A IMPORTÂNCIA DA HUMANIZAÇÃO DENTRO DA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA Lorenna Thessa Vieira Resende1 RESUMO A unidade de terapia intensiva desenvolve uma rotina diária e complexa, o que faz com que se busque uma forma de amenizar esta rotina através da humanização. A humanização é uma forma de assistência prestada às pessoas que estão envolvidas no processo de saúde doença, onde esta humanização é realizada através dos atos, do contato, do conhecimento, do entendimento e várias outras ações voltadas ao bem estar de todas as pessoas envolvidas. Como um profissional comprometido com o bem estar do paciente, verifiquei a necessidade de desenvolver algo que pudesse contribuir para o bom desenvolvimento das ações humanizadas dentro das unidades de terapia intensiva, onde o presente trabalho teve como objetivos: Realizar um estudo sobre as potencialidades e obstáculos para a promoção de um cuidado humanizado; Disponibilizar informações a respeito da importância de um cuidado humanizado dentro da uti; Disponibilizar informações sobre a importância da comunicação no relacionamento entre os atores envolvidos no processo de tratamento do paciente critico. Para tanto realizou-se um estudo bibliográfico que abordasse o tema proposto. Neste estudo verificou-se que com a utilização da humanização dentro da UTI é possível chegar-se a resultados significantes, onde a satisfação dos envolvidos está em primeiro lugar. Palavras chave: Humanização. UTI. Cuidado. ABSTRACT The intensive care unit develops a daily routine and complex, so that it seeks a way to alleviate this routine through humanization. Humanization is a form of assistance to people who are involved in the process of health disease, where this is done through humane acts, contact, knowledge, understanding and various other actions geared to the welfare of all persons involved. As a professional committed to the welfare of the patient, noted the need to develop something that could contribute to the development of humanized actions within the intensive care unit, where the present study aimed to conduct a study on the potential and obstacles for the promotion of a humanized care, available information on the importance of a humanized care in the ICU; Providing information on the importance of communication in the relationship between the actors involved in the treatment of critical patients. For this was a literature study to address the theme. This study found that the use of humanization in the ICU it is possible to get significant results, where the satisfaction of those involved at first. Keywords: Humanization. ICU. Caution. 1 Médica Gineco-Obstetra, Mestranda do curso de Terapia Intensiva pela SOBRATI. E-mail: [email protected] 2 1 INTRODUÇÃO Alguns autores como Castro (1990) e Lima (1993) colocaram que as UTIs surgiram a partir da necessidade de aperfeiçoamento e concentração de recursos materiais e humanos para o atendimento a pacientes graves, em estado crítico, mas tidos ainda como recuperáveis, e da necessidade de observação constante, assistência médica e de enfermagem contínua, centralizando os pacientes em um núcleo especializado. Em suma, estas unidades integram o ambiente hospitalar e se destinam à assistência de indivíduos criticamente enfermos, onde se concentram recursos humanos qualificados e recursos científico-tecnológicos sofisticados, com a finalidade de possibilitar rapidez, eficiência e racionalização no atendimento. A unidade de terapia intensiva desenvolve uma rotina diária e complexa, o que leva, em sua grande maioria, os profissionais de saúde a desenvolverem uma prática assistencial distante do toque e do carinho, do conversar e do ouvir o ser humano que está em sua frente. Sabe-se que os profissionais de saúde, que atuam dentro das unidades de terapia intensiva, esforçam-se para desenvolverem ações no sentido de proporcionar uma ação humanizada, mas esta não é uma tarefa fácil, pois a UTI é um lugar que demanda atitudes às vezes individuais contra todo um sistema tecnológico dominante. Boemer (1989) afirma que a própria dinâmica de uma UTI não possibilita momentos de reflexão para que seu pessoal possa se orientar melhor. Percebe-se que vários efeitos negativos do ambiente da UTI sobre o paciente, a família e a equipe multiprofissional exige um tratamento humanizado nos serviços desenvolvidos no ambiente de UTI. A humanização é algo que deve ser colocado em prática em todos os momentos de atenção ao ser humano e em especial quando se trata de pessoas que estão completamente dependentes e carentes, onde seu estado emocional fica abalado e vulnerável. Por humanização entende-se a valorização dos diferentes sujeitos implicados no processo de produção de saúde. Os valores dos sujeitos, a co-responsabilidade entre eles, o estabelecimento de vínculos solidários, a construção de redes de cooperação e a participação coletiva no processo de gestão. 