O significado da condição de investment grade

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estudo
O significado da condição
de investment grade
O
Brasil finalmente alcançou o status de grau
de investimento que colocou o país em um
seleto grupo cujo risco de se tornar inadimplente é considerado baixo. A decisão da Standard
& Poors (S&P) representa a primeira conquista
para que o governo e as empresas brasileiras obtenham financiamento externo a juros menores.
É importante notar que o chamado rating
global de um país explícita a avaliação que uma
determinada agência tem sobre o risco dessa nação (ou empresa) não pagar os títulos, de longo
prazo, que lançou no mercado internacional.
A partir de informações diversas, o processo
de classificação identifica o grau de risco de um
determinado título mobiliário de longo prazo.
Além disso, fazem parte do processo a conclusão
sobre o rating apropriado e o monitoramento
contínuo para determinar se a posição deve ser
alterada. Se a agência considera um país como
bom pagador, ele é classificado na categoria grau
de investimento. Se visto como um pagador de
risco razoável, fica na categoria grau especulativo. A melhor classificação que um país ou empresa pode atingir é o chamado triple A (AAA).
Exemplos de triple A no Brasil: Petrobras e Vale.
Relação Câmbio Efetivo/Salário
(Índice: Média de 2000 = 100)
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Revista Abinee
maio/2008
A médio e longo prazos, a condição de grau
de investimento tornará a economia brasileira
menos suscetível à redução da liquidez global em
conseqüência da crise norte-americana. O País
tornar-se-á mais atraente ao capital estrangeiro,
principalmente aos investidores institucionais
(fundos de pensão e outros) que por razões estatutárias só podem investir em títulos privados e
públicos com o selo de grau de investimento.
A curto prazo, prevê-se a forte entrada de capitais especulativos que virão desfrutar das vantagens oferecidas por uma economia que opera
com a maior taxa real de juros do planeta. Isto
não quer dizer que o Brasil se transformará no
paraíso dos especuladores, até porque, para muitos, já o é, mas que a nova condição brasileira
trará investidores ávidos por ganhos elevados e
imediatos.
Com a decisão da S&P, uma certeza e dois
questionamentos passaram a fazer parte do debate sobre a política econômica no Brasil. A certeza
é de que, se nada for feito, a taxa de câmbio atingirá, ainda no primeiro semestre deste ano, nível de R$ 1,50 ou até menos. As dúvidas consistem em, primeiro, saber se a decisão do Copom
de iniciar um novo ciclo de aperto monetário
contribuiu para a conquista antecipada do grau
de investimento. Segundo, se a orientação mais
austera deve persistir nas próximas reuniões do
Copom, ou se o novo “status” do País assegura
motivações suficientes para uma reversão na trajetória da taxa de juros.
Com relação à taxa de câmbio, a apreciação da moeda brasileira foi de aproximadamente 6,9% nos primeiros cinco meses desse ano e
tende a se acentuar. De janeiro de 2004 até 03
de maio último, a valorização, em termos nominais, alcançou 42,81%, o que certamente deixa o
Brasil como primeiro do ranking. Com base em
informações do IPEA, a relação câmbio efetivo/
salário e a taxa de câmbio efetiva real das exportações totais e dos manufaturados brasileiros,
ilustra os impactos da valorização para a produção doméstica (ver gráficos).
O primeiro gráfico reporta a exata noção do
encarecimento dos salários, medidos em dólar,
para os produtores locais. Nota-se que o patamar
recente já é ligeiramente inferior àquele verificado
na fase do regime de bandas cambiais. Ou seja,
o impacto do custo salarial (medido em dólar) é
maior para as empresas locais atualmente do que
fora nos anos de vigência do câmbio “semi-fixo”.
Retira-se competitividade da indústria produtora
de bens comercializáveis (tradebles) e estreitamse os limites de negócios para as empresas mais
intensivas em mão-de-obra, deixando o mercado
doméstico como o principal - para não dizer o
único - espaço de atuação dessas empresas.
O segundo gráfico exibe a dependência brasileira das commodities agrícolas e minerais. Ao
longo dos últimos anos, a apreciação da taxa de
câmbio efetiva real trouxe maior impacto negativo para os produtos manufaturados do que para
os básicos, embora também afete estes últimos.
Isto porque a cotação internacional das commodities, aferida em dólar, subiu nos últimos anos,
contrabalançando em parte o efeito da apreciação da moeda brasileira.
Ao insistir nessa trajetória, o governo brasileiro vem colhendo os resultados de seus erros. Entre
janeiro e abril desse ano, o saldo comercial brasileiro afundou, sendo 64,5% menor que o registrado em igual período do ano passado. Os produtos
manufaturados retraíram a sua inserção no comércio internacional que deve ser novamente penalizada com o recrudescimento da apreciação do
Real, provocado pela elevação do Brasil à condição de grau de investimento. O Ministério da Fazenda avalia que a manutenção do dólar nesse patamar, ou mesmo uma queda maior, tende a abrir
um buraco nas contas externas do país no médio
prazo. Setores exportadores serão fortemente afetados e a geração de empregos poderá declinar nos
próximos meses, após atingir o menor nível para
o mês de março dentro da série histórica.
Retornando aos dois questionamentos, se os
membros do Copom e o conjunto dos analistas
Taxa de Câmbio Efetiva Real Manufaturados e Exportações Totais
(Deflacionado pelo INPC - Média 2000 = 100)
financeiros endossarem a tese de que o aumento
de meio ponto percentual da taxa Selic foi determinante para o País, antecipadamente, alcançar
o grau de investimento, outras elevações da taxa
serão efetuadas.
O combate incessante ao recrudescimento da
inflação será o principal argumento para reafirmar a austeridade da política monetária. Além
disso, afirmar-se-á que o endurecimento contra a
inflação trará ao País melhor posicionamento no
ranking da S&P e a conquista do selo de investment grade das outras agências de classificação
de risco.
Por outro lado, se a preocupação com o balanço de pagamentos influenciar os rumos da
política monetária, é provável que na próxima
reunião o Copom decida manter a taxa de juros no atual patamar para ingressar em um
novo ciclo de afrouxamento monetário mais
à frente.
Entretanto, a decisão final deve preservar o
crescimento econômico do País neste e nos próximos anos. Por isso, o status de grau de investimento faz brilhar o setor bancário/financeiro
e o mercado de capitais, mas não pode se limitar a isto. É preciso que em comunhão com a
política monetária sejam asseguradas ao setor
produtivo as condições necessárias para sustentar o atual crescimento.
Estudo realizado pela assessoria econômica da Abinee que
norteou artigo do presidente Humberto Barbato, publicado na
­Folha de S. Paulo, em 08/05/2008
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