INTOXICAÇÕES POR MEDICAMENTOS EPIDEMIOLOGIA - Responsável por: . 27% das intoxicações no Brasil. . 31% das intoxicações no CCI (Centro de Controle de Intoxicações). . 47% das intoxicações em crianças. - Distribuição: . Benzodiazepínicos (13%). .Anticonvulsivantes (7%). .Antidepressivos tricíclicos (6%). BENZODIAZEPÍNICOS INDICAÇÃO TERAPÊUTICA: ◦ Sedativos, hipnóticos, anticonvulsivantes, ansiolíticos, relaxantes musculares, coadjuvante anestésico, etc MECANISMO DE AÇÃO: ◦ Sítio de ação principal: sistema nervoso central ◦ Potencializam a inibição neural mediada pelo ácido aminobutírico (GABA), aumentando a freqüência de abertura dos canais de cloro ◦ Uso continuado: tolerância e dependência GABA BZD Cl- +++++++ +++++--- Cl- ----------- BENZODIAZEPÍNICOS: TOXICOCINÉTICA ABSORÇÃO DISTRIBUIÇÃO ◦ Bem absorvidos no tubo gastrintestinal ◦ Concentração máxima plasma: de 30 min a 2 h ◦ A maioria se liga fortemente a proteínas plasmáticas (Diazepam - 98 a 99%); podem acumular-se na gordura BIOTRANSFORMAÇÃO EXCREÇÃO ◦ Hepática, P450 (oxidação) - subprodutos ativos e inativos. ◦ Conjugação glicurônica - subprodutos inativos. ◦ Principalmente pela via urinária, como subprodutos conjugados inativos ou livres (cerca de 2% inalterados) BENZODIAZEPÍNICOS: EFEITOS CLÍNICOS INTOXICAÇÃO AGUDA Sonolência, letargia, sedação, ataxia, confusão mental, dificuldade de fala, hipotonia, hiporreflexia e amnésia. Ritmo e freqüência cardíaca; diâmetro e reflexo pupilar permanecem normais na ausência de hipóxia. Raramente há coma profundo e depressão grave de funções vitais: hipotensão, hipotermia e depressão respiratória. Excitabilidade paradoxal: alguns pacientes podem apresentar reações caracterizadas por agitação, ansiedade, nervosismo, hostilidade, agressão. BENZODIAZEPÍNICOS: TRATAMENTO Assistência respiratória e manutenção dos sinais vitais Descontaminação em casos de ingestão: ◦ não induzir vômitos (efeitos iniciam em 30 minutos); ◦ paciente consciente administrar carvão ativado e catárticos; ◦ paciente inconsciente: lavagem gástrica com prévia intubação nasotraqueal. Tratamento de suporte: ◦ hipotensão: fluidos endovenosos, vasopressores se necessário; ◦ manter equilíbrio hidroeletrolítico; ◦ hiperexcitabilidade paradoxal: não usar barbitúricos – exacerba o quadro ou prolonga a depressão; ◦ abstinência: doses decrescentes de diazepínico de curta duração. Antídoto: FLUMAZENIL - reverte sedação dos benzodiazepínicos com melhora dos efeitos respiratórios (Inibição competitiva com o complexo benzodiazepínico-GABA nos receptores do sistema nervoso central) * NÃO substitui a assistência respiratória. Barbitúricos: Fenobarbital DOSE HIPNÓTICA: – Adultos: 100 – 200 mg (máx. 400-600 mg/dia) – Crianças: 5 a 8 mg/kg DOSE LETAL ESTIMADA: – Fenobarbital: 5 a 10 g DOSE TÓXICA: – Adultos: 18 – 36 mg/kg – Crianças: 10 mg/kg BARBITÚRICOS: DISPOSIÇÃO CINÉTICA ABSORÇÃO Principalmente no intestino delgado DISTRIBUIÇÃO Maior afinidade pelos tecidos com alto teor lipídico Ligação protéica variável: 5 a 88% Níveis na circulação fetal ~ plasma materno BIOTRANSFORMAÇÃO Hepática – sistema enzimático microssomal metabólitos inativos (25% do fenobarbital são eliminados “in natura“) EXCREÇÃO