O MUNDO GLOBALIZADO Disciplina : Economia e Negócios (9) MUNDIALIZAÇÃO FINANCEIRA Impactos e Tendências (CRISE FINANCEIRA MUNDIAL out/08) Professor Ms Regis Ximenes ENTENDA A CRISE FINANCEIRA QUE ATINGE A ECONOMIA DOS EUA •A crise no mercado hipotecário dos EUA é uma decorrência da crise imobiliária pela qual passa o país, e deu origem, por sua vez, a uma crise mais ampla, no mercado de crédito de modo geral. O principal segmento afetado, que deu origem ao atual estado de coisas, foi o de hipotecas chamadas de "subprime", que embutem um risco maior de inadimplência. •O mercado imobiliário americano passou por uma fase de expansão acelerada logo depois da crise das empresas "pontocom", em 2001. Os juros do Federal Reserve (Fed, o BC americano) vieram caindo para que a economia se recuperasse, e o setor imobiliário se aproveitou desse momento de juros baixos. A demanda por imóveis cresceu, devido às taxas baixas de juros nos financiamentos imobiliários e nas hipotecas. Em 2003, por exemplo, os juros do Fed chegaram a cair para 1% ao ano. •Em 2005, o "boom" no mercado imobiliário já estava avançado; comprar uma casa (ou mais de uma) tornou-se um bom negócio, na expectativa de que a valorização dos imóveis fizesse da nova compra um investimento. Também cresceu a procura por novas hipotecas, a fim de usar o dinheiro do financiamento para quitar dívidas e, também, gastar (mais). •As empresas financeiras especializadas no mercado imobiliário, para aproveitar o bom momento do mercado, passaram a atender o segmento "subprime". O cliente "subprime" é um cliente de renda muito baixa, por vezes com histórico de inadimplência e com dificuldade de comprovar renda. Esse empréstimo tem, assim, uma qualidade mais baixa, ou seja, cujo risco de não ser pago é maior, mas oferece uma taxa de retorno mais alta, a fim de compensar esse risco. •Em busca de rendimentos maiores, gestores de fundos e bancos compram esses títulos "subprime" das instituições que fizeram o primeiro empréstimo e permitem que uma nova quantia em dinheiro seja emprestada, antes mesmo do primeiro empréstimo ser pago. •Também interessado em lucrar, um segundo gestor pode comprar o título adquirido pelo primeiro, e assim por diante, gerando uma cadeia de venda de títulos. •Porém, se a ponta (o tomador) não consegue pagar sua dívida inicial, ele dá início a um ciclo de não-recebimento por parte dos compradores dos títulos. O resultado: todo o mercado passa a ter medo de emprestar e comprar os "subprime", o que termina por gerar uma crise de liquidez (retração de crédito). •Após atingir um pico em 2006, os preços dos imóveis, no entanto, passaram a cair: os juros do Fed, que vinham subindo desde 2004, encareceram o crédito e afastaram compradores; com isso, a oferta começa a superar a demanda e desde então o que se viu foi uma espiral descendente no valor dos imóveis. •Com os juros altos, o que se temia veio a acontecer: a inadimplência aumentou e o temor de novos calotes fez o crédito sofrer uma desaceleração expressiva no país como um todo, desaquecendo a maior economia do planeta, com menos liquidez (dinheiro disponível), menos se compra, menos as empresas lucram e menos pessoas são contratadas. •No mundo da globalização financeira, créditos gerados nos EUA podem ser convertidos em ativos que vão render juros para investidores na Europa e outras partes do mundo, por isso o pessimismo influencia os mercados globais. FINANCIADORAS •Em setembro do ano passado, o BNP Paribas Investment Partners, divisão do banco francês BNP Paribas, congelou cerca de 2 bilhões de euros dos fundos Parvest Dynamic ABS, o BNP Paribas ABS Euribor e o BNP Paribas ABS Eonia, citando preocupações sobre o setor de crédito 'subprime' (de maior risco) nos EUA. Segundo o banco, os três fundos tiveram suas negociações suspensas por não ser possível avaliá-los com precisão, devido aos problemas no mercado "subprime" americano. •Depois dessa medida, o mercado imobiliário passou a reagir em pânico e algumas das principais empresas de financiamento imobiliário passaram a sofrer os efeitos da retração; a American Home Mortgage (AHM), uma