Aula Teórica nº 21 Sumário: 10.3. Perturbações da procura e da oferta Bibliografia: Obrigatória: Frank e Bernanke (2003), cap. 27 Objectivos da aula: No final desta aula o aluno deverá ser capaz de: Compreender o conceito de função de oferta agregada e a sua ligação com o mercado de trabalho. Distinguir entre curvas de oferta de curto e longo prazos. Entender os equilíbrios de curto e longo prazo no modelo AD/AS. Compreender as modificações nesses equilíbrios em resultado de choques de procura ou oferta. Dominar os efeitos da política económica nesse modelo. Economia II – Estes materiais não são parte integrante da bibliografia da unidade curricular. O desvio do produto (Y - Yp) é uma variável essencial para saber o que acontece à inflação a médio e longo prazo. No curto prazo, podemos ter: Y = Yp , não há desvio cíclico; Y > Yp , há desvio expansionista; Y < Yp , há desvio contraccionista. Desvio do produto nulo no período t (Yt = Yp,t): As vendas das empresas estão a crescer ao seu nível normal (a taxa de crescimento de longo prazo). Cada empresa não tem nenhum incentivo para alterar os seus preços em relação aos outros preços... ... incluindo os dos seus factores de produção (salários, preços das matérias-primas, etc.). Neste caso a inflação tende a permanecer constante. Isto quer dizer que a inflação não tende nem a subir nem a descer no próximo período em relação à que se verificou neste período. Desvio do produto expansionista no período t (Yt > Yp,t): As vendas das empresas estão a crescer a um nível superior ao normal. Para responder a essa situação, as empresas utilizam os recursos (incluindo o trabalho) a um ritmo acima do seu normal. Cada empresa tem um incentivo para aumentar os seus preços em relação aos seus custos. Mas a maior taxa de utilização dos recursos (incluindo o trabalho) leva a uma maior subida dos preços dos factores (incluindo os salários)... Neste caso a inflação tende a aumentar (acelerar) enquanto permanecer o desvio expansionista. Isto quer dizer que a inflação tende a subir no próximo período em relação à que se verificou neste período. Desvio do produto recessivo no período t (Yt < Yp,t): As vendas das empresas estão a crescer a um nível inferior ao normal. Para responder a essa situação, as empresas utilizam os recursos (incluindo o trabalho) a um ritmo abaixo do seu normal. Cada empresa tem um incentivo para não aumentar muito os seus preços de forma a não perder muitas vendas. Mas a menor taxa de utilização dos recursos (incluindo o trabalho) leva a uma menor subida dos preços dos factores (incluindo os salários)... Neste caso a inflação tende a diminuir (desacelerar) enquanto permanecer o desvio recessivo. Isto quer dizer que a inflação tende a descer no próximo período em relação à que se verificou neste período. Resumindo: O que determina a taxa de inflação no curto prazo? Resposta: A inflação do período anterior (inércia) e... ... o desvio cíclico do período anterior. Este comportamento pode ser representado pela seguinte função: t t 1 . Yt 1 Yp ,t 1 , com 0 Note-se que: se Yt-1 = Yp,t-1 então t = t-1 (a inflação manteve-se); se Yt-1 > Yp,t-1 então t > t-1 (a inflação acelerou); se Yt-1 < Yp,t-1 então t < t-1 (a inflação desacelerou); se Yt Yp,t isso só terá efeito no próximo período, ou seja, teremos t+1 t (a inflação acelerará ou desacelerará). A esta função chamamos função de oferta agregada de curto prazo. Denotaremos como SRAS (short-run aggregate supply). Esta função de comportamento não tem a ver com o equilíbrio nem do mercado de bens e serviços... nem do mercado monetário. É determinado pelos (des)equilíbrios nos... ... mercados de factores (recursos) e em especial no... ... mercado de trabalho. Lembram-se da lei de Okun? Representação gráfica da agregada de curto prazo: função de SRAS1 1 .(Y0 – Yp,0) > 0 E0 0 Equilíbrio no período t = 0 0 Yp -1 Y0 Desvio expansionista no período t = 0 Y oferta E o que determina a taxa de inflação no curto prazo? No longo prazo o produto não pode estar sistematicamente acima ou abaixo do seu potencial. Se estivesse sempre acima teríamos hiperinflação. Se estivesse sempre abaixo teríamos hiperdeflação. Este comportamento pode ser representado pela seguinte função: Y Yp A esta função chamamos função de oferta agregada de longo prazo. Denotaremos como LRAS (long-run aggregate supply). Esta função de comportamento tem a ver com o equilíbrio do mercado de trabalho no longo prazo. Lembram-se da taxa natural de desemprego? Representação