Principalmente renal BARBITÚRICOS – TOXICODINÂMICA SISTEMA NERVOSO CENTRAL Potencializam os efeitos do GABA nos canais de cloro. Altas doses: ação GABAmimética. SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO Depressão seletiva ganglionar, diminuem a excitação nicotínica produzida pelos ésteres da colina, levando à hipotensão. SISTEMA RESPIRATÓRIO Deprimem o impulso respiratório e os mecanismos responsáveis pelo ritmo da respiração, mas afetam pouco os reflexos protetores. SISTEMA CARDIOVASCULAR Doses hipnóticas afetam pouco a função cardíaca e a pressão arterial. Doses altas: diminuem a contração do miocárdio e deprimem a musculatura dos vasos. SISTEMA DIGESTIVO Diminuem o tônus da musculatura trato gastrintestinal, retardando o seu esvaziamento. BARBITÚRICOS MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS INTOXICAÇÃO LEVE INTOXICAÇÃO MODERADA INTOXICAÇÃO GRAVE COMA Sonolência – ataxia confusão mental – linguagem incompreensível alterações visuais subjetivas Sono profundo ou torpor pouca manifestação espontânea Pupilas: normais, mióticas ou midriáticas freqüentemente se alteram: miose midríase reflexo à luz preservado ou pupilas fixas BARBITÚRICOS:TRATAMENTO GERAL COMA Suporte para condições vitais e respiratórias HIPOTENSÃO - CHOQUE Infusão de aminas vasoativas se necessário HIPOTERMIA - HIPERTERMIA Medidas físicas DESCONTAMINAÇÃO GI Lavagem gástrica carvão ativado catárticos BARBITÚRICOS:TRATAMENTO ESPECÍFICO ALCALINIZAÇÃO DE URINA (bicarbonato de sódio) Indicada para fármacos com baixa ligação protéica (até 50%), baixo pKa e reabsorção tubular lenta (fenobarbital: pKa = 7,3 LP = 50% Vd = 1 L/kg) PARACETAMOL CARACTERÍSTICAS E USOS N – acetil – p – aminofenol; paracetamol ou acetaminofeno Acetilação P - aminofenol Ácido acético anidrido acético Paracetamol – USOS: Analgésico, antipirético, antiinflamatório – DOSE TERAPÊUTICA: Adultos: 0,5 – 1,0 g VO, 4/4 ou 6/6 h. Máximo: 4 g/dia Crianças: 10 – 15 mg / kg / dose VO, 4/4 ou 6/6 h PARACETAMOL:TOXICIDADE USO TERAPÊUTICO: Efeitos nocivos raros DOSES EXCESSIVAS Hepatotóxico e nefrotóxico DOSES TÓXICAS: Adultos: 6 – 7,5 g Dano hepático após consumo diário de 5g Crianças: > 150 mg/kg de peso (> 200 mg/kg em crianças até 6 anos) Óbitos: 15 g PARACETAMOL - TOXICOCINÉTICA ABSORÇÃO Gastrintestinal rápida e quase completa Biodisponibilidade oral: 88% DISTRIBUIÇÃO LP insignificante em doses de até 60 ng/mL Em intoxicações agudas: LP = 20 – 50% MEIA VIDA T ½: 1 a 4 h em dose terapêutica 2,9 h na intoxicação sem dano hepático 7,6 h na intoxicação com dano hepático Tempo até o efeito máximo: 1 a 3 h Tempo de concentração máxima: 0,5 a 2 h PARACETAMOL - TOXICOCINÉTICA BIOTRANSFORMAÇÃO Fígado Rins Ácido. glicurônico (60%) Sulfato (30%) Cisteína (3%) Bioativação CIT. P 450 (4%) NAPQI EXCREÇÃO GSH 90 – 100% conjugados em 24 h PARACETAMOL:TOXICODINÂMICA EFEITO TERAPÊUTICO: Inibe a síntese de prostaglandinas no sistema nervoso central e na periferia através da inibição da ciclo-oxigenase Intensifica a ação do ADH pela inibição da síntese renal de prostaglandinas PARACETAMOL:TOXICODINÂMICA O subproduto obtido através do sistema P450 oxidase é hepatotóxico (N-acetil-benzoquinoneimina - NAPQI) NAPQI reage com os grupamentos ─SH da glutationa (GSH), produzindo o ácido mercaptúrico-cisteína Em superdosagem, a produção do NAPQI excede a capacidade de conjugação com GSH (70%) e o NAPQI reage diretamente com as macromoléculas hepáticas, as proteínas tiólicas (PSH) (ligação covalente) Oxidação de PSH e tióis não protéicos peroxidação lipídica e distúrbio da homeostase do íon cálcio intracelular (morte celular) PARACETAMOL: CLÍNICA FASE 1 (30 min a 24 h) Sintomatologia inespecífica Anorexia, náusea, vômitos, palidez e diaforese Mal estar geral FASE 2 (24 a 72 h) Sintomatologia mais evidente e alterações laboratoriais Dor no hipocôndrio direito Elevação de enzimas hepáticas e bilirrubinas Prolongamento do tempo de protrombina (TP) Trombocitopenia Função renal começa a alterar Manifestações cardíacas – morte súbita (?) PARACETAMOL: CLÍNICA FASE 3 (72 a 96 h) CARACTERIZADA PELAS SEQUELAS DA LESÃO HEPÁTICA Alteração da coagulação sanguínea Icterícia, náusea e vômitos Insuficiência renal Alterações cardíacas Encefalopatia hepática Anúria Coma ÓBITO FASE 4 (4 dias a 2 semanas) DANO REVERSÍVEL RECUPERAÇÃO COMPLETA PARACETAMOL - DIAGNÓSTICO LABORATORIAL Nível de PC na 4ª hora pós-ingestão Nomograma de Rumack – Matthew Outras análises necessárias: avaliação hepática, renal e hematológica NOMOGRAMA DE RUMACK-MATTHEW PARACETAMOL NÍVEIS DE PARACETAMOL NO PLASMA (NP) concentrações terapêuticas de 10 – 20 µg/mL em 4 h dano hepático mínimo ou ausente: 120 µg/mL em 4 h ou 30 µg/mL em 12 h concentrações tóxicas/letais: 300 µg/mL em 4 h ou 45 µg/mL em 15 h Se a relação nível de paracetamol / tempo indicar hepatotoxicidade: MANTER O PACIENTE INTERNADO PARACETAMOL - TRATAMENTO DIMINUIR A EXPOSIÇÃO AO PC – esvaziamento gástrico – lavagem gástrica – carvão ativado PROTEGER NAPQI: O HEPATOCITO DA administração de N-acetilcisteína REMOÇÃO EXTRACORPÓREA DO PC – hemodiálise LESÃO PELO PARACETAMOL: ANTÍDOTO N-ACETILCISTEÍNA - FLUIMUCIL® MECANISMO DE AÇÃO Precursor de GSH: aumenta a síntese de GSH hepática Doador de grupo sulfidrila: substituto de GSH ADMINISTRAÇÃO Níveis de paracetamol acima da linha de toxicidade Maior benefício se iniciado até 8 h da exposição Casos graves: administrar o antídoto mesmo depois de 24 h de evolução SALICILATOS USOS Propriedades analgésicas, antitérmicas, antiinflamatórias – Inibe a agregação plaquetária MECANISMOS DE AÇÃO – Inativação irreversível da enzima cicloxigenase – Inibição de prostaglandinas e tromboxanos – Pg estimulam fibras nociceptoras e diminuem o limiar para dor, além de atuar junto a outras substâncias relacionadas a dor – Inibe a formação de TxA2 efeito anti-agregante SALICILATOS:TOXICOCINÉTICA ABSORÇÃO Difusão passiva no estômago e intestino delgado alto Fatores limitantes: pH, alimentos e problemas gástricos PICO PLASMÁTICO: 0,5 a 2 h (dose única) MEIA-VIDA AAS: 15 - 20 min (depois é encontrado como salicilato) SALICILATOS:TOXICOCINÉTICA DISTRIBUIÇÃO Todos os tecidos e líquidos Associação com lipoproteínas: 50 a 90% » Concentração até 100 g/mL – LP 90% » Concentração acima 400 g/mL – LP 50% » Hipoalbuminemia – do fármaco livre e possível intoxicação BIOTRANSFORMAÇÃO Hidrolisados a ácido salicílico por