0 UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Departamento de Ciência dos Alimentos Bacharelado em Química de Alimentos Disciplina de Seminários em Alimentos Bacteriocinas Michele Brauner de Mello Pelotas, 2009. 1 Michele Brauner de Mello Bacteriocinas Trabalho acadêmico apresentado ao Curso de Bacharelado em Química de Alimentos da Universidade Federal de Pelotas, como requisito da disciplina de Seminários em Alimentos. Orientador: Profº. Fabrízio Barbosa Pelotas, 2009. 2 Agradecimentos Agradeço aos professores da disciplina de seminários pela nova oportunidade. À Prof.a Dr.a Amanda Motta pelos materiais fornecidos, carinho e compreensão. Ao meu marido Alfredo Hartleben pelo carinho e incentivo. À minha família. E a todos meus colegas do Curso de Bacharelado em Química de Alimentos. 3 Lutar sempre, vencer às vezes, desistir jamais... (Autor desconhecido) 4 Resumo MELLO, Michele Brauner. Bacteriocinas. 2009. 30f. Trabalho acadêmico – Bacharelado em Química de Alimentos. Disciplina de Seminários em Alimentos. Universidade Federal de Pelotas, Pelotas. O interesse por novos métodos de biopreservação tem aumentado nos últimos anos, suportado por pesquisas indicando o potencial do antagonismo de alguns microrganismos, assim como de seus metabólitos antimicrobianos. Existem várias substâncias, com atividade antimicrobiana, produzidas por microrganismos; dentre elas podemos destacar toxinas, enzimas, ácidos orgânicos, antibióticos, peróxido de hidrogênio e bacteriocinas. Em relação à preocupação com a preservação dos alimentos, tem-se focado nas bactérias lácticas, as quais em seu processo de fermentação normal produzem metabólitos como ácidos orgânicos, peróxido de hidrogênio e bacteriocinas, protegendo o sistema alimentar de microrganismo patogênicos e deteriorantes; uma vez que o princípio da biopreservação envolve o uso de microrganismos antagonistas ou seus metabólitos para inibir ou destruir microrganismos indesejáveis. As bacteriocinas já possuem uma potencial aplicação prática e um grande número destas já tem sido identificadas e caracterizadas, nos últimos anos. Logo o objetivo do presente trabalho é abordar e discutir aspectos relacionados às bacteriocinas considerando sua classificação e propriedades, modo de ação, aplicação e fatores relacionados à sua eficácia considerando a aplicação das bacteriocinas diretamente em alimentos. Novas tecnologias na área de preservação de alimentos devem ser consideradas com o objetivo de minimizar a aplicação de conservantes nos alimentos assegurando uma melhor qualidade nutricional dos produtos consumidos. Palavras-chave: Bacteriocina. Peptídeos antimicrobianos. Microrganismos. Nisina. 5 Lista de Figuras Figura 1: Curva de crescimento microbiano................................................................12 Figura 2: Aspecto das paredes celulares de organismos Gram-positivos e Gramnegativos.....................................................................................................................14 Figura 3: Micrografia eletrônica de transmissão da estrutura celular da bactéria Listeria monocytogenes que sofreu ação de uma bacteriocina. A) Antes da ação da bacteriocina. B) Após ação da bacteriocina................................................................15 Figura 4: Requeijão Cremoso, que contém o uso da nisina como conservante na sua formulação..................................................................................................................16 Figura 5: Bacteriocina nisina liofilizada......................................................................22 6 Lista de Tabelas Tabela 1: Classificação das bacteriocinas...................................................................11 Tabela 2: Países que permitem o uso nisina.............................................................17 Tabela 3: Bactérias Gram-negativas produtoras de bacteriocinas.............................19 