das 10 maiores empresa do setor de crédito imobiliário e hipotecas dos EUA, pediu concordata. •Outra das principais empresas do setor, a Countrywide Financial, registrou prejuízos decorrentes da crise e foi comprada pelo Bank of America. •Bancos como Citigroup, UBS e Bear Stearns têm anunciado perdas bilionários e prejuízos decorrentes da crise. • Entre as vítimas mais recentes da crise estão as duas maiores empresas hipotecárias americanas, a Fannie Mae e a Freddie Mac. Consideradas pelo secretário do Tesouro dos EUA, Henry Paulson, "tão grandes e tão importantes em nosso sistema financeiro que a falência de qualquer uma delas provocaria uma enorme turbulência no sistema financeiro de nosso país e no restante do globo", no dia 7 deste mês foi anunciada uma ajuda de até US$ 200 bilhões. •As duas empresas possuem quase a metade dos US$ 12 trilhões em empréstimos para a habitação nos EUA; no segundo trimestre, registraram prejuízos de US$ 2,3 bilhões (Fannie Mae) e de US$ 821 milhões (Freddie Mac). •Menos sorte teve o Lehman Brothers: o governo não disponibilizou ajuda como a que foi destinada às duas hipotecárias. O banco previu um prejuízo de US$ 3,9 bilhões e chegou a anunciar uma reestruturação. Antes disso, o banco já havia mantido conversas com o KDB (Banco de Desenvolvimento da Coréia do Sul, na sigla em inglês) em busca de vender uma parte sua, mas a negociação terminou sem acordo. •O Bank of America e o Barclays também recuaram, depois que ficou claro que o governo não iria dar suporte à compra do Lehman. Restou ao banco entregar à Corte de Falências do Distrito Sul de Nova York um pedido de proteção sob o "Capítulo 11", capítulo da legislação americana que regulamente falências e concordatas. ENTENDA A QUEBRA DO BANCO LEHMAN BROTHERS •O Lehman Brothers, quarto maior banco de investimentos dos Estados Unidos, pediu concordata após incorrer em perdas bilionárias em decorrência da crise financeira global. •Temores de que a carteira de ativos do banco, em grande parte ancorada em valores hipotecários, valia muito menos do que o originalmente estimado minaram a confiança na instituição de 158 anos. Do ano passado para cá, Lehman Brothers viu suas ações despencarem mais de 95%. •A seguir, entenda as causa da quebra do banco e as conseqüências para o mercado financeiro e os seus clientes. POR QUE O LEHMAN BROTHERS PEDIU CONCORDATA? •O Lehman Brothers é considerado um dos maiores operadores de empréstimos a juros fixos de Wall Street e havia investido fortemente em títulos ligados ao mercado do chamado "subprime", o crédito imobiliário para pessoas consideradas com alto risco de inadimplência. •Com esses investimentos agora considerados arriscados demais, analistas dizem que era inevitável que aumentasse a desconfiança em relação ao Lehman Brothers ,particularmente depois do colapso do banco Bear Stearns, no início do ano. • No período de junho a agosto do ano passado, o banco anunciou uma baixa contábil de US$ 700 milhões, ao revisar para baixo o valor de seus investimentos em hipotecas para imóveis residenciais e comerciais. •Neste ano, esse valor subiu para US$ 7,8 bilhões, levando o banco a anunciar, na semana passada, o maior prejuízo líquido de sua história. •O banco também admitiu que ainda possuía US$ 54 bilhões em investimentos atrelados ao mercado imobiliário com risco potencial de difícil avaliação. •Com a desconfiança a respeito da segurança desses investimentos, houve uma queda no valor das ações da empresa na semana passada, em meio ao fracasso de negociações para levantar bilhões de dólares para dar garantia de solidez a investidores. •Ninguém tem cheque ou conta corrente do Lehman Brothers. Tratase de um banco especializado em grandes e complexas operações de investimentos. •Muitos bancos e fundos de pensão têm negócios com o Lehman Brothers ou com firmas como fundos de hedge que operam exclusivamente com o banco. •Desatar as complexas relações do Lehman Brothers pode levar semanas ou até meses. Neste tempo, o mercado financeiro permanecerá confuso. •Muitos bancos não saberão exatamente em que medida estão expostos ao Lehman, e será