Homilia de domingo, 25/06/2006 Pe. Luís Maurício Meus irmãos e minhas irmãs, a Liturgia de hoje na sua beleza e simplicidade, também, é muito real e presente na nossa vida. A Liturgia nos coloca diante de um desafio que é o de corrigirmos e, portanto renovados, amadurecermos a nossa fé. De uma certa maneira, todos nós nos perguntamos diante de tantas situações na nossa vida pessoal, comunitária, na história humana, nas situações de doença, tristezas, angústias, de problemas financeiros, de relacionamento, de catástrofes, enfim, nos perguntamos: Onde Deus se encontra? Será que Ele não está vendo, olhando para esta situação, para esta realidade? A Liturgia vem nos propor a reflexão e nos dá uma única resposta: Deus, o Senhor nosso Deus, é o Senhor da história e somos chamados a corrigir e aprofundarmos a nossa fé na confiança e na esperança de sua presença permanente em nós, mesmo diante de situações limites e frágeis da nossa história. A primeira leitura, do livro de Jó, aquele que conhecemos como pai da paciência, mas que na Bíblia é conhecido como o homem da confiança e da esperança, era um homem rico. Tinha tudo: filhos, rebanho, uma boa casa e boa condição de vida. Em um determinado momento de sua vida perde tudo e aqueles que conviviam com ele perguntavam: Como pode? Onde está seu Deus? Onde se encontra o Deus da vida e da bondade a quem você diz professar a fé? Era uma tentação para Jó. Entretanto, sua resposta era de reconhecimento, de que em todas as circunstâncias da vida, a presença de Deus era e é inabalável. Jó nos ajuda, pela primeira leitura, a corrigirmos a nossa fé através da consciência de que não podemos fundamentar esta fé numa relação de retribuição, como era próprio do Antigo Testamento. Um toma-lá-da-cá. A fé Cristã é baseada na gratuidade que nos motiva a confiarmos em Deus, apesar de qualquer circunstância na nossa vida. Não podemos fazer de Deus um negócio, no qual o valorizamos quando tudo corre na nossa vida às mil maravilhas. O Evangelho de hoje vem ao encontro desta mesma proposta ao nos apresentar um problema muito real, do início do Cristianismo, quando Marcos escreveu seu Evangelho, pelos anos 60. Anos de perseguição à comunidade Cristã, em que o Império Romano perseguia e matava os Cristãos. A comunidade estava se formando, com problemas de relacionamento, não compreendiam a ausência física de Jesus Cristo, ainda não tinham feito a profunda experiência da ressurreição na qual o Senhor está conosco. A comunidade estava confusa. Todos os discípulos na barca significa o retrato de uma comunidade confusa, que não sabe para onde vai diante dos diversos problemas, das diversas situações existentes para as quais precisamos dar uma resposta. Não é muito diferente da nossa situação, quando temos que dar respostas diante dos problemas políticos, diante das situações de doenças, dos problemas de relacionamento. Resposta nos momentos em que nos sentimos desafiados por essas realidades e não sabemos o que pensar, nem como agir. E nos perguntamos também: Senhor por que dormes? A Liturgia de hoje vem pedir que a nossa fé seja madura. Primeiro para reconhecermos que todas as circunstâncias existenciais não são fruto do querer de Deus, mas de nossas decisões e opções. Precisamos aprender a gerenciar os problemas, quer sejam na política, na família, na comunidade, quer sejam problemas de relacionamento humano, que nos trazem dificuldades existenciais. Somos nós que devemos resolvê-los. E os resolveremos com a maior coragem, sem medo de apostar e decidir pelo melhor, se reconhecermos que a presença de Deus, como nos fala o salmo de meditação, a presença bondosa do nosso Deus é permanente entre nós. Segundo, que descubramos que a fé Cristã não é somente uma fé de conhecimento. Não basta dizermos que conhecemos Deus. O conhecimento de Deus precisa ser demonstrado na gratuidade de apostar e confiar na sua presença na nossa vida. Confiança inabalável no projeto de Deus. Como já foi dito no domingo passado, não somos senhores da história. Através da parábola em que o homem joga a semente na terra e que de fato colabora, faz sua parte, quem de fato faz germinar, brotar e se tornar uma grande árvore é aquele que é Senhor de todas as realidades. A Liturgia de hoje dá continuidade ao pensamento da semana passada quando nos pede, nos motiva a confiar de forma livre, espontânea, verdadeira, neste Deus que está conosco. Terceiro, a nossa fé precisa ser amadurecida. Ninguém amadurece a fé sozinho. Todos nos encontramos no mesmo “barco”. É a comunidade que no confronto com os desafios, em que cada um traz sua realidade, experimenta a história, o mundo, os problemas do dia-a-dia. É na partilha em comunidade, na celebração Eucarística, na convivência nas pastorais, nos movimentos, na alegria de encontros que nos apoiamos mutuamente. A fé só pode ser esclarecida e amadurecida na medida em que ela deixa de ser fé individual e se torna um testemunho comunitário. O grande sentido da Liturgia de hoje, diz São Paulo na segunda leitura, é que nos motivemos, sejamos pressionados, até impulsionados por este amor de Deus que está conosco. Se reconhecermos isto, podemos passar com Jesus para a outra margem, do lado da Galiléia, que biblicamente significa fazer uma caminhada, passagem constante de conversão de forma a reconhecer que em todas as circunstâncias da nossa vida, Jesus está conosco. Isto não é muito fácil, nos custa, não por não termos esta consciência, mas por sermos afetivamente muito senhores de nós mesmos. Achamos que podemos arcar com nossa vida sozinhos. Gerenciadores da nossa própria vida, sem buscar em Deus a confiança inabalável que nos orienta, nos apóia, nos sustenta. E justamente por conta da nossa autosuficiência, nos perdermos e nos tornamos confusos. Peçamos a Deus nesta celebração que diante de todas as circunstâncias da vida, tenhamos uma única certeza: o Senhor mesmo que aparentemente esteja ausente, permanece conosco, nos garantindo condições para enfrentarmos a história, desafiarmos a vida, combatermos o medo e renovarmos a nossa fé de tal forma que se torne uma fé madura. Amém. Leituras: Jó 38, 1.8-11 2Cor 5, 14-17 Mc 4, 35-41