Especialização em Gestão Pública Municipal Programa Nacional de Formação em Administração Pública REGINA CÉLIA FURLAN POLÍTICAS SOCIAIS GOVERNAMENTAIS: UMA CONTRIBUIÇÃO À ANÁLISE DO CRAS NO MUNICIPIO DE BELA VISTA DO PARAISO Bela Vista do Paraíso 2011 REGINA CÉLIA FURLAN Especialização em Gestão Pública Municipal Programa Nacional de Formação em Administração Pública POLÍTICAS SOCIAIS GOVERNAMENTAIS: UMA CONTRIBUIÇÃO À ANÁLISE DO CRAS NO MUNICIPIO DE BELA VISTA DO PARAISO Trabalho de Conclusão de Curso do Programa Nacional de Formação em Administração Pública, apresentado como requisito parcial para obtenção do título de especialista em Gestão Pública Municipal, do Departamento de Administração da Universidade Estadual de Maringá. Orientadora: Profª. Drª. Rosalina Lima Izepão. Bela Vista do Paraíso 2011 Especialização em Gestão Pública Municipal Programa Nacional de Formação em Administração Pública REGINA CÉLIA FURLAN POLÍTICAS SOCIAIS GOVERNAMENTAIS: UMA CONTRIBUIÇÃO À ANÁLISE DO CRAS NO MUNICIPIO DE BELA VISTA DO PARAISO A Trabalho de Conclusão de Curso do Programa Nacional de Formação em Administração Pública, apresentado como requisito parcial para obtenção do título de especialista em Gestão Pública Municipal, do Departamento de Administração da Universidade Estadual de Maringá, sob apreciação da seguinte banca examinadora: Aprovado em ___/___/2011 (Orientadora) Profa. Dra. Rosalina Lima Izepão Assinatura Profa. Dra. Maria de Fátima Garcia Assinatura Prof. Ms Laudenir Aparecido Galina Assinatura RESUMO A partir da Constituição de 1988 os direitos dos cidadãos foram ampliados, sendo incluídos nestes os direitos sociais. Assim as políticas voltadas para assistência social sofreram transformações principalmente a partir de 2005 com a criação do SUAS (Sistema Único de Assistência Social), sendo que o CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) é um centro que faz parte desta rede. O CRAS procura atender famílias e indivíduos em situação de vulnerabilidade social, realizando trabalhos em grupos e atendimentos individuais, visando a inserção dos indivíduos ao convívio social. Neste artigo analisa-se a criação do CRAS no município de Bela Vista do Paraíso, com o objetivo de verificar a sua importância para o mesmo, enquanto equipamento social público de atendimento aos munícipes em situação de vulnerabilidade social. Parte-se da hipótese de que o CRAS é um instrumento de relevância no combate à pobreza no município e que, portanto, deve receber políticas públicas de apoio permanente, por parte dos gestores públicos do município. Quanto aos procedimentos metodológicos, optou-se por uma pesquisa caracterizada, por seus objetivos, como descritiva por se tratar de um tema recente e que possui poucos estudos sistematizados. Como fonte utilizou-se livros e artigos científicos, além de documentos e dados produzidos pelo próprio CRAS e a Secretaria de Assistência Social da prefeitura de Bela Vista do Paraíso. O artigo encontra-se estruturado em três seções além desta Introdução e da Conclusão. Na primeira faz-se uma revisão bibliográfica, onde se discorre sobre a pobreza no Brasil e seus determinantes, na segunda caracteriza-se o município de Bela Vista do Paraíso e a criação do CRAS e na terceira seção mostra-se a importância do CRAS no município e o papel do gestor público municipal no contexto da Constituição Federal de 1988. Palavras-chave: Políticas sociais; CRAS; política municipal de assistência social; gestão pública municipal; Bela Vista do Paraíso. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 6 2 A POBREZA NO BRASIL ................................................................................ 7 2.1 OS DETERMINANTES DA POBREZA ............................................................. 7 2.2 AS POLÍTICAS PÚBLICAS SOCIAIS DE REDUÇÃO DA POBREZA .............. 8 2.3 A CRIAÇÃO DO CRAS – CENTRO DE REFERÊNCIA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL ..................................................................................................................... 10 3 A IMPLANTAÇÃO DO CRAS EM BELA VISTA DO PARAÍSO .................... 14 3.1 CARACTERIZAÇÃO DO MUNICIPIO ............................................................ 14 3.2 CRAS NO MUNICÍPIO E SUAS FUNÇÕES ................................................... 15 4 A GESTÃO PÚBLICA MUNICIPAL E O CRAS ............................................. 20 4.1 A IMPORTÂNCIA DO CRAS PARA A REDUÇÃO DA POBREZA NO MUNICIPIO ............................................................................................................... 20 4.2 O PAPEL DO GESTOR PÚBLICO MUNICIPAL NA IMPLANTAÇÃO E FUNCIONAMENTO DO CRAS ................................................................................. 21 5 CONSIDERAÇÃOES FINAIS ......................................................................... 24 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 25 6 1 INTRODUÇÃO As questões sociais no Brasil vêm, nas duas últimas décadas, ganhando destaque entre as políticas publicas governamentais1 nas três esferas de governo: a federal, as estaduais e as municipais. O grande salto se deu com a Constituição Federal de 1988 que ampliou, significativamente, os direitos sociais, resultando na criação de diversos tipos de políticas públicas sociais direcionadas ao combate à desigualdade e à pobreza. Na esfera municipal foram implantados os CRAS. O CRAS é um centro de referência de assistência social e faz parte da política publica voltada para ação social, juntamente com o Ministério de Combate a Fome, sendo que na maioria das vezes atua em conjunto com os departamentos de assistência social, dos municípios. Assim, neste artigo analisa-se a criação do CRAS no município de Bela Vista do Paraíso, com o objetivo de verificar a sua importância para o mesmo, enquanto equipamento social público de atendimento aos munícipes em situação de vulnerabilidade social. Parte-se da hipótese de que o CRAS é um instrumento de relevância no combate à pobreza no município e que, portanto, deve