Universidade Federal Rural do Semi-Árido Professor: Walter Martins Rodrigues Cálculo Numérico para Engenharia da Produção e Ciênica da Computação 5 - Integração Numérica Designamos de um modo geral por integração numérica o processo de obter valores aproximados para I f f x dx b a em que f é uma função integrável no intervalo finito a, b IR . A necessidade de ter de recorrer a métodos aproximados para calcular I f provém normalmente de uma das seguintes situações: 1) A expressão analítica de f não é conhecida. É o que acontece quando esta função é dada por tabelas ou obtida por medições de grandezas físicas; 2) A expressão analítica de f é conhecida mas a primitiva desta função não, e portanto a forma usual de determinação do integral não é viável. No presente capítulo abordaremos alguns dos métodos mais correntes de integração numérica. A chave para a solução do problema consiste essencialmente em aproximar a função f por outra função cujo integral seja fácil de calcular. Este objectivo é conseguido recorrendo, por exemplo, a polinómios interpoladores de f. Assim, seja pn o polinómio interpolador de grau n da função f nos nós distintos x0 , x1 ,..., x n , pertencentes ao intervalo a, b . É razoável esperar que I pn pn x dx b a seja, sob certas condições, um valor aproximado de I f . O erro cometido neste processo é e I f I pn I f pn em que a última passagem se justifica pela linearidade do operador de integração. Como vemos, o erro depende da maior ou menor aproximação do polinómio pn a f e adiante apresentaremos estimativas desta importante grandeza. 5.2.1- Fórmulas de Newton-Cotes Como vimos anteriormente, o polinómio pn de grau n que interpola a função f nos nós distintos x0 , x1 ,..., x n , pode representar-se na seguinte forma (Fórmula de Lagrange) n p n x f xi Li x i 0 em que os Li são os polinómios de Lagrange associados aos nós. Sendo assim, é fácil ver que b n b a i 0 a I p n p n x dx f xi Li x dx . Fazendo Ai Li x dx b a (5. 1) podemos escrever que n I p n Ai f xi (5. 2) i 0 Esta expressão costuma designar-se por regra de integração ou fórmula de quadratura e os Ai por coeficientes ou pesos dessa regra. Consoante o valor de n e a localização dos nós no intervalo a, b , assim se obtêm diferentes regras de integração. Como vemos, o cálculo exacto do integral foi substituído pelo cálculo de uma soma ponderada de valores da função integranda. O que acabámos de dizer justifica que se introduza o seguinte conceito: Definição 5.1 Uma regra de integração diz-se de grau de exactidão n se integrar exactamente todos os polinómios de grau n e existir pelo menos um polinómio de grau n 1 que não é integrado exactamente por esta regra. 5.2.1.1-Dedução das fórmulas Vamos deduzir alguns casos particulares de regras de integração, correspondentes a diferentes escolhas de polinómios interpoladores. Regra do Trapézio Interpretação geométrica: Seja p1 o polinómio de grau 1 interpolador de f nos nós a e b, isto é, na forma de Newton p1 x f a f a, bx a e portanto p xdx f adx f a, bx adx b a 1 b b a a x a 2 f a b a f a, b 2 a b f a b a f a, b f a b a b a 2 2 f b f a b a ba 2 ba ba f a f b . 