ALTERAÇÕES CEREBRAIS DECORRENTES DA INTERAÇÃO CUIDADORBEBÊ NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL Gregg Gambero Vianna de Souza & Prof. Dra. Márcia Cristina Caserta Gon, email do orientador: [email protected] Universidade Estadual de Londrina/Centro de Ciências Biológicas Área e subárea do conhecimento: Psicologia/Neuropsicologia. Palavras-chave: Desenvolvimento Infantil; Neuropsicologia; Estimulações Sociais; Relações de Apego; Maturação Cerebral; Cuidador-bebê. Resumo O desenvolvimento humano é um tema multideterminado por variáveis vindas de inúmeras fontes que vem sendo destacadas através de estudos alicerçados na compreensão do desenvolvimento infantil. É fundamental que essa compreensão seja feita a partir de uma perspectiva que integre diferentes campos de conhecimento, e que possibilite preencher não apenas uma lacuna encontrada em estudos brasileiros sobre o tema, como também instrumentar diferentes profissionais de variadas áreas de atuação, desde a psicologia, pedagogia e medicina, até a educação. Dessa forma, a partir de um trabalho de levantamento bibliográfico e sistematização de dados, objetivou-se destacar a influência do ambiente social no desenvolvimento infantil, a importância da interação cuidador e criança e a função do hemisfério direito do cérebro nesse processo. A obtenção dessa base de informações é substancial para a compreensão do desenvolvimento neurológico-comportamental infantil, com base na interdependência do progresso psicossocial e físico, bem como na sua possibilidade de prover um quadro mais claro acerca das influências fundamentais na formação da criança. Introdução e objetivos O conceito de desenvolvimento infantil faz referência a uma complexa e contínua transformação que se refere a todos os processos de mudança pelos quais as potencialidades de um indivíduo se desdobram e aparecem como novas qualidades, habilidades, traços e características correlatas (PIKUNAS, 1979 apud QUEIROZ; PINTO, 2010). Essa transformação pode ser caracterizada como uma mudança comportamental que sofre grande influência 1 do meio ambiente social, em especial aquele criado pelo cuidador e pela criança e que pode ser observada em nível de maturação cerebral. Os impactos causados por alterações resultantes da ruptura precoce do relacionamento de apego entre cuidador e criança não apenas geram consequências sobre a plasticidade cerebral, como também uma predisposição à psicopatologia, causando consequentemente diversos prejuízos às capacidades regulatórias da idade adulta (SCHORE, 2005, p. 201). Dessa forma, esse trabalho teve como objetivo destacar a influência do ambiente social no desenvolvimento infantil, a importância da interação cuidador e criança e a função do hemisfério direito do cérebro nesse processo. Se observarmos a partir de contextos mais amplos, nos direcionando à especificação de acordo com tais mudanças, somos capazes de criar uma base para que sejam aprofundados estudos sobre as consequências futuras que os eventos ocorridos nesses contextos podem causar ao desenvolvimento infantil. Procedimentos metodológicos Trata-se de um estudo introdutório, de caráter teórico sobre a importância das interações sociais para o desenvolvimento infantil inicial. Foram realizadas leituras de artigos de revisão teórica sobre o tema a partir das quais foram selecionadas e organizadas as principais informações sobre: 1 - ambiente social e desenvolvimento humano; 2 - Interação criança e cuidadores e 3 maturação cerebral: a função do hemisfério direito. Resultados e Discussão A hereditariedade é um fator influente por meio da qual a carga genética herdada dos pais biológicos da criança estabelece o seu potencial de desenvolvimento. Entretanto, essas potencialidades poderão ou não se desenvolver de acordo com os estímulos advindos do meio ambiente. Esse meio ambiente é o conjunto de influências e estimulações ambientais que alteram os padrões de comportamento do indivíduo (CHRISTOFFEL; FERNANDES; SILVA; SANTOS, 2006). Mais do que o entorno físico em si, a partir do qual a pessoa, desde pequena, troca conteúdos auditivos, gustativos, olfativos, táteis e visuais, o ambiente é um cenário de permanente e contínua influência sobre o comportamento humano, desde as atividades mais simples, às mais complexas; é o meio pelo qual ela entra em contato com o mundo (ZICK, 2010). As interações que a criança estabelece com o ambiente social desde o seu nascimento poderão afetar o seu desenvolvimento físico, emocional e 2 social. Dessa