Tabela 4: Bactérias Gram-positivas produtoras de bacteriocinas..............................20 Tabela 5: Principais microrganismos Gram-positivos sensíveis a nisina...................23 Tabela 6: Principais diferenças entre bacteriocinas e antibióticos.............................26 7 Sumário 1Introdução....................................................................................................................8 2 Histórico.....................................................................................................................9 3 Classificação das bacteriocinas................................................................................10 4 Produção das bacteriocinas......................................................................................12 5 Modo de ação...........................................................................................................13 6 Aplicação..................................................................................................................16 6.1 Aplicação em pesquisas........................................................................................18 7 Bacteriocina Nisina...................................................................................................21 8 Fatores que podem afetar a eficiência das bacteriocinas........................................24 9 Diferenças entre bacteriocinas e antibióticos...........................................................26 10 Conclusão...............................................................................................................27 11 Referências.............................................................................................................28 8 1 Introdução As bacteriocinas são substâncias com atividade antimicrobiana, secretadas por uma diversidade de microrganismos. As bactérias encontram-se como objeto de estudo quanto à produção destes compostos, cuja aplicação em alimentos vem sendo discutida, tendo em vista as mudanças do perfil do consumidor, o qual busca hoje alimentos minimamente processados com menor adição de conservantes e melhor valor nutricional. As bacteriocinas são peptídeos ou proteínas biologicamente ativas, que variam de acordo com seu peso molecular, possuem ação bactericida ou bacteriostática. A grande maioria desses peptídeos é termoestável, permitindo-lhes manter a sua atividade antimicrobiana a temperaturas similares as normalmente utilizadas nas indústrias de alimentos (JOERGER et al., 1990). Porém sua eficácia também está relacionada com o nível de contaminação do alimento pelo microrganismo alvo. Se esta contaminação for muito elevada, a atividade da bacteriocina será diminuída, não impedindo o desenvolvimento do microrganismo deteriorante ou patogênico (RILLA et al., 2004). Estes peptídeos possuem atividade diante de bactérias Gram-negativas e Gram-positivas, dentre elas destacam-se, importantes patógenos de doenças alimentares, tais como; Listeria monocytogenes, Clostridium botulinum, Bacillus cereus e Staphylococcus aureus. 9 2 Histórico Relata-se que o pioneiro nas pesquisas das bacteriocinas foi André Gratia o qual em meados de 1925 publicou um estudo relatando a capacidade de inibição do crescimento microbiano promovida por uma linhagem de Escherichia coli sobre outras linhagens de mesma espécie (JACK et al., 1995). Essas substâncias responsáveis por esta atividade antimicrobiana foram denominadas ‘colicinas’ (JACOB et al., 1995). Com a descoberta de que a produção desses compostos não se restringia ao grupo de coliformes, foi proposto o termo ‘bacteriocinas’ para designar as proteínas antimicrobianas produzidas por microrganismos Gramnegativos e Gram-positivos (NASCIMENTO et al., 2008). Desde então, relatam-se estudos referentes a microrganismos produtores de bacteriocinas. No final do Século XX, Pasteur e Joubert relataram a ocorrência da atividade antimicrobiana