"Com o coração sentimos coisas que nossos olhos nem sempre estão preparados para ver.." Hoje, enquanto escutava as notícias pela TV, comia um pedaço de bolo de cenoura coberto de chocolate. Entre um pedaço e outro, a endorfina produzida por meu cérebro me respondia com uma enorme sensação de prazer. Nisso, fui tomada pela imagem de um garoto palestino de 16 anos ameaçando detonar explosivos que estavam amarrados ao seu corpo. O garoto se aproximou de um posto policial israelense, na fronteira entre a Cisjordânia e Israel, próximo a cidade de Nablus, quando foi cercado por militares munidos de tanques e armas. Sim, era mais um ataque suicida, um entre muitos feitos por palestinos, uma vez que são pobres, sem recursos materiais, exército, ou qualquer força de defesa organizada, essa muitas vezes, é a única possibilidade de atacar Israel com algum sucesso. Essa tática demonstra que a vida de suas crianças não valem mais do que seus ideais religiosos. Me lembro de ter lido uma vez que os judeus e muçulmanos são povos sem terra, sem memória, sem pátria, que vivem não para fazer de suas vidas uma história, mas para matar ou morrer sobre a lei do mais forte, embora a história que vemos acontecer jamais será esquecida. E não adianta procurar aquele que está com a razão, ou seja, aquele que foi prejudicado em seu direito legítimo e portanto se acha no direito de se defender (ainda que com violência) daquele que o usurpou. Enquanto escrevo, crianças morrem em uma guerra sem fim, sustentadas por princípios e ideais, aos nosso olhos ocidentais, sem ética, desumanos e atrozes, onde meninos brincam com armas, seus bonecos são seus inimigos, e o único lugar onde podem sonhar é através da imaginação, pois nela, a realidade não é a mesma em que vivem, mas outra que idealizam. Uma criança, declarou certa vez: “ É difícil descrever o que uma bala faz ao entrar meu corpo. Também é estranho descrever as marcas que uma bomba deixa em nós. Tudo acontece muito rápido. A gente está respirando o ar da infância e no momento seguinte somos tragados pela guerra.” Nunca uma criança nascida em meio a uma guerra oriunda de fatos históricos, movida por ideais religiosos, e políticos, terá o prazer de comer um bolo seja ele de cenoura coberto com chocolate, ou qualquer outra coisa. A endorfina produzida por seu cérebro, prove não mais que do prazer de odiar seu inimigo. Inimigo esse, que traz um sentido a sua vida. Você pode ter escutado ditados que diziam: “Não há paz sem guerra”, ou “Os fins justificam os meios”. Mas em uma guerra a qual proclamam ser santa, não deveriam haver culpados e todos seriam inocentes. Kel Fukuda