Que Cantar na Liturgia?

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Que cantar na Liturgia?
Como escolher um repertório musical para a Liturgia? Um velho ditado diz
que quem canta bem reza duas vezes. Muitos Padres da Igreja o têm repetido ao longo
dos séculos. Podemos, pois, concluir que se trata de um bom princípio.
Cantar ou tocar um instrumento na Liturgia não pode ser diferente
de rezar. Assim o entenderam muitos músicos da Igreja, de Palestrina a Bach, a
Bruckner e muitos outros. Ora isto explica muitas coisas e dá-nos um critério prático
para escolher os cânticos que se devem usar na Missa e nas demais celebrações da
Igreja. Podem ser cânticos mais fáceis ou mais difíceis, a uma ou a quatro vozes, só para
coro ou com acompanhamento de instrumentos. Mas se não são oração, não são para a
liturgia. Infelizmente, pratica-se por aí e ouve-se na rádio ou na televisão, muita
música e muitos cânticos que pertencem a outros espaços, de discoteca, de festival,
de arraial, etc.. Não se pode rezar com esses cânticos, mesmo que se lhes cole um texto
religioso! Do mesmo modo que não se leva um cântico de Igreja para uma discoteca,
não se deve trazer um cântico de convívio para a Igreja. Uma norma essencial na vida é
o bom senso que, infelizmente, como alguém já disse, não é muito comum. Mas os
cristãos e os responsáveis dos Coros devem exercitá-lo. Pior que isso são aqueles
cânticos que têm um ar religioso, cujos textos falam muito de Jesus ou de Maria, de
amor, de paz, de irmãos, etc., mas incutem apenas um sentimentalismo beato e, por isso,
doentio, e não passam de cançonetas banais ou festivaleiras, porque são feitos por gente
que não tem qualquer conhecimento ou aptidão na arte dos sons. Importa abrir os olhos:
estes cânticos não são feitos para a Liturgia, são tão só cânticos de promoção pessoal.
São cânticos falsos, sem convicção e desonestos porque construídos por quem não
domina minimamente a gramática linguística e musical. O facto de passarem na
televisão não é garantia de qualidade. Bem pelo contrário, vivemos num tempo em que
os media trocam, facilmente, a qualidade pela audiência.
Alguns movimentos da Igreja, nomeadamente de jovens, tornaramse presas fáceis destas cançonetas de consumo, de usar e deitar fora, banais e
sentimentalistas que paralisam o seu crescimento interior e impedem a sua aproximação
de Deus e um diálogo verdadeiro e sincero com Ele. A escolha de um repertório para
um Coro ou para uma Assembleia é, nestas circunstâncias, particularmente difícil. Já é
bom ter o critério do que não serve para a Liturgia e que acabamos de expor.
A primeira atitude que se requer é ler o texto do cântico. A liturgia da
Igreja serve-se de textos tirados da Sagrada Escritura (da Bíblia) ou nela inspirados. Os
textos mais seguros serão sempre aqueles que vêm nos livros litúrgicos, isto é, no
Missal, nos Rituais ou na Liturgia das Horas. Não quer isto dizer que sejam exclusivos.
Aliás, é muita pena que no nosso tempo não haja poetas que se disponham a louvar o
Senhor com os seus poemas. Mas poetas autênticos, cuja veia brote de um interior
amassado pela Palavra de Deus. A Liturgia e a Igreja precisam deles. Como haveremos
de cantar a Deus com uma linguagem do nosso tempo, sincera e verdadeira, sem eles?!
Infelizmente, muitos dos cânticos que por aí se promovem não têm sequer qualidade
literária, são desajeitados, sem ideias nem força; e alguns promovem imagens
imperfeitas de Deus e de Cristo ou resvalam mesmo para erros de doutrina cristã. Os
textos oficiais (do Missal e da Liturgia das Horas) dão-nos mais garantias porque têm a
chancela da autoridade eclesiástica.
A segunda atitude é ler a música. Ninguém pode dar o que não tem.
Uma arte também se aprende e exercita-se. É verdade que isto não chega, pois que nem
todos os compositores são Bach, Mozart ou Beethoven. Mas, como dizia um grande
compositor do século XX, a arte musical é constituída por 1% de génio e 99% de
trabalho. Quem não tiver esse 1%, desista do trabalho. A música litúrgica parte da
Palavra, quer dizer, põe em sons (ou revela em sons) o que a Palavra diz (mais que
repetição é transfiguração). Esta aliança entre a música e a palavra divina ou a oração da
Igreja, sempre caracterizou a música litúrgica ao longo dos séculos.
Há um repertório da Igreja que os Coros deveriam conhecer. Desse
modo, descobrirão a linguagem musical típica da liturgia. Referimo-nos, naturalmente,
ao canto gregoriano e à polifonia clássica (bem como a outras obras-primas da arte
musical e da espiritualidade cristã). Mesmo numa linguagem musical contemporânea
poderemos, então, descobrir que é um mesmo espírito que anima e que conduz as
diversas formas e os diferentes estilos e, desse modo, o que hoje se canta, numa nova
linguagem, pode unir-se ao que cantaram os nossos antepassados.
Mas, se queremos responder aos novos desafios do nosso tempo e às
propostas da Igreja, as comunidades deverão empenhar-se na formação de
responsáveis pela pastoral da música litúrgica (directores de Coro e Assembleia,
Organistas e Salmistas).
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