Leptospirose

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Leptospirose
Francisco Teves
Médico veterinário
A leptospirose, muitas vezes conhecida por “doença dos
ratos”, é uma doença transmitida por bactérias de espécies
de leptospira que infectam diversas espécies animais,
incluindo o Homem, tratando-se, por isso, de uma zoonose.
É uma doença de grande impacto sanitário uma vez que são
sensíveis e susceptíveis de infecção muitas espécies animais,
tanto domésticas como selvagens, sendo de maior relevância na nossa ilha a infecção de bovinos, canídeos e suínos
para além dos roedores (ratos) que são os vectores mais frequentes de disseminação da doença. Esta é uma doença
com graves consequências económicas nas explorações
pecuárias com leptospirose, mas também com relevância
social na nossa comunidade muito ligada às actividades
agro-pecuárias, tanto mais que é uma doença actualmente
com níveis de infecção e mortalidade humana crescentes
(sendo mesmo os mais altos do País). No nosso arquipélago,
o clima temperado e húmido (que
favorece a persistência das bactérias no ambiente), a elevada densidade de roedores, a elevada taxa
de infecção da população dos roedores e a ampla actividade agropecuária (cujos trabalhadores são
expostos aos animais ou substâncias/objectos infectados) são facto-
res que nos colocam em maior risco de infecção por leptospirose.
A infecção faz-se por contacto directo com a urina, leite, sangue ou tecidos orgânicos de animais infectados (cadáveres,
placentas, etc.) ou por contacto indirecto através da exposição a ambientes contaminados, como água, alimentos,
solos, etc., sendo a fonte de infecção mais frequente a urina
(em especial a do rato). No organismo humano, independentemente do material infectante, a infecção pode fazer-se
através das feridas na pele, da boca, dos olhos e do nariz. A
bactéria (leptospira) tem a capacidade de infectar, em certas
condições, através da pele sã (sem feridas, contusões, etc.)
conseguindo “escapar” às defesas naturais da pele e à sua
relativa impermeabilização, exigindo uma cuidado extremo
de algumas profissões.
Existem determinadas profissões classificadas com sendo de
risco para esta doença, como
sendo os médicos veterinários,
pessoal dos matadouros, lavradores, agricultores, por terem uma
proximidade mais evidente aos
animais e locais susceptíveis de
estarem infectados, mas outras
profissões como por exemplo as
relacionadas com a construção civil
são também de risco pela elevada
possibilidade de existência de roedores nos seus ambientes de trabalho. A estas profissões devem estar
subjacentes medidas preventivas e
de boas práticas que reduzam esse
risco de contaminação.
Em áreas de maior prevalência da
doença (como na nossa Região), é
importante adoptar as seguintes medidas:
- de higiene, utilizando equipamento de protecção à transmissão da doença aquando do trabalho e manipulação de
animais e seu ambiente ou utensílios, com recurso ao uso
de botas e luvas de borracha;
- ingestão de leite, pelo menos, pasteurizado;
- CONTROLO DE ROEDORES (é a medida de maior importância, por ser o vector com maior expressão actualmente. É
raro ser feito um controlo eficaz de roedores. Devem ser
solicitadas e seguidas as sugestões de técnicos especializados no combate à existência e permanência de roedores
numa determinada habitação, exploração, zona, área, etc.);
- vacinação de animais, especialmente os domésticos (tem
sido uma medida que fez baixar significativamente a prevalência da doença na população canina, motivo que também faz com que a vacinação anual dos animais domésti-
cos seja efectuada sempre);
- limpeza e protecção de produtos
alimentares, evitando especialmente a sua contaminação pela
urina dos animais infectados (os
ratos são os de maior acesso e proximidade aos alimentos, tanto
para humanos como para os animais);
- isolamento de animais doentes, para evitar a propagação
fácil entre animais. Nos animais de produção (bovinos,
suínos) está, por vezes, recomendado o abate dos mesmos
como medida de controlo para evitar a propagação nas
explorações.
Na sintomatologia, a leptospirose pode ser confundida com
quadros clínicos de outras patologias com consequências
menores (tanto nos animais como no Homem), pelo que
devem ser efectuados exames laboratoriais específicos (fig. 1)
atendendo ao histórico do animal (história pregressa) sempre que a situação clínica possa ser compatível com um diagnóstico de leptospirose. O tratamento desta doença depende da gravidade, tipo e duração dos sintomas envolvidos
podendo ser bem sucedido, mas sendo sempre importante
que a patologia seja diagnosticada precocemente antes do
desenvolvimento das extensas e irreversíveis lesões.
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1 de setembro de 11
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