Os fluxos de transporte rodoviário de cargas em Irati-PR: elementos para uma reflexão acerca de seu papel na economia local e na rede urbana paranaense. Ordilei de Assis Diachuka (Graduação em Geografia) e Roberto França da Silva Junior (Departamento de Geografia / I / UNICENTRO), e-mail: [email protected] Palavras-chave: circulação, rede urbana, transporte rodoviário de cargas. Resumo Na busca por fluidez e velocidade, os territórios se põe em uma competição implícita na divisão territorial do trabalho, que por sua vez, cliva espaços produtivos (“luminosos”) e espaços “opacos”. No entanto, esses últimos podem se postar como lugares centrais em uma rede urbana com profunda hierarquia. Esse é o caso de Irati. Para chegarmos a essa problematização, fizemos uma pesquisa tendo como objeto as transportadoras rodoviárias de cargas atuantes na cidade, que criam fluxos e desempenham um papel importante na economia local e regional. Introdução “Vivemos num mundo confuso e confusamente percebido. Haveria nisto um paradoxo pedindo explicação? De um lado, é abusivamente mencionado o extraordinário progresso das ciências e das técnicas, das quais um dos frutos são os novos materiais artificiais que autorizam a precisão e a intencionalidade. De outro lado, há, também, referência obrigatória à aceleração contemporânea e todas as vertigens que cria, a começar pela própria velocidade”. (SANTOS, 2001, p.17, grifos nossos). Com esse pensamento de Milton Santos é que iniciamos a nossa reflexão, por ela nos trazer um importante questionamento. Diante disso, perguntamos: Quando se trata de relacionar Irati e sua região com o mundo, quais são os paradoxos que se evidenciam quando o tema da discussão é o transporte? O transporte é uma das técnicas mais fundamentais do capitalismo, e, a velocidade, é o seu elemento mais exigido, todavia, nem todos os lugares respondem a essa exigência da mesma forma, bem como, os agentes transportadores. Sendo assim, no mundo contemporâneo, existem espaços opacos e espaços luminosos (conforme sugere Milton Santos na mesma obra) e temporalidades distintas entre os transportadores. Neste último caso, a título de exemplificação, podemos mencionar a diferença existente entre um operador logístico multinacional, que atua em todas as escalas planetárias e dispõe de uma série de técnicas e tecnologias para maior obtenção de velocidade e uma empresa transportadora de uma cidade pequena, cuja escala de atuação é muito restrita, às vezes atingindo apenas o seu entorno microrregional. Diante das considerações a respeito, decidimos estudar Irati no sentido de compreender quais as relações e articulações feitas pelas empresas transportadoras atuantes na cidade, os fluxos criados por elas, bem como os produtos que são transportados entre outras informações. A partir dessas informações podemos iniciar uma inferência no sentido de saber o papel da cidade na economia local e regional. Irati é uma das cidades mais importantes em um raio de 150 km a partir dela, excetuando-se cidades da região metropolitana de Curitiba, Ponta Grossa e Guarapuava, o que a coloca em uma posição importante em relação à rede urbana paranaense. Nesse sentido, estamos propondo o entendimento da rede urbana a partir da importância e papel articulador da rede de localidades centrais, compreendendo Irati como tal, tendo como recorte analítico, as empresas transportadoras rodoviárias de mercadorias. Nesta etapa inicial elaboramos um questionário que foi aplicado às quatro empresas transportadoras atuantes em Irati, sendo duas delas transportadoras de cargas fracionadas, que são aquelas que transportam vários tipos de mercadorias ao mesmo tempo, em um mesmo compartimento de cargas (caminhão baú), embarcadas por diversas empresas. Outras duas empresas são especializadas em cargas fechadas por transportarem um tipo de produto para apenas um destino. O critério usado para as coletas de dados foi um estudo prévio de todas as empresas instaladas na cidade, chegando-se ao entendimento de que essas quatro empresas dão uma noção do funcionamento da circulação de mercadorias a partir de Irati e a complexidade que envolve a produção – distribuição – troca – consumo. Materiais e Métodos Para a realização desta pesquisa alguns procedimentos são fundamentais: 1. Pesquisa bibliográfica em bibliotecas convencionais, bibliotecas virtuais de