difícil liberar recursos nestes casos. •Ao mesmo tempo, isto deve intensificar a crise de crédito, com conseqüências potencialmente negativas para as companhias e os consumidores. •O colapso dramático do Lehman Brothers também já abalou as bolsas, com os preços de ações despencando em todo o mundo. •A maior dor de cabeça, porém, é em relação à seguradora AIG, uma das maiores do mundo. Ela teria pedido ao banco central americano, o Federal Reserve, um empréstimo de curto prazo de US$ 40 bilhões. •Com a AIG em dificuldades, milhões de consumidores e companhias seriam afetados em todo o mundo. O sistema financeiro como um todo também seria atingido. QUAL O TAMANHO DO LEHMAN BROTHERS? •Fundado em 1850 por três judeus imigrantes da Alemanha, o Lehman Brothers é há décadas um proeminente banco de investimentos de Wall Street. •Suas operações são com governos, companhias e outras instituições financeiras e emprega 25 mil pessoas em todo o mundo. •Seu principal negócio é a compra e venda de ações e ativos de renda fixa, pesquisa, gerenciamento de investimentos e fundos. •Desde o início da crise nos mercados financeiros, a instituição viu o valor de sua ação encolher de US$ 82 para menos de US$ 4, uma queda de 95%. COMBATE EMERGENCIAL •Como medida emergencial para evitar uma desaceleração ainda maior da economia ,o que faz crescer o medo que o EUA caiam em recessão, já que 70% do PIB americano é movido pelo consumo, o presidente americano, George W. Bush, sancionou em fevereiro um pacote de estímulo que dará cheques de restituição de impostos a milhões de norte-americanos. •O pacote prevê uma restituição de US$ 600 para cada contribuinte com renda anual de até US$ 75 mil; e US$ 1.200 para casais com renda até US$ 150 mil, além de US$ 300 adicionais por filho. Quem não paga imposto de renda, mas recebe o teto de US$ 3 mil anuais, terá direito a cheques de US$ 300. Mais de 130 milhões de pessoas serão beneficiadas. BOLSAS EUROPÉIAS CAEM COM QUEBRA DO LEHMAN E VENDA DO MERRILL LYNCH •As Bolsas européias tiveram um dia de fortes perdas nesta segundafeira, com a quebra do banco americano de investimentos Lehman Brothers, a venda do Merrill Lynch e os problemas da seguradora AIG (American International Group). •A Bolsa de Paris fechou em queda de 3,78% (pela manhã, as perdas passaram de 5%), fechando com 4.168,97 pontos; a Bolsa de Londres caiu 3,92%, para 5.204,20 pontos; a Bolsa de Frankfurt teve baixa de 2,74%, ficando com 6.064,16 pontos; a Bolsa de Milão teve perda de 3,49%, fechando com 20.989 pontos; a Bolsa de Amsterdã teve baixa de 3,64%, fechando com 385,04 pontos; e a Bolsa de Zurique caiu 3,83%, para 6.939,11 pontos. •O Lehman Brothers Holdings pediu proteção sob o capítulo 11 da legislação americana, que regulamenta as falências e concordatas. O governo americano não repetiu a ação de ajudar as empresas financeiras a evitar a quebra, como fez com as gigantes hipotecárias Fannie Mae e Freddie Mac, que devem receber uma injeção de até US$ 200 bilhões. Sem ajuda do governo, compradores em potencial do Lehman, como o Barclays e o Bank of America, se afastaram do negócio. •Ontem, Federal Reserve (Fed, o BC americano) anunciou medidas para facilitar o acesso a créditos emergenciais para instituições financeiras em dificuldades, ampliando as garantias dos empréstimos concedidos a bancos centrais. O banco agiu para evitar mais quebras, com o colapso do Lehman. •O Bank of America, por sua vez, anunciou a compra do Merrill Lynch por cerca de US$ 50 bilhões, consolidando ainda mais sua posição de gigante reforçada já por uma série de compras anteriores que incluem o banco hipotecário Countrywide Financial. •Na semana passada, as ações da AIG chegaram a cair 45%, despertando temores de que as empresa que têm negócios com a seguradora possam sofrer graves perdas. •O diretor de investimentos da corretora americana Charles Schwab Investment Management, Jeffrey Mortimer, disse à agência de notícias Associated Press (AP), as perdas só não foram maiores porque o mercado de certo modo também contava com esse cenário para o Lehman. Segundo ele também a venda do Merrill Lynch "pode ter tirado de cena um “banco” que poderia ser o próximo alvo." •O petróleo chegou a ser cotado hoje a US$ 94, pouco mais de dois meses depois de o barril ter atingido o recorde de US$ 147,27 em Nova York. BOLSAS EM NY TÊM MAIOR QUEDA DESDE O 11 DE SETEMBRO COM QUEBRA DO LEHMAN •As Bolsas americanas fecharam nesta segunda-feira com as maiores quedas em pontos desde os ataques contra o World Trade Center em Nova York em 11 de setembro de 2001. O motivo das quedas foi o abalo sofrido em Wall Street com a quebra do Lehman Brothers Holdings, o quarto maior banco de investimentos dos EUA. Os problemas enfrentados por outros dois gigantes financeiros o banco Merrill Lynch e a seguradora AIG também afetou os mercados hoje. •O índice Dow Jones Industrial Average (DJIA), da Nyse (Bolsa de Valores de Nova York, na sigla em inglês), encerrou o dia com baixa de 4,42%, aos 10.917,51 pontos; já o S&P 500, também da Nyse, caiu 4,71%, para 1.192,69 pontos. A Bolsa Nasdaq fechou com baixa de 3,60%, ficando com 2,179.91 pontos. •A quebra do Lehman afetou todos os mercados mundiais. Na Europa, as perdas em Paris e em Londres chegaram a mais de 5% durante o dia, fechando com perdas entre 3% e 4%. A Bovespa fechou com perda de mais de 7%. Na Ásia, o mercado indiano perdeu mais de 5%; as principais Bolsas asiáticas Tóquio, Xangai, Hong Kong e Seul estiveram fechadas devido a um feriado, mas amanhã, na reabertura, os investidores devem sentir os abalos registrados hoje. •O governo americano não repetiu a ação de ajudar as empresas financeiras a evitar a quebra, como fez com as gigantes hipotecárias Fannie Mae e Freddie Mac, que devem receber uma injeção de até US$ 200 bilhões. Sem ajuda do governo, compradores em potencial do Lehman, como o Barclays e o Bank of America, se afastaram do negócio. ENTENDA O IBOVESPA, PRINCIPAL ÍNDICE DO MERCADO DE AÇÕES •O Ibovespa, principal índice do mercado de ações, expressa, na forma de "pontos", a evolução dos preços das 63 ações mais negociadas da Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo). Ele corresponde a mais de 90% do volume financeiro diário. •A Bovespa atualiza os pontos do Ibovespa em tempo real a partir de uma equação, alimentada pelos negócios feitos momento a momento no pregão (período em que ocorre a compra e a venda de ações das empresas). •A composição dessa "carteira de ações" é atualizada a cada quatro meses, sendo que algumas ações têm mais "influência" no cálculo do Ibovespa do que outros.As ações da Petrobras, por exemplo, respondem por mais de 15% do índice (considerando ordinárias e preferenciais), enquanto a Acesita representa somente 0,21% do Ibovespa. •A Bolsa "cai" ou "sobe" quando a pontuação do Ibovespa fica abaixo ou acima da última pontuação registrada no horário de encerramento do pregão anterior. •A Bolsa fecha "em alta" de 1,51% quando tem uma pontuação final de 50.218 pontos em um dia, por exemplo, após ter registrado no pregão anterior 49.471 pontos. BUSH ADMITE QUE EUA ESTÃO IMERSOS EM UMA "GRAVE CRISE FINANCEIRA" •O presidente americano, George W. Bush, assumiu que os Estados Unidos estão "imersos em uma grave crise financeira". Em discurso televisionado da Casa Branca, o presidente pediu a aprovação urgente do pacote de US$ 700 bilhões para solucionar a crise financeira no país. •Bush afirmou que foi obrigado a intervir para evitar o pânico financeiro e a recessão. Ele disse que, se a ajuda não for aprovada, poupanças serão perdidas, os despejos aumentarão, empregos serão perdidos, empresas vão fechar e o país irá mergulhar em "uma longa e dolorosa recessão." "Eu tenho profunda crença nas trocas comerciais livres, por isso me oponho à qualquer intervenção do governo", disse. Mas essas "não são circunstâncias normais. Os mercados não estão funcionando corretamente. Há uma disseminação da perda da confiança." •Tentando explicar onde começou toda a crise, o presidente afirmou que o colapso das gigantes financeiras teve origem a partir problema no crédito "subprime" (empréstimos imobiliários de segunda linha) no setor hipotecário, que teve enorme desenvolvimento na última década. •O