Entre_o_medo_e_o_amor-31-10-12

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Entre o medo e o amor
Walter S. Barbosa1
Aqui pode estar o resumo mais completo do dilema humano: entregar-nos à tirania do
medo ou render-nos ao amor.
Medo é a essência do ego, sempre em busca de controle para garantir sua segurança,
enquanto o amor - cuja natureza é o Ser - só encontra segurança na própria entrega, na
ausência de controles deliberados para manutenção de poder. O poder do amor reside
nele mesmo, não depende de ninguém. Por isso, mesmo quando parece ter sido enganado
não há queixa alguma. Sua completude se basta.
O medo retém, o amor libera, correspondendo aos extremos do apego e do desapego. Há
um enorme intervalo entre esses dois lados, a ser coberto pelo esforço de cada um, tendo
a seu favor a paciência dos milênios, porque é simplesmente a distância entre o bruto e o
santo. Podemos estar em qualquer ponto desse intervalo, percebendo-o pela quantidade
de sofrimento presente em nossa vida. Quanto mais apego, mais sofrimento.
Outra medida para a presença do medo está na quantidade de sentimento retida na vida
dos relacionamentos, como rancor, mágoa, anseio de vingança. É o efeito natural do
apego em torno de qualquer tipo de “osso” sob disputa. E o que utilizamos como arma
diante do osso, tentando garantir sua propriedade? Quando não a força bruta, irracional,
instantânea, aplicamos a espada da língua, do julgamento. E aí nosso lado está sempre
certo, caso contrário não existe osso algum. “Quando um não quer dois não brigam”
Desde que existam relacionamentos (e eles são a base da vida) os conflitos também
existem, pelos interesses mútuos. Se estes acabam, o relacionamento termina, sua lição
consciencial chega ao fim. Como, então, viver a questão dos relacionamentos de forma
construtiva? Segundo Marianne Williamson, “a opção é o amor” (Um retorno ao amor).
“O ego sempre enfatiza os que as outras pessoas fizeram de errado”, diz aquela autora.
Essa tendência naturalmente vai moldar o resultado do julgamento. Se queremos achar
algo errado em alguém, isso é o que vamos encontrar, pois “A projeção molda a
percepção”. Nunca vamos enxergar algo diferente daquilo que permite a cor dos nossos
óculos (ou o tamanho de nossa fome, como ensina a fábula “O lobo e o cordeiro”).
Mas a questão é: pode ser que exista algo errado lá, que mereça correção. Devemos, em
nome do amor, fechar os olhos a essa possibilidade, ou existe um jeito de olhar que vá
além das fronteiras do medo, alterando a cor dos óculos? Para Marianne, sim.
“Podemos encontrar o que quer que procuremos na vida”, diz ela. “O que acreditamos
ser a culpa das pessoas é, na verdade, seu medo. Toda a negatividade deriva do medo.
Quando alguém está bravo, está com medo. Quando alguém é rude, está com medo.
Quando alguém é manipulador, está com medo. Quando alguém é cruel, está com medo”.
Porém, “Não existe medo que o amor não seja capaz de dissolver, nem negatividade que
o perdão não consiga transformar”.
Quando vemos as coisas assim, toda a defensividade - ou agressividade - perde o sentido,
pois de nada adianta esmurrar a escuridão: “ela só pede luz”. Para que isso aconteça,
pondo consciência em nosso caminho, é necessário abandonar os julgamentos, passando
a nos concentrar em nossas próprias lições, esquecendo as dos outros. O que cada um vai
colher, pelo modo como vê as coisas, é seu problema. Nós temos o nosso, que é limpar
nossas lentes, purificar nosso próprio coração.
1
Membro da Sociedade Teosófica e da Universidade Livre para a Consciência.
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