Chuvas aumentam o risco de contaminação por leptospirose Os cuidados com a doença, transmitida por roedores urbanos, devem ser redobrados com a chegada das enchentes As tempestades de verão costumam provocar sérios estragos nas cidades atingidas. O mau tempo causa desmoronamentos, aumenta o número de desabrigados e a incidência de doenças que resultam das más condições de saneamento, como a leptospirose. Em 2005, o Ministério da Saúde registrou 2307 casos da doença. São Paulo Pernambuco e Rio Grande do Sul aparecem no topo da lista com 471, 252 e 187 ocorrências, respectivamente. O governo federal orienta estados e municípios a promoverem ações de saneamento e a população a adotar alguns cuidados higiênicos para prevenção desse problema de saúde. A leptospirose é causada por uma bactéria do grupo leptospira. Esse microorganismo vive no corpo de roedores e é eliminado no meio ambiente por meio das fezes e da urina de ratos, ratazanas e camundongos. Expedito Luna, diretor de Vigilância Epidemiológica do Ministério da Saúde, esclarece que os roedores convivem com a leptospira, mas não adoecem. “Em algumas situações em que o ser humano entra em contato com esses dejetos, ele pode ser infectado com uma doença mais ou menos grave”, explica. Em geral, a situação mais freqüente no Brasil em que as pessoas têm contato com a bactéria e com o excremento do rato é durante as enchentes. Em casos de enchentes e inundações, a urina dos ratos, presente em esgotos e bueiros, mistura-se à enxurrada e à lama. A partir daí, qualquer pessoa que entrar em contato com essa água pode ser infectada. A transmissão se dá principalmente por machucados ou pela própria exposição à água, o que facilita que a bactéria atravesse a pele humana. Por isso recomenda-se não permitir que as crianças brinquem ou nadem na enxurrada. “É preciso evitar ao máximo se expor à água da enchente, a menos que seja inevitável. Caso isso aconteça, deve-se ter o cuidado de proteger bem os pés e as mãos com botas e luvas de borracha”, aconselha Expedito Luna. Outros fatores também contribuem para o aparecimento da doença no homem, como más condições de habitação – como casas localizadas na beira de córregos e próximas de terrenos baldios – e, principalmente, saneamento básico inadequado e insuficiente. Os primeiros sintomas da leptospirose aparecem de uma a duas semanas após o contato da pele humana com a lama ou água contaminada. À semelhança de uma gripe, a leptospirose provoca febre, dor de cabeça, dores musculares – principalmente na batata da perna – e coloração amarelada na pele. Os quadros mais graves podem levar à hemorragia. Nesse caso, há necessidade de cuidados hospitalares. “Todo paciente suspeito de estar com a doença deve procurar o pronto-socorro e comunicar ao médico que se expôs à enchente. As pessoas não devem buscar a automedicação em hipótese alguma”, alerta Expedito Luna. Ações – Nesse período de chuvas, a Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) do Ministério da Saúde intensifica ações de controle da leptospirose no país. A secretaria capacita agentes de saúde dos estados com mais casos para diagnosticar e tratar os pacientes contaminados. Também orienta os municípios a desenvolverem ações de controle de roedores por meio dos Centros de Controle de Zoonoses (CCZ), localizados em municípios maiores, como as capitais. Expedito Luna lembra que as prefeituras devem trabalhar a drenagem das águas da chuva e manter a atenção com o saneamento para evitar que as inundações aconteçam. “O trabalho de desratização também demanda fundamentalmente o destino adequado ao lixo e medidas para limitar a população de roedores”, acrescenta. O papel da população nesse controle é extremamente importante, principalmente em relação ao lixo, que atrai o roedor por ser o seu principal alimento. Essas ações devem ser desenvolvidas durante todo o ano para se evitar o aumento dos roedores e reduzir os casos de leptospirose. As autoridades também alertam a população para que não jogue lixo nos bueiros. Os dejetos entopem esses locais e evitam o escoamento da água. Com o entupimento dos bueiros, aumenta o risco de contaminação por leptospirose, já que a água que não escoa leva para fora a urina e as fezes dos roedores. O Ministério da Saúde fornece kits sorológicos aos municípios para diagnóstico laboratorial da doença e distribui material técnico e educativo, como boletins epidemiológicos e folhetos com informações e esclarecimentos de dúvidas sobre doenças.