AS RAÍZES DO CRIME UM ESTUDO SOBRE AS ESTRUTURAS E AS INSTITUIÇÕES DA VIOLÊNCIA As raízes do crime Copyright (c) 1995 LINJUR Proibidas alterações sem o consentimento por escrito do autor. Reprodução/Distribuição autorizada desde que mantido o “Copyright”. É vedado o uso comercial sem prévia autorização por escrito do autor. 1/54 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS LABORATÓRIO DE INFORMÁTICA JURÍDICA - LINJUR - ACADÊMICOS: LAÉRCIO ALTAMIRO DA CONCEIÇÃO OLGA MARIA CORDEIRO BALSTER As raízes do crime 2/54 ÍNDICE PARTE I: Introdução ......................................................................................... 07 Modelos biológicos .......................................................................... 08 – Enfoque etiológico ..................................................................... 09 – Enfoque biopsicanalítico ........................................................... 10 Escola psicanalítica ............................................................. 12 – Enfoque psicológico ...................................................................13 Modelos sociológico-ambientais ......................................................14 – Teoria do crime como patologia social ..................................... 16 – Teoria da anomia ....................................................................... 17 – Teoria da organização e associação diferencial .........................18 – Teorias subculturais ...................................................................19 As raízes do crime 3/54 ÍNDICE Teorias ecléticas ................................................................................20 Movimento de defesa social ..............................................................22 Críticas do autor às teorias apresentadas ...........................................23 PARTE II: Introdução ..........................................................................................25 A violência nas relações internacionais .............................................26 Violência na América Latina .............................................................28 Violência no Brasil ............................................................................30 – A violência estrutural no Brasil ................................................. 31 – A violência institucional no Brasil ............................................. 35 As raízes do crime 4/54 ÍNDICE A violência institucional do aparelho policial ....................................... 41 A violência institucional do aparelho judicial ....................................... 43 A violência institucional do aparelho carcerário ................................... 47 – Teoria da retribuição ....................................................................... 48 – Teoria da prevenção geral ............................................................... 49 – Teoria da prevenção especial .......................................................... 50 Conclusão .............................................................................................. 53 Bibliografia ........................................................................................... 54 As raízes do crime 5/54 PARTE I Modelos teóricos explicativos da violência e da criminalidade As raízes do crime 6/54 INTRODUÇÃO O autor critica os modelos teóricos explicativos da violência e da criminalidade: – tanto os de método positivista/determinista – quanto os de método fenomenológico/significativo Essas teorias supõem uma natureza humana intrinsecamente violenta As raízes do crime 7/54 MODELOS BIOLÓGICOS Trabalham com a categoria de instinto, que no animal humano aparece modificada sob a noção de impulso São analisados sob os enfoques etiológico, biopsicanalítico e psicológico As raízes do crime 8/54 ENFOQUE ETIOLÓGICO Define o comportamento instintivo como o conjunto de reações inatas e condicionadas nas relações entre indivíduos Pretende identificar, a partir da observação empírica do comportamento animal, um potencial explicativo da agressividade humana