3 Em um país como o Brasil, com profundas desigualdades socioeconômicas, permanecem vários desafios na saúde, como a ampliação do acesso com qualidade aos serviços e aos bens de saúde e ampliação do processo de co-responsabilização entre trabalhadores, gestores e usuários nos processos de gerir e de cuidar. Este cenário indica a necessidade de mudanças. Mudanças no modelo de atenção que não se farão sem mudanças no modelo de atuação profissional. Com as exigências da rotina de trabalho dentro das unidades de terapia intensiva, surge uma grande problemática: como desenvolver um cuidado humanizado dentro de uma unidade de terapia intensiva? Sabe-se que a humanização representa um conjunto de iniciativas que visa à produção de cuidados em saúde capaz de conciliar a melhor tecnologia disponível com promoção de acolhimento e respeito ético e cultural ao paciente, de espaços de trabalhos favoráveis ao bom exercício técnico e à satisfação dos profissionais de saúde e usuários. Como um profissional comprometido com o bem estar do paciente, verifiquei a necessidade de desenvolver algo que pudesse contribuir para o bom desenvolvimento das ações humanizadas dentro das unidades de terapia intensiva. Desta maneira, o presente trabalho tem como objetivo realizar um estudo bibliográfico a respeito da importância da humanização nos cuidados do tratamento intensivo. 2 CONCEITO E HISTÓRICO DA HUMANIZAÇÃO A pedra fundamental do processo de humanização é a comunicação efetiva entre pacientes, familiares e equipe no sentido de identificar dificuldades e promover o melhor plano para a solução dos impasses. É importante conhecermos o conceito de humanização, segundo AMIB (2004) é: (...) é um processo vivencial que permeia toda a atividade do local e das pessoas que ali trabalham, dando ao paciente o tratamento que merece como pessoa humana, dentro das circunstancias peculizres em que cada um se encontra (AMIB, 2004, p. 01). 4 Humanizar é tornar humano, é dar condições humanas ao individuo, onde a atenção, o carinho e a comunicação são colocadas em prática de uma maneira carinhosa e permanente. Frente às necessidades dos indivíduos deve-se individualizar a humanização, ou seja, deve-se dar a atenção necessária a cada individuo, a cada família. A humanização representa uma mudança de comportamento e atitudes frente ao paciente e seus familiares. A humanização foi regulamentada em maio de 2000 pelo Ministério da Saúde, onde criou-se o PNHAH – Programa Nacional de Humanização da Assistência Nacional de Saúde. O PNHAH constitui uma política ministerial bastante singular se comparada a outras do setor, pois se destina a promover uma nova cultura de atendimento à saúde (BRASIL, 2000). Mas a humanização já vem sendo discutida há muito tempo atrás e um exemplo disso é uma reportagem publicada na Revista Veja, da Editora Abril, em 10 de maio de 1995. Esta reportagem falava do sofrimento dos pacientes e tinha como titulo “UTI Corredor da Vida ou da Morte”. Esta reportagem abalou o meio da saúde. Lideranças da Medicina Intensiva se manifestaram nos quatro cantos do país e todos intensionavam minimizar os exageros ou distorções de interpretações que reportagens como esta costumam causar (AMIB, 2004). Certamente esta reportagem foi primordial para todos os intensivistas repensarem a forma de processo das ações, estudos e reflexões voltados para tornar as UTIs menos estressante e mais aconchegante, voltadas para as necessidades individualizadas da essência dos valores humanos. Após esta publicação várias ações se puseram em prol da melhoria do atendimento humanizado dentro das Unidades de Terapia Intensiva, sendo que em 2001ª diretoria da AMIB (Associação de Medicina Intensiva Brasileira), solicitou ao comitê de humanização a realização