BIOLOGIA CELULAR E MOLECULAR Ano Lectivo 2004-2005 Aula Prática 4L: AMPLIFICAÇÃO DE DNA POR PCR Os avanços tecnológicos das últimas décadas possibilitaram o aparecimento de um novo ramo da Ciência – a Biotecnologia, que transformou e revolucionou a investigação científica. Métodos engenhosos de isolamento, análise e manipulação do DNA permitiram avanços no conhecimento dos processos biológicos, de inúmeras doenças humanas e metodologias terapêuticas. Num futuro próximo, uma visita ao médico de família poderá incluir uma bateria de testes de diagnóstico de DNA, pelo que se torna fundamental a compreensão destes princípios. Devido ao uso crescente da “Polimerase Chain Reaction” ou PCR na ciência e medicina modernas é necessário compreender os princípios básicos e aplicações da PCR. Em 1983, Kary Mullis da Cetus Corporation desenvolveu a técnica de biologia molecular que revolucionou a investigação genética e lhe valeu o prémio Nobel em 1993. Esta técnica, a PCR, transformou a biologia molecular numa ferramenta de investigação multidisciplinar nos 5 anos após a sua invenção. Grande parte das técnicas de biologia molecular antes da PCR eram laboriosas, demoradas e requeriam um nível de conhecimento técnico elevado. Além disso, trabalhar com quantidades mínimas de DNA tornava-se muito difícil em certas áreas, como a Patologia, Botânica, Zoologia, Farmácia, etc. A PCR teve um impacto enorme em quatro áreas principais da biotecnologia: mapeamento genético, clonagem, sequenciação de DNA e detecção genética. A PCR é actualmente utilizada no diagnóstico médico permitindo a detecção de mutações específicas que estão na base de certas doenças genéticas, em investigações do foro criminal facultando identificação inequívoca de suspeitos a um nível molecular, e tornou-se a peça chave na recente sequênciação do genoma humano. O objectivo da PCR é produzir uma quantidade apreciável de um segmento específico de DNA a partir de uma quantidade mínima, sendo considerada por este motivo uma técnica de clonagem genética. Isto significa a amplificação controlada por enzimas do DNA molde (template), que contém o fragmento específico de DNA. O molde pode ser qualquer forma de DNA de cadeia dupla, como o DNA genómico. Pode usar-se uma gota de sangue, um fio de cabelo ou uma célula do epitélio oral e aplicar a PCR para gerar milhões de cópias do fragmento de DNA de interesse. A capacidade que a PCR tem de amplificar uma sequência precisa de DNA está na base do seu sucesso, que se alia à sua simplicidade e especificidade. A PCR faz uso de dois dos princípios básicos da genética: a hibridação à cadeia complementar DNA e a síntese de DNA pela DNA polimerase. No caso, da PCR, a hibridação da cadeia complementar tem lugar quando dois primers de oligonucleótidos se ligam às sequências dos pares de bases complementares da cadeia molde. Os dois primers são desenhados e sintetizados de modo a ligarem-se às extremidades opostas de cada uma das cadeias do DNA molde que se pretende amplificar. Para que uma determinada região de DNA seja amplificada, tem que se identificar e determinar a sequência de DNA antes (upper) e depois (lower) da região de interesse. Estas sequências, são posteriormente usadas para sintetizar primers de oligonucleotidos que servem como pontos de partida para a replicação do DNA. Assim os primers upper e lower delimitam a sequência de DNA à amplificar. Estes primers são necessários porque a DNA polimerase requer uma dupla cadeia de DNA para iniciar a replicação do DNA e sintetizar novas cópias do DNA molde. No entanto, é necessário separar - desnaturar as cadeias da dupla hélice de DNA de interesse, para que a ligação dos primers se efectue. A separação é conseguida através do calor. Por esta razão, a DNA polimerase usada na PCR tem que ser estável ao calor, uma vez que os ciclos da PCR têm lugar a temperaturas situadas entre os 64-95 ou mesmo 98ºC. Os ciclos de PCR consistem na alternância de diferentes temperaturas que facultam as diferentes fases da técnica e desenvolvem-se num thermocycler ou termociclador. A DNA polimerase termo-estável (Taq) que faz a polimerização durante a PCR foi isolada a partir da bactéria termofílica, Thermus aquaticus, que vive em elevadas temperaturas, como é o caso dos famosos geysers do Parque Nacional do Yellowstone (EUA). Duas cadeias molde são sintetizadas a partir do fragmento original em cada ciclo completo da PCR. Isto cria uma situação de crescimento exponencial do número de moléculas molde, ou seja, o número duplica em cada ciclo. Ao fim de 30 ciclos haverá 230 vezes mais cópias que no início. Uma vez, o DNA de interesse suficientemente amplificado, pode ser visualizado num gel de electroforese. Isto possibilita aos técnicos determinar a presença ou ausência de certos produtos de PCR e determinar as semelhanças e