2 2 2 (5. 3) Obtém-se ba f x dx 2 f a f b b (5. 4) a Esta fórmula é conhecida por regra do trapézio. Não é difícil concluir que o grau desta regra é um. Regra de Simpson Interpretação geométrica: Seja p 2 o polinómio de grau 2 interpolador de f nos nós a, c ab e b. Tem2 se p2 x f a f a, cx a f a, c, bx ax c Efectuando os cálculos necessários, chegamos à expressão b a p 2 x dx ba f b 4 f c f a , 6 (5. 5) obtendo-se a designada regra de Simpson: ba ab f x dx 6 f a 4 f 2 f b b (5. 6) a A sua construção garante que o seu grau é pelo menos dois, mas é possível verificar que o seu grau é de facto três, o que se deixa como exercício. Regra n d a0 a1 a2 a3 ... Trapézio 1 2 1 Simpson 2 6 1 4 tabela 5. COMPARAÇÃO DE TECNICAS NUMÉRICAS Existe outro método de integração denominado regra de Newton-Cotes cuja Fórmula é dada por: b a onde xi a ih, i 0,1,..., n , f x dx h ba n a i f xi , d i 0 ba . n Nota: Os coeficientes a i são simétricos, isto é, a n i ai . 5.2.1.2-Erros de integração Para poder escolher qual a regra de integração a utilizar num dado caso concreto é conveniente dispor de estimativas do erro cometido que possam orientar essa escolha. Teorema 5.1 Seja f C 2 a, b . Então b a ba f a f b b a f , a, b f x dx 2 12 3 (5. 7) Demonstração: Recorde-se que se p n é o polinómio interpolador de grau n que interpola f C n1 a, b nos nós distintos x0 , x1 ,..., x n do intervalo a, b , então en x f x p n x f n1 x x x0 x x1 x xn n 1! onde x a, b . Se p n representa o polinómio de grau 1 interpolador de f em a e b, obtém-se a f x dx a p1 x dx a b b b f x x a x b dx 2! ba f a f b ET , 2 onde ET designa o erro de integração na regra do trapézio Então, necessitamos de demonstrar que ET b a f x x a x b dx b a f , a, b . 2! 12 3 Recorde-se o Teorema do Valor Médio Pesado para Integrais: “Se f Ca, b , g é integrável em a, b e g x não muda de sinal em a, b , então existe um número c, a c b , tal que: f x g x dx f c g x dx .” b b a a Como x a x b não muda de sinal em a, b e f é contínua ET f b a x a x b dx, a, b . 2 Sabendo que b a x a x b dx b a 3 , 2 12 fica provado o resultado pretendido, isto é, ET b a 3 12 f , a, b . (5. 8) Teorema 5.2 Seja f C 4 a, b . Então b a 1 b a 4 ba ab f x dx f a 4 f f b f , a, b . 6 2 90 2 5 (5. 9) Donde se conclui que designando E S o erro de integração na regra de Simpson, temos 1 b a 4 ES f , a, b . 90 2 5 A Tabela seguinte inclui as expressões para os erros de truncatura nas Fórmulas de Newton-Cotes apresentadas anteriormente (Tabela 5.1). Nome da fórmula n Regra do trapézio 1 Regra de Simpson 2 Erro de truncatura 1 3 h f , a, b 12 1 h 5 f 4 , a, b 90 Tabela 5. 