receber políticas públicas de apoio permanente, por parte dos gestores públicos do município. Quanto aos procedimentos metodológicos, optou-se por uma pesquisa caracterizada, por seus objetivos, como descritiva por se tratar de um tema recente e que possui poucos estudos sistematizados. Como fonte utilizou-se livros e artigos científicos, além de documentos e dados produzidos pelo próprio CRAS e a Secretaria de Assistência Social da prefeitura de Bela Vista do Paraíso. O artigo encontra-se estruturado em três seções além desta Introdução e da Conclusão. Na primeira faz-se uma revisão bibliográfica, onde se discorre sobre a pobreza no Brasil e seus determinantes, na segunda caracteriza-se o município de Bela Vista do Paraíso e a criação do CRAS e na terceira seção mostra-se a importância do CRAS no município e o papel do gestor público municipal no contexto da Constituição Federal de 1988. . 1 Nem todas as políticas públicas são governamentais. No terceiro setor, por exemplo, encontram-se muitas experiências de políticas públicas propostas e executadas por Organizações Não Governamentais. 7 2 A POBREZA NO BRASIL 2.1 OS DETERMINANTES DA POBREZA O Brasil é um País que possui muitos pobres. Entende-se que o sentido de pobreza não é único, ou seja, não existe apenas uma definição para a palavra pobreza. Contudo, neste estudo, considera-se o conceito utilizado por Barros, Henriques e Mendonça, (2001) para as quais são pobres, as pessoas que não têm renda suficiente para manter um padrão mínimo de existência digna e socialmente aceito. Portanto, são consideradas famílias pobres, aquelas que vivem com renda familiar per capita abaixo da linha de pobreza. 2 No Brasil, até a década de 1990 a quantidade de pessoas nestas condições só tendia a crescer. De 1977 a 1999, por exemplo, o número de pobres aumentou aproximadamente 13 milhões, passando de um total de 41 milhões, em 1977, para 53 milhões em 1999, o que se deveu também, conforme Lacerda et al (2000), ao processo de crescimento populacional. Em 1991, por exemplo, a população residente no País era de 146,8 milhões. Em 1996 já atingia 157 milhões, sendo 49,3% homens e 50,7% mulheres. De acordo com Ribas (2006), por diversas razões, muitas famílias encontram-se em estado de vulnerabilidade, ou seja, a qualquer momento, por eventos conjunturais ou particulares podem se tornar pobres. Esta vulnerabilidade está associada à perda de bem estar da população e à incerteza quanto às perspectivas futuras. Para se entender a pobreza no Brasil é necessária, primeiramente, analisar os determinantes da desigualdade brasileira, mensurar a pobreza no país e descrever sua evolução no decorrer das décadas. O que dada à limitação deste artigo, não foi efetuado. Mas, de modo geral, os estudos apontam como determinantes da pobreza no Brasil elementos que variam desde a sua formação econômica e social, até os problemas conjunturais específicos de cada época. Por isso é importante e necessária a persistência das políticas governamentais direcionadas ao combate à pobreza no País, a partir de estratégias de redução da desigualdade, de crescimento da renda per capita e uma combinação sólida de crescimento econômico com políticas sociais, o que ainda parece ser 8 caminho longo de grandes desafios que o Brasil deve percorrer. 2.2 AS POLÍTICAS PÚBLICAS SOCIAIS DE REDUÇÃO DA POBREZA De acordo com Flexor e Leite (2007), políticas públicas não podem ser entendidas num sentido único. Possuem vários conceitos e, neste sentido, se faz necessária a análise de cada uma delas, a partir de uma abordagem que abranja suas diversas dimensões e peculiaridades. O termo política pública não se refere, necessariamente, a políticas do Estado. Pelo contrário, podem-se incluir, também, outras ações de instituições não governamentais, mas, que também são de caráter público. Por exemplo, a política de geração de emprego rural é comumente associada ao universo das políticas econômicas, enquanto que a política voltada ao desemprego (Seguro Desemprego, emprego temporário, como aquele das frentes de trabalho, etc.) é geralmente enquadrada no rol das políticas sociais, ainda que o objeto central de ambas seja o mesmo. O Quadro 01 descreve as inovações no âmbito das políticas públicas sociais no Brasil, no período de 1930 a 1988. ANO 1930/1943 1945/1964 1965/1977 1977/1981 1981/1985 1985/1988 1988/1992 2 IMPLEMENTAÇÕES Criação dos Instintos de Aposentadoria e Pensões, Legislação trabalhista, regulação de políticas nas áreas de saúde e educação. Há uma centralização de recursos. Inovações no campo da educação, saúde, assistência social e na habitação popular. Estas ações estavam guiadas sob forma seletiva, heterogênea (benefícios) e fragmentada (Institucional e financeiro quanto a intervenção social do Estado). Há uma organização no interior do Estado quanto ao financiamento do Welfare State. Inicia-se os governos militares, contribuindo para profundas mudanças estrutura institucional e financeira das políticas sociais. Inicia se um novo conjunto de programas assistenciais, com patamares muito reduzidos. Reformas ocorridas a partir 1980 tiveram como característica a centralização política e financeira em nível federal. Expansão massiva. Reestruturação conservadora, programas emergenciais no campo da suplementação alimentar. Reestruturação progressista, estratégia reformista, reforços em programas emergenciais a incorporação da reforma agrária e do seguro desemprego e a instituição de grupo de trabalho. Definição do novo perfil (Constituição Federal), Contra reforma “conservadora” caracterizada como ampliação do assistencialismo e do clientelismo, paralisação da estratégia reformista, desmonte orçamentário e burocrático no campo social. Inserida 9 a Constituição de 1988 adota o conceito de seguridade social como um conjunto de princípios normas e instituição integrada por ações dos poderes públicos e da sociedade visando assegurar os direitos relativos a saúde, previdência e a assistência social. Quadro 01 – Implementações no período do Welfare