Hipertensão: um mal que pode ser evitado Ministério da Saúde desenvolve campanha de prevenção às doenças cardiovasculares Responda rápido: qual foi a última vez que você mediu sua pressão? O Ministério da Saúde quer incentivar os brasileiros que têm mais de 35 anos a transformar em rotina o controle da sua saúde, sobretudo a cardiovascular. Hipertensão é o foco principal da primeira fase do programa Pratique Saúde, do Ministério da Saúde, que será lançado nesta sexta-feira (7 de outubro). Para lembrar às pessoas da importância de fazer atividade física (praticar exercício), manter uma alimentação saudável, controlar o peso e evitar o cigarro, o governo vai fazer uma campanha de informação muito abrangente, veiculada nas principais emissoras de rádio e tv do país, com a publicação de anúncios nos jornais e revistas e por meio de cartazes, material informativo sobre a hipertensão e seus fatores de risco. O Ministério da Saúde levará à população sobre a melhor forma de evitá-los. A campanha também ajudará o Brasil a atingir a meta da Organização Mundial de Saúde que é reduzir em 2% ao ano a incidência de doenças crônicas em todo o mundo durante os próximos 10 anos. Mas, por que é tão importante manter a pressão arterial sob controle? A hipertensão, ou seja, a elevação persistente da pressão a valores iguais ou maiores que 14 por 9, pode danificar diversos órgãos do corpo humano, como cérebro, rins, olhos e, principalmente, coração – não foi à toa que um simpático coraçãozinho foi eleito o garoto-propaganda do programa do governo federal. Muitos nem sonham que têm problemas de pressão. A doença é silenciosa (tem poucos ou nenhum sintoma) e atinge a todos os grupos populacionais. Apesar do componente genético, o que eleva ainda mais o risco de desenvolver pressão alta são os hábitos de vida de uma pessoa e, por isso, a doença pode ser evitada. Além da pressão alta, outros fatores associados podem levar a sérias complicações, sobretudo à doença cardiovascular.Quem consome grandes quantidades de sal, por exemplo, é candidato a ter pressão alta; consumo de cigarro e abuso de consumo de álcool, sobrepeso e obesidade, vida sedentária, aumento do colesterol e diabetes também são fatores de risco, que podem ser evitados. É verdade que a hereditariedade também conta, mas pode ser compensada por rotinas saudáveis. Por isso, o ministério se empenha tanto para fazer com que os brasileiros passem a adotar estilo de vida e hábitos saudáveis O resultado? Para a população, melhor qualidade de vida, bem estar, mais saúde, maior produtividade no trabalho e nas atividades do dia-a-dia. Para o Sistema Único de Saúde (SUS), menos gastos com o tratamento de doenças como infarto agudo no miocárdio, derrames (acidente vascular cerebral), insuficiência renal, insuficiência cardíaca, cegueira definitiva, abortos, entre outros. O descuido com a própria saúde mata 400 mil brasileiros, todos os anos (40% da população). E o Sistema Único de Saúde gasta R$ 11 bilhões por ano em internações e cirurgias (incluindo transplantes) por conta de doenças crônicas não transmissíveis. “O nosso maior desafio é conseguir mudar os hábitos da população em direção a um estilo de vida mais saudável. Sabemos que a informação é o primeiro passo para que isso seja possível”, explica Rosa Sampaio, coordenadora nacional da Política de Atenção à Hipertensão Arterial e ao Diabetes Mellitus, do Ministério da Saúde. “O trabalho de mídia é fundamental. Mas não pode ser um trabalho pontual. O governo deseja fazer com que essa campanha seja permanente – como já acontece com outros programas de sucesso, como aids e doação de órgãos para transplantes”, explica. Uma das maiores preocupações do ministério é esclarecer à população que hipertensão não é “uma doença de homens”. Rosa Sampaio lembra que a pressão alta e suas complicações também são a principal causa de morte entre as mulheres: “Quando não causa a morte, a hipertensão arterial pode levar a outros problemas – como lesões renais, acidente vascular cerebral, doença isquêmica do coração, entre outras que comprometem a qualidade de vida não apenas do paciente, mas de toda a família. Imagine para as crianças o que é perder a mãe ou vê-la parcialmente inválida, por uma doença que pode ser perfeitamente evitada”, afirma. Muita gente também se engana. Pensa que a hipertensão é “doença de velhos”. Nada mais errado. A hipertensão atinge pessoas cada vez mais jovens. Rosa Sampaio afirma que é importante que os pais comecem desde cedo a estimular seus filhos a fazer atividade física ou praticar esportes, não fumar e se alimentar de forma saudável. “É muito mais difícil modificar os hábitos dos adultos. Tudo é mais simples quando as crianças são estimuladas e começam desde cedo a praticar algum tipo de atividade física, como esportes ou qualquer tipo de exercício e alimentar-se de forma saudável”. Sem tratamento – Só no continente americano, a hipertensão ataca cerca de 140 milhões de pessoas. Metade delas desconhece ser portadora da doença. Dos que descobrem que são hipertensos, 30% não realizam o tratamento adequado, por falta de motivação ou recursos. No Brasil, estima-se que 35% da população acima de 40 anos tenham hipertensão. São cerca de 17 milhões de brasileiros. Desses, 75% dependem do