esterases plasmáticas e de outros tecidos por enzimas do retículo endoplasmático hepático e mitocôndrias Posteriormente, o ácido salicílico sofre conjugação: » Com glicina ácido salicilúrico (75%) » Com ácido glicurônico salicilfenólico (10%) e acilglicurônico (5%) SALICILATOS - TOXICOCINÉTICA EXCREÇÃO Dependente do pH e dose absorvida » urina alcalina (pH 8,0 80% de salicilato livre » urina ácida (pH 4,0 10% de salicilato livre » dose maior excreção de fármaco livre Dependente de associação com fármacos que se ligam à albumina SALICILATOS - TOXICODINÂMICA ESTÍMULO DIRETO DO CENTRO RESPIRATÓRIO (hiperpnéia e taquipnéia) alcalose respiratória Como mecanismo compensatório, excreção renal de bicarbonato Altas doses acidose respiratória Hiperventilação AUMENTO DO METABOLISMO LIPÍDICO Produção de corpos cetônicos, ácido beta-hidroxibutírico, ácido acetoacético e acetona Produção de ácido láctico e pirúvico Estímulo da excreção renal de bicarbonato Acidose metabólica ALTERAÇÃO DA COAGULAÇÃO SANGUÍNEA tempo de protrombina e de sangramento a adesividade e o número de plaquetas Hipofibrinogenemia SALICILATOS – DOSE / CLÍNICA Dose Ingerida (mg/Kg) > > 150 Severidade estimada Não são esperadas reações tóxicas 150 - 200 Intoxicação leve 200 - 300 Intoxicação moderada 300 - 500 Intoxicação grave > 500 mg ou 20 a 30 g em adultos Dose tóxica letal SALICILATOS - EFEITOS CLÍNICOS INTOXICAÇÃO AGUDA Crianças de menos de 3 anos são especialmente suscetíveis aos salicilatos e a ingestão moderada requer hospitalização INTOXICAÇÃO CRÔNICA (salicilismo) Apresentação clínica inespecífica: Confusão, desidratação e acidose metabólica podem ser atribuídos a septicemia, pneumonia ou gastrenterite Em idosos: febre, desorientação, diminuição da acuidade auditiva, queda, agitação, alucinação, alteração aguda do estado mental, letargia, déficit de memória, incapacidade de cuidar de si próprio Edema cerebral e pulmonar são mais comuns na intoxicação aguda SALICILATOS - DIAGNÓSTICO LABORATORIAL Dosagem sérica de salicilatos após 6 h da ingestão: Nomograma de DONE Gasometria arterial e pH urinário Glicemia Uréia, creatinina e eletrólitos (Na+, K+, Ca2+, Mg2+ e Cl-) Hemograma completo com dosagem de plaquetas Coagulograma completo NOMOGRAMA DE DONE Adaptado de Done A.K -Salicylate intoxication: significance of measurement of salicylate in blood in cases of acute ingestion. Pediatrics, v. 26, p. 800. SALICILATOS - TRATAMENTO MEDIDAS GERAIS DE DESCONTAMINAÇÃO Lavagem gástrica e/ou carvão ativado até 1 h da ingestão Ingestão maciça: carvão ativado em doses repetidas TRATAMENTO DE SUPORTE Manter vias aéreas livres e assistência ventilatória Tratar coma, convulsões e hipertermia Tratar acidose metabólica com carbonato de cálcio IV, mantendo o pH sangüíneo em 7,45 Repor fluidos/eletrólitos c/ cuidado: edema pulmonar Lesões gástricas bloqueadores H2 ANTÍDOTOS: não há antídoto específico SALICILATOS - REMOÇÃO EXTRACORPÓREA Alcalinização urinária: tratamento obrigatório! Hemodiálise é efetiva inclusive na correção de distúrbios do equilíbrio acido - básico e de fluidos Carvão ativado em doses repetidas reduz a meia-vida plasmática do AAS, mas de forma não tão rápida quanto a hemodiálise