1: Comparação de Erros na integração numérica Obs: Erro de truncatura nas fórmulas de Newton-Cotes ( h ba ) n Exemplo: Uma aproximação para 1 e x2 0 dx usando a regra de Simpson. De acordo com (5.6) 1 0 e x dx 2 2 2 1 0 02 e 4e 0.5 e 1 0.75 6 Se pretendêssemos calcular um limite superior para o valor absoluto do erro na aproximação obtida, de acordo com (5.9) 1 1 0 4 f , 0,1 , 90 2 5 ES com f x e x . Donde 2 ES sendo M max f 4 x . x0 ,1 Mas 1 M, 2880 f x 2 xe x 2 f x 12 x 8 x e f x 12 48 x 16 x e f x 8 x 15 20 x 4 x e f x 2 4 x 2 e x x2 3 4 2 2 5 x2 4 2 4 x2 f 5 x 0 x 0 x 2.02 x 2.02 x 0.96 x 0.96 0 f 5 x 0.96 - 1 + f 4 x m Verifica-se que f 4 0 12 f 4 0.96 7.42 f 4 1 7.35 max f 4 x 12 . x0 ,1 Donde ES 12 0.4210 2 2880 5.2.1.3-Fórmulas Compostas Aproximações obtidas pelas regras de Newton-Cotes introduzidas na subsecção 5.2.1.1 não têm, muitas vezes, a precisão desejada. O uso de fórmulas deduzidas aproximando a função integranda por polinómios interpoladores de grau superior, pode não produzir melhores resultados (note-se que as fórmulas de Newton-Cotes para n 9, 11, 12, ... têm coeficientes positivos e negativos o que poderá causar cancelamento subtractivo, ou a função integranda pode não possuir a regularidade necessária que permita usufruir da plena precisão das fórmulas). Uma maneira de obter aproximações com menor erro consiste em subdividir o intervalo de integração e aplicar as regras mais simples nesses subintervalos. Com efeito, reparando nas expressões do erro das várias fórmulas, todas elas mostram que aquele depende de uma certa potência do comprimento ( b a ) do intervalo de integração a, b. Então, se reduzirmos este intervalo, o erro virá grosso modo reduzido na proporção dessa potência. Regra do trapézio composta Defina-se a partição de a, b em N subintervalos, de igual amplitude, com os pontos x0 a, x1 ,..., xi ,..., x N b , sendo xi a ih (i 0,1,..., N ) e h b a N xi i 1 xi 1 f x dx ba . Então N f x dx Aplicando a regra do trapézio a cada um dos integrais do segundo membro, xi xi 1 f x dx h f xi 1 f xi , i 1,2,..., N , 2 e denotando f xi f i , obtém-se a regra do trapézio composta, f 0 2 f1 2 f 2 2 f N 2 2 f N 1 f N a f x dx 2 h b (5. 10) IT ( h ) Teorema 5.3 Seja f C 2 a, b e xi a ih (i 0,1,..., N ) com h b a f x dx 2 h f 0 2 f1 2 f N 1 f N h b a f , a, b 2 12 Demonstração: b a N xi i 1 xi 1 f x dx ba . Então N f x dx (5. 11) Pelo Teorema 5.1 b a N h h3 f x dx f i 1 f i f i , i xi 1 , xi 12 i 1 2 3 N h f 0 2 f1 2 f N 1 f N h f i . 2 i 1 12 Fazendo h3 h3 N f i f i , 12 i 1 i 1 12 N ET (h) atendendo ao teorema do valor médio para a somas finitas de valores de uma função, ET (h) N h3 f 1 , a, b 12 i 1 h3 h2 f N b a f , a, b . 12 12 Podemos pois concluir que o erro de truncatura na regra do trapézio composta é dado por ET (h) h2 b a f , a, b 12 (5. 12) Uma estimativa para o erro de truncatura na aproximação I T (h) No caso de N, número de subintervalos, ser da forma N 2k , k 1,2, , e se f C 2 a, b , podemos fazer I ( f ) I T (h) ET (h) (5. 13) I ( f ) I T (2h) ET (2h) . (5. 14) Considerando (5.13) e (5.14), podemos obter 0 I T (h) I T (2h) ET (h) ET (2h) . Atendendo a (5.12), ET (2h) 2h 2 b a f , a, b . 12 (5. 15) Admitindo que f (x) não varia muito em a, b , então f f . Assim, podemos concluir que ET (2h) 4ET (h) . Neste contexto, obtemos de (5.15) 0 I T (h) I T (2h) ET (h) 4ET (h) , ou seja, ET (h) 1 I T ( h) I T ( 2h) . 