Sistema Único de Saúde (SUS). Para atender os portadores da doença, o SUS oferece o Programa Nacional de Atenção a Hipertensão Arterial e Diabetes Mellitus. Ele compreende um conjunto de ações de promoção de saúde, prevenção, diagnóstico e tratamento da hipertensão e suas complicações. O objetivo é reduzir o número de internações, a procura por prontoatendimento, os gastos com tratamentos de complicações, aposentadorias precoces e mortalidade cardiovascular, com a conseqüente melhoria da qualidade de vida dos portadores. As ações do programa são desenvolvidas principalmente por meio da atuação das equipes de Saúde da Família. Para isso, o programa realiza a capacitação dos profissionais de saúde para fazer o diagnóstico precoce, identificar os fatores de risco, prescrever medicamentos adequados e orientar a população para adoção de hábitos saudáveis. Os casos mais graves que não possam ser resolvidos na rede básica são encaminhados aos especialistas da rede pública (localizados nos hospitais ou centros especializados) para um tratamento mais adequado. Este ano, o Ministério da Saúde trabalha na capacitação de mais quatro mil profissionais em todo o país para o atendimento especializado dos hipertensos. Outros 400 instrutores do ministério atuam nos estados para manter os profissionais de saúde atualizados com relação ao atendimento desses pacientes. Medicamentos – A distribuição de medicamentos é outra ação na atenção aos hipertensos. O Ministério da Saúde é responsável pela aquisição e fornecimento aos municípios dos medicamentos hidroclorotiazida 25mg, Captoptil 25mg e Propanolol 40mg. A determinação é da portaria nº 371/GM, de março de 2002, que criou o Programa Nacional de Assistência Farmacêutica para Hipertensão Arterial e o Diabetes Mellitus e o HIPERDIA (sistema informatizado de base nacional que cria o cadastro nacional de diabéticos e/ou hipertensos). Para receber a medicação, o paciente deve ser cadastrado nas unidades básicas de Saúde. Em 2004, foram gastos R$ 56 milhões com a compra dos três medicamentos de hipertensão previstos no programa. A estimativa para este ano é de um gasto de 93,2 milhões. Dados do programa Farmácia Popular revelam que entre os 10 medicamentos mais procurados nas unidades, oito são indicados para pacientes que sofrem de doenças crônicas como hipertensão, diabetes e problemas gástricos. Representam cerca de 80% do total de vendas. Nas Farmácias Populares, a diferença média de preços em relação ao praticado no mercado é de 90%. O objetivo do programa é ampliar a assistência farmacêutica e oferecer à população brasileira mais uma opção de acesso aos medicamentos. É um serviço complementar de assistência à saúde de todos os brasileiros, independentemente do poder aquisitivo do usuário. Não há lucro no fornecimento dos remédios, que são repassados aos usuários a preço de custo. Fatores de Risco – A hipertensão e a maioria das doenças crônicas não transmissíveis têm como principais fatores de risco o sobrepeso e a obesidade e o sedentarismo. Estima-se hoje que cerca de 38 milhões de brasileiros com mais de 20 anos estão acima do peso. Dados de 2003 mostram que o excesso de peso afetava 41,1% dos homens e 40% das mulheres, sendo que, deste grupo, a obesidade atingia 8,9% dos homens e 13,1% das mulheres adultas. Os resultados fazem parte da 2ª etapa da Pesquisa de Orçamentos Familiares 2002-2003 (POF) divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O estudo aponta ainda que o excesso de peso dos brasileiros está relacionado ao aumento do consumo de alimentos industrializados e também pela ingestão de grande quantidade de açúcar e gordura. O sedentarismo é outro fator de risco importante para o desenvolvimento de doenças crônicas. Estudos mostram que a inatividade física é prevalente em mulheres, idosos e pessoas de baixo nível social. Levantamento deste ano da Sociedade Brasileira de Cardiologia afirma que 83% da população é sedentária. A Estratégia Global para Dieta, Atividade Física e Saúde da OMS recomenda pelo menos 30 minutos de atividade moderada, na maioria dos dias de semana, para reduzir os riscos de doenças crônicas. Dicas para controlar a hipertensão . Procure sempre um posto de saúde, de preferência mais próximo da sua casa e peça para medir sua pressão. O procedimento é fácil e rápido. . Apesar da dificuldade, deixe o fumo de lado. Ele é um dos piores vilões para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. . Limite ao máximo o consumo do álcool. . Mantenha seu peso ideal. Não abuse de dietas milagrosas. Um médico ou um nutricionista pode ajudar você nessa tarefa. . Pratique atividades físicas regularmente, mas antes converse com um médico. . Dê preferência às carnes brancas e evite os alimentos ricos em gorduras, que têm grande quantidade de colesterol. . Diminua o sal dos alimentos – tire o saleiro da mesa e abuse de ervas frescas na hora de temperar seus pratos favoritos: manjericão, orégano, salsa, coentro e muitos outros... Experimente misturar frutas nas refeições. É delicioso e aumenta o consumo de fibras. . Administre seu estresse e tente encarar a vida positivamente – o seu estado emocional influencia diretamente em sua pressão. Se não conseguir fazer isso sozinho, procure um profissional habilitado que o ajude.