instituições de ensino superior, em sites de instituições de pesquisa como o Ipardes, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), além de outros sites da internet; 2. Colóquios com o professor orientador; 3. Trabalhos de campos para observação e aplicação de questionários; 4. Elaboração de cartogramas; Resultados e Discussão Tendo como recorte territorial a cidade de Irati e como objeto as transportadoras atuantes na cidade, constatamos que há um exercício de polarização em relação a muitas cidades, configurando-se uma “localidade central”, que, segundo Corrêa (1996, p.20) é aquela que vai promover a articulação entre produção propriamente dita e consumo final. O mesmo autor reconhece a existência de uma hierarquia urbana (CORRÊA, 1996) que é avaliada, em parte, nos seguintes requisitos: nível de prestação de serviços, disponibilidade de mão-de-obra, comércio, instalações industriais etc. Também pelo fato de possuir um entroncamento rodoviário, Irati se torna um ponto importante, principalmente para a região Centro Sul do Estado do Paraná. Os dados compilados na pesquisa revelou que Irati mantém importantes fluxos de mercadorias junto às cidades médias e grandes, tais como, Curitiba, Guarapuava e Ponta Grossa. O volume de mercadorias transportadas depende do porte da cidade e distância, bem como da época do ano. Grosso modo, não levando em consideração a época do ano, os produtos mais recebidos em Irati são: calçados, vestuários, lubrificantes, peças e remédios, oriundos de Curitiba, Guarapuava e Ponta Grossa. No entanto, a maior parte desses produtos não é consumida em Irati, que funciona como ponto de transbordamento, ou seja, aquele que agrega mercadorias de outros pontos, para posterior distribuição para outras cidades. Esse fato também demonstra sua importância na rede urbana paranaense. As cidades que mais recebem essas mercadorias provenientes do transbordamento (além de Guarapuava e Ponta Grossa) são: Fernandes Pinheiro, Imbituva, Rebouças e Teixeira Soares, ou seja, as mais próximas de Irati. Por outro lado, Irati expede para os centros maiores os seguintes produtos: artesanato, gêneros alimentícios (conservas) e móveis sobre medida. Alguns produtos são coletados na região e outros fabricados no município de Irati (cidade e zona rural). A quantidade de mercadorias expedidas e recebidas de outras regiões do Paraná como o Norte Pioneiro, Norte, Noroeste, Oeste, Sudoeste, além de Estados vizinhos é pequena. Diante disso, uma das transportadoras de cargas fracionadas tem a necessidade de fazer arranjos e parcerias estratégicas com outras empresas para que leve e traga mercadorias dessas regiões. No setor de cargas fechadas a movimentação é menor em Irati. Os produtos mais expedidos são os cereais em tempos de safra, que tem como destino o porto de Paranaguá. Fora dessa época as transportadoras instaladas na cidade voltam suas atividades para outros centros, onde há demanda por cargas fechadas, fazendo principalmente a rota Paranaguá, Ponta Grossa e Mato Grosso. Este último é onde há maior oferta de fretes de cargas fechadas para as transportadoras iratienses. O tipo de carga mais recebida nessa modalidade é a de materiais para construções, que são oriundos principalmente de Curitiba e dos Estados de São Paulo e Rio Grande do Sul, sendo consumidos na própria cidade. Pouca quantidade é distribuída para o entorno, todavia, podemos destacar alguns produtos como os fertilizantes, em geral em época de plantio, que vem principalmente de Ponta Grossa, Curitiba e região metropolitana. Conclusões Irati possui um bom nível de articulação territorial, polarizando, por meio do transporte rodoviário de cargas, muitas cidades. Nesse sentido, vemos quão importante é esse modal para a economia brasileira, sobretudo, quando trata de transporte de cargas fracionadas, por conta de sua mobilidade e capacidade de realizar o transporte ponto a ponto. Do ponto de vista da hierarquia urbana, Irati possui certa centralidade em relação a muitas cidades, porém, é polarizada por outras. No caso do transporte fica nítida a qualidade de transbordo de mercadorias, o que nos faz pensar na questão estratégica de sua localização. Referências CORRÊA, Roberto Lobato. Trajetórias Geográficas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1996. SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro: Record, 2001.