secretário do Tesouro, Henry Paulson, e o presidente do Federal Reserve (Fed, o BC americano), Ben Bernanke, compareceram ao Congresso nos dois últimos dias para enfatizar a necessidade de ter a aprovação rápida do plano. •Bernanke disse nesta quarta que um agravamento da crise financeira pode ser um forte obstáculo ao crescimento dos negócios nos EUA, o que pode acabar pesando sobre a economia. Nem consumidores nem empresas conseguiram financiamentos, o que provocaria uma paralisia na economia americana, disse. "A intensificação da pressão financeira nas últimas semanas, que tornarão as instituições de crédito mais cautelosas em liberar financiamentos a domicílios e empresas, pode se provar um peso significativo para o crescimento", afirmou. •"O risco de baixa para o cenário do crescimento continua, assim, a ser uma preocupação expressiva", acrescentou. •Bernanke disse ainda que a economia americana no segundo semestre deve se manter em ritmo fraco; o consumo deve desacelerar com um aumento do desemprego, um encolhimento dos salários e o fim do programa de estímulo aprovado pelo governo em fevereiro deste ano. A desaceleração das economias dos outros países também não está ajudando, disse. •"Os mercados financeiros estão em condição frágil e acredito que, na ausência de um plano, eles fiquem em situação pior", disse Bernanke. "Acredito que se os mercados de crédito não estiverem funcionando, empregos serão perdidos, nossa taxa de crédito vai aumentar, mais despejos vão ocorrer, o PIB “Produto Interno Bruto” vai contrair e a economia não vai conseguir se recuperar de um modo normal." •Uma economia com dois trimestres consecutivos de PIB negativo está em recessão, segundo analistas. A economia dos EUA cresceu 3,3% no segundo trimestre, depois de uma revisão do dado inicial, que mostrava uma expansão de 1,9%. para os próximos trimestres, no entanto, as expectativas são de uma atividade econômica ainda mais lenta. BCS DO MUNDO CORTAM JUROS EM AÇÃO INÉDITA; EFEITO É INCERTO, PREVÊ FED. •Os principais bancos centrais do mundo decidiram reduzir suas taxas básicas de juros nesta quarta-feira, em uma ação emergencial conjunta sem precedentes. •No entanto, há "grande nível de incerteza" sobre o efeito dessas medidas, segundo a unidade da Filadélfia do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos). •A autoridade monetária americana, o Banco Central Europeu (BCE) e o Banco da Inglaterra cortaram, cada um, 0,5 ponto percentual em suas taxas básicas. A instituição dos EUA baixou de 2% ao ano para 1,5%; a européia, de 4,25% para 3,75%; a britânica, de 5% para 4,5%. •“Em razão da crise financeira atual, os bancos centrais estão comprometidos em consulta contínua e estão cooperando em ações conjuntas sem precedentes como a oferta de liquidez para diminuir as tensões nos mercados financeiros", declarou o Fed em nota em sua página eletrônica. •Hong Kong reduziu o juro básico em 1 ponto percentual, maior corte desde que o território começou a usar essa taxa, há uma década. Economistas disseram que o movimento, que entra em vigência na quinta-feira, não será suficiente para impulsionar a frágil economia local. Mesmo após o corte no juro, o índice Hang Seng, referência da Bolsa de Hong Kong, despencou 8,2%. •Também cortaram a taxa de juro em 0,5 ponto percentual o Banco do Canadá, o BC da Suécia e o Banco Nacional Suíço. O Banco do Japão, segundo o Fed, expressou forte apoio a essas ações de política monetária, mas disse que não podia se permitir corte nas taxas, que já estão em 0,5%.O banco central chinês, que não integra oficialmente a medida conjunta, se uniu no entanto a ela e decidiu também reduziu suas taxas para empréstimos a um ano. •Os cortes ocorrem um dia depois de seis bancos centrais, incluindo o Fed e o Europeu, anunciaram um calendário de leilões por meio dos quais serão feitas injeções de dólares nos sistemas financeiros. Na terçafeira, o BC da Austrália reduziu sua taxa básica em 1 ponto. •"A ação inédita desta quarta-feira obedece à recente intensificação da crise financeira", segundo comunicado publicado pelo BCE. A crise aumentou os riscos para