As raízes do crime 9/54 ENFOQUE BIOPSICANALÍTICO Resulta da integração da etiologia (Lorenz), da fisiologia do sistema nervoso (Greef) e da psicanálise (Freud) As raízes do crime 10/54 ENFOQUE BIOPSICANALÍTICO Considera que: – o comportamento social animal é controlado por mecanismos instintivos reguladores relativamente constantes – o comportamento social do homem é diferenciado pelo desenvolvimento do cérebro As raízes do crime 11/54 ESCOLA PSICANALÍTICA Substitui a noção de instinto pela de impulso Afirma que o impulso agressivo se enraíza internamente na estrutura biológica do homem As raízes do crime 12/54 ENFOQUE PSICOLÓGICO Evoluiu da posição absoluta na qual toda agressão é resultado de uma frustração e vice-versa Compreende teorias sobre a personalidade violenta, que conjugam: • frustração • aprendizagem • patologias constitucionais As raízes do crime 13/54 MODELOS SOCIOLÓGICO-AMBIENTAIS São uma tentativa de simbiose sociológica entre o positivismo filosófico (Comte) e o positivismo biológico (Haeckel) Preocupam-se com as causas ambientais da violência e do comportamento criminoso As raízes do crime 14/54 MODELOS SOCIOLÓGICO-AMBIENTAIS São analisados sob algumas visões: – o crime como patologia social – teoria da anomia – organização e associação diferencial – teorias subculturais As raízes do crime 15/54 TEORIA DO CRIME COMO PATOLOGIA SOCIAL Pressupõe o conceito de sociedade como organismo passível de estados doentios, representados pelo crime Considera o patológico como perturbação do status quo, que é o estado natural da sociedade As raízes do crime 16/54 TEORIA DA ANOMIA Conceitua anomia como conduta não conformista em relação às regras fundadas na consciência coletiva Manifesta-se nas explicações dos fenômenos sociais pelas representações coletivas Objetiva preservar a ordem existente, negando a transformação revolucionária da sociedade As raízes do crime 17/54 TEORIA DA ORGANIZAÇÃO E ASSOCIAÇÃO DIFERENCIAL Explica a teoria geral do comportamento criminoso pela conjugação de: –organização (existência de normas culturais criminais) –associação (transmissão das normas culturais criminais) diferencial (desigualdade da extensão e assimilação dessas normas) As raízes do crime 18/54 TEORIAS SUBCULTURAIS São tentativas de articulação dos conceitos de anomia (Merton) e associação diferencial (Sutherland) Consideram a violência como resultante da posição do sujeito em uma cultura de anomia Acreditam que a aprendizagem da violência obedece aos processos da organização e associação diferencial As raízes do crime 19/54 TEORIAS ECLÉTICAS Representam generalizações integradas das criminologias biológica, psiquiátrica, psicológica, psicanalítica e sociológica Consideram a violência um fato biológico, sociológico, genético, semiológico, moral e psicológico (Szabo) As raízes do crime 20/54 TEORIAS ECLÉTICAS Afirmam que o crime pressupõe condições de: – autolegitimação subjetiva (neutralização normativa) – labilidade (destemor ao castigo) – dinamismo (superação de dificuldades materiais) – indiferença afetiva (insensibilidade ao sofrimento da vítima) As raízes do crime 21/54 MOVIMENTO DE DEFESA SOCIAL Não é uma teoria criminológica, mas uma política criminal geral Baseia-se: – no enfoque individual do crime – na ressocialização sistêmica do criminoso – na humanização do Direito Penal como método de ressocialização As raízes do crime 22/54 CRÍTICAS DO AUTOR ÀS TEORIAS APRESENTADAS São variações explicativas derivadas do método positivista, caracterizado por: – determinismo causal – objetividade da ciência – qualificação da conduta Revelam, portanto, um caráter ideológico, reafirmando e legitimando os sistemas de controle social As raízes do crime 23/54 PARTE II Criminologia Radical As raízes do crime 24/54 INTRODUÇÃO O autor trata da criminologia radical, a qual, segundo ele, é a única abordagem teórica capaz de desvendar as reais condições de produção e reprodução da violência As raízes do crime 25/54 A VIOLÊNCIA NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS O capital internacional, para garantir maiores lucros, migra