gráfica da agregada de longo prazo: função de LRAS 0 -1 Yp Y oferta Equilíbrio de curto prazo Consideramos aqui que o “curto prazo” se refere ao período onde existe alguma inércia da inflação. Este período mede-se em trimestres... ... não nas décadas do crescimento económico! A inflação é igual ao valor que resulta do passado (desvio cíclico passado)... ... e o produto é igual ao produto de curto prazo compatível com essa taxa de inflação. Graficamente, ocorre na intersecção da curva AD com a curva SRAS. Representação gráfica do equilíbrio de curto prazo para t = 1: 1 0 -1 SRAS1 E1 Y1 Yp Y AD1 E será este um equilíbrio de longo prazo? Não, porque Y1 < Yp... ... ou seja, há um desvio recessivo. Como se processa o ajustamento, ou seja, a passagem do curto ao longo prazo? Perante um desvio recessivo, as empresas estão a vender menos do que o normal. Os preços tenderão a subir a uma taxa menor... ... ou seja, a inflação diminuirá no próximo período. Representação gráfica do ajustamento do equilíbrio de curto (desvio recessivo) ao longo prazo: t= 123 LRAS 1 2 *3 0 -1 E1 E2 E3E Y1 Y2 Y3 Yp SRAS1 SRAS2 SRAS3 SRAS Y AD1 E perante um equilíbrio de curto prazo com desvio expansionista? Perante um desvio expansionista, as empresas estão a vender mais do que o normal. Os preços tenderão a subir a uma taxa maior... ... ou seja, a inflação aumentará no próximo período. Representação gráfica do ajustamento do equilíbrio de curto (desvio expansionista) ao longo prazo: t= 123 LRAS E * 3 2 E3 E2 E1 1 0 -1 SRAS SRAS3 SRAS2 Yp Y3 Y2 Y1 SRAS1 Y AD1 No equilíbrio de longo prazo: o produto observado iguala o produto potencial... ... ou seja, Y = Yp ... ... e a taxa de inflação permanece estável... ... ou seja, = *. Graficamente, as curvas AD, SRAS (para t = ) e LRAS cruzam-se no mesmo ponto. A economia tende a corrigir-se a si própria. Com tempo suficiente, os desvios do produto tendem a desaparecer sem alteração das políticas monetária e orçamental. Isto não acontece no modelo keynesiano básico. O modelo keynesiano básico é um modelo de curto prazo em que os preços não se ajustam. Os ajustamentos de longo prazo não são considerados. Se a a auto-correcção for lenta: a utilização activa das políticas monetária e orçamental pode ser importante para a estabilização do produto. Se a auto-correcção for rápida: as políticas de estabilização não se justificam tanto. 10.3. Perturbações da procura e da oferta A economia está afastada do seu equilíbrio de longo prazo quando a inflação varia. O aumento da inflação pode-se ficar a dever: a um “excesso” da procura agregada... ... ou seja, “demasiada despesa para o volume de bens e serviços produzidos normalmente”. Se esse “excesso” não foi motivado por uma quebra do produto potencial... ... este tipo de desequilíbrio (em relação ao longo prazo) identifica-se como um choque ou perturbação da procura. Aumento da inflação devido a um choque positivo (permanente) de procura: LRAS EF *F 1 = *0 0 -1 SRASF E1 E0 Y0 = Yp Y1 SRAS0 = SRAS1 Y AD1 AD0 O aumento da inflação também se pode ficar a dever a uma perturbação ou choque da oferta: Um choque da oferta desloca a curva da oferta agregada de curto prazo (perturbação da inflação). Neste caso, a curva AS de curto prazo é temporariamente dada por: t t 1 . Yt 1 Yp ,t 1 ut Tem um valor positivo para para um choque positivo. No longo prazo voltará a ter um valor nulo. Aumento da inflação devido a um inflacionário positivo (temporário): choque LRAS 1 E1 SRAS1 u1 EF *F = *0 0 -1 E0 Y1 Y0 = Yp SRAS0 = SRASF Y AD0 O aumento da inflação pode ainda dever-se a um outro tipo de perturbação ou choque da oferta: A curva da oferta agregada de longo prazo pode deslocar-se devido a uma perturbação do produto potencial. Neste caso, a curva AS de longo prazo é permanentemente deslocada para a esquerda, devido a uma redução de Yp. Aumento da inflação devido a um choque negativo (permanente) no produto potencial: LRASF LRAS0 EF *F E1 1 = *0 0 -1 SRASF E0 Yp,F Y0 = Yp,0 = Y1 SRAS0 = SRAS1 Y AD0 Que deve fazer um decisor político se quiser reduzir a taxa de inflação? A inflação pode baixar se forem adoptadas políticas de contracção da procura agregada. Existem custos de curto prazo da desinflação em produto perdido e em maior desemprego Política de desinflação, ou seja, de redução (permanente) da inflação. LRAS 1 *0 E1 EF *F 0 E0 Y1 Y0 = Yp SRAS0 = SRAS1 SRASF Y -1 Economia II – Estes materiais não são parte integrante da bibliografia da unidade curricular. AD0 AD1