o crescimento e reduziu os riscos altistas para a estabilidade dos preços, acrescentou. •O BCE, no entanto, mostra-se ainda preocupado com a inflação. Disse que "continua sendo imperativo evitar os efeitos da segunda rodada", ou seja, os riscos de uma espiral inflacionária provocada sobretudo por aumentos de salários.No Reino Unido, além do corte no juro básico foi anunciado um pacote de 50 bilhões de libras (US$ 88 bilhões) para o sistema bancário doméstico. Com o dinheiro, o Estado comprará ações dos principais bancos do país. GRANDE NÍVEL DE INCERTEZA •Além de baixar a taxa básica, o Fed reduziu em meio ponto (para 1,75%) sua taxa de desconto que serve para operações de refinanciamento excepcional.O presidente do Fed na agência de Filadélfia, Charles Plosser, disse nesta quarta-feira que "o efeito de uma queda das taxas sobre a atividade econômica pode não ser notado antes de nove meses". •As mudanças de política monetária podem afetar a atividade econômica real, como a taxa de desemprego ou o crescimento da produção, mas só temporariamente e com um grande nível de incerteza sobre sua data de efeito e a amplitude deste", disse Plosser no texto do discurso divulgado antecipadamente."Na realidade, o único efeito que uma política monetária sadia pode ter a longo prazo é sobre a taxa de inflação", acrescentou. ALGUNS RESUMOS FINANCEIROS IMPORTANTES OCORRIDOS EM 10/08 •A Bovespa voltou a registrar perdas expressivas hoje, afetada pela desvalorização das matérias-primas e pela queda dos índices acionários norte americanos,diante da piora da perspectiva para a economia mundial. A sessão também foi marcada pelos vencimentos de opções sobre Ibovespa e do índice futuro e por nova interrupção dos negócios pelo mecanismo de circuit breaker. Em razão da parada da Bolsa por 30 minutos em um dia de vencimentos relacionados ao índice, o pregão foi estendido para as 17h30. •A apenas 40 minutos de fechar o pregão, a Bovespa fez os investidores prenderem a respiração, diante da possibilidade de que o Ibovespa atingisse uma queda de 15% e assim a Bolsa acionasse novamente no dia o mecanismo de circuit breaker. •O "fôlego"só foi retomado quando o relógio marcou 17 horas - por questão do regimento da bolsa,o mecanismo de circuit breaker não é acionado na última meia hora de negociação. •O circuit breaker é o mecanismo utilizado pela Bovespa que permite, na ocorrência de movimentos bruscos de mercado, o amortecimento e o rebalanceamento das ordens de compra e de venda. Esse instrumento constitui-se em uma "proteção" à volatilidade excessiva em momentos atípicos de mercado. •Ainda assim, o Ibovespa registrou a maior perda porcentual desde 10 de setembro de1998, ao encerrar a jornada com declínio de 11,39%, aos 36.833,02 pontos. Naquela data, caiu 15,8%. Hoje, o índice oscilou de 35.411 pontos na mínima (-14,81%) a 41.567 pontos na máxima (estável). O volume financeiro somou R$ 9,73 bilhões. •“Não há boas notícias para a Bolsa no Brasil", alertou o estrategista-chefe para América Latina do Barclays em Nova York, Paulo Hermanny, em entrevista à Agência Estado. •De acordo com o profissional, apesar da correção de baixa muito forte pela qual as ações brasileiras passaram deixar papéis de algumas empresas baratos, há um cenário de recessão nos Estados Unidos e mundial, de menor crescimento no Brasil, de commodities (matériasprimas) com preços mais baixos. E o comportamento do mercado acionário paulista hoje referenda tal percepção. •Após uma onda de euforia, em meio a medidas para capitalizar o sistema bancário na Europa e EUA, declarações sobre o cenário da economia norte-americana e indicadores sobre a mesma reavivaram as preocupações sobre o tamanho da recessão estimada para aquele país, bem como os reflexos sobre o mundo. "A economia norte-americana parece estar em recessão", já que as pressões inflacionárias "diminuíram substancialmente",disse a dirigente da regional do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) de São Francisco, Janet Yellen. •Em Wall Street, o índice Dow Jones encerrou em 8.979,26 pontos, com valorização de 4,68%. O S&P-500 aumentou 4,25%, para 