para os países subdesenvolvidos, onde: – há escassez de capital – e há abundância de mão-de-obra e matéria-prima As raízes do crime 26/54 A VIOLÊNCIA NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS O capital monopolista internacional, aliado a uma burguesia nacional, interfere no sistema superestrutural Fortalece-se, assim, o Estado como aparelho de repressão política e disciplina da força de trabalho As raízes do crime 27/54 VIOLÊNCIA NA AMÉRICA LATINA A violência na América Latina é de natureza: – estrutural: é a violência das relações capitalistas de produção – institucional: é a violência produzida pelo Estado, através de seus aparelhos de poder e órgãos de repressão As raízes do crime 28/54 VIOLÊNCIA NA AMÉRICA LATINA A realidade criminológica, na América Latina, caracteriza-se pela: – repressão impiedosa das classes dominadas – imunidade das classes dominantes – violência do Imperialismo ideológico As raízes do crime 29/54 VIOLÊNCIA NO BRASIL O autor analisa: – a gênese e a evolução do capitalismo brasileiro – a expansão imperialista – a formação de monopólios – a estrutura de classes no Brasil As raízes do crime 30/54 A VIOLÊNCIA ESTRUTURAL NO BRASIL No Brasil, a principal forma de violência estrutural é a exploração da força de trabalho, representada pela expropriação de mais-valia O bloco dominante exerce uma constante violência econômico-financeira sobre o bloco dominado As raízes do crime 31/54 A VIOLÊNCIA ESTRUTURAL NO BRASIL A expropriação de mais-valia é regulada legalmente pelo Direito e garantida pelo Estado A disciplina legal coativa do Estado impõe os fundamentos do modo de produção capitalista As raízes do crime 32/54 A VIOLÊNCIA ESTRUTURAL NO BRASIL A crescente marginalização social e econômica de grandes camadas da população acarreta um processo de favelização e produção da criminalidade O crime é a única alternativa de sobrevivência para a população marginalizada As raízes do crime 33/54 A VIOLÊNCIA ESTRUTURAL NO BRASIL Na perspectiva do sistema de controle, o crime não é visto como uma resposta individual diante de condições de vida adversas O sistema vê o crime como o produto de uma natureza má, de um sujeito anti-social, livre e consciente As raízes do crime 34/54 A VIOLÊNCIA INSTITUCIONAL NO BRASIL A violência institucional é a violência social produzida, direta ou indiretamente, pelo Estado, através: – das instituições políticas: aparelhos de poder organizado de classe que garantem a disciplina das relações sociais – das instituições jurídicas: conjunto de normas jurídicas que disciplinam as relações sociais conforme os interesses da classe dominante As raízes do crime 35/54 A VIOLÊNCIA INSTITUCIONAL NO BRASIL O Direito constitui e reproduz as relações sociais de produção e pode ser definido como a lei do modo de produção capitalista As instituições jurídicas e políticas do Estado se fundem na realização de uma mesma tarefa:o processo de criminalização As raízes do crime 36/54 A VIOLÊNCIA INSTITUCIONAL NO BRASIL O escopo ideológico aparente das normas penais é a satisfação das necessidades e interesses do conjunto da sociedade O objetivo real oculto é a proteção dos interesses e necessidades do bloco das classes dominantes As raízes do crime 37/54 A VIOLÊNCIA INSTITUCIONAL NO BRASIL As normas penais objetivam garantir a superestrutura econômica, jurídica e política do Estado, que reproduz: – as relações de produção dominantes; – a divisão da sociedade em classes antagônicas – os processos sociais de concentração de capital – a generalização da miséria e da privação social As raízes do crime 38/54 A VIOLÊNCIA INSTITUCIONAL NO BRASIL A crescente marginalização e criminalização individuais são a resposta desesperada e irracional de sujeitos que se encontram em situação social desfavorável e insuportável As normas penais pré-selecionam os indivíduos criminalizáveis, componentes das classes dominadas As raízes do crime 39/54 A VIOLÊNCIA INSTITUCIONAL NO BRASIL As normas de proteção penal têm aplicação geral, porém desigual: – protegem os membros da classe dominante como seres humanos – defendem os membros da classe dominada como objetos (mercadorias essenciais à produção capitalista) As raízes do crime 40/54 A VIOLÊNCIA INSTITUCIONAL DO APARELHO POLICIAL O objetivo fundamental do aparelho policial é garantir a ordem social estabelecida pelas formas jurídicas e políticas do Estado O sistema policial previne e controla as desordens sociais mediante o emprego legal da violência contra os que estão fora de ordem As raízes do crime 41/54 A VIOLÊNCIA INSTITUCIONAL DO APARELHO POLICIAL A polícia é composta por elementos provenientes das camadas inferiores das classes dominadas, as mesmas que irão reprimir enquanto policiais As raízes do crime 42/54 A VIOLÊNCIA INSTITUCIONAL DO APARELHO JUDICIAL No Estado capitalista, o Direito positivado apenas regula os institutos fundamentais do modo de produção capitalista As raízes do crime 43/54 A VIOLÊNCIA INSTITUCIONAL DO APARELHO JUDICIAL A relação jurídica predominante, na sociedade capitalista, é o contrato de trabalho, mas: • a liberdade do trabalhador trocar por dinheiro a sua mercadoria (força de trabalho) só existe na forma legal • em lugar da liberdade existe a necessidade • a igualdade formal do contrato oculta a desigualdade real do seu conteúdo As raízes do crime 44/54 A VIOLÊNCIA INSTITUCIONAL DO APARELHO JUDICIAL O conjunto dos trabalhos teóricos produzidos pelos juristas cumpre várias funções ideológicas: • destaca a neutralidade do Direito • afirma o seu caráter justo • e legitima a legalidade dada pelo legislador As raízes do crime 45/54 A VIOLÊNCIA INSTITUCIONAL DO APARELHO JUDICIAL Em suma, o aparelho judicial: • pune rigorosamente os membros das classes dominadas • e imuniza de punição criminal os membros das classes dominantes As raízes do crime 46/54 A VIOLÊNCIA INSTITUCIONAL DO APARELHO CARCERÁRIO É apresentada a partir da análise das teorias jurídicas de explicação e justificação da pena: – teoria da retribuição – teoria da prevenção geral – teoria da prevenção especial As raízes do crime 47/54 TEORIA DA RETRIBUIÇÃO Concebe a pena como compensação da culpabilidade Não é aceitável porque: – não esclarece a culpabilidade como pressuposto da pena – não demonstra a liberdade como fundamento da culpabilidade – tem caráter irracional, substituindo a demonstração por um ato de fé As raízes do crime 48/54 TEORIA DA PREVENÇÃO GERAL Destaca a função de intimidação da pena estatal É incapaz de fundamentar o poder de punir, exercido sem limitações, exceto as ditadas por razões de política criminal As raízes do crime 49/54 TEORIA DA PREVENÇÃO ESPECIAL Considera como funções da pena a prevenção de delitos futuros, através de: – ressocialização – medo da pena – segregação (nos casos perdidos) As raízes do crime 50/54 TEORIA DA PREVENÇÃO ESPECIAL Não é idônea para justificar a punição: – pela ausência de delimitações de seus pressupostos e conseqüências – pelo absurdo da punição de crimes não repetíveis – pela violência intrínseca a qualquer adaptação social forçada As raízes do crime 51/54 A VIOLÊNCIA INSTITUCIONAL DO APARELHO CARCERÁRIO O fracasso da penitenciária como instituição produtiva redefine o cárcere como fábrica de homens, com o objetivo de: – transformar o criminoso em proletário (sujeito obediente) – habilitar o criminoso ao trabalho na sociedade industrial, pela aprendizagem forçada da disciplina da fábrica As raízes do crime 52/54 CONCLUSÃO O autor demonstra, claramente, seu preconceito ideológico com qualquer teórico que não baseie seus estudos na perspectiva marxista Para Cirino, a única solução para a violência e a criminalidade é a revolução socialista As raízes do crime 53/54 BIBLIOGRAFIA SANTOS, Juarez Cirino dos. As raízes do crime - Um estudo sobre as estruturas e as instituições da violência. 1.ed.. Rio de Janeiro: Forense, 1984. BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas. Trad. de Torrierri Guimarães. São Paulo: Hemus, 1994. PASSOS, Paulo R. da Silva. Elementos de criminologia e política criminal. São Paulo: Edipro, 1994. PINHEIRO, Paulo Sérgio. Crime, violência e poder. São Paulo: Brasiliense, 1983. As raízes do crime 54/54