forma, faz-se necessário identificar os fatores ambientais que influenciam em seu processo de desenvolvimento saudável, e, particularmente, as pessoas que constituem o corpo social desse ambiente, responsável não apenas pelo controle do ambiente físico - sonoro, luminoso e térmico – que envolve a criança, mas principalmente pela transmissão de experiências cinestésicas, cognitivas, sensoriais, motoras e sociais à criança (BORTOLOTE E BRETAS, 2008). A importância do primeiro contato mãe-bebê foi ressaltada por John Bowlby (1965). Segundo ele, o bebê forma um apego genuíno por volta dos seis meses de idade, mudando seu modo dominante de comportamento de apego. Durante os últimos 10 anos, muitos outros estudos documentaram o impacto duradouro do estímulo emocional materno visual, vocal e tátil no desenvolvimento do cérebro e na resultante emocional, social, cognitiva, e nas capacidades regulatórias da idade adulta. (MORICEAU; SULLIVAN, 2005) É mediante todo o processo interativo, em especial dos cuidados afetivos e biológicos exercidos pelos cuidadores, sobretudo nos primeiros anos de vida da criança, que eles se tornam parte importante do ambiente social da da criança, e isso a modifica não apenas psicologicamente, mas também na formação de suas estruturas cerebrais (OLIVEIRA; NASCIMENTO; MARCOLINO, 2012) O córtex cerebral direito é dominante para o processamento de faces individuais, reconhecimento de expressões faciais maternas, e resposta à voz materna. Da mesma forma, a experiência emocional que a criança vivencia é armazenada ou processada no hemisfério direito durante os estados de formação da ontogenia cerebral (SCHORE, 2005, p. 205). A comunicação emocional espontânea que ocorre dentro do relacionamento de apego pode ser descrita como uma conversa entre sistemas límbicos, pois as experiências de apego afetam especificamente as áreas corticais e límbicas das redes do cérebro direito que são críticas para a autorregulação. Assim, as funções maternas como reguladoras do meioambiente socioemocional da criança, e suas interações regulatórias desempenham um papel crítico durante o estabelecimento e manutenção do desenvolvimento dos circuitos límbicos de processamento emocional (SCHORE, 2005, p. 208). Conclusões É fundamental que a compreensão do desenvolvimento infantil seja feita a partir de uma perspectiva integrada cientificamente entre diferentes áreas de conhecimento como a psicologia, pedagogia, educação e medicina. Uma visão integrada do desenvolvimento humano permitirá instrumentalizar profissionais que atuam com essa população de modo mais eficaz. 3 Referências BORTOLOTE, G. S.; BRETAS, J. R. da S. O ambiente estimulador ao desenvolvimento da criança hospitalizada. Revista da Escola de Enfermagem da USP, São Paulo, v. 42, n. 3, p. 422-429, set. 2008. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S008062342008000300002&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 18 fev. 2016. CHRISTOFFEL, M. M.; FERNÁNDEZ, A. M.; SANTOS, I. M. M; SILVA, L. R. A Importância da Interação Mãe-Bebê no Desenvolvimento Infantil: A Atuação da Enfermagem Materno-Infantil. Revista Enfermagem UERJ, Rio de Janeiro, v. 14, n. 4, p. 606-12, out/dez. 2006. MARCOLINO, F. F; NASCIMENTO, D. D. G. do; OLIVEIRA, D. K. S. Percepção de cuidadores familiares e profissionais da estratégia saúde da família em relação ao cuidado e desenvolvimento neuropsicomotor da criança. Revista Brasileira de Crescimento e Desenvolvimento Humano, São Paulo , v. 22, n. 2, p. 142-150, 2012 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010412822012000200004&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 18 fev. 2016. MORICEAU, S.; SULLIVAN, R. M. Neurobiology of infant attachment. Developmental psychobiology, v. 47, n. 3, p. 230-242, 2005. QUEIROZ, L.T.S; PINTO, R.F. A criança: fatores que influenciam seu desenvolvimento motor. Artigo de revisão. EFDeportes.com, Revista Digital, Buenos Aires, v. 15, n. 143, p. 67-71, 2010. Disponível em <http://www.efdeportes.com/efd143/a-crianca-seu-desenvolvimentomotor.htm>. Acesso em 18 fev. 2016. SCHORE, A. N. Attachment, affect regulation, and the developing right brain: Linking developmental neuroscience to pediatrics. Pediatrics In Review, v. 26, n. 6, p. 204–211, jun. 2005. ZICK, G. S. N. Os fatores ambientais no desenvolvimento infantil. Revista de educação do ideal, Erechim, v. 5, n. 11, p. 2-18, 2010. Disponível em <http://www.ideau.com.br/getulio/restrito/upload/revistasartigos/176_1.pdf>. Acesso em 18 fev. 2016. 4