ENDOMARKETING Prof. Wilson Lopes As transformações sociais, econômicas e tecnológicas trazidas pela modernidade exigem das organizações públicas e privadas, um patrimônio humano efetivamente disposto a contribuir para a consecução de seus objetivos. Independente de qualquer transformação, a relação entre o indivíduo e organização pode ser expressa pelo real envolvimento deste indivíduo com a missão e objetivos da organização para qual esteja trabalhando. O comprometimento continua a ser a base da produtividade, seja qualitativa ou quantitativa. Isso significa que o grau de comprometimento pode resultar do maior ou menor valor que o indivíduo atribui à organização e às relações de trabalho decorrentes. Conceito de Comprometimento A importância da análise do constructo comprometimento visa observar o comportamento do indivíduo no contexto da organização. Diante da necessidade de uma concentração de esforços em estratégias mais compatíveis com as demandas decorrentes das transformações sociais e no crescente aumento do interesse da sociedade na condução dos destinos do País, é necessária a adoção de uma postura organizacional que procure fortalecer o comprometimento do funcionário em relação às suas metas e as da organização em que atua. A noção de comprometimento surgiu nos anos 80 e ganhou realce na década de 90, apresentado como uma vantagem competitiva para as organizações em tempos de grande concorrência. Surgiu como elemento de ligação entre indivíduos e a organização, no contexto dos problemas de pessoal, relacionados com as crises motivacionais, insatisfações, incentivos, e com as mudanças provocadas pelas inovações tecnológicas. Nesse sentido, é notório que os programas de produtividade e qualidade fracassam se a organização não dispuser de recursos humanos dedicados efetivamente ao trabalho e à organização. PRAZERES (apud Borges,1999) define comprometimento como: envolvimento efetivo de uma empresa, através de seus representantes de mais alto nível e de todos os funcionários nos esforços de aperfeiçoamento da qualidade em toda sua extensão; e como envolvimento definitivo dos funcionários nos esforços de melhoria contínua da qualidade e nos resultados da organização para qual trabalham. RIPON (apud Bastos, 2000) afirma que o comprometimento no trabalho depende da interação entre as expectativas do indivíduo e as características do emprego. No Dicionário da Língua Portuguesa de Aurélio Buarque de Holanda (1989), comprometimento é definido como: obrigar por compromisso; expor a perigo; pôr alguém em situação suspeita ou má; tomar compromisso. A Enciclopédia Delta Larrouse (1977) define comprometimento como sendo: ação de comprometer; obrigar por compromisso; causar prejuízo, ou de comprometer-se a si mesmo; sujeição; responsabilidade. BASTOS (1994) defende que existem padrões de comprometimento do indivíduo em relação à organização, à carreira e à entidade de classe ou ao sindicato. Esses padrões funcionam de forma diferente entre si e podem fazer com que os compromissos dos indivíduos apresentem-se conflitantes, em função das demandas de cada padrão. O comprometimento com a carreira refere-se a uma escolha intencional de uma linha de trabalho e à expectativa de que a lealdade desta escolha transcenderá um trabalho em particular ou um contexto organizacional. Para esses indivíduos, o comprometimento com a empresa está atrelado ao seu desenvolvimento profissional. No comprometimento com o sindicato ou entidade de classe à qual pertença, percebe-se que os indivíduos estão mais ligados a fatores políticos e reivindicações para melhoria de condições de trabalho, políticas salariais justas e programas de incentivo e crescimento, dentro das organizações. Estaria ligado à organização em função de suas necessidades e expectativas financeiras ou sociais, caracterizando uma forma de vínculo organizacional baseado na troca entre o indivíduo e a organização, sendo uma avaliação de investimentos e de recompensa. Na opinião de OLIVEIRA (apud Bastos & Costa,2001), o comprometimento organizacional ocorre quando os funcionários se identificam com a organização, no desejo de continuar membro dela e busca facilitar a consecução de seus objetivos. Defende assim a idéia de que o comprometimento organizacional aumenta com a idade, com o nível de trabalho e com grau de