de bactérias isoladas do gênero Escherichia coli, que foi capaz de interferir no crescimento de outro microrganismo de espécie diferente. Neste caso verificaram a inibição do crescimento de Bacillus anthrax (JACOB et al., 1995). A produção destas substâncias antimicrobianas foi, também, identificada em bactérias lácticas e segundo Rogers em 1928, constatou-se a capacidade de certas linhagens de Lactococcus de promover a inibição de outras bactérias estreitamente relacionadas. Somente em 1947, Marttick e Hirsch concentraram uma substância inibidora produzida por uma linhagem de Lactoccocus. lactis subsp. lactis, que apresentava uma grande atividade antimicrobiana, denominando-a de nisina (COTTER et al., 2005). Esta bacteriocina foi purificada e comercializada primeiramente na Inglaterra em 1953, sendo considerada segura pra o uso em alimentos pelo Joint FAO / WHO Expert Committee on Food Additives (JECFA) (que é uma comissão científica internacional) e administrado conjuntamente pela Organização para a Agricultura Alimentação das Nações Unidas, (FAO) e da Organização Mundial de Saúde (OMS) em 1969. Na Europa, em 1983, foi adicionada à lista de aditivos alimentares. Nos EUA em 1988 o Food and Drug Administration (FDA) autorizou o uso em queijos processados (COTTER et al., 2005). No Brasil, em 1996, foi autorizado seu emprego em queijos na concentração de até 12,5 mg.kg-1 (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1996). 10 3 Classificação das bacteriocinas As bacteriocinas estão distribuídas em quatro classes, Classe I ou lantibióticos, representados por pequenos peptídeos (19 a 38 resíduos de aminoácidos), termoestáveis, de baixo peso molecular (<5K Da), representado pela bacteriocina nisina; Classe II, pequenos peptídeos termoestáveis (<10K Da) divididos em três subclasses (IIa, IIb, IIc), geralmente apresentam estrutura helicoidal, permitindo sua inserção na membrana plasmática da célula alvo, promovendo despolarização da membrana e a morte celular; classe IIa possui alta especificidade contra Listeria monocytogenes, promovendo a formação de poros na membrana da célula alvo e consequentemente, morte celular; classe IIb, requerem a atividade combinada de 2 peptídeos para exercer a sua atividade, possui baixa atividade se forem empregados individualmente; IIc apresentam união covalente entre as terminações N e C., resultando em uma estrutura cíclica, Classe III, é formada por peptídeos termolábeis de alto peso molecular (>30k Da), são complexos quanto à atividade e a estrutura, promovem lise da parede celular da célula alvo; Classe IV, grandes complexos de peptídeos com carboidratos e lipídeos em sua estrutura (CLEVELAND et al., 2001). Segundo Cotter foi proposta uma nova classificação, na qual consiste uma subdivisão das bacteriocinas em duas categorias distintas: sendo (classe I) os lantibióticos e (classe II) os não lantibióticos fazendo parte de uma categoria, e a classe III os peptídeos de alto peso molecular termoestáveis; separadamente designados de ‘bacteriolisinas’ parte de outra categoria. Alguns pesquisadores acreditam que as bacteriocinas estejam divididas em três classes, e não quatro como demonstram alguns estudos, pois acredita-se que a ‘classe IV’ seja resultado de uma purificação parcial e não uma nova classe de bacteriocinas. A tab. 1 demonstra a classificação das bacteriocinas (DRIDER et al., 2006). 