A ação de marginais está levando a segurança pública ao colapso. É preciso uma reação organizada, eficiente e dura contra os criminosos. O SR. COSTA FERREIRA (PFL-MA) pronuncia o seguinte discurso: Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, Não temos dúvida de que na conjuntura atual o Brasil apresenta imensos desafios aos governantes. Desafios que os governos anteriores não tiveram capacidade de enfrentar, ou que preferiram usar de soluções paliativas, no afã de apenas esperar que o tempo os minimizasse. Assim, todos sabemos dos inúmeros problemas sociais que estão se aprofundando, enquanto se espera que a Economia possa dar uma melhorada, de modo a atribuir maiores recursos aos programas de fundo social. O que se tem visto é que, efetivamente, a Economia tem possibilitado um fôlego mais tranqüilo, embasada nas nossas fontes de produção internas, com bom desempenho, além de uma conjuntura internacional 2 favorável. Com isso o governo federal está podendo dar uma acelerada no seu programa básico, na área social, contra a fome. Há, no entanto, Senhor Presidente, outros problemas que estão desafiando, profundamente, nossa capacidade de reação e que podem, em curto prazo, desestabilizar nossa sobrevivência como Estado de Direito. Quero, aqui, me referir, principalmente, à situação conjuntural da segurança pública, no Brasil. Não é segredo para mais ninguém que hoje a segurança pública está em colapso, em todos os cantos do País, mas principalmente nas nossas maiores cidades. Até pouco tempo atrás, diríamos que era um problema das periferias das grandes cidades. Hoje, porém, com as sucessivas ondas de terrorismo no Rio de Janeiro, vemos que todas os locais estão ameaçados, desde as periferias, até os bairros mais elegantes e bem guardados pelos órgãos de segurança. A criminalidade tornou-se explosiva, uma verdadeira tragédia. Recentes estatísticas do IBGE nos mostram que, em todo o País, entre 1991 e 2000, o número de homicídios cresceu 50,2%, bem acima do crescimento 3 populacional, que foi de 15,6%. Com efeito, atualmente, a cada treze minutos uma pessoa é assassinada no Brasil. Hoje os traficantes dos morros e favelas das nossas grandes cidades utilizam modernos fuzis e granadas, armas de que as próprias polícias ainda não dispõem. Nossas penitenciárias, ditas de segurança máxima, transformaram-se em verdadeiros QG’s das quadrilhas. Muitas de nossas principais rodovias passaram a ser redutos de violentas quadrilhas de ladrões de cargas. Hoje as rodovias do Nordeste estão entre as mais críticas, principalmente na Bahia, Pernambuco, Ceará e Sergipe. Levantamento feito pelos próprios caminhoneiros nos mostram que a média mensal de assaltos nesses locais já passa de 40. Há oito anos não chegava a 10 assaltos. A impressionante onda de violência que tomou conta do Rio de Janeiro, nos últimos meses, ou mais precisamente desde junho do ano passado, Senhor Presidente, com os bandidos desafiando abertamente os órgãos de segurança, promovendo ataques aos prédios públicos, às escolas e bancos, ao comércio e aos transportes coletivos, faz-nos considerar até o risco de 4 nossas cidades virem a se tornar reduto de criminosos, parecidas com as existentes atualmente na Colômbia. Mas o pior, Senhor Presidente, é vermos que a cada movimento dos bandidos parece que os órgãos de repressão estão sempre sendo surpreendidos, e demonstrando pequena capacidade de reação. Sempre muito tímida. Aliás, no decorrer das duas últimas décadas, temos visto um rápido desenvolvimento das ações delituosas do chamado crime organizado, enquanto que as ações de repressão das nossas polícias parecem as mesmas de sempre. Do nosso ponto de vista, Senhor Presidente, consideramos que muitas providências efetivas devem ser tomadas pelos nossos órgãos de segurança pública. Algumas delas, no entanto, estão necessitando de ações imediatas. A integração entre as polícias federais e estaduais é uma necessidade básica, a fim de serem elaborados planejamentos e coordenações constantes. Para isso, a adoção de informações compartilhadas é uma medida urgente. 5 A aplicação de métodos científicos aperfeiçoados de investigação não pode ser mais retardada. A criação de forças-tarefas, compostas de policiais, membros do Ministério Público e de profissionais especializados em cada tipo de atividade ligada ao crime é uma medida de extrema utilidade. Quanto a isso, devemos, aqui, lembrar do que nos foi transmitido pelo especialista italiano Pino Arlachi, ex-subsecretário da ONU para assuntos de terrorismo, crime organizado e comércio ilegal, em recente audiência pública nesta Casa. Segundo ele, o sucesso do combate ao crime exige tempo e sacrifício, inclusive de vidas humanas, e leis duras contra os criminosos. Na Itália, o principal instrumento do sucesso do governo contra a Máfia, nas duas últimas décadas, foram a criação de forças-tarefas específicas para essa finalidade e a adoção de medidas permitindo o confisco dos bens dos mafiosos, inclusive com a abolição do sigilo bancário, para enfraquecer os esquemas financeiros do crime organizado. 6 Somente após essas providências houve a redução da criminalidade e um retorno à situação atual de tranqüilidade, com o crime praticamente controlado. Vemos, assim, Senhor Presidente, que possibilidades existem e que o exemplo está aí para ser seguido. Muito obrigado.