 2 conducted in LILACS and PubMed in the last ten years. We used an instrument that contained complete journal reference, descriptors, objectives, method and design, study subjects, results and conclusions. Results: initially met 45 articles, after reading, resulting in a sample of 20 that met inclusion criteria. Conclusions: adhesion factors to the treatment of hypertension and DM2 are related to the patient, type of treatment and health system, which constitute important issues to be addresses by nurses. Descriptors: Medication adherence; Patient compliance; Diabetes mellitus; Nursing; Hypertension. RESUMEN: Objetivo: analizar la literature sobre la adherencia al tratamiento de la hipertensión y la diabetes mellitus tipo 2 (DM2). Método: revision integradora de la literature que trataron de responder a la pregunta: ¿Cuáles son las principales causas de la adherencia al tratamiento de los pacientes con hipertensión y DM2 y sus implicaciones para la enfermería? Las búsquedas se realizaron en bases de datos LILACS y PubMed en los últimos diez años. Se utilizó un instrumento que contenía referencia de la revista, descriptores, objetivos, método, los sujetos, resultados y conclusiones. Resultados: se encontraron inicialmente 45 artículos, después de la lectura, lo que resulta en una muestra de 20 que cumplían los criterios de inclusión. Conclusiones: los factores de adhesión al tratamiento de la hipertensión y la DM2 están relacionados con el paciente, el tipo de tratamiento y el sistema de salud, que constituyen importantes cuestiones que deben abordarse por enfermeras. Descriptores: Cumplimiento de la medicación; Cooperación del paciente; Diabetes mellitus; Enfermería; Hipertensión. 3 INTRODUÇÃO Entre as doenças crônicas, a hipertensão se destaca como a mais comum e perigosa por ser assintomática até estágios muito evoluídos gerando complicações cardiovasculares.1 Observações clínicas em progresso demonstram ainda um grande risco associativo à hipertensão, que se refere ao diabetes mellitus do tipo 2 (DM2), também uma doença crônica. Acerca deste assunto, a possibilidade de associação das duas doenças é da ordem de 50%, o que requer, na maioria dos casos, o manejo de ambas em um mesmo paciente.2 Essas doenças, considerando-as como fator de risco pela elevação das taxas de morbimortalidade, se tornam ainda mais problemáticas e não controláveis quando a não adesão ao tratamento é incipiente. O gravame da falta de adesão, objeto de estudo deste trabalho, pode colaborar para o aumento dos índices de morbidades.1 Um estudo revelou o ponto de criticidade no que se refere às taxas de adesão aos tratamentos de hipertensão e DM2. Os autores ressaltam que entre 40% e 60% da população não adere aos tratamentos além de que a média mundial não atinge a expectativa de 80% de adesão.3 Frente a isto, identificou-se a necessidade de aprofundar o conhecimento sobre este assunto para subsidiar o cuidado de enfermagem, utilizando-se da literatura disponível e obtendo-se subsídios para implementar intervenções de enfermagem que possam qualificar e reduzir as complicações da hipertensão e DM2. Logo, uma revisão de literatura foi desenvolvida com o objetivo de analisar a produção científica sobre as principais causas de adesão e não adesão ao tratamento por parte de pacientes com hipertensão e diabetes mellitus tipo 2 e suas implicações às intervenções de enfermagem. MÉTODO 4 Esta é uma revisão integrativa da literatura, desenvolvida nas seguintes etapas: estabelecimento da questão de pesquisa, revisão da literatura, categorização dos estudos, avaliação dos estudos, interpretação dos dados e síntese do conhecimento.4 A questão de pesquisa foi: Quais são as principais causas de adesão e não adesão ao tratamento por