11 Tabela 1 – Classificação das bacteriocinas Classificação Descrição Subcategorias Exemplos Classe I ou Lantibióticos Peptídeos que contêm lantionina ou beta-lantionina Tipo A (moléculas lineares) Nisina, subtilina, epidermina Tipo B (molécula globular) Subclasse IIa (bacteriocinas tipo pediocinaantilisterial) Mersacidina, mutacina Pediocina, enterocina, sakacina Subclasse IIb (composta por dois peptídeos) Subclasse IIc (outras bacteriocinas) Plantaricina, lantacina F Classe II Classe III Classe heterogênea de pequenos peptídeos termoestáveis Grandes peptídeos (>30K Da) termolábeis Fonte: DRIDER et al., 2006 lactococcina Helveticina J, millericina B 12 4 Produção das bacteriocinas A produção das bacteriocinas ocorre tanto na fase logarítmica quanto no início da fase estacionária (PIARD et al., 1992). Na Fig 1, pode ser observada a fase em que acontece a produção das bacteriocinas, onde está marcado com um círculo. Esta produção pode ser favorecida por alguns fatores, tais como: temperatura, pH e tempo de incubação (PARENTE et al., 1994). As condições ótimas de crescimento devem ser determinadas de acordo com o microrganismo produtor da substância antimicrobiana. Figura 1 – Curva de crescimento microbiano. Fonte: TORTORA et al., 2006. Alguns pesquisadores relatam que certos componentes específicos dos meios de cultura interferem sensivelmente na produção de algumas bacteriocinas. De acordo com o microrganismo em estudo, alguns trabalhos indicam a necessidade de alguns nutrientes para um incremento da produção de bacteriocinas, bem como a influência dos mesmos no aumento e ou diminuição da produção destes compostos. Substâncias que já foram observadas interferirão neste processo são: extrato de levedura, aminoácidos, manganês, manitol e nitrogênio (TAGG et al., 1976). 13 5 Modo de ação Para um melhor entendimento sobre o modo de ação das bacteriocinas é pertinente que se discuta os componentes da parede celular bacteriana; estrutura que envolve a célula. A parede celular atua como uma barreira física rígida, que mantém a sua forma celular. É composta de peptídeoglicano, que é o responsável pela rigidez da parede celular. Este peptídeoglicano é um enorme polímero complexo composto por carboidratos e cadeias de tetrapeptídeos, que, em bactérias Gram-positivas pode formar até 20 camadas, enquanto em células Gram-negativas está presente, formando apenas uma ou duas camadas. Assim, quando observadas sob microscopia eletrônica de transmissão, as bactérias Gram-positivas apresentam uma parede celular espessa (de 20 a 80 nm), de aspecto homogêneo, enquanto as células Gram-negativas exibem uma parede mais delgada (de 9 a 20 nm) e de aspecto bastante complexo, aparentemente apresentando mais de uma camada. A microscopia eletrônica de varredura revelou outras diferenças entre estes dois grupos de organismos. As Gram-positivas exibiam a superfície mais lisa e homogênea, enquanto as Gram-negativas apresentavam-se com maior complexidade superficial. Na Fig. 2 pode-se observar o aspecto das paredes celulares de microrganismos Gram-positivos e Gram-negativos. 14 Figura 2 – Aspecto das paredes celulares de organismos Gram-positivos e Gramnegativos. Fonte: <http://www.unb.br/ib/cel/microbiologia/morfologia1/morfologia1.html> Acesso em : 20 de jun. 2009. Nas bactérias Gram- negativas, a parede celular esta composta por uma camada de peptidioglicano e três outros componentes que a envolvem externamente; lipoproteína, membrana externa e lipopolissacarídeo. A membrana externa das bactérias Gram-negativas é o componente que confere maior resistência contra a ação das bacteriocinas. O peptidioglicano, responsável pela forma das células e proteção do citoplasma frente às diferenças de pressão osmótica entre os meios externo e interno, confere rigidez ao corpo bacteriano (TORTORA et al., 2006). A atividade fisiológica de uma bactéria depende da integridade da estrutura (BLACK, 2002). A maioria das bacteriocinas, inibem somente o crescimento de outras linhagens de uma mesma espécie, ou de espécies intimamente relacionadas (HURST et al., 1973). Constata-se que bactérias Gram-positivas como Lactobacillus acidophilus, Bacillus cereus, Streptococcus sp., Staphylococcus sp. e 15 Corynebacterium sp., produzem bacteriocinas que inibem o crescimento de bactérias Gram-negativas (SANTOS et al., 1994) Algumas bactérias consideradas sensíveis possuem em sua superfície sítios receptores que são reconhecidos pela bacteriocina (JACK et al., 1995). A partir deste reconhecimento a bacteriocina ganha o interior da célula bacteriana via processos ainda não muito bem esclarecidos (JACK et al., 1995). Na Fig. 3 pode ser observada a estrutura bacteriana do microrganismo Listeria monocytogenes antes e após a ação de uma bacteriocina. A B Figura 3 – Micrografia eletrônica de transmissão da estrutura celular da bactéria Listeria monocytogenes que sofreu ação de uma bacteriocina. A) Antes da ação da bacteriocina. B) Após ação da bacteriocina. Fonte: MOTTA et al., 2005. . 