946,43 pontos. E o Nasdaq Composite ganhou 5,49%, aos 1.717,71 pontos. •No noticiário nos EUA desta quinta-feira, os investidores equilibraram indicadores desfavoráveis sobre a economia norteamericana - como a maior queda da produção industrial em 34 anos e a maior baixa mensal da história no índice de atividade industrial do Fed da Filadélfia - e outros melhores, como a estabilidade do índice de preços ao consumidor em setembro e a queda no número semanal de pedidos de auxílio desemprego. •O setor bancário brasileiro também continuou a registrar perdas significativas e alguns papéis figuraram entre as maiores baixas do Ibovespa - Unibanco Unit registrou declínio de 6,12% e representou a quarta maior queda do índice. • Na seqüência, Itaú PN cedeu 6,09%. Banco do Brasil ON ocupou a sétima posição, com desvalorização de 4,72%. •Bradesco PN perdeu 3,83%.Entre as maiores altas, Gol PN subiu 24,32%, seguida por CSN ON (+17,29%) e TIM Participações S.A. PN (+17,22% QUAIS SÃO AS OPÇÕES DO GOVERNO BRASILEIRO PARA LIDAR COM OS EFEITOS DA CRISE? •A primeira reação do governo tem sido tentar evitar ou atenuar a secura de crédito, cuja expansão foi um dos motores da economia brasileira nos últimos anos, embora retórica oficial prefira dar mérito ao PAC. •Mudança no percentual do compulsório, disponibilizando dinheiro às Instituições Financeiras. •Intervenção no mercado cambial, vendendo dólares para tentar conter uma subida que seria desastrosa para a maioria das empresas. •Mas, como aconteceu em todas as crises recentes, o país pode ser obrigado a escolher entre crescimento e inflação,sacrificar o primeiro para evitar a segunda ou, na alternativa menos conservadora, tentar acelerar um correndo o risco de impulsionar a outra. •No primeiro caso, a receita é conhecida: os juros são mantidos ou até elevados, e o mesmo é feito com a meta de superávit primário (a parcela da arrecadação tributária destinada ao abatimento da dívida pública). As medidas reduzem o consumo público e privado, esfriam a economia e ajudam a impedir que a alta do dólar se transforme em aumento da inflação. •Esse era o cenário traçado antes do agravamento da crise, quando as atenções do governo se voltavam para a rápida piora da balança comercial, efeito colateral do consumo em alta. O projeto de Orçamento de 2009 já contempla a possibilidade de aumentar superávit primário. •Mas a perspectiva de contração econômica acima do esperado levou setores menos ortodoxos da equipe econômica a falar, até aqui no anonimato, em medidas pró-crescimento, de mais gastos públicos, menos impostos e menos juros. É o que os economistas chamam de política anticíclica: quando a economia vai bem, o governo faz mais economia; quando vai mal, gasta-se. No caso brasileiro, já não há mais tempo para a primeira parte do plano. POR QUE AS EMPRESAS BRASILEIRAS QUE NADA TÊM A VER COM AS ORIGENS DA CRISE TIVERAM PREJUÍZOS MILIONÁRIOS? •Empresas entram no mercado de derivativos para se protegerem de perdas, enquanto os especuladores assumem os riscos para ganhar.Sadia, Aracruz e Votorantim ,entre muitas outras, teme-se, acabaram participando de uma tentativa de fazer as duas coisas. • Embora o nome cause estranheza, derivativos fazem parte do cotidiano de quem faz, por exemplo, o seguro de um automóvel. O dono do carro não quer sair mais rico do negócio; quer simplesmente uma operação que, se for preciso, renderá dinheiro suficiente para cobrir possíveis prejuízos de sua atividade de motorista. É o que se chama de hedge. •Na outra ponta da operação, está um especulador apostando que o carro não será batido nem roubado, a seguradora. Se a aposta estiver correta, ela ficará com o prêmio pago pelo dono do carro. •Os demais derivativos podem ser mais complexos, mas seguem os mesmos princípios. Empresas exportadoras, com receita em dólar, buscam se proteger de uma desvalorização vendendo a moeda americana no mercado futuro por uma cotação considerada razoável. Se o dólar mudar de patamar, a perda em receita será compensada pelo derivativo. •Como o dólar caía sem parar, os bancos passaram a oferecer às empresas operações que