parte de pacientes com hipertensão e diabetes mellitus tipo 2 e suas implicações para as intervenções de enfermagem? As bases pesquisadas foram a Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e o Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE). Para a coleta dos dados dos artigos utilizou-se um instrumento que constava referência completa do periódico, descritores, objetivos, método, sujeitos, resultados e conclusões. Considerou-se os estudos publicados em português, inglês ou espanhol no período de janeiro de 2005 a abril de 2015. O recorte temporal foi definido tendo-se como base as publicações do Ministério da Saúde em 2006 que versam sobre o papel do enfermeiro em abordar a adesão ao tratamento medicamentoso e não medicamentoso na hipertensão e DM. 5 Os descritores utilizados foram: adesão à medicação, cooperação do paciente, diabetes mellitus, enfermagem e hipertensão, em diferentes combinações. Os critérios de inclusão foram: estudos sobre a adesão aos tratamentos farmacológico e não-farmacológico de pacientes hipertensos e diabéticos (tipo 2) e estar totalmente disponível on line. Foram excluídos estudos qualitativos, baseados em recomendações de guidelines e aqueles que, apesar de aparecerem nas bases de dados, não atendiam aos objetivos deste estudo. A análise crítica dos estudos incluídos foi realizada por dois autores (MCSA e NPB), independentes, seguidos por um consenso entre os avaliadores. A pesquisa inicial resultou em 45 artigos, sendo 30 na base de dados MEDLINE e 10 na LILACS. Após a 5 leitura dos títulos e resumos disponíveis, 37 artigos foram selecionados e lidos na sua íntegra. Destes, 17 foram excluídos, pois não respondiam aos critérios de inclusão do estudo. A amostra final foi constituída de 20 artigos (Figura 1), que foram avaliados, interpretados pelos autores e sintetizados em um banco de dados. Os aspectos éticos foram respeitados, uma vez que todos os autores consultados foram mencionados no texto. MEDLINE Adherence and Treatment and hypertension Factors and Adherence and Hypertension Adherence and Treatment and Type 2 Diabetes Factors and Adherence and Hypertension 10 9 Incluídos Artigos Lilacs 6 Artigos 5 Incluídos MEDLINE 6 Artigos 4 Incluídos Lilacs 3 Artigos 3 Incluídos MEDLINE 9 Artigos 5 Lilacs 1 Artigos 0 Incluído MEDLINE 5 Artigos 4 Incluídos Lilacs 0 Artigos 0 Incluído Incluídos Figura 1 - Seleção dos artigos por agrupamento de descritores nas bases de dados. Canoas, RS, 2015 RESULTADOS E DISCUSSÃO 6 A análise inicial dos 20 artigos foi organizada considerando o método, ano de publicação e periódico. A maioria dos artigos (60,0%) desta revisão são estudos transversais, sendo apenas 25,0% randomizados. Treze (65,0%) artigos foram publicados em periódicos internacionais, destes, doze publicados nos últimos 5 anos (Tabela 1). Tabela 1. Análise dos artigos quanto ao método, ano de publicação e periódico. Metodologia Ano de Periódico publicação brasileiro Retrospectivo 2005-2010 2011-2015 0 0 2005-2010 2011-2015 1 5 2005-2010 2011-2015 0 0 2005-2010 2011-2015 0 1 7 (35,0) Transversal Prospectivo Randomizado Total N (%) Periódico Total de internacional artigos N (%) 2 (10,0) 0 2 12 (60,0) 1 6 1 (5,0) 0 1 5 (25,0) 0 4 13 (65,0) 20 (100) Os estudos consultados foram organizados por autores, fatores que melhoram ou pioram a adesão, tipo de paciente e base de dados consultada. (Quadro 1). N Autores I FerreiraRA, BarretoSM, Giatti L. II Blair Steiner JF, Fatores que melhoram a adesão Aumento da idade e da renda per capita. IV, Não apresentado. Fatores que Tipo de Base de pioram a adesão paciente dados Sexo masculino, Hipertensos residir nas regiões Norte, Nordeste, e hábito de fumar. Hipótese de que Hipertensos etnia (preto, branco e latino) MEDLINE