n. 220, 27 de setembro de 2011. Ano V. Um garoto de 10 anos, de

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n. 220, 27 de setembro de 2011. Ano V.
dia D
Um garoto de 10 anos, de família estruturada, frequentador de igreja evangélica, filho de policial,
apresentando conduta nada desabonadora, pega a arma do pai e atira, pelas costas, na professora
de Português, dentro da sala de aula. Retira-se e senta-se nas escadas do colégio público de
excelente avaliação. Aciona o gatilho na cabeça. Ninguém encontra uma explicação para o fato de
um aluno normal, reprisar a tragédia de Realengo-Rio de Janeiro. Sabedores das intimidações e
demais agressões de alunos de periferias a professores, os especialistas estupefatos não têm
explicações a dar. Fotografia contrastante de nossa época!
dia seguinte
A mídia relata a estupefação: colegas afirmam que ele anunciara sua intenção no dia anterior; a
professora alvejada surpreende-se com o nome de seu algoz; o pai permanece prostrado; alguma
propaganda recomendará que a sociedade se desarme... Atordoados os normais não encontram
motivos. Onde estará a causa? Esta é a pergunta que pretendem responder, afinal o garoto D não
mostrava nada de diferente, ao contrário, mostrava-se normal demais, tão normal que um psiquiatra
sugeriu que ele vivia certo transtorno não identificado. Hoje, a suspeição geral não recai somente
sobre os pobres, perigosos, anormais vindos de famílias desestruturadas. O alerta que se reproduz é
o de que todos, adultos e crianças, estão transtornados e a precaução geral é a de medicalização. Ao
provocar o suicídio, D não deixou nada para ser analisado pelos especialistas e o tribunal. Foi apenas
mais uma exibição do perdedor radical. O garoto D não teve tempo de brincar com o playstation que
desejava adquirir...
perfumadas
Sorrisos a la Gisele, cabelos arrumados, rostos maquiados, roupas diferenciadas, performances,
desfiles... tudo isso e mais um pouco dão um colorido especial às paredes de concreto, sob uma
camada fina de tinta lilás, na penitenciária feminina do Butantã, em São Paulo. O concurso Beleza,
simpatia e cultura atrás das grades é parte de mais um programa de reintegração social da SAP
(Secretaria de Administração Penitenciária). O investimento na auto-estima e na criatividade das
detentas e das pessoas “livres” visa acalmar revoltas, satisfazer humanistas de plantão e reafirmar o
papel da prisão na sociedade. Inclusão que encobre odores fétidos, vidas esmigalhadas, tornando as
prisões cada vez mais aceitas e disseminadas de um e outro lado do muro. Adornam os galhos de
cada macaco(a), para que não se movam. Uma detenta declara: “Foi bom enquanto durou. Hoje vou
dormir em paz”.
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