A Teoria do Apego APEGO Profa Maria Aparecida Crepaldi Propensão inata da criança para estabelecer uma relação com adultos que mantêm contato com a mesma e podem proteger, reconfortar e ser afetuosos com a criança nos momentos de desamparo; Fenômeno primário no desenvolvimento da criança. Comportamento de Apego Comportamento que suscita contato, proximidade física e psicológica; É produzido quando a criança percebe subjetivamente o perigo; Até 2 anos o perigo é percebido como: desconforto, dor física, locais não familiares, pessoas estranhas e separação da figura de afeto/apego. A Teoria do Apego Quando um bebê nasce está “equipado” com um certo número de sistemas comportamentais para serem ativados, finalizados, fortalecidos ou enfraquecidos por estímulos de diferentes tipos, como por exemplo: o os sistemas primitivos mediadores do choro, o sucção, o agarramento e orientação do recém-nascido, o sorriso e balbuciar, o engatinhar e o andar Bowlby (1969, p.193) . Características interacionais dos bebês. Capacidade de atrair a atenção – esquemas de aspectos infantis (organização da face); Choro - 100 decibéis: mecanismo de excitação, produção do leite e aumento da temperatura do seio da mãe; Orientação da cabeça para sons: bebês viram a cabeça na direção de sons; Imitação inicial de movimentos: imitação neonatal de movimentos de protusão de língua, dentre outros; A Teoria do Apego Desde o início identifica-se uma tendência do bebê para responder de modo especial aos estímulos de outro ser humano, por exemplo: o estímulos auditivos provenientes da voz humana; o estímulos visuais do rosto humano; o estímulos táteis e cinestésicos; o estímulos olfativos; o imitação de expressões faciais; Orgãos primitivos da percepção (Spitz, 1979): Boca (cavidade oral é o órgão precursor da percepção); Pele (superfície externa da pele); Labirinto (a mudança de posição provoca respostas no bebê) Desenvolvimento do Comportamento de Apego (Bowlby, 1969): a evolução do comportamento da criança Fase 1: (0 a 3 meses) orientação e sinais com discriminação limitada de figura. o O bebê distingue uma pessoa de outra através de estímulos olfativos e auditivos. O bebê reage a qualquer pessoa ao seu redor com movimentos oculares de acompanhamento, estendendo o braço, sorrindo, balbuciando. o Desta forma, influencia o comportamento de quem lhe faz companhia com possibilidade de aumentar o tempo que se mantém próximo a essa pessoa. Desenvolvimento do Comportamento de Apego (Bowlby, 1969): a evolução do comportamento da criança Fase 2: (3 a 6 meses) - orientação e sinais dirigidos para uma figura discriminada (ou mais de uma). o O bebê continua comportando-se de forma amistosa com as pessoas, mas começa a manifestar preferência pela mãe (cuidador). Responde melhor estímulos auditivos e visuais. Desenvolvimento do Comportamento de Apego (Bowlby, 1969): a evolução do comportamento da criança Fase 3: (6 a 18 meses) - manutenção da proximidade com uma figura discriminada por meio de locomoção e de sinais. Desenvolvimento do Comportamento de Apego (Bowlby, 1969): a evolução do comportamento da criança Fase 4: (à partir de 18 meses) - formação de uma parceria corrigida para a meta. o A criança passa a adquirir um discernimento intuitivo sobre os sentimentos e motivos da mãe; o Uma vez atingido este ponto, estão lançadas as bases para o par desenvolver um relacionamento mútuo muito mais complexo, chamado pelo autor de parceria. Desenvolvimento do Comportamento de Apego: o comportamento do cuidador Há duas variáveis significativamente relacionadas com o desenvolvimento do comportamento de apego (Ainsworth, 1978): o A sensibilidade da mãe em responder aos sinais de seu bebê. o A quantidade e a natureza da interação entre a mãe e o bebê. Desenvolvimento do Apego: a evolução do comportamento do cuidador Mary Ainsworth ressalta a importância da segurança do apego de uma criança, pois aos doze meses ela consegue fazer explorações numa situação estranha com certa liberdade, não fica aflita com a chegada de um estranho, mostra estar ciente da ausência da mãe e recebe-a com entusiasmo quando ela regressa. O modo como a criança responde ao regresso da mãe após essa ter se ausentado brevemente é um índice valioso para definir a segurança do apego. Situação Estranha A criança