MEDLINE 7 III IV V VI VII VIII IX X XI XII Hanratty R, et al. Vacek JL, Ser jovem. Hunt SL, Shireman T. piora adesão não foi confirmada. Adesão não foi Hipertensos associada com comorbidades, sexo ou raça. Karakurt P, Não apresentado. Esquecimento, Hipertensos Kasikçi M. ignorância da medicação, pobreza, aposentadoria. Alhalaiqa F, Grupos individuais Não apresentado. Hipertensos Kho D, com sessões sobre AH N,et al. adesão. RibeiroAG, Orientação Não apresentado. Hipertensos RibeiroSMR, nutricional. Dias CMGC,et Al. Girotto E, Não consumir Não apresentado. Hipertensos Andrade bebidas alcoólicas, SM, Cabrera idade entre 50 a MAS, et al. 79 anos, consultas regulares ao médico e IAM prévio. Anguloa Maior nível de Menor Hipertensos e MLG, conhecimento da capacidade diabéticos. Urangaa PL, doença e menor cognitiva, Martín y M. número de perda funcional. I, et al. medicações. Klamerus M, Não apresentado. Depressão e Diabéticos e KerrEA, pressão arterial hipertensos Bosworth sistólica elevada. HB, Schmittdiel J, et al. Irvin MR, Não apresentado. Resistência ao Hipertensos Shimbo D, tratamento, Mann DM, mulheres, Reynolds, inatividade, K, et al. sintomas depressivos. Fürthauer Educação em Não apresentado. Diabéticos e J, Flamm M, saúde hipertensos. SönnichsenA . Nataraja N, Idade maior que Não apresentado. Diabéticos e Putnam W, 55 anos, estilo de hipertensos Aarsen KV, vida saudável. MEDLINE MEDLINE MEDLINE MEDLINE MEDLINE MEDLINE MEDLINE MEDLINE MEDLINE MEDLINE 8 XIII XIV XV XVI XVII XVIII XIX XX et al. Crowley MJ, Dieta e exercício. Grubber JM, Olsen MK, et al. BarretoMS, Não apresentado. Reiners AAO, MarconSS. Não apresentado. Hipertensos Farmacoterapia Hipertensos complexa, pouco conhecimento sobre a doença e insatisfação com o serviço de saúde. ao Não apresentado. Hipertensos e Vitor AF, Monteiro FPM, Morais HCC, et al. SantaHelena ET, Nemes MIB, Neto JE. Abstinência etilismo tabagismo. WalkerRJ,S malls BL, HernadezTejada MA, CampbellJA , et al. FariaHTG, SantosMA, Arrelias CCA, et al. Não apresentado. Não apresentado. Classes Hipertensos econômicas C/D/E, início do tratamento há menos de 3 anos e presença de transtorno mental. Má adesão à Diabéticos dieta e à prática de atividade física. Política de Não apresentado. distribuição gratuita de medicamentos, esquema medicamento fácil. BognerHR, Não apresentado Depressão, Morales KH, função, cognitiva VriesHF, diminuída, custo etal. de medicamentos, experiências com efeitos colaterais dos medicamentos. SchroederE Sexo masculino e Não apresentado. B, não ser fumante. HanrattyR, MEDLINE LILACS LILACS LILACS MEDLINE Diabéticos MEDLINE Diabéticos MEDLINE Diabéticos e MEDLINE hipertensos 9 BeatyBL, et al. Quadro 1. Síntese dos estudos incluídos na revisão integrativa segundo fatores que melhoram ou pioram a adesão ao tratamento e sujeitos. MEDLINE e LILACS, 2005 a 2015. IAM- Infarto agudo do miocárdio; HAS – Hipertensão arterial sistêmica. Nesse sentido, na análise do conteúdo dos estudos, constatou-se que os fatores associados à adesão ao tratamento da HAS e diabetes podem ser divididos em: 1) fatores socioeconômicos: quanto maior a renda há melhora nos níveis de adesão em 57%6; 2) fatores demográficos: ser do sexo masculino7, quanto maior a idade, entre 50 a 79 anos6,8-9, porém em outro estudo10 ser jovem melhora a adesão ao tratamento; 3) fatores relacionados ao paciente: não ser etilista ou fumante89,11, ter estilo de vida saudável, o que inclui dieta pobre em sal e gordura 9,12, e prática de atividade física12; ter tido IAM prévio8 e maior nível de conhecimento da doença13; 4) fatores relacionados à terapêutica: grupos de intervenção nutricional14 ou sessões individuais sobre adesão15, menor número13 ou até sete medicações prescritas9, esquema