de um curso de imersão em humanização, onde desde então o curso vem sendo ministrado em várias partes do país por lideranças intensivistas comprometidas com as experiências em humanização, qualidade e ética, no sentido de oferecer um curso de imersão de um dia, com os fundamentos básicos da humanização (AMIB, 2004). Mesmo com toda essa preocupação por parte das lideranças intensivistas, na atualidade vê-se uma panorama nas UTIs que nos conduz para a urgência da preocupação com o resgate da humanização. Não existe uma sistematização e 5 preocupação com o modo-de-ser-cuidado do pacientes, mas, sim, com o aperfeiçoamento da técnica, valorizando o modo-de-ser do trabalho. Muito precisar ser feito, pois a humanização é um processo que envolve todos os membros da equipe na UTI e todos precisam participar deste processo de acolhimento e atenção que chamamos de “Humanização”. 2.2 A humanização na emergência Falar da humanização na emergência é importante, pois é a primeira etapa de um atendimento que pode levar o paciente a chegar até a UTI. Pela emergência chegam pacientes com o estado geral bastante comprometido, onde o primeiro atendimento é realizado ali. Na emergência é realizado os primeiros contatos com o paciente, a família e a equipe. Muitas questões acerca da humanização no atendimento às pessoas que procuram os serviços de emergência hospitalar têm sido abordadas pela imprensa e pelos próprios usuários, com enfoques desabonadores como, por exemplo, a demora ou até mesmo atendimento inadequado por parte dos profissionais de saúde, área física inadequada, falta de material descartável, equipamentos e recursos humanos. Diante de tais abordagens há necessidade de compreender o significado de atendimento humanizado na ótica do acompanhante. Contudo, é conceituado hospital humanizado aquele que em sua estrutura física, tecnológica, humana e administrativa valoriza e respeita a pessoa, colocando-se a serviço desta, garantindo-lhe um atendimento de elevada qualidade (MEZOMO, 2001). Ainda segundo Mezomo (2001) por seu caráter de urgência e emergência, os serviços de emergência hospitalar, com uma rotina acelerada de atendimento, tornam-se um ambiente de muita tensão e estresse. Todos quantos vivenciam essa realidade sejam os pacientes, os familiares ou a equipe de saúde, estão sempre envolvidos pela ansiedade e angústia da vida e da morte. Além disso, as especificidades deste ambiente induzem os trabalhadores desse serviço a se posicionarem de maneira impessoal, com dificuldade de atuação de forma humanizada. No Brasil, a exemplo de outros países, os serviços de emergência são cada vez mais procurados. Conseqüentemente a demanda torna-se cada vez maior. Ao conviver com essa realidade, sobressai a precariedade desses serviços - não raro 6 deparamo-nos com corredores aglomerados de pacientes em macas sem colchões, sem privacidade, conforto ou segurança, à espera de atendimento e, ainda, vulneráveis a infecções cruzadas. Nesse ambiente, encontram-se, também, os familiares, geralmente desinformados quanto aos procedimentos adotados em relação ao paciente e à própria situação deste (SMELTZER; BARE, 2005). 2.3 Humanização na UTI Os pacientes internados em UTI são, na maioria das vezes, dependentes e sentem-se imponentes com a falta e o controle de si mesmo. A pessoa internada em uma Unidade de Terapia Intensiva fica cercada de pessoas ativas e ocupadas, o que freqüentemente pode ser um coadjuvante para a instalação da ansiedade e de sentimentos de isolamento. A equipe hospitalar que ignora a presença de um paciente, independentemente do seu estado de vigilância, contribui para que ele se sinta isolado. Essa sensação de isolamento pode ser reduzida incluindo-se o paciente em conversas sobre o tratamento, por contato tranqüilizador em momentos de medo. A doença grave e o medo de morrer também separam o paciente de sua família. É necessário o desenvolvimento imediato de relações dependentes e íntimas com estranhos. Freqüentemente a equipe tenta confortar o paciente usando-se das velhas palavras “você ficará bem”. Segundo AMIB (2004) esta fala serve apenas para reforçar a sensação de distancia que o paciente está sofrendo, pois a eficiência e a atividade que circundam o paciente aumentam a sensação de separação. É importante descrever alguns comportamentos com características humanísticas da assistência ao paciente, que são: ouvir, dar atenção, humor, envolvimento e compartilhar. Partindo do pressuposto que a Unidade de Terapia Intensiva é um ambiente que concentra pacientes graves, mais recuperáveis, cuidados por profissionais que se empenham para maximizar suas chances de viver mais e, principalmente melhor e com uma assistência de qualidade e humanizada, temos assistido nos últimos anos um considerável crescimento e aprimoramento de ações concretas destinadas a promover a humanização da assistência hospitalar no âmbito das UTIs (SALICIO; GAIVA, 2006). 