State no Brasil de 1930 a 1992. Fonte: ROSA (2008) As Políticas sociais também avançaram ao longo dos anos, conforme mostra o quadro 02. Serviço de Alimentação da Previdência Social (SAPS) Comissão Nacional de Alimentação (CNA) Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição (INAN) Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) Programa de Nutrição em Saúde (PNS) Programa ou agências Programa de Complementação Alimentar (PCA) Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT) Programa de abastecimento de Alimentos Básicos em Áreas de Baixa Renda (PROAB) Programa de Combate ás Carências Nutricionais Especifica Programa de Suplementação Alimentar (PSA) Programa de Abastecimento Popular (PAP) Programa Nacional do Leite para as Crianças Carentes (PNLCC) Programa de Distribuição Emergencial de Alimentos (PRODEA) Programa Leite é Saúde (Atendimento aos Desnutridos e as Gestantes em Risco Nutricional) Programa de Combate às Carências Nutricionais (PCCN) Programa Nacional de Renda Mínima (Bolsa Alimentação) Programa Fome Zero Reforma Agrária (Programa de Assentamento dos Trabalhadores Rurais) Crédito Rural (Conselho Nacional de Política Agrícola) PSF (Programa Saúde da Família) PACS (Programa Agentes Comunitários da Saúde) Comunidade Solitária PROGER (Geração de Emprego e Renda) PROEMPREGO (Programa de expansão do Emprego e de Melhoria da Qualidade de Vida do Trabalhador) Combate a Mortalidade Infantil Reforma Agrária (Programa de Assentamento dos trabalhadores rurais) PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar PROCERA (Programa de Crédito Especial para Reforma Agrária) Quadro 02 - Principais programas sociais de alimentação e inclusão social de 1940 a 2003. Fonte: elaboração da autora, com base em ROSA (2008) Conforme já mencionado anteriormente, a partir da promulgação da Constituição Federal, em 1988, promoveu-se um novo padrão constitucional da política social, introduzindo assim um conjunto que integra a Seguridade Social, 10 Assistência Social, Previdência, e Saúde. Segundo Fleury, este novo padrão da política social caracteriza-se pela universalidade na cobertura, pelo reconhecimento dos direitos sociais, pela afirmação do dever do Estado, pela subordinação das práticas privadas à regulamentação em função da relevância pública das ações e serviços nessa área. Assim, a origem de criação do CRAS está nesta evolução das políticas sócias no país. 2.3 A CRIAÇÃO DO CRAS – CENTRO DE REFERÊNCIA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL No ano de 2004 foi implantada a política nacional de assistência social pelo Ministério de Ação Social e Combate a Fome, sendo que esta modificaria todo o funcionamento e implementação das ações voltadas para assistência social e contribuições a indivíduos em situação de risco dando lhes oportunidades e promovendo a cidadania. Para a implementação de tal política de assistência social foram desenvolvidos projetos e documentos que contribuíram com esta processo. Segundo Gimenez (2009), os mais importantes são: a Política Nacional de Assistência Social (PNAS/2004), a Norma Operacional Básica (NOB/SUAS), a Norma Operacional de Recursos Humanos – NOB/RH/SUAS, o Guia de Orientação Técnica (SUAS) n° 1Proteção Social Básica, o Manual de Capacitação para implementação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) e do Programa Bolsa Família (PBF) e outros documentos pertinentes à área do Serviço Social. De acordo com Carmo (2010, p. 49): “Desta forma, com a Constituição Federal de 1988 que reconheceu a assistência social como uma das bases do sistema de seguridade social do país e conseqüentemente houve o fortalecimento da Assistência Social, como um direito do cidadão e a promulgação da Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS (1993)”. A secretaria de Desenvolvimento Humano e Ação Social atua por meio de serviços, programas, projetos e benefícios de Proteção Social Básica e Proteção Social Especial para famílias, grupos e indivíduos que deles necessitarem nos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS), sendo que em relação aos 11 Programas desenvolvidos estão inseridos: Transferência de Renda (Programa Bolsa Família (PBF), Renda Cidadã, Programa de Erradicação de Trabalho Infantil (PETI), e Cooperativa de Materiais Recicláveis entre outros. Deste modo nota-se muitos avanços na política de assistência social e na implantação das políticas como um todo principalmente após a constituição de 1988, onde segundo Gimenez (2009) as políticas públicas, entre elas as políticas sociais, têm sentido quando visam concretizar os direitos sociais conquistados pela sociedade com apoio das leis que se operacionalizam por meio de programas, de projetos e de serviços. É preciso que as políticas públicas tenham como princípio o interesse comum, atendendo demandas legítimas da população. É o que se faz no CRAS. Conforme coloca Carmo (2010, p. 52): “O Centro de Referencia de Assistência Social – CRAS – é uma unidade pública estatal descentralizada da Política de Assistência Social, responsável pela organização e oferta de serviços da proteção social básica do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), são instalados em área de grande vulnerabilidade e possuí uma equipe técnica composta por Assistente Social, Psicóloga e Educador Social.” Segundo Gimenez (2009), a promulgação da Constituição Federal, a Assistência Social é reconhecida como parte do tripé da seguridade social nos artigos 203 e 204. Os conceitos de “direitos sociais”, “seguridade social”, “universalização de direitos”, “equidade”, “descentralização político-administrativa”, “mínimos sociais”, dentre outros, passam a constituir categorias norteadoras da constituição de um novo padrão de política social a ser adotado no país. Após a Constituição a assistência passa a fazer parte da seguridade Social, sendo considerada direito Universal a quem dela necessitar e não sendo vinculada a contribuição à Previdência Social. Todavia, todas as conquistas contidas na carta constitucional ficam na