“Olhando para frente”.

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Barros, Luiz Carlos Mendonça de. “Olhando para frente”. São Paulo: Folha de São Paulo, 05 de
outubro de 2001. Jel: E
Olhando para a frente
Luiz Carlos Mendonça de Barros
Podemos hoje desenhar com bastante clareza o cenário econômico do período restante do governo FHC.
Ele será medíocre, com uma variação positiva do PIB de 1,5% em 2001 e de 2% no ano que vem.
Assumindo como certas essas previsões, que representam hoje o consenso da maioria dos analistas do
mercado financeiro, o crescimento médio do PIB entre 1995 e 2002 -a era FHC- será de 1,9% ao ano.
Pouco mais de 0,5% anuais em termos per capita.
Neste mesmo período a inflação média foi de menos de 8% anuais -se tomarmos o Índice de Preços ao
Consumidor da Fipe como referência. Esse é o lado virtuoso dos anos FHC. Mesmo no período mais
estável dos governos militares, entre 1967 e 1973, a taxa média de inflação foi superior a essa. E não
podemos esquecer que àquela época tínhamos o terrível CIP, controlando e maquiando uma série de
preços importantes.
Se analisarmos em conjunto os números da inflação e crescimento no período de 1968 ao fim do mandato
de FHC, desconsiderando o "ano sanduíche" que foi 1994, temos um quadro interessante para a reflexão
que quero fazer hoje.
Os números no quadro desta página mostram com muita clareza alguns pontos importantes. Entre 1974 e
1985, foi possível alcançar algum crescimento à custa de uma inflação crescente. Foi uma decisão política
do governo militar. Não aceitaram a proposta do então ministro da Fazenda, Mario Henrique Simonsen,
de fazer uma pausa no milagre brasileiro para ajustar a economia ao primeiro choque de petróleo.
Correndo atrás do sonho do "Brasil potência", não tinham os ditadores da época tempo para perder com
essa conversa de economia estável. Simonsen assumiu então a responsabilidade do crescimento com
inflação, que o sistema de indexação da economia parecia permitir.
Quando finalmente chegamos à redemocratização do país, esse processo já estava exaurido, e a inflação,
fugindo do controle. Estávamos tendo quase só inflação e nenhum crescimento. No período seguinte, que
corresponde aos mandatos de Sarney e Collor, essa relação entre aumento de preços e crescimento
desequilibrou de vez para o lado ruim da inflação. Foi o presidente FHC quem, em 1994, ao ser
convidado para o cargo de ministro da Fazenda do governo Itamar Franco, percebeu que o brasileiro não
mais suportava essa ciranda maluca e lançou o Plano Real para encerrar 20 anos de corrida entre preços e
crescimento. Foi por isso eleito presidente da República pela maioria dos brasileiros no primeiro turno das
eleições de 1994.
Em seu primeiro mandato obteve um resultado extraordinário, ficando a inflação média em 8,7%. O
crescimento também foi muito bom, cerca de 2,6% ao ano, considerando-se que a prioridade de todos era
a estabilização da moeda. Não por outra razão foi reeleito, também no primeiro turno, para mais um
período de quatro anos no Palácio do Planalto. Já os resultados de seu segundo mandato, quando
terminado, terão cores diferentes. A inflação caiu ainda mais, o que é bom, mas o crescimento foi
medíocre.
Os indicadores sobre emprego no período de oito anos de FHC são muito ruins para o presidente. O
número de brasileiros ocupados, resultado claro e direto do dinamismo da economia, cresceu apenas
7,3%, o que corresponde a um aumento anual menor do que 1%. O número de brasileiros empregados
com carteira assinada não cresceu, voltando aos níveis verificados em 1984, apesar do aumento da
população. O crescimento ficou por conta dos empregados sem registro. Realmente muito pouco!
O desafio que os candidatos às eleições do próximo ano enfrentarão será mostrar à sociedade um
programa capaz de, mantendo a estabilidade, encontrar o caminho do desenvolvimento sustentado e do
crescimento do emprego. Os programas centrados apenas no compromisso da manutenção dos
fundamentos da economia para que as forças de mercado empurrem-na para a frente não vão satisfazer o
cidadão. Também serão certamente recusados os que prometerem crescimento mas não conseguirem
mostrar que podem assegurar a estabilidade dos preços.
Bravatas sobre redistribuição forçada de riqueza serão vistas também com desconfiança pela maioria do
eleitorado. No quadro de forte polarização entre um candidato do governo e Lula e com o longo tempo de
televisão que eles terão à sua disposição, o debate será muito transparente. Com a imprensa cobrindo em
cima a campanha, o eleitor terá condições de avaliar sua escolha.
O presidente, pela boca de seu novo ministro do Desenvolvimento, vem mudando o discurso oficial de
cunho malanista. Sergio Amaral vem defendendo publicamente algumas idéias proibidas para seus
antecessores. Ele está falando de um programa de substituição de importações, de política industrial e
outras questões que eram até hoje verdadeiros tabus. Quando o candidato do governo vier a falar a mesma
coisa no ano que vem, vai parecer continuísmo.
E Lula?
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