Clara Benedita de Campos

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A NOSSA HISTÓRIA NA ESCOLA
Clara Benedita de Campos; Dalva Martins Bueno; Dezolina da Silva; Eloísa Jesus Santana;
Florentina Guerra Ferro; Lea de Oliveira Ordonho; Luis Fabio Roque; Maria Aparecida
Ferreira da Silva; Olinda Ferraz de Arruda do Nascimento; Raquel Auxiliadora dos Santos;
Rosa Maria Pereira da Silva; Terezinha de Jesus Ferreira Dias
MOVA (Movimento de Alfabetização) - São Carlos
O presente trabalho é um relato da experiência de vida dos educandos de uma
sala do MOVA-São Carlos - que escreveram, em conjunto com sua educadora, um texto
coletivo narrando a trajetória de suas vidas referente à escola.
Primeiramente, foi discutido nas aulas o que gostaríamos de escrever, para
mostrar aos participantes do CREPA (Congresso Regional de Educação de Pessoas Adultas).
Após diversas sugestões escolhemos uma: “Contar como são nossas aulas, como foi voltar a
estudar e agradecer a quem fez isso por nós”.
O segundo passo, foi a escolha dos temas que deveríamos tratar e a ordem que
viriam no texto. Foram elencados seis temas, construídos um a um: “1)nos apresentar,
2)porque não fomos à escola quando éramos crianças, 3)como era nossa vida antes de vir para
a escola, 4)como foi voltar para à escola, 5)como é a nossa escola e 6)agradecer a quem fez
isso por nós”. Em cada item fazíamos um rascunho na lousa das principais idéias, em seguida
as ordenávamos para que tivessem coerência, construindo assim um texto. Nesse momento, a
educadora explicitava como estávamos construindo nosso texto. Posteriormente era realizada,
em conjunto com os educandos, a correção gramatical do texto, a conjugação dos verbos e a
colocação de vírgulas e pontos. Em geral, era preciso trabalhar a passagem da linguagem
coloquial para a norma padrão. Dessas correções surgiram oportunidades de trabalhar diversas
normas da gramática, bem como de conceitos e significados de palavras.
Em todo esse processo a educadora foi a mediadora, que escrevia e
questionava os temas propostos, coordenando o debate. Ela perguntava sobre o que estava
errado e dava significação à correção. Todos os educandos participavam, ora relatando suas
experiências, ora questionando o educador, ou ainda ilustrando o painel, nesse processo todos
deram sua colaboração.
O painel foi construído artesanalmente pelos educandos, a partir de materiais
reutilizados e de baixo custo. Também farão parte do painel fotos das aulas e desenhos
produzidos por um dos educandos.
Anexo: Texto produzido pelos educandos.
Nós estudamos no MOVA, na classe da USP com a professora Raquel. Somos
em 11 alunos. Nossas aulas são de segunda a quinta das 19 horas às 21 horas.
Alguns de nós moravamos em fazendas que eram longe das cidades, onde
ficavam as escolas, e não tinha condução para nos levar. Outros tiveram que trabalhar na roça,
outros cuidavam dos irmãos ou da casa. Os pais também não deixavam porque tinham muitos
perigos pelo caminho e também porque achavam que mulher não precisa de muito estudo,
elas eram preparadas para ser donas de casa.
Quando morávamos na fazenda, não precisávamos de estudo, porque só
trabalhávamos na lida, plantando e colhendo. Depois que mudamos para a cidade tudo
mudou, porque não tínhamos como arrumar serviço, já que todos precisavam de estudo.
Sem estudo não tínhamos documentos, não arrumávamos emprego, não
sabíamos pegar um ônibus, não fazíamos compras no mercado, não entrávamos num banco
para tirar dinheiro, não sabíamos nomes de rua e não líamos um cardápio de um restaurante.
Éramos passados para trás, pois não éramos registrados. Nossas vidas eram um
sofrimento, era muito triste, éramos tontos do meio do mato.
Voltar para a escola, depois de muitos anos, foi muito gratificante, porque
recordamos o que já tínhamos esquecido.
Tem muita gente que faz gozação das pessoas que voltaram a estudar. Nós
temos orgulho de estudar na USP.
Nossas aulas são ótimas, a professora Raquel dá textos muito bons, nós
aprendemos a ler, a escrever e também matemática e informática; aprendemos muito com as
pessoas.
Tivemos aulas muito boas como a “das mulheres”. A Dona Tereza aprendeu
sobre as horas e telefone. A Carlota aprendeu a pintar.
Na Inclusão Digital aprendemos a ligar, desligar, escrever no computador e
imprimir as nossas atividades. O nosso monitor tem muita paciência, ele explica muito bem, é
o José Geraldo.
Depois de todo esse tempo em que estamos estudando, queremos agradecer a
todos que nos ajudaram. A UFSCar pela formação dos nossos professores, A professora
Raquel pelo que nos ensina, Ao monitor José Geraldo pela ajuda na aula de informática, A
nossa antiga professora Camila, A estagiária Pablia, A nossa supervisora Tatiana, A Prefeitura
pela oportunidade. E a todos os nossos colegas.
Alunos do MOVA – turma da USP – junho 2005
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