dependência de legislação complementar. Algumas leis regulamentadoras são aprovadas em 1989 (Lei 7.853, da Pessoa Portadora de Deficiência) e 1990 (Lei 8.090 do Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei 8.080 da Lei Orgânica da Saúde e Lei 8.142 do Sistema Único de Saúde). Porém, tais Leis ficam aguardando disponibilidade de recursos e não frutificam praticamente; ao contrário, são “conservadora”. alvos, segundo Boschetti (2008) de uma contra-reforma 12 A Política de Assistência Social exige dos municípios uma nova organização e que ele assuma responsabilidades no que se refere à estruturação dos CRAS enquanto unidade prestadora de serviços, com alocação de recursos financeiros próprios do Fundo Municipal de Assistência Social para as ações do CRAS e com a exigência de equipe profissional composta por inicialmente um assistente social e um psicólogo. Para Gimenez (2009), os serviços, programas, projetos e benefícios de proteção social básica deverão ser executados de forma direta nos Centros de Referência de Assistência Social ou de forma indireta nas entidades e organizações de assistência social na área de abrangência de cada CRAS. O Centro de Referência de Assistência Social, também conhecido como Casa das Famílias, segundo o Guia de Orientação Técnica – SUAS nº 1, de outubro de 2005, está definido como: Unidade pública estatal responsável pela oferta de serviços continuados de proteção social básica de assistência ás famílias e indivíduos em situação de vulnerabilidade social. A unidade efetivadora da referência e contra referência do usuário da rede socioassistencial do Sistema Único de Assistência Social e unidade de referência para os serviços das demais políticas públicas; A porta de entrada dos usuários à rede de proteção social básica do SUAS. A área de abrangência e número mínimo do CRAS dependerá do porte do município e da taxa de vulnerabilidade social. Será considerado esse critério também, para fins de partilha de recursos da União. Segundo Carmo (2010), para ser credenciado o CRAS precisa ofertar o PAIF (Proteção e Atendimento Integral a Família) assim como deve ter a matricialidade sociofamiliar, ou seja, ter a família na centralidade dos atendimentos. Esses atendimentos a família deve ser planejado a partir do conhecimento das necessidades e expectativas diferenciadas dos seus membros, em especial, de acordo com a forma que esta família se organiza. É o Guia elaborado pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome, mencionado anteriormente, quem regulamenta a quantidade de CRAS necessária, de acordo com o número de habitantes para cada município. No caso de Bela Vista do Paraíso, que possuía em 2010, 15.097 habitantes, de acordo com o IBGE apud IPARDES (2011), por se enquadrar como município de Pequeno Porte I – municípios de até 20.000 habitantes/5.000 famílias o mínimo é de 1 CRAS para até 2.500 famílias referenciadas. 13 A proteção social especial é a modalidade de atendimento assistencial, segundo o PNAS (2004), destinada às famílias e indivíduos que se encontram em situação de risco pessoal e social, por ocorrência de abandono, maus tratos físicos e ou psíquicos, abuso sexual, uso de substâncias psicoativas, cumprimento de medidas sócio-educativas, situação de rua, situação de trabalho infantil, entre outras Deste modo verificam-se as principais mudanças nas políticas de assistência social, contribuindo com a cidadania e devolvendo a dignidade aos indivíduos e suas famílias. 14 3 A IMPLANTAÇÃO DO CRAS EM BELA VISTA DO PARAÍSO 3.1 CARACTERIZAÇÃO DO MUNICIPIO O município de Bela Vista do Paraíso foi instalado em 5 de dezembro de 1947, sendo desmembrado de Sertanópolis. Em 2010 possuia 15.097 habitantes, dos quais 11.674 eleitores. O mapa 1 indica a sua localização. Mapa 01 – Localização do município de Bela Vista do Paraíso. Fonte: IPARDES (2011). Na área social possui 3.899 pessoas vivendo em situação de pobreza, sendo 1.041 famílias na mesma situação. Possui 2.235 crianças matriculadas no ensino fundamental, 675 jovens no ensino fundamental e 221 nas creches. No setor econômico, a sua PEA – População Economicamente Ativa era, em 2000, de 7.455 pessoas e a PO – População Ocupada 6.548, tendo a economia dependência direta do setor agrícola, onde se produz soja, milho e café, embora maior parte da população viva na cidade. A taxa de urbanização do município é 94,14%. (IPARDES, 2011) Quanto às finanças municipais, a receita do município em 2010 foi de R$20.393.466,07 e a despesa R$19.837.038,67. Uma das questões que deve se constituir em preocupação da gestão pública municipal, além da pobreza já mencionada e a sua taxa que é de 23,12%, é a baixa taxa de crescimento populacional, ou seja, 0,03%, ou seja, quase negativa. O IDH-M também não é dos melhores registrados nos municípios do Paraná. Em 2010 foi de 0,6276. Soma-se a 15 isto a baixa renda per capita que é de R$12.858 e a taxa de analfabetismo de 15 anos ou mais que é de 16,9%. (IPARDES, 2011). Os dados apresentados mostram que a implantação do CRAS no referido município é plenamente justificável. 3.2 CRAS NO MUNICÍPIO E SUAS FUNÇÕES O CRAS – Centro de Referência de Assistência Social foi implantado no município de Bela Vista do Paraíso em janeiro de 2009 e tem suas instalações situadas a Av José Manoel dos Reis, nº 8. Atualmente, o CRAS de Bela Vista do Paraíso conta com um espaço físico onde são ofertados os serviços do Programa de Atenção Integral à Família – PAIF. Assim considera-se o CRAS como a “porta de entrada” para os cidadãos em situação de vulnerabilidade e risco social, sendo que o principal papel dos profissionais que atuam neste serviço é de trabalhar com famílias e indivíduos em seu contexto familiar e comunitário, tendo como metas a prevenção de situações de risco e o fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários. O CRAS – Centro de Referência da Assistência Social possui, na atualidade, 2500 famílias referenciadas, e, desenvolverá o Plano de Inserção do BPC (Benefício de Prestação Continuada), onde tem-se um total