Isabela de Macedo – Psicóloga Clinica e Hospitalar CRP: 08/10134 -- Introdução -- Psico-oncologia – o que é e suas intervenções -- Humanização -- O psicólogo como agente de saúde nos hospitais -- Peculiaridade do paciente oncológico em unidades de terapia intensiva Introdução - Câncer Mesmo com todas as evoluções no tratamento do câncer, a doença ainda é a que mais assusta. As pessoas quando pensam em câncer já remetem à mutilação, a perda do cabelo, a morte. A própria pronúncia da palavra é feita de forma pesada. O câncer é uma das doenças mais temidas e ainda causa espanto, piedade, repulsa, preconceito e discriminações. Conviver com a doença e vencê-la requer um esforço e uma verdadeira e autêntica ‘aliança’ entre o paciente, a rede de apoio familiar e social, a equipe médica e de saúde e a própria comunidade, que tem que estar disposta a acolher. Por tratar-se de uma doença crônica de prognóstico nem sempre favorável, responsável por parcela significativa de óbitos e cujo tratamento pode exigir níveis de tolerância bastante elevados, observa-se nas últimas décadas do Séc. XX uma enorme mobilização científica e profissional de praticamente todas as ciências da saúde, inclusive da Psicologia, no sentido do desenvolvimento de novas modalidades terapêuticas de prevenção e de tratamento do câncer. Psico- oncologia Campo interdisciplinar da saúde que estuda a influência de fatores psicológicos sobre o desenvolvimento, o tratamento e a reabilitação de pacientes com câncer. Entre os principais objetivos está a identificação de variáveis psicossociais e contextos ambientais em que a intervenção psicológica possa auxiliar o processo de enfrentamento da doença, incluindo quaisquer situações potencialmente estressantes a que pacientes e familiares são submetidos. O atendimento profissional, independente da abordagem teórico-filosófica do psicólogo, deve ultrapassar os limites do consultório e da prática psicoterápica, inadequada e insuficiente para o cumprimento dos seus objetivos, indo buscar e trabalhar com o paciente onde quer que ele se encontre (na sala de espera do hospital, na enfermaria, na sala de procedimentos invasivos, em casa, ou em qualquer outro local). Deve ser entendida como um instrumento que viabiliza atividades interdisciplinares no campo da saúde, desde a pesquisa científica básica até os programas de intervenção clínica. A intervenção em psico- oncologia É baseada em modelos educacionais e não em modelos médicos ou clínicos que enfatizam estruturas patológicas e atendimentos terapêuticos individuais. O tratamento é realizado de forma focal, voltado para as circunstâncias atuais, buscando facilitar comportamentos adaptativos para aquela fase da vida da pessoa. São técnicas muito específicas utilizadas em momentos de crise, para resolução em curto prazo das manifestações emocionais que, muitas vezes, dificultam a recuperação do paciente. Por vezes, faz-se necessário também, o atendimento institucional, no sentido de melhorar o contexto e o preparo de toda a equipe no tratamento do paciente, minimizando problemas e otimizando a qualidade do atendimento. O profissional, no contexto da psico-oncologia, deve priorizar a promoção de mudanças de comportamento relacionadas à saúde do indivíduo. A experiência de tratamento deve se constituir em uma condição de aprendizagem sócio-comportamental e cognitiva para o paciente; cabe ao psicólogo demonstrar que os repertórios de comportamentos adquiridos no contexto do tratamento podem ser úteis em diversas situações de risco, mesmo aquelas distantes do contexto de doenças e tratamentos médicos, a que o indivíduo for submetido. O foco de estudo centrou-se nas duas dimensões psicológicas verificadas na fase do diagnóstico do câncer: a primeira refere-se ao impacto da doença, a segunda é a influência dos aspectos psicossociais e comportamentais na incidência e no desenvolvimento do câncer. Desta forma, o foco da intervenção centrou-se no contexto psicológico e médico, contribuindo assim, efetivamente, para a adaptação à doença dos pacientes. Humanização A partir de 1995, começou um movimento que se tornou conhecido como humanização do atendimento na UTI. Esse levou os intensivistas a uma reação em forma de ações, estudos e reflexões para tornar essas unidades menos estressantes e impessoais e mais aconchegantes e voltadas para as