Considerações Essenciais acerca do Estudo do Trauma Trabalho baseado no Seminário de Formação “O Trauma no Abuso Sexual de Crianças” (Orador: Prof. Doutor Jon Conte) Lara Almeida Serra Nº 3013 Sumário • Considerações históricas acerca do estudo do Trauma • Definição de Trauma • Subjectividade do impacto do Trauma • Repercussões da exposição a situações traumáticas • Memórias traumáticas • Tratamento • Gestão da profissão dos terapeutas que lidam com o trauma • Seminário de Formação “O Trauma no Abuso Sexual de Crianças” (Lisboa, Setembro de 2005) Considerações históricas acerca do estudo do Trauma Trauma associado a situações desagradáveis Sociedade obrigada a confrontar-se com o lado obscuro da natureza humana e das instituições sociais Até meados do séc. XX, a sociedade escondia estes factos ou negava a sua existência, como forma de se “proteger” desta realidade desconfortável Considerações históricas acerca do estudo do Trauma Relatos de traumas de guerra (Guerra Civil Americana, Segunda Guerra Mundial, Guerra do Vietname…) Movimento do Feminismo Moderno + Cobertura dos Média Interesse crescente pelo estudo do trauma, nomeadamente pelo Stress Pós-Traumático clima de abertura e apoio às vítimas levava ao aumento de relatos de situações traumáticas, cuja exposição impossibilitava a negação da sua existência (Conte, 2005) Definição de Trauma “[Trauma is] an event or events that involved actual or threatened death or serious injury, or a threat to the physical integraty of self or others” (DSM IV) “An experience is traumatic if it (1) is sudden unexpected, or non-normative, (2) exceeds the individual’s perceived ability to meet its demand, and (3) disrupts the individual’s frame of reference and other central psychological needs and related schemas (McCann e Pearlman, 1990, citado por Briere, 1992, p.130) O trauma ocorre quando um indivíduo é exposto a um súbito acontecimento ameaçador à vida ou integridade (física e emocional), sobre o qual não se tem controlo, e manifesta uma resposta reveladora de intenso medo a esse acontecimento. (Conte, 2005) Subjectividade do impacto do Trauma • Predisposição genética • Fase de desenvolvimento • Sistema de suporte social • Exposição anterior a acontecimentos traumáticos Diferentes percepções da situação traumática, logo, diferentes respostas a essas situações • Severidade do trauma (Conte, 2005) Repercussões da exposição a situações traumáticas Nível Emocional: Nível Físico: Nível Cognitivo: • depressão • pouca energia • lapsos de memória • ansiedade • distúrbios alimentares e/ou de sono • problemas de concentração • comportamento obsessivo ou compulsivo • etc • disfunções sexuais • dificuldades na tomada de decisão • etc • etc (Jaffe, Segal e Dumke, s.d.) Repercussões da exposição a situações traumáticas No caso de traumas severos, as suas repercussões são mais graves Nível Emocional: • incapacidade de escolher parceiros/amigos adequadamente • criação de relações sociais hostis • etc Nível Comportamental: • tendência autodestruitiva • abuso de substâncias • etc Nível Cognitivo: • pensamentos intrusivos ou amnésia • dificuldade na sequência temporal • pesadelos • flashbacks • etc (Jaffe, Segal e Dumke, s.d.) Memórias traumáticas Terapeuta não tem acesso ao acontecimento traumático, mas às memórias deste (dificuldade) As memórias traumáticas apresentam uma natureza diferente das memórias comuns, talvez pela intensidade emocional do acontecimento a que se referem Dificuldades acrescidas • Fragmentadas • Temporalmente alteradas • Enviesadas pela interferência da emoção com os factos • Perdas totais ou temporais de memória (Conte, 2005) Tratamento • Terapias verbais, nas quais se trabalham os sentimentos associados ao trauma • Terapias cognitivo-comportamentais, com as quais se pretende alterar os pensamentos e acções da vítima, des-intensificando sistematicamente a situação traumática ou reduzindo a reactividade do trauma • Técnicas de relaxamento e/ou redução de stress, baseadas em trabalhos respiratórios e biofeedback • Hipnose (Jaffe, Segal e Dumke, s.d.) Tratamento Características essenciais ao êxito da terapia •Empatia – criação de um ambiente onde a vítima se sinta compreendida e segura • Gestão da ansiedade – Conte alerta para o facto de, muitas das vezes, ser a ansiedade do terapeuta, perante as descrições das vítimas, a condenar a terapia •Transferência - distorções cognitivas que levam os pacientes a espelhar na relação que estabelecem com o terapeuta o mesmo tipo de padrões emocionais e comportamentais que vivenciaram em relações/situações marcantes (Wikipedia, 2005) (Conte, 2005) Tratamento Factores associados ao terapeuta que condenam o êxito da terapia •Contra-transferência – redireccionamento dos sentimentos do terapeuta para o paciente (Wikipedia, 2005) • Burn Out– esgotamentos (aos quais os terapeutas do trauma estão muito sujeitos dada a natureza das suas profissões) • Trauma vicariante - é, simultaneamente, resultado e processo do compromisso empático entre o paciente e o terapeuta do trauma, que lidando tão proxima e frequentemente com situações de intenso impacto emocional negativo, levam a que o próprio terapeuta experiencie situações traumáticas (Conte, 2005) Gestão da profissão dos terapeutas que lidam com o trauma Para gerirem a enorme carga emocional a que os terapeutas do trauma estão sujeitos, evitando, assim, as situações de burn-out, trauma vicariante e diminuindo a possibilidade de ocorrerem contratransferências ao longo das terapias, devem: • necessidade de limitar a exposição a informações relacionadas com o trauma; • gerir as relações empáticas com os pacientes, delimitando as fronteiras necessárias a não confundir as vivências do paciente com as suas e criar relações empáticas com pessoas fora do contexto da terapia; • auto-conhecer-se bem, para perceber os seus próprios limites na terapia e evitar o envolvimento excessivo e prejudicial no tratamento; • encontrar formar de, fora do contexto de trabalho, relaxar. (Conte, 2005) Seminário de Formação “O Trauma no Abuso Sexual de Crianças” (Lisboa, Setembro de 2005) importante contextualização ao estudo do trauma forte sensibilização para recência das pesquisas em torno do trauma reforço da necessidade de especializar profissionais na área, que promovam a investigação nesta problemática Referências Briere, J. (1992). Child Abuse Trauma: Theory and treatment of the lasting effects. London: SAGE Publications. Conte, J. (2005, Setembro). Understanding Trauma: The american experience. Seminário de Formação O Trauma no Abuso Sexual de Crianças, Lisboa, Portugal. Jaffe, J, Segal, J., & Dumke, M. A. (s.d.). Emotional or psychological trauma. Retirado em 3 de Outubro de 2005 da World Wide Web: http://www.helpguide.org/mental/emotional_psychological_trauma.htm Kolk, B., & Fisler, R. (1995). Dissociation and the fragmentary nature of traumatic memories: Overview and exploratory study. Retirado em 29 de Setembro de 2005 da World Wide Web: http://www.trauma-pages.com Magalhães, T. (2004). Introdução à Medicina Legal. Retirado em 9 de Outubro de 2005 da World Wide Web: http://medicina.med.up.pt/legal/IntroducaoML.pdf Wikipedia (2005). Counter-Transference. Retirado em 9 de Outubro de 2005 da World Wide Web: http://en.wikipedia.org/wiki/Counter-transference