de 228 Beneficiários do referido programa, sendo 117 idosos e 111 portadores de deficiência. (BELA VISTA DO PARAISO, 2011). O BPC – Benefício de Prestação Continuada é um benefício da política de assistência social, por isso não é contributivo. Está previsto na Constituição Federal de 1988 e regulamentado na Lei Orgânica da Assistência Social, Estatuto do Idoso e em normativas de caráter operacional. O Benefício consiste no pagamento de um salário mínimo mensal às pessoas idosas e pessoas com deficiência, cuja renda familiar por pessoa não ultrapasse o correspondente a ¼ de salário mínimo por mês. A secretaria de ação social do município de Bela Vista do Paraíso está organizada, conforme prevê o Sistema Único da Assistência Social, o SUAS, que, de acordo com o Ministério do Desenvolvimento Social (2009) integra uma política pactuada nacionalmente, que prevê uma organização participativa e descentralizada da assistência social, com ações voltadas para o fortalecimento da família. 16 Segundo Souza (2009) um dos grandes marcos da história da sociedade brasileira quando falamos em Direitos Sociais, vem quando em 1988, na Constituição Federal, a Assistência Social passou a integrar o Sistema de Seguridade Social, como política pública não contributiva. Sob a ótica de conhecer e ajudar indivíduos e famílias em situações de vulnerabilidade social, através do conhecimento da realidade e do cotidiano destas, o CRAS tem como sua principal atividade a implantação do SUAS (Sistema Único de Assistência Social), contribuindo ainda mais com sua proposta de trabalho. No caso de Bela Vista do Paraíso, o CRAS conta com uma instalação física composta por 4 salas, 1 cozinha, 2 banheiros e almoxarifado, mas, o espaço físico não é adequado para a realização de atividades, tais como os grupos de apoio e eventos. Nestes casos, estas atividades são realizadas no centro social comunitário do município. Segundo Andrade (2010) o SUAS estabelece ainda duas formas de proteção social, que se ocupam das vulnerabilidades e riscos que os cidadãos enfrentam em sua trajetória de vida. A proteção social básica e a proteção social especial compõem essas duas formas, sendo a primeira responsável por prevenir situações de risco, e a segunda, já intervindo em casos em que há situações de risco com ou sem rompimento dos vínculos familiares. Em Bela Vista do Paraíso, o CRAS também faz o atendimento desta demanda, com uma equipe composta pelos seguintes profissionais: 01 Assistente Social – Coordenador, 01 Psicóloga, 01 Técnico do Programa Bolsa Família, 01 Auxiliar Administrativo, 01 Instrutor de Artesanato e 01 Serviços Gerais, sendo que este quadro é composto por profissionais concursados e contratados. O CRAS trabalha com acompanhamento de famílias e pessoas em situação de risco social, onde monitora e acompanha seus clientes através de um cadastro no sistema SUASWEB, desenvolvido pela secretaria de assistência social, que acompanha o trabalho de todos os municípios através de dados que são alimentados neste sistema, por transmissão online. Segundo Andrade (2010, p. 605): “Sendo um direito do cidadão, pretende prover os mínimos direitos sociais para garantir as necessidades básicas, a segurança de sobrevivência (rendimento e autonomia), a segurança da acolhida (alimentação, vestuário e abrigo) e o convívio familiar. Suas diretrizes baseiam-se na descentralização das ações, sendo de responsabilidade da esfera federal a 17 coordenação e as normas gerais, e dos Estados e Municípios a coordenação e a execução dos programas e projetos, garantindo-se o comando das ações em cada esfera de governo e respeitando-se as diferenças e as características territoriais locais”. Em Bela Vista do Paraíso, o CRAS realiza grupos de apoio em conjunto com outros departamentos, sendo que desenvolve projetos principalmente com o departamento de saúde trabalhando com gestantes, idosos, tabagistas entre outros. A equipe do CRAS também realiza atendimentos individuais e visitas domiciliares, onde através de estudo social elabora relatórios situacionais para assim analisar a qualidade de vida das pessoas em situações de vulnerabilidade. Segundo dados fornecidos pela diretora do Departamento de Assistência Social, Angela Piccin, a média de atendimentos mensais do CRAS é de 250 atendimentos, divididos em: 150 atendimentos ao programa Bolsa Família, 1ª via de RG – 10 atendimentos, 2ª via de RG - 02 atendimentos, assistência Jurídica - 08 atendimentos, auxílio capacitação – 01 atendimento, auxílio passagem – 11 atendimentos, auxílio funeral – 03 atendimentos, fotos 3x4 – 12 atendimentos, isenção plaquetas de cemitério – 01 atendimento, vale alimentação – 32 atendimentos e encaminhamento gratuidade (casamento) – 02 atendimentos.3 Existem alguns projetos específicos que são desenvolvidos por este Departamento que desde o ano de 2004 vem adequando suas atividades conforme estabelece a Política de Assistência Social para municípios de pequeno porte I, sendo que esta se encontra em processo de transição da Gestão inicial para Gestão básica. O BPC (Beneficio de Prestação Continuada), já mencionado anteriormente, e que integra a proteção social básica do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), é executado diretamente pelo CRAS – Centro de Referência da Assistência Social, em articulação com os demais serviços de assistência social e de outras políticas, na perspectiva de ampliar a proteção a idosos e portadores de deficiência e suas famílias. Para PNAS (2004), a última década significou a ampliação do reconhecimento pelo Estado, no esteio da luta da sociedade brasileira, dos direitos de crianças, adolescentes, idosos e pessoas com deficiência. Hoje o beneficio de 3 Os dados de atendimentos pelo CRAS de Bela Vista do Paraíso, que serão apresentados nesta seção, foram obtidos in loco. Fazem parte de fichários e outras formas de documentação interna ao órgão. 