necessidades individualizadas dos pacientes. O principal objetivo da humanização é gerar satisfação ao cliente interno e externo, implementando o conceito “cuidar do outro como você gostaria de ser cuidado”, criando um ambiente menos hostil - o que ajuda o paciente a diminuir o nível de estresse e, conseqüentemente, se recuperar mais rápido. O conceito de humanização busca resgatar o valor da proximidade com o paciente, evitando que o alto desenvolvimento tecnológico na medicina coloque o relacionamento e o calor humano em segundo plano. A responsabilidade dos profissionais se estende para além das intervenções tecnológicas: inclui a avaliação das necessidades dos familiares, grau de satisfação desses sobre os cuidados realizados, além da preservação da integridade. A humanização é o maior avanço dos tratamentos oncológicos e conseqüentemente hospitalares. A humanização trouxe mais troca entre os profissionais das diversas áreas, mais confiança dos pacientes nas equipes e maior preocupação em tratar o paciente com dignidade e respeito. O hospital tornou-se um lugar um pouco mais democrático. É um progresso que se deve às discussões de casos clínicos com foco na troca de conhecimentos, onde todos buscam o melhor para o paciente. Conscientizar a equipe que trabalha na UTI para que humanize o seu trabalho, ainda é um passo importante. É imprescindível no processo de humanização uma equipe consciente dos desafios a serem enfrentados e dos limites a serem transpostos. O psicólogo como agente de saúde nos hospitais Diversos estudos apontam evidência de que a resposta psicológica do paciente ao câncer constitui uma variável significativa sobre os resultados do tratamento. Nesse contexto, a psicoterapia funciona como facilitadora, fornecendo ao individuo a possibilidade de ampliar a consciência de si, aprender com seus sintomas e desenvolver-se como pessoa. Diz-se que o psicólogo "ausculta" o silêncio do sofrer. E essa procura em conhecer esse momento difícil dos pacientes é de grande valia aos que se encontram nas Unidades de Tratamento Intensivo - UTI. A atuação desse profissional junto a hospitais e clínicas na prevenção da depressão reativa ao processo de adoecimento entre outras intervenções. No caso do tratamento intensivo, aqueles pacientes conscientes se beneficiam do tratamento por poderem compartilhar uma das experiências mais difíceis para o ser humano, o adoecimento com risco de vida ou de seqüelas. Compartilhar os medos, ansiedades, carências e receber todo apoio e orientação necessária, num ambiente extremamente estressor como é a unidade de terapia intensiva, fortalece o paciente emocionalmente, auxiliando-o a ter mais recursos de enfrentamento da situação. Além do paciente, a família também se beneficia muito com o atendimento, pois se encontra quase sempre muito mobilizada diante da situação de risco e sofrimento do familiar. Dentro do hospital, o atendimento psicológico não é baseado na patologia do paciente, “o sujeito vem sempre antes da patologia”, e cada uma delas lida com esse universo de maneira diferente. É “interessante perceber as diferentes estratégias e recursos emocionais que as pessoas vão buscando para lidar com a doença”, Como lidar com o paciente oncológico na unidade intensiva As maiores aflições de pacientes e familiares: não saber lidar com as limitações impostas pela doença e tratamento; não saber se contam ou não; se conversam sobre a doença ou não; o medo da morte e o preconceito. Assim como os de mais pacientes da UTI, o oncológico também deve ter um atendimento HUMAZIDO. Como o câncer é uma doença cercada de tabus, representações associadas ao sofrimento, deterioração, incapacitação e morte, o que remete uma crença irracional acerca do tratamento, faz-se necessário algumas percepções especiais no atendimento a esses pacientes: atendimento aos pacientes oncológicos 1. Proporcionar suporte, orientação e desenvolvimento de estratégias de enfrentamento 2. Incentivar o paciente na adesão do tratamento 3. Minimizar a dor aguda e ou crônica do paciente 4. Identificar principais fontes de angustia do paciente 5. Desmistificar a questão de que é o tratamento que deixa o paciente doente 6. Desmistificar afastamentos e preconceitos da doença. Flexibilidade é a palavra chave para o trabalho em hospitais, principalmente quando o foco é a unidade de terapia intensiva