16 6. Aplicação Em busca de aumentar a vida útil e a segurança dos alimentos, de forma a proteger a saúde do consumidor, as indústrias buscam sempre novas tecnologias para aplicarem juntamente à produção de seus alimentos. Na Fig. 4 está um exemplo da utilização da nisina na indústria, pois na formulação do produto Requeijão Cremoso, a nisina é utiliza como conservante. Das bacteriocinas estudadas a única aprovada para utilização na conservação dos alimentos é a nisina. Esta bacteriocina é conhecida desde 1928 e é produzida por uma bactéria láctica chamada Lactococcus lactis. As bacteriocinas, de forma geral, quando estudadas e pesquisadas, possuem três formas de aplicação. Em alimentos fermentados podem ser produzidas in situ pela adição de culturas lácticas bacteriocinogênicas no lugar das culturas tradicionais, pela adição dessas culturas como adjuntas de outras já previstas no produto em questão ou pela adição das bacteriocinas purificadas e liofilizadas diretamente nos alimentos (NASCIMENTO et al., 2008). Na tab. 2 demonstram-se os países que permitem o uso da nisina. Nesta tabela os limites permitidos pelos países estão expressos em unidade internacional, sistema utilizado para facilitar e uniformizar as medições. Figura 4 – Requeijão Cremoso, que contém o uso da nisina como conservante na sua formulação. Fonte: <http://www.twenga.com.br/dir-Gastronomia,Queijos-do-mundo,Queijo-de-barrar-06133> Acesso: em 27 de jun. 2009. 17 Tabela 2 – Países que permitem o uso de nisina Países Alimento em que Nível é permitido o uso Máximo(UI/g) da nisina Argentina Queijo processado 500 Austrália Queijo, queijo processado e tomates enlatados Sem limite Bélgica Queijo 100 Brasil Queijo, vegetais enlatados e salsichas 500 EUA Queijo processado e pasteurizado 10000 França Queijo processado Sem limite Holanda Queijo Industrializado, queijo processado e queijo ralado 800 Inglaterra Queijo, alimentos enlatados e creme Sem limite Itália Queijo 500 México Sem descrição 500 Peru Sem descrição Sem limite Rússia Queijo processado dietético e 800 enlatados Fonte: CLEVELAND et al., 2001. 18 6.1 Aplicação em pesquisas científicas Devido a várias pesquisas, foi possível a aprovação e aplicação da bacteriocina nisina na produção de alimentos, mas os estudos não se limitam apenas a bacteriocina nisina. Pesquisas com outras bactérias têm sido realizadas e estima-se que 99% das bactérias produzem no mínimo um tipo de bacteriocina. Na tab. 3 estão as bacteriocinas produzidas por bactérias Gram negativas. Na tab. 4 estão as bacteriocinas produzidas por bactérias Gram positivas. Foi encontrada uma bacteriocina produzida por um microrganismo do intestino do peixe Jaraqui, da bacia da Amazônia, este microrganismo teve ação inibitória sobre Staphylococcus aureus, Salmonella Gallinarium, Listeria monocytogenes (SIRTORI., 2006).Outras trabalhos relatam estudos referentes a bacteriocina pediocina, produzida pelo Pediococcus acidilactici, que tem ação contra Listeria monocytogenes (NETO., 2007). 19 Tabela 3 – Bactérias Gram-negativas produtoras de bacteriocinas Bactéria Produtora Bacteriocina Escherichia colli Colicinas Aeromonas hydrophila Bacteriocin-like substance Klebsiella oxytoca Klebicina Enterocoliticina Yersinia enterocolitica Vibrio comma Vibriocina Pseudomonas sp. Piocinas Fonte: CLEVELAND et al., 2001. 