Para S. Paulo, a Liturgia é estar ao serviço do projecto

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Para S. Paulo, a Liturgia é estar ao serviço do projecto de Deus
Para Paulo, «a liturgia que realmente agrada a Deus é a atitude de nos colocarmos
plenamente ao serviço do projecto de Deus, vivido por Jesus, o Filho de Deus», explica
o delegado da liturgia da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). Em
conferência na Semana Teológica do Instituto de Teologia e Filosofia Santa Teresinha,
da diocese de São José dos Campos, o padre Carlos Gustavo Haas falou sobre a
influência da teologia paulina na liturgia.
No início de sua exposição, o sacerdote recordou a epistemologia do termo liturgia, do
grego «leitourgía», que pode ser entendido resumidamente por «serviço público». Citou
ainda a definição da Sacrosanctum Concilium --constituição sobre Sagrada Liturgia do
Concílio Vaticano II--, que afirma que a liturgia é considerada como “o exercício da
função sacerdotal de Cristo”.
«Paulo usa a palavra liturgia para falar de serviço. Portanto, para ele, a palavra liturgia
implica compromisso social, compromisso com a vida, com a caridade. Com efeito, em
Jesus Cristo, o que vale é a fé agindo pelo amor», explica o sacerdote. Paulo afirma que
Deus lhe deu a graça de ser «liturgo» ou «ministro de Jesus Cristo entre os pagãos»,
prestando um serviço sacerdotal ao Evangelho de Deus.
De acordo com o padre Haas, além das considerações sobre o significado de liturgia
como serviço, Paulo também nos diz sobre o que entende por culto espiritual. Em
Romanos 12, ele afirma: “Eu vos exorto, pois, irmãos, pela misericórdia de Deus, a
oferecerdes os vossos corpos em sacrifício vivo, santo, agradável a Deus: é este o vosso
culto espiritual”. «Para Paulo, a liturgia que realmente agrada a Deus é colocarmo-nos
ao serviço do projecto de Deus, vivido por Jesus, o Filho de Deus», destaca. «É muito
fácil viver uma liturgia do templo, uma liturgia da Igreja apenas como templo. Mas é
muito difícil fazer da nossa vida uma hóstia viva, santa, agradável a Deus.»
O delegado da CNBB explicou então que o termo “culto” tem raiz latina que significa
“cultivar”. «Que significa cultuar a Deus?». Significa «cultivar no dia-a-dia, na
celebração e na vida, aquilo que Deus é. O culto espiritual como compromisso, a
exemplo de Jesus». «Muitas missas, baptizados, casamentos foram e ainda são
oportunidade mais para justificar os esquemas deste mundo do que cultivar a vontade de
Deus.» «Cultiva-se às vezes o que eu quero, o que eu desejo, o que eu penso, e não
cultivamos, não prestamos o culto a Deus. Em vez de servirmos a Deus, nós servimonos de Deus», afirmou. A liturgia tem de «nos levar a fazer justamente isso que Paulo
disse em Gálatas 4: até que Cristo se forme em nós, em mim, em ti, em nós».
O Ano Litúrgico é «uma maneira fantástica de cultivar os sentimentos de Jesus Cristo
que vão sendo celebrados» ao longo do tempo. «A Igreja não tem calendário litúrgico,
ela tem o Ano Litúrgico, que é um itinerário onde domingo a domingo, semana a
semana se vai cultivando essa Palavra, e ela vai penetrando, transformando a vida dos
fiéis.» «Não é devoção; é cultivar, para que nos tornemos hóstias vivas, santas,
agradáveis a Deus; isto é a liturgia, não é ritualismo. Precisa-se do rito, de uma
ritualidade, mas não de ritualismo. Não é devoção, é celebração».
No contexto do Sínodo da Palavra de Deus, padre Haas afirmou que é preciso ouvir a
Palavra com o coração. Por isso, «precisamos do silêncio. Não só o silêncio da boca,
mas o silêncio dos olhos, do ouvido, do coração, do nosso corpo. Vivemos num mundo
tão barulhento. Temos missas tão barulhentas», lamentou. «Esta experiência humana de
acolher, ouvir, entender, obedecer à Palavra é fundamental para todos nós.» O delegado
da liturgia da CNBB destacou que a Palavra não é uma simples mensagem. «Eu já ouvi
tantas pessoas dizer: “a mensagem do evangelho de hoje...”. A Palavra não é uma
mensagem, ela é a verdade, é a vida, é Cristo. A Palavra é um acontecimento».
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