contribuição do indivíduo para a instituição. BASTOS (op. cit.) sintetizou o termo comprometimento como uma relação que incorpora elementos racionais, emocionais e comportamentais. Sugere, ainda, um vínculo que une indivíduos a múltiplos aspectos ou partes do seu contexto de trabalho e que se manifesta na manutenção de uma linha consistente de ação. 2 Afirma, desse modo, que as características que qualificam a ação comprometida é fortemente marcada pelo elemento comportamental. A ação pode ser vista como um aspecto das atitudes que, por sua vez, são mais amplas, englobando até posturas pessoais diante da vida. O conceito de comprometimento é de fácil apreensão; essa expressão é utilizada, popularmente, para denotar um vínculo ou ligação forte entre duas pessoas. No âmbito científico, comprometimento passou a significar uma adesão, um envolvimento do indivíduo com diversos aspectos do ambiente de trabalho; refere-se a uma identificação do indivíduo com o trabalho. Objetivos Pessoais X Objetivos Organizacionais Então, que sinergia as organizações devem criar internamente para direcionar as pessoas aos reais objetivos de suas tarefas e da satisfação de suas necessidades? Qual é a base dos valores que deve ser adotada na organização para que a interação de comprometimento possa ser desenvolvida? Não adianta investir somente em cultura, em novos valores ou nas cabeças das pessoas. É preciso criar apoios no sistema que facilitem a prática e, dessa forma, a consolidação da sinergia do comprometimento. Na opinião de CERQUEIRA (apud Inkotte,1999), o instrumento capaz de melhorar a comunicação e o relacionamento e ainda, fornecer uma base motivacional para o comprometimento entre as pessoas e delas com o sistema organizacional, chama-se endomarketing. Um conjunto de ações e processos voltados para o público interno da organização. Clima e Cultura Organizacional Clima é a atmosfera resultante das percepções que os funcionários têm dos diferentes aspectos que influenciam seu bem estar e sua satisfação no dia a dia de trabalho, segundo OLIVEIRA (comentando Barsante e Caldas,1999 ). Para Luz (apud Oliveira,1999) é o reflexo do estado de espírito ou ânimo das pessoas que predomina em uma organização, em um determinado período. Diante disso, pode-se concluir que Clima Organizacional é um conjunto de propriedades mensuráveis do ambiente de trabalho. São percepções compartilhadas acerca de diretrizes, cultura, política e estratégia da organização. O comprometimento organizacional determina a relação do indivíduo para com a organização, seu envolvimento e o tipo de vínculo. Representa um estado psicológico. 3 A qualidade de vida no trabalho está relacionada à satisfação das necessidades da pessoa e à sua motivação para o trabalho. Ela interfere nos comportamentos e atitudes do indivíduo e conseqüentemente, influencia na produtividade. Portanto o comportamento organizacional representa a parte viva e a dinâmica de uma organização. Segundo TAMAYO (1998), a dimensão fundamental da Cultura Organizacional é dada pela importância atribuída por uma organização a certos valores, determinada pela quantidade de esforço investida por seus membros e o comprometimento na emissão de comportamentos. Contudo, os valores organizacionais não devem ser confundidos com os valores pessoais dos membros da organização. As atitudes das pessoas são determinadas a partir de um conjunto de crenças e princípios que orientam sua vida e formam seus sistemas próprio de valores, constituindo a identidade individual de cada pessoa. Para TAMAYO (op. cit.), a essência da organização não são as estruturas físicas nem a tecnologia avançada, mas os sistemas de crenças e valores que interagem entre seus membros e nas atividades que são desenvolvidas no dia a dia. Da mesma forma, os papeis, as normas e os valores irão nortear o funcionamento da empresa. Conceito de Endomarketing O conhecimento, tido como matéria-prima principal da atividade econômica, deixou seu papel secundário para constituir o fator principal nas organizações. De acordo com INKOTTE (2000 – comentando Stewart,1998), o talento do corpo funcional, a eficácia de sistemas gerenciais e o relacionamento com os clientes são os itens que, juntos, constituem o capital intelectual das organizações. Na abordagem do mesmo autor, longe de significar maior