20 Tabela 4 – Bactérias Gram-postivas produtoras de bacteriocinas Bactéria Produtora Bacteriocina Staphylococcus aureus Aureocina Staphylococcus epidermidis Pep5 Listeria innocua 743 Listeriocina 743A Bacillus subtilis Subtilosina A Bacillus cereus Cereina Fonte: CLEVELAND et al., 2001. 21 7 Bacteriocina Nisina A nisina produzida por Lactococcus lactis é a bacteriocina mais pesquisada e a única aprovada para aplicação em alimentos com objetivo de conservação dos produtos. Sua aplicação é prevista em vários países. É a única bacteriocina considerada pelo comitê do Codex Alimentarius da FAO (Food and Agriculture Organization) como GRAS (Generally Regarded As Safe), e de uso liberado como aditivo alimentar para controle antimicrobiano na inibição do desenvolvimento pósgerminativo de esporos e formação de toxina por Clostridium botulinum em queijos fundidos pasteurizados (ROSA et al.,2002). Possui ação antimicrobiana diante de alguns microrganismos. A tab 5 mostra microrganismos Gram-positivos sensíveis a nisina. Estudos realizados com a nisina demonstram que esses antimicrobianos são substâncias atóxicas (ROSA et al.,2002).Desde então esta propriedade só confirma a aplicabilidade desta bacteriocina na busca de alimentos seguros, visando um produto que não ofereça risco à saúde humana. Vários países já adotaram a bacteriocina nisina como uma ferramenta para tentativa de inibição de microrganismos patógenos. No Brasil, a nisina foi aprovada pela Divisão Nacional de Alimentos (DINAL) do Ministério da Saúde (Portaria n°6, 1990), para ser utilizada em preparados à base de queijos fundidos e em queijos fundidos em uma dose máxima de 12,5 mg/Kg. A mesma dose de nisina foi liberada pelo DETEN (Departamento de Técnicas Normativas) do Ministério da Saúde para requeijão (Portaria no 34/1992) e queijo pasteurizado (Portaria no 29/1996) (ABIA, 1996). Em 1998, a Divisão de Operações Industriais do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal, pertencente ao Ministério da Agricultura e do Abastecimento, aprovou o uso de nisina em solução de 200 ppm (0,02%) para o emprego em superfícies externas de embutidos, mais especificamente de salsichas de todo tipo. A Fig. 5 mostra a bacteriocina como é comercializada na sua forma liofilizada. 22 Figura 5: Bacteriocina nisina liofilizada. Fonte: <http://www.b2btrade.biz/leads_53224/>. Acesso em 27 de jun. 2009. 23 Tabela 5 – Principais microrganismos Gram-positivos sensíveis a nisina Gêneros Bacterianos Sensíveis a Nisina Bacillus sp. Clostridium sp. Desulfotomaculum sp. Enterococcus sp. Lactobacillus sp. Leuconostoc sp. Listeria sp. Micrococcus sp. Pediococccus sp. Staphylococcus sp. Sporalactobacillus sp. Fonte: CLEVELAND et al., 2001. 24 8 Fatores que podem afetar a eficiência das bacteriocinas A eficiência das bacteriocinas não é constante o que está relacionada a fatores diretos e indiretos da bacteriocina em questão. A eficácia depende da composição química e das condições físicas do alimento, como a ação da temperatura, pH, enzimas. De acordo com a bacteriocina estudada devem-se empregar condições favoráveis ao seu mecanismo de atuação. De acordo com Jozala, pesquisou-se métodos de otimizar a produção da nisina por Lactococcus lactis subsp. lactis ATCC 11454 utilizando meio sintético e leite desnatado, com ou sem suplementação de componentes extras, como meio de cultivo. O cultivo do L. lactis foi realizado (36h/100rpm/30 oC) em caldos MRS ( Extrato de levedura; sulfato de magnésio; proteose peptona; dextrose; extrato de carne; citrato de amônio; fosfato dipotássio; tween 80; sulfato de manganês; acessatato de sódio) e M17 (Triptona; extrato de levedura; sulfato de magnésio; proteína de soja; digerido de carne; áciodo ascórbico; glicerolfosfato; dissódico) e também suplementado com sacarose, fosfato de potássio, asparagina e sacarose ; e diluído 1:1 com leite desnatado. O leite desnatado foi também utilizado como meio de cultivo mantendo sua composição básica (9–10 % sólidos totais, pH = 