18 prestação continuada (BPC) caminha para sua universalização, com impactos relevantes na redução da pobreza no País. Observa se um crescimento progressivo dos gastos públicos, nas três esferas de governo, no campo da assistência social. As principais atividades desenvolvidas pelo CRAS neste projeto são: Identificar os beneficiários do BPC inseridos nos serviços e/ou entidades sócioassistenciais; realizar visitas domiciliares e inserir os beneficiários do BPC que não participem dos serviços e/ou entidades sócio-assistenciais; estabelecer parceria com a rede sócio-assistencial que atende idosos e portadores de deficiência, bem como acompanhamento dos mesmos; avaliar o grau de vulnerabilidade e potencialidades do beneficiário do BPC e sua família; Inserir os beneficiários do BPC nos grupos de convivência e socialização do CRAS que não estejam inseridos na Rede Sócioassistencial; encaminhar os beneficiários do BPC, que apresentem condições, aos Grupos de Geração de Renda; realizar reuniões mensais, com os beneficiários do BPC e seus familiares, atendidos nos grupos do CRAS; promover o monitoramento e avaliação das atividades desenvolvidas nas entidades e no CRAS; solicitar ao CRAS a realização de acompanhamento através de visita domiciliar aos beneficiários impossibilitados de participarem das atividades das entidades e do CRAS. Para dar continuidade ao projeto, após cadastrados os beneficiários, a equipe técnica do CRAS realiza um levantamento através do SUASWEB dos beneficiários do Beneficio de Prestação Continuada, separados por idosos e portadores de deficiência; em seguida entra em contato com as entidades da rede sócioassistencial que atendem idosos e portadores de deficiência no município para identificar quais beneficiários do BPC estão inseridos nas mesmas. Na seqüência verificam-se os beneficiários do BPC que estão fora de qualquer serviço ou entidade sócio-assistencial e então a equipe técnica do CRAS, através de Visita Domiciliar aplicará um instrumento de identificação para avaliação do grau de vulnerabilidade e potencialidade, e conhecimento da realidade familiar e comunitária. O processo de monitoramento e avaliação é realizado em parceria entre o CRAS e entidades da rede sócio-assistencial a cada seis meses, quando são analisados os relatórios mensais das atividades desenvolvidas, com a presença dos beneficiários do BPC registrada em lista especifica para este fim. Ao final de cada ano é encaminhado um relatório anual ao Departamento de Assistência Social, ao Conselho Municipal de Assistência Social e Conselho Municipal dos Direitos da 19 Criança e do Adolescente, com avaliação do trabalho desenvolvido, propondo implementação das ações, cabendo ao Órgão Gestor a sistematização das informações, o monitoramento e avaliação. Outro projeto importante é o de geração de renda que foi implantado no município no ano de 2008, com o objetivo de geração de renda das mulheres do conjunto Rosa Luppi através da produção de materiais de limpeza caseiros. Neste conjunto há um grande número de famílias que enfrentam dificuldades de ordem financeira decorrentes do desemprego, falta de qualificação profissional, entre outros. Considerando tais aspectos surgiu, a partir de um grupo de mulheres desta localidade, a iniciativa de desenvolver um trabalho de geração de renda solicitando apoio do Departamento Municipal de Assistência Social. Deste modo organizou-se um grupo constituído por mulheres residentes no conjunto Rosa Luppi que num primeiro momento arrecadaram doações de matérias primas e iniciaram a produção principalmente de sabão em pedra, comercializando os produtos no próprio município. Assim com o dinheiro das primeiras vendas estas mulheres adquiriram material para continuarem o trabalho expandindo a produção, que é realizada por cada participante em sua própria casa, permitindo que esta cuide dos filhos e de seus afazeres domésticos. Com o aumento da produção e dos lucros, estes passaram a ser divididos entre as participantes, permitindo assim que estas mulheres contribuam, mensalmente, nas despesas de casa e melhorem sua auto estima e qualidade de vida. Assim, as contribuições do Departamento de Ação Social foram quanto a incentivos financeiros e treinamento das participantes quanto a pratica na fabricação de material de limpeza caseiro. Após a implantação do projeto estas mulheres são avaliadas quanto ao seu grau de envolvimento e participação no projeto e avalia-se também a lucratividade e qualidade dos produtos, chegando ao seu objetivo que é a diminuição da pobreza destas pessoas. 20 4 A GESTÃO PÚBLICA MUNICIPAL E O CRAS 4.1 A IMPORTÂNCIA DO CRAS PARA A REDUÇÃO DA POBREZA NO MUNICIPIO Conforme já mostrado no inicio deste artigo, a pobreza tem origens e determinantes multidimensionais. Assim, deve-se considerar que o prognóstico para combatê-la também o é, devendo-se, portanto, haver no país diversos tipos de políticas direcionadas ao problema, para enfrentá-lo por diferentes ângulos. Desta forma, a geração de emprego pode se constituir em uma destas políticas, na medida em que contribui para a melhoria da qualidade de vida das pessoas. No caso de Bela Vista do Paraíso, o número de emprego formal reduzido faz com que muitas pessoas se desloquem para cidades vizinhas em busca de emprego. O município de Londrina há pouco mais de 50 Km é um exemplo disto. Situações com esta, fazem com que muitas famílias de encontrem em situação de pobreza e, portanto, de vulnerabilidade social. Assim, a responsabilidade de melhorar as condições de vida destas pessoas recai, em primeira instância, nos governos municipais. Segundo Miranda (2007) o desemprego, a pobreza, a miséria, condições precárias de moradia, o não acesso à saúde e educação de qualidade, pano de fundo da expansão capitalista, provocam marcas profundas e efeitos negativos na vida nos indivíduos pela sua própria maneira de coexistir, socialmente, sob tais condições. Nos últimos anos as políticas sociais voltadas para o combate à fome e a pobreza sofreram muitos avanços, sendo que um deles foi a criação do SUAS, integrando os serviços sociais em redes, com maior planejamento e menos desvios de verbas e recursos. O