3 Regra de Simpson composta Defina-se a partição de a, b num número par de subintervalos de igual amplitude xi1 , xi (i 1,2,...,N ) , sendo xi a ih e h ba . N Aplicando a regra de Simpson em cada “duplo intervalo” xi 1 xi 1 f x dx 2h f i 1 4 f i f i 1 , (i 1,3,5,..., N 1) 6 obtém-se a regra de Simpson composta, f 0 4 f1 2 f 2 2 f N 2 4 f N 1 f N a f x dx 3 h b (5. 16) I S (h) Facilmente se deduz que o erro de truncatura na regra de Simpson composta é E S ( h) h4 b a f 4 , a, b 180 (5. 137) isto é, b a h h4 b a f 4 , a, b f x dx f 0 4 f1 2 f 2 2 f N 2 4 f N 1 f N 3 180 (5. 148) Uma estimativa para o erro de truncatura na aproximação I S (h) No caso de N, número de subintervalos, ser da forma N 4k , k 1,2, , e se f C 4 a, b , podemos fazer I ( f ) I S (h) ES (h) (5. 19) I ( f ) I S (2h) E S (2h) . (5. 20) Considerando (5.19) e (5.20), podemos obter 0 I S (h) I S (2h) ES (h) ES (2h) . (5. 21) Atendendo a (5.17), E S ( 2h) 2h 4 b a f ( 4) , a, b . 180 Admitindo que f ( 4) ( x) não varia muito em a, b , então f ( 4) f ( 4) . Assim, podemos concluir que E S (2h) 16 E S (h) . Neste contexto, obtemos de (5.21) 0 I S (h) I S (2h) E S (h) 16ES (h) , ou seja, E S ( h) 1 I S ( h) I S ( 2h) . 15 5.2.2 Fórmulas de integração com valores das derivadas da função integranda Todas as regras de integração deduzidas até aqui foram construídas recorrendo a polinómios interpoladores da função integranda. Porém nada impede o emprego de polinómios que interpolam também as derivadas da integranda. Para exemplificar, consideremos H 3 x o polinómio cúbico de Hermite interpolador de f e f’ em a e b, isto é, na forma de Newton, com h b a : H 3 x f a f a, ax a f a, a, bx a f a, a, b, bx a x b 2 onde f a, a f a f a, a, b f a, b f a, a h 1 1 f b f a f a h h 2 f a, b, b f a, a, b h 1 2 2 f b f a f b f a . h h f a, a, b, b Por outro lado, vimos anteriormente que f 4 x a 2 x b 2 , a, b . 4! e3 x f x H 3 x Então teremos f xdx b b a a H 3 x dx e3 x dx b a Mas h2 h3 h4 a H 3 x dx hf a 2 f a, a 3 f a, a, b 12 f a, a, b, b h2 h2 1 hf a f a f b f a f a 2 3 h b h2 2 f a f b f b f a 12 h h h2 f a f b . f a f b 2 12 Repare-se que h f a f b , corresponde à integração utilizando a regra do trapézio. 2 h2 f a f b , pode ser encarada como uma correcção a introduzir. 12 Em conclusão b a f x dx 2 h f a f b h f a f b . 2 12 Esta regra é conhecida como regra do trapézio corrigida. Relativamente ao erro cometido, 1 e x dx 4! x a x b b a b 3 a 2 2 f 4 dx , (5.22) recorrendo ao Teorema do Valor Médio Pesado para Integrais, b a e3 x dx b 1 4 2 2 f x a x b dx , a, b a 4! h 5 4 f , a, b . 720 (5.23) Podemos pois finalmente escrever b a ba f a f b b a f x dx 2 12 2 5 b a f a f b 720 f 4 , a, b . (5.24) É também possível a obtenção da fórmula do trapézio corrigida composta. Considere-se f C 4 a, b . Defina-se a partição de a, b em N subintervalos de igual amplitude com os pontos xi a ih (i 0,1,..., N ) e h b a N xi i 1 xi 1 f x dx ba . Então N f x dx h h 5 N ( 4) h2 f xi 1 f xi f i , i xi 1 , xi f xi 1 f xi 12 i 1 2 720 i 1 N 2 4 h f 0 2 f1 f N 1 f N h f 0 f N h b a f 4 , a, b . 2 12 720 (5. 25) Donde se concluí que I TC (h) 2 h f 0 2 f1 f N 1 f N h f 0 f N 2 12 (5.26) constitui a regra do trapézio corrigida composta. O erro cometido é dado por ETC (h) h4 b a f 4 , a, b . 720 (5.27)