6,5). Alíquotas do cultivo foram incubadas à (36h/100rpm/30°C). A atividade da nisina detectada foi altamente influenciada pela incorporação de leite desnatado em ambos o caldo, MRS e M17, com a máxima quantidade expressa em 36 horas de incubação. Os resultados mostram que o leite desnatado com meio de cultivo desenvolve ambiente propício e ideal para a produção de nisina, pois reduz os custos e aumenta a produção, por se tratar de um produto de fácil acesso (JOZALA, 2005). Outro fator que pode interferir no mecanismo de produção das bacteriocinas é o NaCl. Em pesquisas realizadas observou-se que esta substância aumentou a eficiência da inibição da nisina contra L. monocytogenes e C. botulinum, em meios de cultivos, indicando em efeito combinado na redução da resistência dos esporos, aumentando a inibição do crescimento pós-germinativo (MORENO et al., 2008). Um dos fatores também pode interferir na eficácia das bacteriocinas é o nível de contaminação do alimento pelo microrganismo patógeno. Se a contaminação for muito elevada, a atividade da bacteriocina será diminuída, assim não conseguindo inibir toda a contaminação 25 presente no alimento (RILLA et al., 2004). Deve-se destacar que a aplicação desses antimicrobianos não dispensa os cuidados e higienização com o alimento. . 26 9 Diferença entre bacteriocina e antibiótico Conforme estudos, as bacteriocinas diferem de antibióticos devido a alguns fatores. As bacteriocinas são proteínas sintetizadas via ribossomal, depende dos códons RNAm que se associam aos ribossomos, que consistem de RNAr e proteínas. O pareamento de bases dos códons no ribossomo resulta na captação de aminoácidos específicos aderidos a moléculas de RNAt e sua formação pelas suas ligações peptídicas (TORTORA et al., 2005). Os antibióticos diferem em seu metabolismo, através da sua síntese não ribossomal. Os peptídeos são sintetizados por enzimas capazes de produzir peptídeos biologicamente ativos a partir de substratos, em muitos casos não protéicos, chamados de peptídeos sintetase. Existe um fator que é muito relevante, que é, se as bacteriocinas fossem classificadas como antibióticos a sua aplicação em alimento não seria permitida, sabendo-se que a aplicação de antibióticos em alimentos para consumo humano não é prevista. Na tab. 6 apresentam-se as principais diferenças entre bacteriocinas e antibióticos. Tabela 6 – Principais diferenças entre bacteriocinas e antibióticos. Características Antibióticos Bacteriocinas Modo de produção Sintetizados por enzimas Síntese ribossomal Fase de produção Metabolismo secundário Metabolismo primário Mecanismo de ação Diversos Membrana citoplasmática Aplicação clinica Sim Não Resistência microbiana Encontradas cepas Encontradas cepas resistentes resistentes Não são digeridas São digeridas Ação de enzimas proteolíticas do sistema digestivo humano Fonte: CLEVELAND et al., 2001. 27 10 Conclusão O desejo do consumidor, por alimentos que possam aumentar a segurança e estender a vida útil dos alimentos, faz com que os pesquisadores busquem por novos métodos para a inativação dos causadores desses problemas. O estudo das bacteriocinas tem contribuído ao longo dos anos de sua descoberta, para a tentativa de minimizar a ação de microrganismos patógenos, que são grandes causadores de doenças veiculadas pela ingestão de alimentos contaminados por esses microrganismos. Mas deve-se lembrar que a utilização dessas bacteriocinas não substitui cuidados com a manipulação dos alimentos em cada etapa do seu processamento. Conclui- se então que as bacteriocinas são ótimas alternativas para a conservação de alimentos. 