exploração da força de trabalho e de suas potencialidades, “uma vez que o trabalhador agora tem de manter, além de suas atividades rotineiras, uma preocupação a mais: a de estar atento à execução do seu trabalho para fornecer sugestões que sejam de interesse da organização”, justifica-se a participação dos trabalhadores com suas opiniões sobre o funcionamento das organizações. Mais que isso, constitui-se em um direito seu, pois a sua existência e de sua família dependem de seu trabalho, onde dedica a maior parte dos seus dias. Segundo GRÖNROOS (1993), um número crescente de empresas, principalmente no setor tradicional de serviços, reconhecem a necessidade de implantação de ações voltadas para o seu público interno, e tem se utilizado do endomarketing, como instrumento capaz de criar uma cultura participativa, bem como 4 atrair e manter interesses, relacionamentos e motivações no âmbito organizacional interno da empresa, de modo que os diversos departamentos e seus funcionários compartilhem os valores e objetivos da organização. Endomarketing é uma marca registrada de SAMUEL BEKIN & CONSULTORES ASSOCIADOS LTDA (Certificado de Registro de Marcas, numero: 815 990 995, de 03 de janeiro de 1995) e, segundo BEKIN (1995), é o marketing dirigido ao publico interno. O objetivo é facilitar e realizar trocas, construindo relacionamentos com o publico interno, compartilhando os objetivos da organização, harmonizando e fortalecendo essa relação, fazendo surgir um processo de coesão e comunicação no âmbito interno da empresa. Ao comentar que foi o primeiro a utilizar a expressão endomarketing, BEKIN (op. cit.) afirma que: “É uma criação pessoal, brasileira, única, fruto da necessidade de definir uma nova área de ação e investigação. Muito mais que uma marca, endomarketing é um conceito, uma nova postura, uma ferramenta que corresponde a uma nova abordagem do mercado e da estrutura organizacional das empresas ligadas a todo um contexto de mudanças.”. Acrescentando ao marketing a palavra grega éndon que significa “em, para dentro, dentro de“, exprimindo a posição ou a ação no interior de algo, o movimento de algo que caminha para dentro de si mesmo, o endomarketing, numa primeira abordagem, utiliza grande parte do instrumental fornecido pelo próprio marketing. Nesse sentido, o endomarketing possui uma importância estratégica dentro da empresa, não separadA do marketing. Do ponto de vista estratégico, endomarketing é adequar a empresa ou organização direcionada ao cliente externo, com foco no cliente interno. Na opinião de vários estudiosos, quem melhor definiu marketing foi KOTLER(1998), expressando-se dessa forma: Marketing é um processo social e gerencial pelo qual indivíduos e grupos obtém o que necessitam e desejam, através da criação, oferta e troca de produtos de valor com os outros. Em seu livro, Administração de Marketing, o autor tece breves referências à diferenciação entre o marketing interno e marketing externo, e afirma que o marketing interno deve preceder o externo. Na verdade não faz sentido prometer um serviço excelente antes de preparar os funcionários de uma organização para fornecê-lo. Ainda segundo esse mesmo autor, para fomentar equipes interdepartamentais de trabalho, as organizações devem adotar tanto marketing externo quanto marketing interno, e os definiu da seguinte forma: Marketing externo é marketing dirigido às pessoas externas à organização. Marketing interno é a tarefa bem sucedida de 5 contratar, treinar e motivar funcionários hábeis que desejam atender bem aos consumidores No seu trabalho, INKOTTE (op. cit.), ao comentar as escassas literaturas específicas sobre o assunto, toma emprestado de Wilson Cerqueira a seguinte definição para endomarketing: “São projetos e ações que uma empresa deve praticar para consolidar a base cultural do comprometimento dos seus funcionários com o desenvolvimento adequado das suas diversas tecnologias, visando, principalmente, a prática dos valores estabelecidos como base da nova cultura, a manutenção de um clima ideal de valorização e reconhecimento das pessoas, o estabelecimento de canais adequados de comunicação interpessoal que permitirão a eliminação de conflitos e insatisfações que possam afetar o sistema organizacional e a implementação de administração participativa.” Na opinião de COBRA (2001), a