Teoria do conhecimento

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Teoria do conhecimento - ceticismo
A dúvida e a busca da verdade
Josué Cândido da Silva*
Especial para Página 3 Pedagogia & Comunicação
Se alguém lhe perguntasse "O que você conhece?", você poderia pensar em uma porção de
coisas, a maioria delas adquiridas em sua experiência cotidiana. Mas se a pessoa insistisse e
perguntasse "Algo do que você sabe é realmente verdade? Apostaria sua vida nisso?", essas
questões complicariam um bocado as coisas.
Eu, por exemplo, poderia dizer que tenho certeza que sou filho dos meus pais, mas talvez eu
tivesse sido adotado ou trocado na maternidade e estar enganado a esse respeito. Poderia
ainda estar enganado sobre uma série de outras coisas que até então julgava certas. E se
reparar direito, tudo o que eu tenho são crenças, algumas até muito razoáveis, mas nada de
que eu possa dizer que é uma verdade irrefutável. Percebo, então, que me falta um parâmetro
para examinar as minhas crenças e verificar quais são realmente certas e quais são falsas.
Condições universais de validade
Durante a história da filosofia, vários foram os filósofos que tentaram estabelecer as condições
para que algo fosse tomado como absolutamente verdadeiro, isto é, uma verdade que
independesse de fatores circunstanciais e que fosse algo que não fosse verdadeiro para mim
ou para um grupo de pessoas, mas para todos os seres racionais.
Você deve estar cansado de ver por aí grupos de pessoas com crenças estranhas, que dizem
que eles estão certos e todos os outros enganados. Nesse caso, como decidir quem está certo?
Votando? Mas se a maioria estiver errada e o pequeno grupo estiver certo, nunca
conheceremos a verdade porque eles sempre perderão nas votações. É preciso que se trate de
uma verdade universal, isto é, válida para todos, tanto para a maioria quanto para as minorias.
Portanto, o que os filósofos investigam são as condições universais de validade, aquelas
condições que independem das opiniões particulares que eu ou você possamos ter.
Ceticismo
Na investigação sobre as condições de validade do nosso conhecimento um grupo de filósofos
merece destaque: os céticos. O termo cético vem da palavra grega skepsis, que significa
"exame". Atualmente, dizemos que uma pessoa cética é alguém que não acredita em nada,
mas não é bem assim. Um filósofo cético é aquele que coloca suas crenças e as dos outros sob
exame, a fim de verificar se elas são realmente dignas de crédito ou não.
Pirro de Elis (360-275 a.C.) é considerado o fundador do ceticismo. Segundo ele, não podemos
ter posições definitivas sobre determinado assunto, pois mesmo pessoas muito sábias podem
ter posições absolutamente opostas sobre um mesmo tema e ótimos argumentos para
fundamentar suas posições. Nesse caso, Pirro nos aconselha a suspensão do juízo e a
mantermos nossa mente tranqüila (ataraxia). Ao invés de enfrentarmos o desgaste de
acalorados debates que não produzirão certeza alguma, devemos manter silêncio (apraxia) e
preservar uma atitude de suspeita diante de qualquer tipo de dogmatismo.
Depois de Pirro, muitos outros filósofos tornaram o ceticismo uma das mais importantes
correntes filosóficas até os dias de hoje. Atualmente, alguns céticos defendem o probabilismo
ou falibilismo, ou seja, na impossibilidade de encontrarmos verdades absolutas, seja pelas
limitações de nossos sentidos e intelecto, seja pela complexidade da realidade, devemos tratar
nossas crenças sempre como provisórias, como quem anda em gelo fino.
Desse modo, um cético nunca seria pego de surpresa se algo que todos acreditavam ser
verdade se revelasse falso no futuro. Por outro lado, reconhecer que as verdades são
provisórias não significa uma completa inação. Sabemos que os remédios são falhos, mas são a
única coisa que temos para combater as doenças.
Isso também vale para o campo da ética. O filósofo Montaigne propunha que vivêssemos em
harmonia com os costumes de nosso povo ou cultura, pois embora eles sejam falhos, são tão
falhos quanto os de qualquer outro povo, não havendo razão para preferir este a aquele.
Despertar do sono dogmático
Conta a lenda que Pirro morreu enquanto dava aula de olhos vendados. Um aluno o teria
alertado quanto ao precipício à sua frente. Cético, Pirro desconfiou do aluno e caiu. Essa lenda,
obviamente, pretende mostrar os perigos de se duvidar de tudo. Mas será que um cético
autêntico não duvidaria também de suas próprias dúvidas?
Odiado por alguns, o cético é como a abelha que aferroa o boi do conhecimento, retirando-o
da mesmice das ideias prontas e acabadas, nos provocando, por meio da dúvida, a investigar a
fundo os pressupostos de nossas crenças; ou, como diria Kant, o cético é aquele que nos
desperta do nosso sono dogmático para lembrar-nos que pensar não é um fim, mas uma
atividade.
http://educacao.uol.com.br/filosofia/teoria-conhecimento-1.jhtm
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