7 Para Ferreira (1988) apud Salicio e Gaiva (2006) humanização é “tornar-se humano, humanar-se. Tornar benévolo, afável, tratável, humano. Fazer adquirir hábitos sociais polidos; civilizar”. Humanizar de acordo com os valores éticos consiste fundamentalmente, em tornar uma prática bela, por mais que ela lide com o que tem de mais degradante, doloroso e triste na natureza humana, o sofrimento, a deterioração e a morte. Refere-se, portanto, a possibilidade de assumir uma posição ética de respeito ao outro e de reconhecimento dos limites. O ponto chave do trabalho de humanização está no fortalecimento desta posição ética de articulação do cuidado técnico cientifico, já construído, conhecido e dominado, ao cuidado que incorpora a necessidade, a exploração e o acolhimento do imprevisível, do incontrolável, ao indiferente e singular (MORAES et al, 2004). A humanização dos serviços deve ser vista não enquanto um modismo, mas como uma questão que vai além dos componentes técnicos, instrumentais, que envolve as dimensões político – filosóficas que lhe dão sentido (CASATE; CORRÊA, 2005). O respeito aos direitos dos pacientes na prática cotidiana em terapia intensiva, passa pelo questionamento dos próprios pacientes e familiares e pela abertura de espaços para diálogo com os próprios profissionais de saúde, tornando essa prática mais humanizada. Mais uma vez é importante lembrarmos que a construção de uma assistência humanizada em UTI é um processo com metas no curto, médio e em longo prazo, impulsionada por medidas de avaliação e da capacidade de aprender com a própria experiência e a dos outros. Ao ser internado em uma UTI o paciente O cliente internado é tratado como se fosse mais um leito ou um caso de doença. As regras institucionais são rígidas em relação às visitas e acompanhantes. Determina-se o horário e número de pessoas que podem visitar, favorecendo a instituição e não o doente. No momento da internação exige-se a entrega de todos os pertences, descaracterizando-o do seu mundo real. Além de todo o estresse a que são submetidos, os doentes, no ambiente da UTI, também são privados da companhia de pessoas da família e dos amigos. A pessoa internada faz parte do sistema familiar e a hospitalização em UTI é um evento de crise, tanto para ela quanto para a família onde a equipe da UTI deve 8 avaliar as necessidades físicas e psicológicas de ambas e incorporá-las nas necessidades levantadas. A informação oferecida ao familiar é muito importante, principalmente para conhecer o que é uma UTI, o que se faz para os clientes internados e como é o trabalho dos funcionários dessa unidade. O familiar precisa estar seguro de que a pessoa internada receberá toda a assistência de que necessita. 2.4 Importância da Humanização na UTI Humanização é tornar humano, benévolo, sendo entendida como uma medida que busca resgatar o respeito à vida humana em ocasiões sociais, éticas e psíquicas, presente no relacionamento humano, aceitando-se a necessidade de resgatar os aspectos subjetivos, fisiológicos e biológicos. É necessário adotar uma prática na qual o profissional e o cliente consideram o conjunto desses aspectos como parte da sua assistência humanizada, possibilitando assumir uma posição ética de respeito ao outro (MORAES, GARCIA, FONSECA, 2004). As instituições de saúde caracterizam-se por um trabalho de natureza relacional e requer a consideração dos aspectos de humanização, que é aceitar a necessidade de resgate e articulação dos aspectos subjetivos, indissociáveis dos aspectos físicos e biológicos. Refere-se, portanto, à possibilidade de assumir uma postura ética de respeito ao outro, de acolhimento do desconhecido e de reconhecimento dos limites.O ponto-chave do trabalho de humanização está em fortalecer este