formulação de um plano de marketing interno visa comprometer e estimular as pessoas de uma empresa de serviços ao bom desempenho na prestação de atendimento ao cliente externo. Para tanto, o plano deverá proporcionar, como resultado, um maior envolvimento dos funcionários com os objetivos estratégicos dos Serviços ao Cliente, estabelecer incentivos e responsabilidades, visando com isso uma melhor imagem dos serviços da empresa junto aos seus clientes. Contribuindo para melhor entendimento do que seja endomarketing, destaca-se a observação em GRÖNROOS (op. cit.) sobre o assunto: “Deve-se ressaltar que o endomarketing começa com a noção de que os empregados constituem o primeiro mercado interno para as organizações. Se os bens, os serviços e as campanhas de comunicação externa não conseguirem ser vendidas ao grupo-alvo interno, o marketing externo tampouco poderá ser bem sucedido junto aos clientes finais.” Na visão de GRÖNROOS (op. cit.), um exemplo atual da necessidade do endomarketing nas empresas de serviços está relacionado à idéia de Garantias de Serviço. Um meio de atrair clientes é assegurar aos clientes potenciais que o serviço funcionará, ou então que as ações corretivas serão tomadas. Em teoria esse conceito é bom, entretanto, na prática ele é perigoso a não ser que o endomarketing seja cuidadosamente realizado. Se não houver uma compreensão ou predisposição entre os funcionários, e principalmente da alta administração, para cumprir de forma adequada o prometido aos clientes externos na garantia do serviço, este meio de competição, por si excelente, se tornará, ao contrário, um veículo para o desastre. 6 BEKIN (op. cit.) e GRÖNROOS (op. cit.) afirmam que o endomarketing funciona como um processo gerencial holístico para integrar múltiplas funções da organização de duas maneiras. Primeiro, assegura que os funcionários de todos os níveis hierárquicos, principalmente as gerências, compreendam e vivenciem o negócio e suas várias atividades e campanhas no contexto ambiental que suporte uma consciência relativa aos clientes. Segundo, assegura que todos os empregados estejam preparados e motivados para agirem de forma orientada para serviços. A premissa do endomarketing é de que uma troca interna entre a organização e a equipe de empregados deve funcionar eficazmente antes que a empresa possa ter êxito no alcance de suas metas. O endomarketing privilegia um público que, embora parte integrante das organizações, e obviamente imprescindível no desempenho das atividades que permitem a ela alcançar os seus objetivos, não tem sido de forma efetiva, objeto de preocupação das áreas de marketing dentro das organizações. No artigo Endomarketing: modismo ou solução?, extraído da Revista Universitária de Propaganda e Marketing de Brasília, SOUZA (Jaber,2002) comenta que infelizmente, as empresas preocupam-se em desenvolver estratégias focadas somente no marketing externo e quando essas fracassam, não sabem ao que atribuir os erros. Enfatiza a idéia de que o dirigente moderno precisa saber que o funcionário é o cartão postal da empresa e praticar o endomarketing é transformar uma organização num lugar onde o trabalho seja sinônimo de prazer e que os funcionários estejam motivados e satisfeitos. VILHENA (2002) afirma que ainda existem dirigentes que descarta qualquer conversa quando o assunto a ser tratado refere-se ao marketing interno. Baseado em sua experiência como consultor do Instituto MVC, reforça a tese que a utilização do endomarketing pode ajudar e muito os profissionais de Recursos Humanos no comprometimento dos funcionários das empresas. Segundo os autores citados, a proposta do endomarketing é fazer com que os empregados tenham a noção e identifiquem áreas clientes dentro da organização, chegando ao cliente externo, além de atrair e manter o capital humano, um dos ativos mais valiosos da empresa da era do conhecimento. Nesse sentido, revela-se como uma ferramenta poderosa quando as empresas procuram um diferencial que as façam alcançar uma posição de destaque no mercado competitivo. O processo de endomarketing mais espetacular talvez seja o implantado pela Companhia Aérea Escandinava- SAS, afirma GRÖNROOS (op. cit.). Ao adotarem um programa de endomarketing, empresas estrangeiras como a Marriot Hotels and Resorts, 7 as lojas de departamento Nordstron e a