brinca com a mãe; Um estranho entra e tenta interagir com a criança; A mãe sai e o estranho segue interagindo com a criança; A mãe volta; O estranho sai; A mãe sai deixando a criança só; Finalmente a mãe volta e consola a criança. Apego seguro (Tipo B) intimidade e autonomia o Criança é capaz de decidir em qual momento precisa de intimidade e em qual precisa de autonomia; o São crianças ativas nas brincadeiras; o Buscam contato quando afligidas por uma separação breve; Podem ser prontamente confortadas e logo voltam a absorver-se nas brincadeiras. Consiste em um padrão de segurança em si próprio que proporciona saber que pode ter figuras de relação disponíveis e pode inclusive elegêlas. Apego seguro Pessoas com apego seguro são capazes de manter com seus cuidadores uma base de segurança quando estão angustiados. Elas tiveram/têm cuidadores que foram/são sensíveis a suas necessidades, por isso, têm confiança que suas figuras de apego estarão disponíveis, que responderão e lhes ajudarão nas adversidades; No domínio interpessoal, tendem a ser mais doces, estáveis e com relações íntimas satisfatórias; No dominio intrapessoal, tendem a ser mais positivas, integradas e com perspectivas coerentes de sí mesmas. Apego esquivo ou ansioso (Tipo A) autonomia e proximidade Desenvolvimento sem intimidade; Inclui os bebês classificados como ansiosamente apegados à mãe e esquivos, que evitam a mãe após a segunda ausência breve; São mais amistosos com estranhos do que com a mãe; Ex: criança que diz "me dói a barriga" e a mãe não dá crédito, acaba aprendendo que quando algo lhe acontece é melhor guardar para sí mesma. Apego ambivalente ou resistente (Tipo C) intimidade e autonomia Oscilam entre a busca da proximidade e do contato com a mãe e a resistência ao contato e à interação com ela; Alguns bebês são mais coléricos e poucos, mais passivos; Ex: a criança grita e exagera seu comportamento porque a mãe às vezes o atende e às vezes não. Apego desorganizado/desorientado intimidade e autonomia Situação onde há pouca ou nenhuma possibilidade de desenvolver intimidade nem autonomia; A criança dissocia já que a mãe às vezes está disponível e outras o trata mal; A cisão é obrigatória porque a criança não pode conceber que uma mesma pessoa seja “boa" e "má", porque isto gera uma angústia insuportável; Padrão que mais contribui para problemas de adaptação social na juventude. Organização do comportamento de apego 1 - Sistema comportamental de apego 2 - Sistema comportamental de exploração e descoberta O apego é, em parte, uma experiência de intimidade e, em parte, de exploração Características do cuidador: Sensibilidade (capacidade de transformar os sinais de sofrimento em sinais de conforto). Disponibilidade Rapidez (sobretudo nos primeiros meses) Constância, Consistência, Sintonia, Sincronia, Afeto Sensibilidade Parental Pais sensíveis são os que adequam às características dos filhos e às do contexto que em que vivem; São capazes de entender e compreender a vida dos filhos e o que é importante para o bem-estar dos mesmos; Ex: adequam-se às necessidades do filho de acordo com seu desenvolvimento (infância, adolescência, juventude...); É um processo de comunicação pais-filhos. Criança emite sinal Obstáculos e interferências Pais atribuem valor de mensagem a esse sinal Pais devem interpretar o sinal da criança e atribuir significado, gerando hipóteses sobre o quê a criança pode precisar Crianças podem enviar sinais confusos, não claros, o que dificulta para os pais atribuir valor; Pais podem estar não acessíveis ou indisponíveis (ex: pais toxicômanos). Projeção; Distorção cognitiva (interpretações particulares e distorcidas). Criança emite sinal Obstáculos e interferências Repertório de respostas limitado ou restrito; Processo de tomada de decisão com dificuldade de decidir a resposta apropriada. Tempo – pais demoram para aplicar a resposta e/ou avaliar; Contexto; Aplicação de respostas parciais ou fragmentadas; Sensibilidade à resposta da criança. O desenvolvimento da sensibilidade parental é influenciado por duas categorias: 1. Contextos atuais de adversidade que interferem nas condutas sensíveis: Características da criança; Crianças com problemas neurológicos têm dificuldades de emitir sinais claros; Ausência de apoio familiar; Transições