comportamento ético de articular o cuidado técnico-científico, com a necessidade de explorar e acolher o imprevisível, o incontrolável, o diferente e singular. Segundo Moraes, Garcia, Fonseca (2004) é errôneo pensar que a humanização de um hospital é apenas questão de ter materiais suficientes, equipamentos modernos e local adequado, ela é, sobretudo, um problema que envolve as atividades das pessoas que ali trabalham, procurando oferecer um tratamento que respeite o paciente como ser humano desde o momento da sua internação, em que a alteração de suas rotinas,do ambiente, a dependência e o medo do desconhecido acarretam comprometimentos psico-emocionais. A humanização envolve um processo vivencial que procura dar ao paciente o tratamento que merece como pessoa humana,dentro das circunstâncias peculiares 9 que se encontra em cada momento. Ela não acontece de modo mágico, mas sim como uma filosofia que deve ser trabalhada e desenvolvida de acordo com os interesses de um grupo ou de uma pessoa. A tarefa de cuidar é um dever do ser humano e não somente de uma classe profissional como a enfermagem, que é considerada como a arte e a ciência do cuidar (MEDINA e BACKES, 2002). É preciso que haja interação entre quem cuida e quem é cuidado e que aconteçam trocas de informações e sentimentos. Humanizar a UTI significa cuidar do paciente como um todo, englobando o contexto familiar e social. Essa prática deve incorporar os valores, as esperanças, os aspectos culturais e as preocupações de cada um. Segundo AMIB (2004) a humanização é um conjunto de medidas que engloba: O ambiente físico; O cuidado dos pacientes e seus familiares; As relações entre a equipe de saúde. Essas intervenções visam, sobretudo tornar efetiva a assistência ao individuo criticamente doente, considerando-o como um todo bio-psico-sócio-espiritual. 2.5 Comunicação e humanização A comunicação verbal e não-verbal está intimamente ligada à humanização. É pela comunicação estabelecida com o paciente, que podemos compreendê-lo em seu todo, sua visão de mundo, isto é, seu modo de pensar, sentir e agir. A comunicação é também uma necessidade humana básica, sem a qual a existência do ser humano seria impossível (STEFANELLI, 2000). Conversar, tocar e ouvir são poderosos instrumentos de cura; muitas vezes são o próprio remédio (SILVA, 2000). Silva (2000) em seu artigo coloca que estudos com pacientes em unidade de terapia intensiva (UTI) mostram que o toque de familiares e membros da equipe de saúde pode alterar os ritmos cardíacos do cliente, que diminui quando seguram sua mão. A comunicação em uma UTI deve envolver a equipe, os pacientes internados, seus familiares e responsáveis, médicos, assistentes, as fontes pagadoras e a mídia. Constitui a comunicação um importante instrumento, muitas vezes negligenciando, para a construção de uma UTI mais humana, descontraída, 10 harmoniosa e eficiente. Cuidando das relações a partir da equipe que assiste, estará cuidando de cada indivíduo envolvido, beneficiando o conjunto e, em especial, o paciente. A comunicação deve ser encarada muito mais como um projeto, e não como um simples dado no processo de atendimento humanizado. Uma comunicação verdadeira é o projeto que permite um verdadeiro cuidar do paciente, e não um simples tratar (AMIB, 2004). Segundo a AMIB (2004) o termo comunicação pode se referir a qualquer meio de transmissão de informações, a qualquer mensagem produzida por esse meio, ou ainda a um objetivo específico ao se utilizar esse meio. Quando, no entanto, fala-se em comunicação no processo de Humanização, estamos nos referindo a uma situação de profunda relação entre dois ou mais agentes que estejam dialogando. Comunicar com emoção transforma o ato de tratar no verdadeiro cuidar. 3 METODOLOGIA 3.1 Tipo de estudo Para a realização deste trabalho utilizou-se de uma pesquisa bibliográfica, descritiva, com abordagem quantiqualitativa. Realizou-se uma revisão da literatura em livros, artigos e periódicos publicados onde o assunto principal abordado foi “Humanização em UTI”. Buscou-se referências bibliográficas onde a humanização fosse colocada como o principal assunto. Utilizou-se a pesquisa bibliográfica por ela ser aquela elaborada a partir de material já publicado, constituído principalmente de livros, artigos de periódicos e atualmente com material disponibilizado na Internet (GIL, 1991). 