Física Atómica e Nuclear – Capítulo 2. Átomos de Um Electrão 39 A fim de superar as limitações impostas por uma página bidimensional, a Figura 2.11 representa o aspecto tridimensional das funções densidade de probabilidade nml nlm Rnl r Pl|m| cos m , para vários estados do átomo de um electrão, 2 utilizando sombras. Figura 2.11. A figura mostra uma concepção artística do aspecto tridimensional de algumas funções densidade de probabilidade do átomo de um electrão. O eixo z está representado por uma linha vertical. Se combinarmos todas as densidades de probabilidade para um determinado n e l, o resultado será esfericamente simétrico. Notas de Aula 2004/05 Ana Rodrigues Física Atómica e Nuclear – Capítulo 2. Átomos de Um Electrão 40 A energia En dos estados degenerados são idênticas, e não é possível experimentalmente separá-los uns dos outros com técnicas que não perturbem a densidade de probabilidade. Assim tudo o que pode ser medido é a densidade de probabilidade média dos átomos, para todo o conjunto de estados que são degenerados entre si. Quando se calcula a média dessa forma, geram-se funções esfericamente simétricas. Exemplo 2.3. Calcule a média das funções densidade de probabilidade para o conjunto de estados degenerados correspondentes à energia E2. Resolução: Temos que: n = 1, 2, 3…. l = 0,1, 2,…., n – 1. M = -l, - l + 1,…...,0,…..... + l – 1, l. Para n=2, l= 0,1e m=0,1,-1. 1 200 200 21 1 211 210 210 211 211 4 3 2 2 1 Z Zr / a0 Zr Zr 1 2 1 e 2 sin sin 2 cos 2 = 128 a0 a0 a0 2 2 3 2 2 1 Z Zr / a0 Zr Zr e 2 = 128 a0 a0 a0 Esta distribuição esfericamente simétrica será o resultado de uma sequência de medidas para localizar o electrão, num átomo de um electrão de energia total E2. ______________________________________________________________________ Resumindo, podemos concluir que: 1º. Se o comportamento de um átomo é determinado por um potencial que tem simetria esférica, como por exemplo o potencial Coulombiano, que depende somente da distância do electrão ao núcleo, nenhuma das propriedades do átomo poderá seleccionar qualquer direcção particular no espaço, porque todas as direcções são equivalentes. 2º. Se o átomo for colocado num campo externo, magnético (ou eléctrico), a simetria esférica fica destruída e a direcção definida pelo campo externo torna-se única. 3º. Quando existe uma direcção única, escolhemos um dos eixos do nosso sistema de coordenadas nessa direcção preferencial porque isso simplifica a descrição da situação física. Podemos escolher outras direcções mas isso complica desnecessariamente a descrição matemática do problema. Por exemplo, no electromagnetismo, quando tratamos o problema de um fio cilíndrico, é conveniente tomar um dos eixos do sistema de coordenadas ao longo do eixo do cilindro. Notas de Aula 2004/05 Ana Rodrigues Física Atómica e Nuclear – Capítulo 2. Átomos de Um Electrão 41 4º. Convencionalmente, chamamos o eixo preferencial de eixo z. A convenção provém provavelmente do sistema de coordenadas cilíndricas, onde o eixo em torno do qual varia a coordenada angular é chamado de eixo z. Poderíamos, entretanto, chamar o eixo preferencial tanto de x como de y. 5º. Mesmo na ausência de uma direcção preferencial, o que acontece quando não há campo externo aplicado sobre o átomo, precisamos escolher alguma direcção arbitrária no espaço do nosso sistema de coordenadas, como por exemplo o eixo z. Neste caso este eixo z não é fisicamente único, mas é matematicamente útil e a sua escolha não tem nenhuma interferência sobre as medidas. Embora a teoria da mecânica quântica para um átomo de um electrão e o modelo de Bohr tenham muitos pontos em comum, existem algumas diferenças notáveis entre eles. Por exemplo, para ambos os tratamentos o estado fundamental corresponde ao número quântico n=1 e tem o mesmo valor de energia. Mas no modelo de Bohr, o momento angular orbital para esse estado é L n , enquanto que na mecânica quântica L l l 1 0 , porque l=0 quando n=1. Existem evidências experimentais, de que o resultado quântico é o correcto. É difícil visualizar o movimento de um electrão no estado fundamental mecânico quântico e é também igualmente difícil fazer uma analogia com uma descrição clássica, como a descrição de Bohr. Existe outras situações em que isso acontece, como por exemplo, visualizar o movimento de um electrão atravessando um aparelho de difracção de duas fendas. 