terapêutico fácil16; 5) fatores relacionados ao sistema de saúde: consultas regulares ao médico8, política de distribuição gratuita de medicamentos16 e estratégias de educação em saúde.17 Por outro lado, os estudos também permitem a constatação de fatores que pioram a adesão ao tratamento: 1) fatores socioeconômicos: residir nas regiões norte, nordeste e centro-oeste6, pobreza18, aposentadoria18 e pertencer às classes econômicas C/D/E19; 2) demográficos: sexo masculino6 e mulheres20; 3) fatores relacionados ao paciente: hábito tabágico6, esquecimento, solidão, ignorância da medicação18, diminuição da capacidade cognitiva 21 e mental13, comprometimento funcional e menor número de comorbidades13, depressão20-21-22 e transtorno mental19, resistência ao tratamento e inatividade física 20, conhecimento 10 insatisfatório sobre a doença23 e má adesão à dieta e atividade física 24; 4) relacionados à terapêutica: farmacoterapia complexa23, início do tratamento há menos de três meses19, custo medicamentos21 e experiências prévias com efeitos colaterais21; 5) relacionados ao sistema de saúde: insatisfação com o serviço prestado pelo sistema de saúde.23 Os estudos demonstram que os dados são divergentes quanto ao sexo e idade: não há concordância entre se a adesão é melhor entre os homens e em indivíduos mais jovens.6,8,20 A complexidade da farmacoterapia23 constitui-se em um importante fator para a não adesão ao tratamento medicamentoso pelas questões gerais de acesso, como distribuição precária e precificação 23, ou por oscilações no uso quando da responsabilidade do próprio doente, seja por esquecimento18 ou por horários irregulares.23 No presente estudo ainda verificamos que a hipertensão e diabetes geralmente estão associadas. Do total de estudos incluídos, (25%) dos sujeitos possuem ambas doenças9,13,17,22 o que aumenta a complexidade das medidas e do manejo farmacológico ou não-farmacológico. Nesta senda, o papel da enfermagem ganha relevância por ser uma das pontes entre a comunicação da instituição de saúde com o paciente e família. 25 Um estudo realizado em 200826, enfatiza que os subsídios para enfermagem não atingem o ideal aprofundamento que pudesse conferir mudança de comportamento a cada paciente. Como limitações do estudo pode-se citar a falta de homogeneidade das variáveis selecionadas que dificultaram a detecção e quantificação confiável da adesão medicamentosa ao tratamento da hipertensão e DM2. CONCLUSÃO 11 O presente estudo identificou que os fatores que melhoram e pioram a adesão ao tratamento de pacientes com hipertensão e diabetes são multifatoriais e relacionados às variáveis do próprio paciente, do tratamento em si e do sistema de saúde. Tais fatores direcionam a reflexão sobre as possíveis intervenções de enfermagem que podem melhorar os índices de adesão às medidas terapêuticas e por fim atenuar as complicações destas doenças. Pode-se, portanto, visualizar mudanças, por meio de intervenções de enfermagem que valorizem o ambiente familiar, atividades de grupo, orientações quanto às mudanças de estilo de vida, conhecimento da doença e sobre esquema medicamentoso menos complexo. REFERÊNCIAS 1. Ministério da Saúde (BR). Plano de Ações Estratégicas para o enfrentamento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) no Brasil 2011-2022. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2011. 2. Sociedade Brasileira de Cardiologia. VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão. Arq Bras Cardiol [Internet]. 2010; 95(1 supl.1): 1-51. 3. Barbosa RGB; LIMA Nereida KC. Índices de adesão ao tratamento antihipertensivo no Brasil e no mundo. Rev Bras Hipertens. 2006; 13(1):35-38. 4. Mendes KDS, Silveira RCCP, Galvão CR. 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