3.2 Universo e amostra Para realizar a amostra deste trabalho, buscou-se utilizar bibliografias publicadas. Na Internet buscou-se artigos, principalmente, na base de dados Scielo. Para a realização da busca utilizou-se como critério as palavras chave: humanização, UTI. 11 3.3 Processamento, apresentação e análise dos dados Após a coleta das informações, que foi feita através do estudo dos artigos e das literaturas publicadas, realizou-se a análise das mesmas, onde realizou-se uma transformação das informações em relatório onde o mesmo está apresentado neste trabalho no capitulo que faz referencias aos resultados e discussão da pesquisa. Acrescenta-se aqui, que todos os autores consultados na revisão bibliográfica e na discussão dos resultados foram descritos nas referências bibliográficas do presente trabalho. 4 RESULTADO E DISCUSSÃO Após a realização da leitura sobre a humanização em UTI foi possível descrever os resultados obtidos desta leitura, onde os dados levantados estão descritos neste capitulo do trabalho. Buscou-se realizar uma discussão a respeito da humanização em tratamentos intensivos, onde para tal utilizou-se como base de dados artigos, periódicos e outros referenciais que continham o assunto abordado. Durante o estudo preocupou-se em realizar uma discussão que melhor explicasse o assunto, onde optou-se por começar falando a respeito da comunicação, pois a mesma é base primordial para que ocorra a humanização. A comunicação está diretamente ligada aos sentidos humanos. Portanto, torna-se impossível para o homem não se comunicar e viver isolado, a margem da sociedade. Os componentes da comunicação são: o emissor, o receptor, a mensagem, o canal de propagação, o meio de comunicação, a resposta e o ambiente onde o processo comunicativo se realiza. O primeiro passo a ser dado é a conversa consigo mesmo. Conhecer-se melhor, entender seus limites, reconhecer seus valores, assumir e enfrentar suas dores, é o caminho para se tornar mais forte e preparado para lidar com os outros. Cuidando de si mesmo estará mais apto para cuidar do próximo. Será através da reflexão que mitos e tabus, vícios e preconceitos poderão serem expostos e combatidos. A mudança de atitude deve ser precedida de uma 12 mudança interna, e não ser imposta de fora para dentro. A humanização na UTI começa pelo individuo que nela atua. Deve-se fazer uma auto-avaliação de nossas atitudes, dos nossos sentimentos profissionais, dos nossos modos de agir com o próximo, conhecer as dores e limitações, tanto própria quanto do próximo. Este processo de reflexão servirá para que nos vejamos como homens e quanto de bonito e milagroso existe em cada um de nós. Olhando e conversando conosco, estaremos com os olhos menos turvos para olhar e sentir o outro, seja ele o paciente, a equipe, os familiares. A tabela abaixo demonstra como deve ser realizada a comunicação dos envolvidos no processo dentro de uma UTI. Tabela 1: Descriminação do processo de comunicação dentro da UTI frente as pessoas envolvidas. PESSOAS ENVOLVIDAS Paciente PROCESSO DE COMUNICAÇÃO O primeiro passo na comunicação com o paciente é reconhecê-lo como ser humano. Entender e aceitar sua individualidade e o momento doloroso que está passando. É, na medida do possível, nos olhares sob a ótica do outro, procurando oferecer o que no fundo gostaríamos de receber. Quebrar barreiras, aproximando-nos, deixando de lado tabus, simplificando e aquecendo as relações. Durante os respeito diversos ao procedimentos, paciente deve permanentemente lembrado. sempre sobre informá-lo o o ser Primeiro: que será realizado, desde uma punção, um exame, uma medicação. Segundo: solicitar sua permissão e consentimento, sempre. Terceiro: deixá-lo à vontade a qualquer momento para esclarecer sua duvidas. E por último:: evitar discussões à beira do leito, 13 assim como todo comentário desnecessário, pois um gesto mal colocado pode representar um motivo de ansiedade e medo para o paciente. Equipe A relação entre os membros de uma equipe envolve dois aspectos: a relação interpessoal e a de trabalho. Ambas devem ser cuidadas para que o ambiente seja tranqüilo e o trabalho produtivo. Nunca devemos esquecer a importância de formarmos equipes, isto é, grupos que tenham objetivos em comum, os meios para alcançá-los e dividir entre si os resultados. A