empresa de transportes finlandesa John Nurminen Co., que em 1986 ganhou o Concurso de Endomarketing da Associação Americana de Marketing, entre outras, comprovaram, com o reconhecimento e fidelidade dos seus clientes externos, o nível de excelência dos serviços que prestam. No Brasil, são citados como exemplo de empresas que lograram êxito os casos da Xerox do Brasil, da empresa Semer, fabricante de eletrodomésticos da linha branca, o Grupo Amil e a empresa Seara, fabricante de produtos industrializados de carne. Nas instituições públicas brasileiras, são poucos os exemplos a serem citados, mas vale ressaltar o programa desenvolvido pela Agência Nacional de Telecomunicações – Anatel, que no primeiro instante, reduziu em 75% o seu quadro efetivo, abalando a autoestima de todos. Procurou por meio de um amplo programa de comunicação interna e de “workshops” dirigidos aos funcionários que permaneceram no quadro, a divulgação da missão da empresa, promovendo uma discussão aberta sobre a importância de encantar os clientes internos e externos. As organizações públicas, ainda de forma incipiente, têm procurado estabelecer programas de qualidade visando a melhoria dos serviços prestados ao cidadão. Porém, ainda não estabeleceram como prioridade o seu público interno, aquele que efetivamente deve ser cativado, a fim de criar um grau de comprometimento para o cumprimento da missão de cada instituição. O Endomarketing como instrumento de mudanças na busca do comprometimento Os avanços tecnológicos trouxeram rápidas transformações para a sociedade, para as organizações e, conseqüentemente, para o trabalho. Segundo CELANI (2002) existe um aspecto intrigante que o homem ainda não conseguiu resolver os problemas que acompanham essas mudanças, e nem ao menos aceitar as adaptações necessárias. Isto porque em muitos casos é preciso fazer uma reestruturação e uma revisão de uma série de valores, assim como das atividades tradicionais de trabalho. Frente a tantas transformações, foi necessário desenvolver uma série de ferramentas e estratégias para que as organizações pudessem se renovar e se adaptar. 0O resultado desse processo foi a diferenciação entre as organizações que se transformaram a partir de uma visão estratégica da administração dos recursos humanos e as organizações que estagnaram, comprometendo sua imagem e estrutura econômica. 8 As mudanças nas organizações envolvem diretamente a vida das pessoas, pois implicam novas formas de encarar tanto as que estão nela, (no caso desse estudo: os funcionários do Departamento Técnico da Câmara dos Deputados), quanto as de fora (demais servidores da Câmara e comunidade em geral). São partes integrantes de um processo complexo que leva tempo e está sujeito a uma série de obstáculos relacionados à necessidade de revisão da cultura organizacional, ou seja, da concepção e dos valores que a regem. Na opinião de MUNHOZ (2002), o endomarketing é um instrumento eficaz de mudança da cultura das organizações, principalmente naquelas voltadas para a prestação de serviços. Na observação de BEKIN (1995), o endomarketing é influenciado pela cultura organizacional e, ao mesmo tempo, contribui decisivamente na obtenção de uma “cultura de serviços”. BEKIN (op. cit.) e GRÖNROOS (op. cit.) concordam que o endomarketing é um instrumento de mudanças, que envolve a abordagem de dois processos gerenciais: Gerenciamento de atitudes e Gerenciamento da Comunicação. O gerenciamento de atitudes é considerado como parte predominante no endomarketing, devido ao seu caráter contínuo. A atitude visa dar ao funcionário consciência da importância estratégica de um serviço orientado para atender corretamente os clientes externos. Inclui o envolvimento, a motivação, o comprometimento, a valorização e a qualificação do funcionário, em todos os níveis hierárquicos, para que ele possa tomar iniciativas e assumir responsabilidades. O gerenciamento da comunicação se dá pela divulgação ampla e irrestrita das informações, permitindo que as mesmas cheguem a todos os funcionários, e que esses possam participar das estratégias organizacionais e dos processos de desenvolvimento dos serviços, proporcionando uma interação entre funcionários de diferentes níveis e diferentes áreas, tornando-os conscientes das tarefas que executam e da sua influência no desempenho da organização