SUAS, segundo Russo (2006), alterou radicalmente o modelo de gestão e a forma de financiamento da Assistência Social e estabeleceu um novo pacto federativo entre União, Estados, Distrito Federal e municípios, garantindo autonomias legais em regime de mútua colaboração institucional. Assim no caso de Bela Vista do Paraíso, o município, desde o ano de 2009, implantou o CRAS e suas políticas e projetos, para melhorar a qualidade da assistência local, que passou a contar com uma equipe de profissionais qualificados e também do repasse de 21 recursos, onde os governos federal e estadual dão sua parcela de contribuição. De acordo com Miranda (2007, p. 2): “Sob a perspectiva do processo de estreitamento da proteção social a Assistência social como política social sob os avanços imprimidos com a implantação do SUAS (Sistema Único da Assistência Social), busca provir à proteção social a famílias que se encontram em situação de vulnerabilidade social, tendo como pressuposto conhecer os processos de risco social a que estão os sujeitos, bem como estabelecer mecanismos estratégicos de enfrentamento das situações adversas”. Outra importante conquista foi a criação dos conselhos municipais de saúde que aprovam e fiscalizam as ações dos gestores em cada setor, diminuindo os desvios de verbas e recursos, fazendo com que os cidadãos sejam melhor atendidos em suas necessidades. Sendo assim questões como gestão, processos, planejamento passam a fazer parte dos serviços públicos, para melhorar organização e a qualidade dos mesmos. 4.2 O PAPEL DO GESTOR PÚBLICO MUNICIPAL NA IMPLANTAÇÃO E FUNCIONAMENTO DO CRAS A promulgação da Constituição Federal de 1988 não mudou somente os rumos das políticas sociais no Brasil, gerou, também, transformações profundas na administração pública brasileira, em todas as esferas de governo. No caso dos governos municipais, o seu campo de atuação foi significativamente ampliado e, ações que antes não eram de sua alçada, passaram a ser de sua competência, sobretudo, quando o assunto é saúde e educação básica. Com isto a máquina administrativa teve mudar o seu modo e a sua estrutura de funcionamento. A nova situação requer do administrador público, a capacidade de planejamento, execução, controle e avaliação dos serviços ofertados à população e que são de competência pública. A todo o processo longo e continuado dá-se o nome de gestão, onde a figura de quem executa e o coordena é o gestor, que pode atuar em âmbito federal, estadual e municipal. Ao gestor público municipal cabe a função de gerir os processos, trabalhando em conjunto com demais departamentos, ou ainda gerindo mais de um departamento como é o caso do prefeito municipal. 22 Assim aos secretários de cada departamento também cabe o processo de gestão e de integração deste com os demais departamentos, procurando inclusive coordenar os repasses de recursos. Deste modo, os profissionais do CRAS, tais como a diretoria do Departamento de Ação Social e a Assistente Social devem trabalhar de modo sistemático acompanhando as necessidades dos cidadãos. Neste aspecto, segundo Souza (2009), são desvelados dois grandes desafios aos profissionais do CRAS: desenvolver programas sociais que permitam o protagonismo das famílias quanto às políticas, quanto às próprias mudanças e ações que promovam a integração dos diversos programas, projetos e políticas que já existem. Segundo o relatório de gestão do PNAS (2004), a assistência social ainda é confundida com clientelismo, assistencialismo, caridade ou ações pontuais, que nada têm a ver com políticas públicas e com o compromisso do Estado com a sociedade. Assim também a interação com outras secretarias como o caso da secretaria de saúde intensificaria ainda mais o papel do gestor. Neste processo, segundo Souza (2009), a participação deve ser algo expressamente necessário para o planejamento, execução e avaliação das políticas sociais, onde os usuários devem buscar as formas de participação para que juntamente com o Estado ou até mesmo o terceiro setor os mesmo possam participar de todo o processo de gestão das políticas sociais. Outro importante aspecto, que foi inserido na maioria das políticas publicas e dos processos de gestão, é a participação popular, sendo que ao gestor cabe esta ponte de ligação entre o respectivo conselho e o órgão a que esta gestando. 23 Assim para Souza (2009), ouvir a população e a participação dos mesmos na gestão e co-gestão das políticas sociais é a forma mais viável de superar a tutela, a hierarquia, o poder institucional e o assistencialismo, pois junto com a participação da população surge a sua consciência de classe e a pirâmide é invertida, pois nas políticas sociais a ordem parte de baixo para cima, pois os que mais podem definir e problematizar as suas necessidades são os próprios necessitados, ou seja, dessa maneira a própria população colocará na agenda pública suas reais necessidades problematizadas por eles mesmos. 24 5 CONSIDERAÇÃOES FINAIS O artigo mostrou que a implantação do CRAS, pelos seus objetivos e funções desenvolvidas junto à comunidade em Bela Vista do Paraíso, é um importante equipamento social público de auxílio ao combate à pobreza. Isto porque tem a capacidade de inserir famílias, indivíduos ou grupos que se encontram em situação de vulnerabilidade social, nos programas governamentais de apoio. O CRAS lhes oportuniza atendimento, orientação, encaminhamento e acolhimento, por meio de ações desenvolvidas por profissionais qualificados na área. A implantação do CRAS é um elemento de mudança no tratamento das políticas publicas sóciais. Antes os usuários eram atendidos de maneira individual e desmedida, onde a ação social era utilizada principalmente como barganha para conseguir votos, sendo que a falta de planejamento e controle deixava e muito a desejar quanto ao atendimento e qualidade do serviço. Assim o trabalho desenvolvido pelo CRAS é de extrema importância, pois, também, possibilitou ao município uma melhoria na qualidade dos serviços prestados às famílias e indivíduos em situação