2.7 Momento Angular Orbital. Modelo Vectorial. O momento angular de uma partícula, em relação à origem de um dado sistema de coordenadas é a grandeza vectorial L definida por: Lrp (2.80) onde r é o vector posição da partícula, em relação à origem e p é o vector momento linear da partícula. Considerando que r xi yj k e p px i p y j pz k , podemos calcular as componentes do vector em coordenadas cartesianas (rectangulares): i x px j y py k z Lx i Ly j Lz k pz (2.81) onde: e Lˆ z x y Lˆx y z , Lˆ y z x i x i z i z i y i y i x (2.82) Convém transformar estas expressões em coordenadas esféricas: Notas de Aula 2004/05 Ana Rodrigues Física Atómica e Nuclear – Capítulo 2. Átomos de Um Electrão 42 Lˆx i sin cot g cos Lˆ y i cos cot g sin (2.83) Lˆx i O quadrado do módulo do vector L , definido como: L2 L2x L2y L2z (2.84) O operador associado em coordenadas esféricas é: 1 2 1 Lˆ2 2 2 sin 2 sin sin (2.85) Os valores esperados de L̂ e L̂ z são: Lz m (2.86) L2 l l 1 2 (2.87) O facto de nlm não descrever um estado com componentes x e y do momento angular orbital definidas – porque essas grandezas não são quantizadas – é do ponto de vista da mecânica clássica, misterioso. Segundo a lei de conservação do momento angular em mecânica clássica, o vector momento angular orbital de um electrão que se move sob a influência de um potencial V r esfericamente simétrico de um átomo de um electrão, num espaço livre, estará totalmente fixo, em direcção e módulo, e todas as componentes do vector terão valores definidos. O facto desse resultado não ser válido na mecânica quântica é uma consequência de um princípio de incerteza que impõe não ser possível conhecer com precisão total, simultaneamente, duas componentes do momento angular. Como a componente z do momento angular orbital tem o valor preciso m , a relação de incerteza exige que os valores das componentes x e y sejam indefinidos. Verifica-se que Lx Ly 0 . Não podemos dizer que sabemos que Lx = L y =0, porque ao fazermos esta afirmação violamos o princípio da incerteza. Assim, a orientação do vector momento angular orbital de um electrão, que se move num potencial esfericamente simétrico, pode ser imaginada como variando sempre de forma a que suas componentes x e y flutuem em torno de um valor médio nulo, enquanto sua componente z e seu módulo permanecem fixos. Esse resultado pode ser chamado de lei de conservação do momento angular orbital da mecânica quântica. Muitas das propriedades do momento angular orbital podem ser convenientemente representadas por esse modelo vectorial. Notas de Aula 2004/05 Ana Rodrigues Física Atómica e Nuclear – Capítulo 2. Átomos de Um Electrão 43 Figura 2.12. Representação dos vectores momento angular para os estados possíveis com l 2 . Em cada estado o vector precessiona ao acaso em torno do eixo z, mantendo um módulo (comprimento) constante e uma componente z constante. A Figura 2.12 apresenta o modelo vectorial do momento angular para l=2 e descreve os vectores momento angular para cada um dos cinco estados correspondentes aos cinco valores possíveis de m, para l=2. Se cada um dos estados Lx e L y flutuam em torno de seu valor médio nulo, os vectores descrevendo os estados precessarão ao acaso em superfícies cónicas em torno do eixo z, satisfazendo a lei da conservação do momento angular da mecânica quântica. O número quântico m determina a orientação espacial do vector momento angular orbital do átomo de um electrão. Portanto num certo sentido ele determina a orientação espacial do próprio átomo. Como o potencial Coulombiano esfericamente simétrico implica que não existe nenhuma direcção privilegiada no espaço no qual está situado o átomo, podemos entender porque a teoria prevê que a energia total não depende de m, que determina sua orientação. E assim podemos entender por que as funções próprias são degeneradas em relação ao número quântico m. A energia do átomo simplesmente não depende de sua orientação no espaço vazio. Notas de Aula 2004/05 Ana Rodrigues