ATENÇÃO Caso o seu veículo publique – parcialmente ou na íntegra – esta matéria de serviço, envie-nos uma cópia da edição. O endereço é o SCN Quadra 5 Bloco “A” Torre Norte, sala 417, Edifício Brasília Shopping, Brasília (DF). CEP: 70715-900. Obrigado. Manual ajudará a prevenir suicídio Em parceria com Opas e Unicamp, Ministério da Saúde lança publicação para orientar profissionais de saúde a lidar com potenciais suicidas Pesquisas realizadas no mundo inteiro na área de psiquiatria revelam que cerca de 40% dos suicidas procuram os serviços de saúde dias ou semanas antes de tirar a própria vida. Segundo os estudos, eles chegam a estes locais sem especificar de que doenças estão sofrendo. Esse pode ser um último pedido de socorro. Um profissional de saúde preparado para enfrentar a situação tem condições de identificar o problema, ouvir a pessoa, encaminhá-la para uma terapia adequada e tentar evitar que o suicídio ocorra. Pensando nessa questão, o Ministério da Saúde, a Organização PanAmericana da Saúde (Opas) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) produziram o livro Prevenção ao Suicídio: Manual Dirigido a Profissionais das Equipes de Saúde Mental. O material faz parte da Estratégia Nacional de Prevenção do Suicídio, que propõe a redução das taxas de suicídio, tentativas e os danos associados aos comportamentos suicidas. O lançamento aconteceu nesta terça-feira (10 de outubro) em um evento no Ministério da Saúde, em Brasília, com a presença do ministro da Saúde, Agenor Álvares. Hoje comemorase o Dia Mundial da Saúde Mental, que este ano tem como tema “Doença Mental e Risco de Suicídio”. Na ocasião, houve ainda o lançamento do manual Suicídio, Sobreviventes e Famílias, voltado para quem perdeu alguém próximo vítima do suicídio e foi editado em parceria entre o Ministério da Saúde , a Opas e a ONG Projeto Conviver. Calcula-se que um suicídio afete de 6 a 10 pessoas próximas à vítima, entre parentes e amigos. Para Carlos Felipe D’Oliveira, coordenador da Estratégia Nacional de Prevenção do Suicídio do Ministério da Saúde, e representante da Associação Internacional de Prevenção do Suicídio no Brasil, o profissional de saúde mental precisa estar atento e escutar o que o paciente tem a dizer. “É importante uma empatia com esse paciente e que o profissional se disponha a ajudar a pessoa, caso perceba o risco do suicídio”, observa. Na opinião do coordenador, por conta dos tabus que envolvem o assunto e pela ausência de discussão pública a respeito do tema, muitas vezes o profissional de saúde mental não tem a formação necessária para atender aquele paciente ou mesmo para identificar o problema. Em um primeiro momento, o Ministério da Saúde distribuirá o manual Prevenção do Suicídio para os 918 Centros de Atenção Psicossocial (Caps), unidades do Sistema Único de Saúde (SUS) especializadas na atenção à saúde mental. Depois, a intenção é levar o texto para as unidades básicas de saúde. Em torno de duas semanas, o Ministério também disponibilizará o material em seu portal. O internauta deverá acessar o endereço eletrônico www.saude.gov.br, clicar em Cidadão e, em seguida, clicar em Saúde Mental. Comportamento – O manual levará aos profissionais temas como o comportamento do suicida, a importância das equipes dos centros de atenção psicossocial, fatores de risco para o suicídio, suicídio e transtornos mentais, esquizofrenia, depressão, dependência de álcool, como ajudar a pessoa sob risco de suicídio e como abordar o paciente. Carlos Felipe D’Oliveira estende algumas recomendações a familiares e amigos, para que estejam atentos a mudanças no comportamento das pessoas, que podem indicar uma propensão ao suicídio ou a outro transtorno mental. O isolamento e a redução drástica de atividades do cotidiano, desejo súbito de concluir alguns afazeres pessoais e deixar um testamento e sentimentos de