através de um feedback contínuo. Assim os funcionários conhecerão melhor a organização, saberão o porquê de fazer e para quem fazer. Dessa forma, poderão “vender” a organização para os clientes externos. GRÖNROOS (op. cit.) enfatiza que os dois processos estão intimamente entrelaçados. Naturalmente, a maior parte das informações compartilhadas por todos os funcionários têm efeito em suas atitudes. O conhecimento da cultura, ou clima organizacional da empresa deverá ser o ponto de partida para o equacionamento das estratégias a serem desenvolvidas para que se 9 inicie um processo de mudanças e pode ser obtido com os instrumentos utilizados pelo endomarketing, que incluem os já utilizados pelo marketing, tais como: Diagnóstico : Abrange a análise do ambiente interno da organização, a avaliação do desempenho global e dos setores, o relacionamento com os clientes e o nível de integração entre os setores. Avaliação do perfil dos funcionários: A avaliação do potencial de cada um, a imagem que tem da organização, a avaliação do nível de relacionamento existente, suas expectativas, além da avaliação das necessidades individuais. Condições para implementação do Endomarketing GRÖNROOS (op. cit.) salienta que se as atividades de endomarketing forem implementadas apenas como uma campanha ou, pior ainda, como atividades totalmente separadas sem conexão a outros fatores gerenciais, o risco de que nada duradouro seja alcançado é esmagador. A estrutura organizacional e a estratégia da organização devem suportar o estabelecimento de uma “cultura de serviços”. Além disso, os métodos de gestão e liderança dos gerentes e supervisores tem que oferecer seu suporte se o desejo é efetivamente realizar todas as tarefas do endomarketing. E ainda mais, uma vez iniciado, ele não para nunca. Deve ser percebido principalmente como um processo contínuo. Segundo o mesmo autor, as três premissas básicas para um endomarketing bem sucedido são: O endomarketing deve ser considerado parte integrante da gestão estratégica; O processo de endomarketing não pode ser impedido por uma estrutura organizacional ou por falta de apoio gerencial; e A alta gerência tem que demonstrar constantemente um apoio ativo ao processo de endomarketing. Para ser bem sucedido, o endomarketing tem a árdua tarefa de superar muitos obstáculos para a sua efetiva implementação. Por essa razão, deve originar-se sempre pela mais alta diretoria da organização. 10 O endomarketing deve tornar-se parte da filosofia gerencial estratégica. Caso contrário, atividades mais operacionais de endomarketing serão enfraquecidas por posições e ambientes sem motivação. Formulação dos objetivos e das estratégias do programa de implementação do Endomarketing Um programa eficiente de endomarketing tem de se ajustar à realidade da organização, nas opiniões de BEKIN (1995) e GRÖNROOS (1993).Torna-se fundamental identificar as prioridades deste programa, verificando os pontos mais vulneráveis da organização que devem ser corrigidos. Desse modo, iremos saber sobre em que ponto específico deve agir o endomarketing, onde e em que medida ou extensão. É o que se chama de nível de abrangência para o programa de endomarketing, e o reconhecimento do Clima Organizacional determina esse nível, afirmam os autores citados. Em qualquer nível de abrangência, há sempre duas linhas de ação que irão nortear os objetivos e as estratégias do programa de endomarketing: as atitudes e a comunicação interna. As atitudes representam a motivação, o comprometimento organizacional, a valorização e qualificação do funcionário, os relacionamentos, a melhoria da imagem da organização e os desempenhos de um modo geral. A comunicação interna tem a ver com quatro etapas: o estabelecimento do feedback, o diálogo interativo, a divulgação dos resultados das metas e dos objetivos alcançados e a troca de informações relevantes. Para a quinta etapa fica reservada a tarefa de apresentação das ações, baseadas no conceito moderno do endomarketing, objetivando-se o fortalecimento do nível de comprometimento organizacional, a melhoria da comunicação interna, a disseminação das informações, a criação de valores sólidos e o estabelecimento de um processo de motivação dos funcionários. Para que atendam as necessidades dos clientes externos, as organizações devem procurar se esforçar para dar aos seus clientes internos melhores oportunidades profissionais, funcionais e afetivas, mantendo-os motivados para que exerçam suas tarefas com qualidade e responsabilidade. 