GRUPO 6.2 MÓDULO 12 Índice 1. Filosofia: Reflexões Sobre Comunicação e Marketing...... 3 1.1. O Uso da Linguagem .................................................... 3 2 Grupo 6.2 - Módulo 12 1. FILOSOFIA: REFLEXÕES SOBRE COMUNICAÇÃO E MARKETING 1.1. O USO DA LINGUAGEM Falar é próprio dos seres humanos, já que os animais não falam. Aristóteles, ao afirmar em sua Política que o homem é um animal político, sustenta sua tese no pressuposto que o homem é o único que possui linguagem, enquanto os animais apenas expressam dor ou prazer por meio de sons. E por que a linguagem é importante? Segundo o filósofo Ernst Cassirer1, o uso e o entendimento da linguagem possibilitam o verdadeiro “Abre-te Sésamo” que permite a entrada no mundo da cultura humana e o seu desenvolvimento. A linguagem é composta por um sistema de signos. O que é um sistema? O que são signos? Um sistema é um conjunto de elementos organizados; neste caso, os elementos são os signos. Os signos são elementos que designam outros elementos. Por exemplo, a palavra árvore está no lugar do objeto árvore, o número 3 está no lugar da quantidade real de três coisas e assim por diante. Cassirer afirma, em seu Ensaio sobre o Homem, que é fundamental fazer uma distinção entre sinais e símbolos para se ter uma melhor clareza do problema. Ele expõe que os animais são suscetíveis a identificar sinais, como tom de voz, expressões do rosto humano, gestos etc. e também podem ser condicionados a vários tipos de sinais, como mostrou Pavlov em suas várias experiências. Conforme Cassirer, todas essas atividades denominadas de reflexo condicionado estão não só distantes, como até mesmo do lado oposto, ao caráter fundamental do simbolismo humano. O filósofo esclarece que as várias experiências feitas com animais superiores demonstraram que algumas reações não são meros acasos, mas envolvem um tipo de compreensão e solução criativa. Mesmo nesses casos, a inteligência animal ainda se distancia muito da inteligência propriamente humana, já que ela fica limitada à experiência momentânea, não ocorrendo um progressivo desenvolvimento. Cassirer busca fundamentar sua tese do homem como animal symbolicum, argumentando que só o ser humano atinge o estágio de uma linguagem proposicional, enquanto mesmo os animais mais evoluídos atingem apenas uma linguagem emocional e uma inteligência prática, susceptíveis de aprender a identificar sinais por reflexos condicionados, o que os coloca muito distantes de uma linguagem simbólica. “Em resumo, podemos dizer que o animal possui uma imaginação e uma inteligência práticas, enquanto apenas o homem desenvolveu uma nova forma: uma imaginação e uma inteligência simbólicas” (1994, p. 60). A transição de uma forma para outra fica evidente no desenvolvimento humano, mas nos animais tal processo não ocorre. Cassirer cita o caso especial de Helen Keller, que mesmo tendo nascida cega, surda e muda, conseguiu, por meio dos esforços da sua professora, Mrs. Sullivan, compreender o sentido simbólico da linguagem e adentrar no mundo humano do significado. E, mesmo no caso de Helen Keller, o fato de usar sinais CASSIRER, Ernst. Ensaio sobre o Homem: introdução a uma filosofia da cultura humana. Trad. Tomas Rosa Bueno. São Paulo: Martins Fontes, 1994. 1 3 Grupo 6.2 - Módulo 12 tácteis no lugar dos vocais não prejudica a continuidade de desenvolvimento do seu pensamento simbólico (Cf. 1994, p. 63). Para Cassirer, só o homem desenvolve por si mesmo uma linguagem e uma inteligência simbólica, sem o simbolismo ficaríamos presos às necessidades biológicas e situações concretas. Dessa forma, a questão sobre o que é o homem e qual sua diferença mais primária e específica em relação aos outros seres ganha novo enfoque. Daí que, para Cassirer, é mais adequado definir o ser humano como um animal symbolicum, ao invés de animal racional ou mesmo animal político ou construtor. Na verdade, essas definições não são excludentes ou contraditórias, mas a definição de Cassirer enfoca uma característica mais primária no ser humano: criar símbolos. E esse fato que está na base é a condição de possibilidade para o desenvolvimento de outras capacidades humanas. O que possibilita que o homem seja um ser racional, um ser político, um ser construtor de coisas é sua capacidade primária de criar símbolos. O ser humano, enquanto animal simbólico, constrói a realidade em diferentes perspectivas. O sistema simbólico é a condição para ordenação do pensamento e da ação, sem ele não sairíamos da caverna de Platão nem adentraríamos no mundo plenamente humano (Fernandes, 2006, p. 33)2. FERNANDES, Vladimir. Filosofia, ética e educa ção na perspectiva de Ernst Cassirer. Tese de doutorado. Faculdade de Educação – Universidade de São Paulo (FEUSP). São Paulo, 2006. 2 4 Grupo 6.2 - Módulo 12