diferenças entre genes de diferentes indivíduos. A técnica de PCR envolve uma série de ciclos repetidos, cada um consistindo na desnaturação do DNA molde, ligação dos primers e extensão dos mesmos pela Taq DNA polimerase. Antes de se proceder à amplificação do DNA, é necessário a preparação do DNA genómico oriundo das células epiteliais de cada aluno. Uma vez preparado o DNA genómico -DNA molde, os primers, a Taq polimerase, os 4 nucleótidos (A, T, G, C) e o tampão são misturados num pequeno tubo, que é colocado no Termociclador. Este aparelho consegue rapidamente aquecer a mistura (95ºC), provocando a separação da dupla cadeia molde de DNA – desnaturação. Seguidamente, a temperatura desce rapidamente aos 64ºC permitindo a ligação dos primers à sequência complementar das cadeias separadas – ligação (annealing). Por último, as amostras são aquecidas a 72ºC, de modo a possibilitar a extensão dos primers pela enzima Taq, que assim sendo sintetiza duas novas cópias da cadeia molde – extensão. A esta temperatura o grau de eficiência da enzima é máximo. As duas novas cópias servem agora também como molde, podendo ser usadas no próximo ciclo do PCR (Figura 1). Para esta reacção de polimerização usam-se 20 ciclos. No fim de cada ciclo, o número de molde duplica, resultando num crescimento exponencial do número de cadeias de DNA molde. No final dos 20 ciclos produzem-se 1.1x1010 cópias da molécula inicial. A característica mais importante desta técnica é a síntese precisa de uma determinada sequência de DNA. No primeiro ciclo, os dois primers diferentes ligam-se à extremidade oposta de cada uma das cadeias separadas do DNA molde. No final do primeiro ciclo completo, as duas novas cadeias recém sintetizadas são mais curtas que o molde original, mas ainda assim maiores que a sequência que se pretende amplificar. É só a partir do terceiro ciclo completo que os fragmentos de tamanho específico são formados (Figura 2). Nesta aula prática, serão amplificados fragmentos de DNA correspondentes ao gene Drg11 e LacZ (codifica para a beta-galactosidase – um gene reporter), com cerca de 300pb e 200pb respectivamente. Para isso, utilizar-se-ão primers específicos para cada uma das sequências. O DNA molde a utilizar será o DNA genómico extraído na aula laboratorial anterior, a partir de fígado de ratinhos, cujo genótipo relativamente ao gene Drg11 era desconhecido. Estes ratinhos são descendentes de um cruzamento entre progenitores heterozigóticos (+/-), ou seja um alelo continha o gene Drg11 normal (alelo +), enquanto que no outro o gene Drg11 tinha sido removido e substituído por um gene reporter LacZ (alelo -). De acordo com a presença ou ausência de cada um dos fragmentos amplificados, será possível determinar o genótipo destes ratinhos (Figura3). + - + - X Gene Drg11 (+) Ratinhos KO + + + - - Gene LacZ (-) - Genótipo Electroforese Drg11 (300bp) LacZ (200bp) . A separação, por electroforese em gel de agarose, dos fragmentos de DNA, e correspondente análise, será efectuada na próxima aula laboratorial. Protocolo: 1- Juntar, de acordo com a tabela, a quantidade correspondente dos seguintes reagentes em dois tubos diferentes, rotulados como Master Mix (Mistura de PCR) Drg11 e Master Mix LacZ: Tampão salino 10X dNTP mix (10mM) MgCl2 (25mM) Primer Drg11 upper Primer Drg11 lower Primer LacZ upper Primer LacZ lower Taq DNA polimerase Água autoclavada Master Mix Drg11 8ul 4ul 2ul 4ul 4ul ----2ul 48ul Master Mix LacZ 8ul 4ul 2ul ----4ul 4ul 2ul 48ul Nota: Os dNTP mix contem as 4 bases de nucleotidos individuais (A, T, G e C). Os iões magnésio são co-factores necessários à actuação da DNA polimerase e o tampão salino confere o ambiente iónico e pH óptimos para a reacção de PCR. Os primers, são oligonucleótidos de cadeia simples (~23 bases), um complementar à cadeia 5’3’(primer lower) e outro à cadeia 3’5’ (primer upper)do DNA molde. Os primers delimitam a região de DNA a amplificar. 2- Colocar 18 l de Master Mix (Mistura de PCR) Drg11 em 4 tubos de PCR, rotulados como Drg11, e 18 l de Master Mix LacZ para outros tantos, rotulados como LacZ. 3- Centrifugar as amostras de DNA genómico, extraídas na aula laboratorial anterior, a 13000rpm durante 5min. Nota: Grande parte do material insolúvel corresponde à proteínas contaminantes. Pelo contrário, o DNA genómico deverá encontrar-se no sobrenadante. 4- Pipetar 2 l do sobrenadante de cada amostra de DNA genómico, para um tubo Drg11 e outro LacZ. Rotular convenientemente cada tubo. 5- Inserir os tubos no termociclador e correr a PCR. O Termociclador é programado de modo a fazer 20 ciclos. A temperatura de desnaturação é de 95ºC durante 30 segundos, seguida de 64ºC (30 segundos) para ligação dos primers e, finalmente 72ºC (30 segundos) para polimerização pela Taq DNA polimerase. No final dos 20 ciclos, as amostras são mantidas a 4ºC.