11 Com isso, a ação mais importante no processo de endomarketing patrocinada pela organização, é buscar junto aos funcionários o fortalecimento do grau de comprometimento. Para que isso aconteça, esses funcionários precisam estar à disposição e concordar com os objetivos globais da organização e do programa de endomarketing e, principalmente, que sintam que os resultados serão valiosos para eles como profissionais. Em outras palavras, os funcionários têm que acreditar verdadeiramente na organização para qual trabalham enquanto que a organização deve proporcionar-lhes boas condições ambientais, psicológicas e motivacionais, ao lado da oportunidade de crescimento em relação ao trabalho. As pessoas têm disposição natural para desempenhar suas funções com qualidade quando sentem que tal desempenho é apreciado e reforçado. Na medida em que um funcionário tem a definição das principais metas da organização e de suas próprias metas, participa ativamente no planejamento delas e possui efetivas condições para atingi-las, sabendo que com isso será recompensado, já está criado o cenário que gera comprometimento, motivação e empenho profissional. As ações que permitirão alcançar os objetivos propostos são: Valorização do indivíduo dentro e fora do seu grupo de trabalho; Integração baseada nos valores e objetivos da organização; Reforço contínuo de uma atitude baseada em valores compartilhados; Envolvimento dos funcionários no planejamento e na tomada de decisões; Chamamento às parcerias, à cooperação e à lealdade; Criação de um ambiente de interação dentro da organização; Estímulo à iniciativa e à atitude criativa; Delegação de poderes de acordo com a natureza da função exercida; Estabelecimento de prêmios em forma de diplomas e troféus, dirigidos ao grupo para que todos se beneficiem dos resultados; Formas de comunicação interativa, de modo a assegurar o feedback contínuo e a disseminação das informações; Painéis ou cartazes informativos sobre o andamento dos resultados alcançados com o programa de endomarketing; 12 Estabelecimento de eventos sociais com as famílias dos servidores; Reuniões periódicas de caráter motivacional e de celebração pelos resultados alcançados, motivando os outros setores a prosseguir no alcance das metas propostas; Treinamento e Desenvolvimento. O sucesso da implantação do endomarketing depende 10% do próprio programa ou plano. O gerenciamento e a execução ficam com a responsabilidade dos 90% restantes. Daí a importância total do comprometimento e envolvimento pessoal da alta direção da organização. A liderança é fundamental, criando o modelo, o exemplo a ser seguido e disseminado.Toda organização possui sua forma peculiar de ação e sua cultura interna. Tais fatores contem em si elementos positivos que precisam ser maximizados e elementos negativos que devem ser minimizados ou eliminados. O reconhecimento do Clima Organizacional de uma organização, constitui-se no elemento fundamental para o planejamento estratégico do programa de Endomarketing. Avaliação do Programa de Implementação Através da técnica de espelho, que consiste em “fotografar” a organização num momento “zero” – inicio do programa de endomarketing – a intervalos regulares faz-se uma leitura com o objetivo de verificar como está se processando a assimilação dos novos valores, o grau de comprometimento e envolvimento dos servidores, a relação interna das Coordenações, Serviços e Setores, os prováveis pontos de resistência e seus motivos. Cada Coordenação ou Setor, deverá identificar seus “clientes internos”, segmentálos e acompanhar esse “cliente” na busca de um feedback em relação ao serviço que está sendo prestado, identificando os aspectos mais importantes do relacionamento e do serviço, de acordo com a percepção desse “cliente”. O gerenciamento setorial faz-se necessário para que se possa acompanhar a qualidade do serviço prestado, tal como ele é visto pelo “cliente externo” , ou seja, os demais servidores da Casa. Incorporar a percepção do “cliente externo” é o aspecto decisivo na prestação de um serviço com excelência e qualidade. A percepção deve orientar o alcance dos objetivos propostos. 13