comunicação é um instrumento na formação de um grupo coeso. Familia A comunicação com os familiares e responsáveis constitui um ponto delicado no cotidiano de uma UTI, fonte de diversos atritos e mal-sentimentos. De um lado, uma equipe que pode estar apenas interessada no tratamento propriamente dito; do outro lado, um grupo de pessoas ansiosas, desconfiadas, angustiadas, sofrendo com o momento pelo qual estão passando. Alguns métodos de comunicação com os familiares podem ser empregados: Assistência gerencial: um profissional que serve de ponte entre a UTI, os pacientes e os familiares. É a denominada ouvidoria; Horários de visitas ao pacientes internado: organizados, horários flexíveis aumentados e na duração; Informação aos familiares: diariamente o médico da rotina deve 14 informar a família o quadro médico do paciente; Reunião com familiares: uma vez por semana, um representante de cada profissão envolvida (médico, enfermeiro, técnico em enfermagem, psicóloga, etc) deve apresentar-se aos familiares, esclarecer as duvidas, aprender mais sobre o paciente e permitir que os familiares troquem entre si impressões e sensações que vivem nesse momento. Realização satisfação: de os pesquisas familiares e de os pacientes respondem a pesquisa após a alta que aborda diversos pontos no tratamento realizado. Serve para reavaliação constante do programa de humanização. FONTE: Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB), 2004. O canal de propagação é geralmente verbal, face-a-face, nas salas de espera da UTI. Essa é uma forma simplista de abordar um tema tão complexo. A comunicação nas situações de terminalidade torna-se complexa por influência de inúmeros fatores que interferem nos agentes envolvidos. A dificuldade da comunicação durante o processo do morrer tem fundamentos históricos. Merece destaque o fato de que só se consegue a comunicação adequada quando se tem conhecimento e tranqüilidade para abordar determinado tema. Dentro de uma UTI existem alguns fatores estressores que causam medo e ansiedade, dificultando, assim, a prática humanizada dentro de uma UTI, que são: Ambiente físico; Confronto permanente com o sofrimento e a morte; Carga excessiva de trabalho; Dupla jornada de trabalho; Inter-relacionamento com equipe multiprofissional; 15 Inúmeras informações, que vêm de diferentes fontes, devendo ser processadas de maneira eficiente; Separação (do paciente) de seus familiares na admissão. Segundo AMIB (2004) a UTI é uma unidade cujo foco é o tratamento no plano biológico com o objetivo de preservar a vida, mas sempre se deve lembrar que é a vida de uma pessoa, a qual tem emoções, afetos, sentimentos e medos. Portanto, o paciente necessita do apoio e do suporte da equipe. Seus membros devem ser agentes de humanização na UTI atuando junto ao paciente, possibilitando uma diminuição ou amenizando as intercorrências que possam comprometer sua recuperação. Devem conversar sobre as angustias, as fantasias, os medos do paciente e estar atentos para suas manifestações verbais e não verbais; buscar focos de motivação; estimular sua autonomia através do autocuidado e trabalhar com a tríade paciente, família e equipe. A humanização se faz de suma importância dentro de uma UTI, pois somente através dela é possível conseguir maior satisfação no trabalho. Para uma humanização completa deve-se levar em consideração o homem, tornando-o parte integrante do trabalho, minimizando as psicopatologias causadas na sua maioria das vezes pelo medo e ansiedade, decorrentes das próprias estratégias defensivas do ser humano. Ao se respeitar e atender as necessidades e direitos do paciente, a equipe que com ele se relaciona terá sucesso em seu trabalho, já que é de responsabilidade de toda a equipe fazer com que esses direitos sejam cumpridos. O avanço tecnológico na área da saúde é uma grande conquista, porém o melhor é associá-lo à humanização e à comunicação terapêutica, com intuito de obter resultados mais satisfatórios em relação ao bem-estar dos pacientes/clientes e da ciência. Desta forma, para que se consiga humanizar o atendimento dentro de uma UTI é preciso que a equipe seja conscientizada e preparada para fazer a diferença no cuidado, passando a entender o paciente de forma humana. Toda a equipe envolvida são responsáveis por orientar, sanar dúvidas pertinentes ao procedimento trazendo uma maior tranqüilidade e segurança, não esquecendo de que ele também necessita de um ambiente adequado para o seu trabalho. Humanizar o atendimento dentro de uma Unidade de Terapia Intensiva tem sido um desafio constante, pois encontra-se resistência de alguns funcionários e de 16 vários profissionais de outras áreas, porém acredita-se que o cuidado humanizado é essencial para a prática profissional e para o bem estar do paciente e de seus familiares. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante do que foi aqui colocado, chegou-se a conclusão de que a humanização dentro da Unidade de Terapia Intensiva se faz cada vez mais necessária para que os envolvidos no processo possam ter mais conforto e comodidade ao realizarem procedimentos que muitas vezes podem levar o paciente à morte. Dentro de uma UTI existem alguns obstáculos que dificultam a promoção de um cuidado humanizado, dentre eles pode-se citar: a falta de comunicação entre os atores, que são: o paciente, a equipe e os familiares; o mundo interno (pensamentos, sentimentos, emoções e fantasias); o meio externo (meio sócioeconomico-cultural, inclusive o trabalho). Trabalhos multidisciplinares com toda a equipe envolvida dentro da humanização na UTI podem favorecer a sensibilização para iniciar um processo de humanização interna que tenha conseqüências benéficas no atendimento. Desta forma, o presente estudo ressalta a importância de mudanças nos profissionais, por levantar questionamentos a respeito da necessidade de inovação dos conceitos sobre assistência do paciente/cliente e implantar uma assistência humanizada, deixando de buscar as características relacionadas a problemas burocráticos, estruturais e técnicos, mas sim a uma questão que envolva atitudes, comportamentos, valores, ética moral e profissional. Com base no evidenciado, este estudo propiciou o entendimento da grande importância da humanização. Um atendimento humanizado é possível e pode ser alcançado por meio de ações conjuntas: um simples olhar afetivo; boa vontade dos profissionais; ambiente higienizador; material suficiente e equipamentos adequados e funcionando; cordialidade; conforto; profissionais capacitados nas ações desempenhadas. Conforme acreditamos, a aplicação correta de recursos é fator condicionante para a humanização. Com a humanização é possível chegar a um relacionamento mais agradável, onde paciente, família e equipe de saúde possam exercer seus papeis de uma 17 maneira mais afável, levando a uma satisfação. Com a humanização o medo e a insegurança são amenizados. A família sente-se mais satisfeita, o paciente sente-se mais seguro e a equipe trabalha melhor. Para se chegar a uma humanização eficaz e eficiente é imprescindível que se ponha m prática algo ao qual chamamos de comunicação. A adequada comunicação entre o médico, o paciente, seus familiares e a equipe multiprofissional da UTI é um dos principais fatores que interferem na satisfação, tanto dos usuários quanto daqueles que trabalham nessas unidades. Para que haja comunicação eficaz torna-se necessário o seguimento de diversos aspectos. Com a comunicação clara e objetiva é possível colocar no processo de recuperação a família, fazendo com que estes passem a interagir no processo de tratamento, tirando o sentimento de impotência. A comunicação é o meio de transmissão das informações. Quando falamos na comunicação como um dos componentes da humanização, estamos nos referindo a um processo de interação entre todos os envolvidos na relação saúde/doença. A comunicação bem realizada faz com que a emoção floreça e os sentimentos venham a aparecer de uma maneira mais singela. Com a comunicação é possível transformar a maneira de tratar, ou seja, a maneira de lidar com o paciente e seus familiares. Com a comunicação muda-se a maneira de cuidar, passa-se transmitir mais segurança e conforto àqueles que estão angustiados e desesperados por uma saída que lhes traga algum tipo de conforto. REFERÊNCIAS AMIB – Associação de medicina Intensiva Brasileira. Humanização em cuidados intensivos. Livraria e Editora Revinter Ltda., 2004. BOEMER, M.R.; ROSSI, L. R.; NASTARI, R. R. A idéia de morte em unidade de terapia intensiva - análise de depoimentos. Rev Gaúcha Enfermagem 1989 julho; 10(2):8-14 BRASIL. Ministério da Saúde. 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