solidão, impotência e desesperança podem ser indicativos. O coordenador chama a atenção sobre quem manifesta freqüentemente o desejo de tirar a própria vida. “É importante não julgar essa pessoa, escutar com atenção o que ela tem a dizer e insistir para que esse potencial suicida se dê uma chance para superar seus problemas”, aconselha. Carlos ressalta que não se deve julgar o comportamento de quem diz que quer se suicidar e que é necessário tentar entender os sentimentos por trás dessa confissão. O coordenador alerta ainda para que se observe atentamente o comportamento de pessoas que já tentaram o suicídio e fracassaram. Carlos lembra de pesquisas desenvolvidas em países da Escandinávia – onde se registram muitos casos de suicídio – de que entre 30% e 40% dos que já tentaram tirar a própria vida voltam a fazê-lo. Gravações – O lançamento do manual é uma das ações da Estratégia Nacional de Prevenção do Suicídio. O Ministério da Saúde e seus parceiros querem sensibilizar a sociedade e estimular iniciativas preventivas. Em agosto, o Ministério promoveu em Porto Alegre (RS) I Seminário Nacional de Prevenção do Suicídio. Durante o evento foram discutidas estratégias para lidar com o problema. Entre elas está o acesso da população ao tratamento psiquiátrico por meio das unidades de atenção básica do SUS, do Programa Saúde da Família (PSF), dos serviços especializados em saúde mental e das unidades de urgências e emergências. No evento desta terça-feira foi lançado um CD com gravações do I Seminário de Prevenção do Suicídio. O material servirá de referência para professores e pesquisadores da área de saúde mental. Números globais assustam O livro Prevenção do Suicídio: Manual Dirigido a Profissionais das Equipes de Saúde Mental destaca estatísticas impressionantes, conforme dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). O Brasil, aliás, segue recomendação da OMS aos países-membros para que desenvolvam estratégias para prevenir o problema. Em 2003, cerca de 900 mil pessoas cometeram suicídio no mundo inteiro. Em 2004, aproximadamente oito mil brasileiros tiraram a própria vida. Embora a taxa média no Brasil não seja considerada alta (4,5 suicídios a cada 100 mil pessoas), o problema vem crescendo em certos segmentos da população, como homens mais jovens, índios, idosos, trabalhadores do setor agrícola que tiveram a saúde prejudicada por pesticidas e mulheres jovens gestantes moradoras de rua. Algumas cidades brasileiras possuem taxas acima da média nacional, como Porto Alegre, onde em 2004 na população masculina registraram-se 16 casos para cada 100 mil homens. Para Carlos Felipe D’Oliveira a questão é complexa devido à diversidade de causas que levam as pessoas a tirar a própria vida. Problemas financeiros, desemprego, separações conjugais, depressão e outras doenças psiquiátricas possuem relação com o fato. Cerca de 15% dos suicidas, segundo os especialistas, usam álcool ou drogas. “Não quer dizer necessariamente que todo mundo que se enquadre nesses casos vai se matar. São indicativos”, assinala Carlos Felipe. Entretanto. Ele observa alguns padrões nas comunidades em que vêm aumentando os suicídios, como as adolescentes gestantes de rua. “Uma adolescente grávida já traz preocupação. Se ela está na rua, sem assistência social, rejeitada pelos pais e se foi vítima de abuso, tende a entrar no grupo de risco dos potenciais suicidas”. Entre os idosos o crescimento de índices de suicídio geralmente se relaciona ao abandono e à solidão em que essas pessoas vivem, muitas vezes abatidas por doenças crônicas ou degenerativas. Nos jovens, segundo Carlos Felipe, as altas taxas em vários momentos se associam ao modo impulsivo como pessoas dessa faixa etária costumam agir. Evitar a posse de armas e manter medicamentos e venenos como pesticidas em local seguro contribui para evitar que ocorram casos de suicídio em casa.