não-normativas; Normas e valores sociais que justifiquem a insensibilidade; Ausência de modelos sensíveis 2. História de desenvolvimento dos pais: Falta de experiências anteriores com crianças; Estratégia inapta de tratamento de informações afetivas cognitivas; Trauma psicológico não resolvido; Desequilíbrio de poder pais-filhos ---- violência Transtornos mentais Apego parental – transmissão intergeracional Normalmente os pais repetem no sistema familiar padrões que trouxeram das famílias de origem. Ainda que tentem modificá-lo, há coisas importantes no primeiro ano de vida que permanecem na memória mesmo que não se recordem conscientemente e que tendem repetem quando têm filhos; Muitas mães que maltratam foram maltratadas e a única forma de mudar seu comportamento é lembrar do episódio e dos sentimentos, recuperando assim as emoções associadas ao mesmo. Segurança Ganha (SG): algumas pessoas têm adquirido segurança graças a outros relacionamentos de suas histórias ou a um bom processo terapêutico. Estas são as que funcionam melhor como pais, apresentando maior capacidade de reflexão. Aspectos decorrentes do apego Desenvolvimento do sentimento de segurança (em si e nos outros); Capacidade de se engajar (estabelecer e manter) em uma relação; Capacidade de controle, sentimento de competência, previsão, etc; Regulação emocional; Representações internas. Aspectos decorrentes do apego Dos 6 aos 18 meses = o padrão desenvolvido de apego associa-se à adaptação social da criança a seu desenvolvimento futuro (período pré-escolar, escolar, adolescência, juventude, idade adulta...); Aos 3 anos = crianças começam a internalizar as formas de interação e o apego se transforma num modo de relação consigo e com as outras pessoas Circunstância familiares críticas (intrafamiliares) Perda do pai Perda da mãe Perda de ambos Perda de um irmão Perda de outros familiares Circunstância familiares críticas (intrafamiliares) Operação cirúrgica (de um filho ou progenitor) Enfermidade prolongada e/ou provocadora de invalidez. Acidentes Enfermidade incurável de um filho (lesão cerebral, psicose, necessidades especiais) Circunstância familiares críticas (extrafamiliares) Mudança Migração (mesmo país) Emigração (outro país) Fracasso econômico Perda do emprego Prisão do pai ou da mãe Circunstância familiares críticas (separações) A qualidade do cuidado dispensado pela mãe ou substituto antes e durante a separação. As ligações afetivas da criança. As condições de estimulação ambiental. Os fatores da própria enfermidade (criança doente). Enfim: Todas as condições que apóiam o desenvolvimento afetivo, cognitivo e social. Não é a separação em si que traz prejuízos, mas a separação + ausência de condições que favorecem o desenvolvimento. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Ainsworth, M. (1978). Patterns of attachment. New York, Hilsdalle. y Andolfi, M. (1981). A terapia familiar. Lisboa, Vega. y Bowlby, J. (1969). Apego. São Paulo: Martins Fontes. y Bowlby, J. (1976). Cuidados maternos e saúde mental. São Paulo: Martins Fontes. y Bowlby, J. (1982). Formação e rompimento dos laços afetivos. São Paulo: Martins Fontes. y Brazelton, T. B. (1988). O desenvolvimento do apego: uma família em formação. Porto Alegre: Artes Médicas. y Bronfrembrener, U (1979). The ecology of human development: experiments by nature and design. Cambridge, Mass., Harvard Univesity Press. y Calil, V.L.L. (1987). Terapia familiar e de casal. São Paulo, Summus editorial. y Carter, B. & Mcgoldrick M. (1995). As mudanças no ciclo de vida familiar: uma estrutura para a terapia familiar. Porto Alegre: Artes Médicas. y Coppolillo, H. (1990). Psicoterapia psicodinâmica de crianças: uma introdução à teoria e às técnicas. Porto Alegre, Artes Médicas. y Crepaldi, M. A (2001). A importância da participação da criança na terapia familiar. ACATEF em revista, vol. 1: 17. y Duarte, I; Bornholdt, I; Castro, M. G. K. (1989) A prática da psicoterapia infantil. Porto Alegre, Artes Médicas. y Gosselin, C. (2000). Fonction des comportements Parentaux: révision da la notion de sensibilité maternelle. Psicologia: Teoria e Pesquisa. y Klaus, M. H. & Kennel, J. H. (1992). Pais/bebê: a formação do apego. Porto Alegre: Artes Médicas. y Spitz, R. (1978) O primeiro ano de vida. Porto Alegre, Artes Médicas.