de vulnerabilidade social, melhorando também a questão do planejamento financeiro e dos repasses por parte dos governos federal e estadual, sendo que como estes são específicos para cada projeto são mais garantidos. Para os indivíduos, o serviço trouxe melhorias da qualidade de vida e das questões como resgate de auto estima e cidadania, por meio da inserção destes aos grupos sociais, uma vez que integra família, educação lazer, saúde, trabalho entre outras questões. Ao gestor público verifica-se grande importância na implementação e coordenação do CRAS e dos projetos desenvolvidos por ele, sendo que alem de organizar o funcionamento do departamento, faz a integração deste com os demais, melhorando a qualidade da assistência. Coloca-se, então, ainda como um desafio a implementação de mais projetos e uma melhor adequação das políticas já existentes no CRAS, pois desde sua criação os profissionais e o serviço como um todo vem sofrendo transformações que melhorem e coloquem o mesmo de acordo com as normas e diretrizes das políticas sócias voltadas para a ação social e o combate a fome. 25 REFERÊNCIAS BARROS, R. P. de; HENRIQUES, R.; MENDONÇA, R. O combate à pobreza no Brasil: dilemas entre políticas de crescimento e políticas de redução da desigualdade. In: HENRIQUES, R. (Org.). Anais do Seminário Desigualdade e Pobreza no Brasil. Rio de Janeiro, 2001. BOSCHETTI, I. Política social no capitalismo: tendências contemporâneas. São Paulo: Cortez, 2008. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social de Combate à Fome. Política Nacional de Assistência Social (PNAS). Brasília, nov. 2004. Disponível em: < http://mds.gov.br/assistenciasocial/arquivo/Politica%20Nacional%20de%20Assistenc ia%20Social%202013%20PNAS%202004%20e%202013%20NOBSUASsem%20marca.pdf>. Acesso em 20 set 2011; ______, Governo Federal. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (1988). Brasília. Disponível em: <http://www.senado.gov.br/sf/legislacao/const/>. Acesso em 16 ago de 2011; ______. Ministério do Desenvolvimento e Combate a Fome. CRAS - Orientações técnicas: centro de referencia de assistência social – CRAS. Brasília: Ministério do Desenvolvimento e Combate a Fome, 2009; ______. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome. Disponível em: <www.mds.gov.br/suas> Acesso em 16 out 2011. ______._______. Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social (NOB/SUAS). Brasília. MDS, 2005. ______. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome/Secretaria Nacional de Assistência Social. Proteção Básica do Sistema Único de Assistência Social: Orientações Técnicas para o Centro de Referência de Assistência Social. Brasília: MDS, 2006 BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Norma Operacional Básica de Recursos Humanos do SUAS (NOB-RH/SUAS). Brasília: MDS, 2007a. ______. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. SUAS - Sistema Único de Assistência Social. Brasília: MDS, 2007b. ______. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Linha de base do monitoramento dos CRAS. Brasília: MDS, 2008. ______. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Orientações Técnicas Centro de Referência de Assistência Social – CRAS. Brasília: MDS, 2009. . 26 CARMO, A. S.; MENOTTI, C.; DAVID, C. G.; OLIVEIRA, M. H. Cras um Espaço de Formação e Capacitação dos Jovens. Seminário integrado Faculdade Toledo. V. 4. N. 4. São Paulo. 2010. Disponível em: <http://intertemas.unitoledo.br/revista/index.php/SeminarioIntegrado/article/view/275 3/2531> Acesso em 15 ago 2011. COSTA, A. F. S.; CARDOSO, C. L. Inserção do Psicólogo em Centros de Referência de Assistência Social – CRAS. Revista Interinstitucional de Psicologia. N. 3. V. 2. 2010. Disponível em: <http://www.fafich.ufmg.br/gerais/index.php/gerais/article/viewDownloadInterstitial/11 5/122>. Acesso em 20 de Out 2011. FLEXOR, G. G.; LEITE, S. P. Análise de políticas públicas: breves considerações teórico-metodológicas. In: ENCONTRO NACIONAL DE ECONOMIA POLÍTICA, 12., 2007, São Paulo. Anais... São Paulo: SEP, 2007. 1-22. GIMENES, V. B. Política nacional de assistência social: perspectivas para o exercício profissional do assistente social. Dissertação (Mestrado em Serviço Social). Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Faculdade de História, Direito e Serviço Social – Campus de Franca-SP. 2009. Disponível em: < http://www.franca.unesp.br/posservicosocial/valeriasilva.pdf>. Acesso em 02 ago 2011; IBGE. Censo demográfico. 2010. Disponível <http://www.censo2010.ibge.gov.br/>. Acesso em 15 ago 2011; em: LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Fundamentos de Metodologia Científica. São Paulo: Atlas, 2000. MIRANDA, L. F.; COLADELLO, M. Resiliência, Serviço Social e o CRAS: Traçando caminhos para a construção de redes de proteção. Encontro de iniciação cientifica. V. 3 N. 3. Presidente Prudente, SP. 2007. Disponível em: http://intertemas.unitoledo.br/index.php/ETIC/article/view/1354/1293. Acesso em 20 out 2011; RIBAS, R. P. A caracterização da pobreza ao longo do tempo: aplicação do modelo idade-período-coorte na estimação das tendências de privações crônica e transitória no Brasil. Revista brasileira de estatística populacional. São Paulo, v. 24, n. 1, p. 139-161, jan./jun. 2007. ROSA, E.C. D.Políticas de transferência de renda no Brasil: Uma análise do PBF e suas condicionalidades. Monografia (Graduação). Ciências Econômicas na Universidade Estadual de Maringá, 2008) RUSSO, Osvaldo. CRAS e a nova assistência social. São Paulo, 2006. Disponível em <http://www.fomezero.gov.br/artigo/o-cras-e-a-nova-assistencia-social-osvaldorusso>. Acesso em 16 ago 2011; SOUZA, M. S.; MARTOS, P. A.; OLIVEIRA, M. H. Desafios e Possibilidades da Efetivação da Participação no Centro de Referência da Assistência Social – 27 Cras. Seminário Integrado entre Oficinas, Disciplinas e Estágio da Faculdade de Serviço Social de Presidente Prudente. V. 3. N. 3. 2009. Disponível em: < http://intertemas.unitoledo.br/revista/index.php/SeminarioIntegrado/issue/view/44>. Acesso em 20 out 2011.