prometiam ganhos superiores ao necessário para cobrir riscos de perdas. O que era hedge virou especulação. E dava lucro, até a crise provocar uma alta inesperada do dólar ,que, se não for revertida, poderá revelar mais empresas no jogo e perdas maiores. O QUE ACONTECE EM UMA RECESSÃO? •Uma recessão começa quando investidores acreditam que a hora não é boa para investir e consumidores crêem que a hora não é boa para consumir. E, na tentativa de protegerem sua riqueza, todos empobrecem. •O desalento não é um mero estado de espírito. Empresas e famílias afetadas pela crise perderam efetivamente condições de investir e consumir, como os donos de ações e imóveis que perderam valor. Não se trata de um caso em que uns perdem e outros ganham, num jogo de soma zero: essa riqueza simplesmente desapareceu. •Quando não se confia no futuro, o medo toma o lugar da ganância. Evita-se emprestar dinheiro e procura-se poupar para dias difíceis. Mas, com a retração de investimento e consumo, empresas vendem menos; com a queda nos lucros, há mais demissões; com menos renda, as famílias cortam o consumo, e o ciclo recomeça. •Tecnicamente, os economistas consideram que há uma recessão quando o PIB (Produto Interno Bruto) cai por dois ou três trimestres consecutivos. Quando se imagina uma queda profunda e prolongada do PIB, fala-se, mais dramaticamente, em depressão,mas, após a década de 30, nenhum período da história econômica mundial chegou a merecer o termo. •Recessões mundiais são raras: na história recente, não há casos de anos em que o PIB global tenha terminado menor do que começou. Em 1982, em meio à crise da onda de calotes do Terceiro Mundo, a economia mundial cresceu 0,9%, e desde então não houve resultado pior. No Brasil, a pior recessão ocorreu em 1990, quando o Plano Collor confiscou depósitos bancários e o PIB caiu 4,4%. BRASIL CORRE RISCO DE SOFRER COM A CRISE,POIS NINGUÉM ESTÁ IMUNE E O PAÍS PRECISA SE PREPARAR PARA ENFRENTAR CENÁRIO DE CRÉDITOS ESCASSOS •O Brasil não está imune à crise e corre o risco de sofrer uma bolha na agricultura diante da crise internacional. O alerta é do prêmio Nobel de economia, Joseph Stiglitz, que em entrevista ao Estado alerta que o Brasil precisa se preparar para enfrentar um cenário em que os créditos estarão escassos por vários meses ainda. O economista americano ainda aponta que a crise marca o fim de uma era, alerta que a Europa pode ter problemas tão severos quanto a dos Estados Unidos, pede um plano europeu para salvar a economia e alerta que o pior pode ainda estar por vir. •Com a comercialização globalizada e o Brasil detendo 30% do Produto Interno Bruto (PIB) agrícola comercializado internacionalmente, se prevê uma desaceleração do consumo mundial. A fuga dos investidores em commodities (produtos com cotações no mercado mundial) para outras opções mais seguras, implica prejuízos das operações com as trading, que são fontes de financiamento de fertilizantes, sementes e adubos. •Em uma economia globalizada, acrescentou, isso acaba chegando aos países emergentes, caso do Brasil, da Argentina, e de outros, porque os países ricos reduzem o poder de compra, e com isso caem os preços das mercadorias com cotação internacional, como soja, milho e minérios. Exatamente onde reside a maior força das exportações brasileiras. •Outro exemplo: o risco Brasil, que havia caído para 190 pontos, subiu para perto dos 350 pontos, isso significa que as empresas brasileiras, ao tomarem empréstimos externos, pagam agora a taxa de juros dos títulos americanos, mais 3,5% ao ano, contra 1,9% antes da crise. CRESCIMENTO •Ainda é cedo para mensurar o impacto da crise no crescimento econômico, mas há estimativas de desaquecimento para 2009 e 2010. A pesquisa semanal do Banco Central do Brasil com analistas revela que a expectativa de crescimento é de 3,5% para o próximo ano. Há cinco meses, essa mesma previsão era de 4%. O governo também já admite uma freada no PIB, prevendo algo em torno de 3% e 3,5%. Ao preparar o orçamento de 2009, em agosto, o governo havia previsto um PIB 4,5% maior. VAMOS AGUARDAR OS ACONTECIMENTOS ! FIM DESTA PRIMEIRA ETAPA.