28 11 Referências CLEVELAND, J. et al. Bacteriocins: safe antimicrobials for food preservation. International Journal of Food Microbiology, Amsterdam, v. 71, n. 1, p. 1-20, December 2001. DRIDER, D.; FIMLAND, G.; HECHARD, Y.; McMULLEN, L. M.; PREVOST, H. The continuing story of class IIa bacteriocins Microbiology and Molecular Biology Reviews, Washington, v. 70, n. 2, p. 564-582, 2006. JACK, R.W., TAGG, J.R., RAY, B. Bacteriocins of gram positive bacteria. Microbiol. Rev., Washington, v.59,n.2, p.171-200, 1995. JOZALA, A. FAUSTINO. Produção de nisina por Lactococcus lactis subsp. Lactis ATCC 11454 utilizando meio sintético e leite desnatado, com ou sem suplementação de componentes extras, como meio de http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/9/9133/tde-21092006-142328/. cultivo. in: Acessado em 14 de jun. 2009. JOERGER, M. C.,KLAENHAMMER, T. R. Cloning, expression and nucleotide sequence of the Lactobacillus helveticus 481 gene encoding the bacterioncin helveticin J.J. Bacteriol., v 172, p. 6339-47, 1990. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Portaria nº 29, de 22 de janeiro de 1996.Resolve aprovar a extensão de uso da nisina com a função de conservador para queijos pasteurizados no limite máximo de 12.5mg/kg. Diário Oficial, Brasília, 23 jan. 1996, Seção 1. MORENO, I.; LERAYER, A.L.S.; LEITÃO, M.F.F. Bacteriocinas de bactérias lácticas: Utilização em laticínios e fatores que afetam a sua eficiência. 2008. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2008_3/bacteriocinas/index.htm>. Acesso em: 20 de jun. 2009. 29 MOTTA, A. S. ; FLORES, Fabiana S ; SOUTO, Andre A ; BRANDELLI, Adriano . Antibacterial activity of a bacteriocin-like substance produced by Bacillus sp. P34 that targets the bacterial cell envelope. Antonie van Leeuwenhoek, v. 93, p. 275-284, 2008. Parede celular de microrganismos gram positivos e gram negativos, disponível em: http://images.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.unb.br/ib/cel/microbiologia/mo rfologia1/parede.jpg&imgrefurl=http://www.unb.br/ib/cel/microbiologia/morfologia1/mo rfologia1.html&usg=__CrXkJKmgt5QHNfI_NqzRhVPKGk=&h=375&w=373&sz=37&hl=pt-BR&start=1&tbnid=o9wY8ho58tCTM:&tbnh=122&tbnw=121&prev=/images%3Fq%3DAspecto%2Bdas%2Bpared es%2Bcelulares%2Bde%2Borganismos%2BGram-positivos%2Be%2BGramnegativos.%26gbv%3D2%26hl%3Dpt-BR%26sa%3DG. Acessado em 27 de junho de 2009. Produto com nisina, disponível em http://images.google.com.br/imgres?imgurl=http://i110.twenga.com/11/tp/61/34/2737 462481865016134.png&imgrefurl=http://www.twenga.com.br/dirGastronomia,Queijos-do-mundo,Queijo-de-barrar06133&usg=__u9zZH45TtOU6zuqrFaRfmveH2AE=&h=100&w=100&sz=4&hl=ptBR&start=1&tbnid=jlXM6rgEb4SUPM:&tbnh=82&tbnw=82&prev=/images%3Fq%3Dr euqueij%25C3%25A3o%2Bcom%2Bnisina%26gbv%3D2%26hl%3DptBR%26sa%3DG. Acessado em 27 de junho de 2009. RILLA, N, Martinez, B., Rodrigues. A. Inhibition of a methicilin-resistent Stapylococcus aureus strain in Afuega Pitu cheese by the nisin Z producing strain Lactococcus lactis IPLA 729, 67, 5, 928-933, 2004. ROSA, C. M., FRANCO, B. MORENO. Bacteriocinas de bactérias lácticas. Conscientiae Saúde, Ver. Cient., UNINOVE- São Paulo. V.1: 09-15 2002 NASCIMENTO, M. S.; MORENO, L.; KUAYE, A, YOSHITERU. Bacteriocinas em alimentos: uma revisão. Braz. J. Food Technol., v. 11, n. 2, p. 120-127, 2008. 30 Nisina liofilizada, disponível em http://images.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.b2btrade.biz/images2/img49a 36a60f3ae0.jpg&imgrefurl=http://www.b2btrade.biz/leads_53224/&usg=__eXH3TxBande3NdskYAz2zEtFjQ=&h=533&w=400&sz=28&hl=ptBR&start=4&tbnid=7iD8VhopFkYfGM:&tbnh=132&tbnw=99&prev=/images%3Fq%3D nisina%26gbv%3D2%26hl%3Dpt-BR%26sa%3DG. Acessado em 27 de junho de 2009. NETO, A. Utilização de pediocina em produto cárneo tipo lingüiça Frescal toscana para controle de listeria monocytogenes. p..17-19, 2007. PIARD, J. C.; DESMAZEAUD, M. Inhibiting factors produced by lactic acid bacteria. 2. Bacteriocins and other antibacterial substance. Lit, v.72, p.113-42, 1992. TAGG, J. R.; DAJANI, A. S.; WANNAAMAKER, L.W. Bacteriocins or Grampositive bacteria. Bacteriol. Rev., v.40, p.722-56, 1976. TORTORA, J. GERARD.; FUNKE, R. BERDELL.; CASE, L. CHRISTINE. Microbiologia. 8° edição, p.172, 2006.