PÂMELA MELO SANTANA FISIOTERAPIA NA DISTROFIA MUSCULAR DE DUCHENNE E DE BECKER PORTO VELHO 2016 FISIOTERAPIA NA DISTROFIA MUSCULAR DE DUCHENNE E DE BECKER Tese apesentada ao curso de Mestrado em Terapia Intensiva IBRATI como requisito para obtenção do título de Mestre em terapia intensiva. Orientadora: Mestre em Terapia Intensiva Charla Daiana Batista do Nascimento PORTO VELHO 2016 FISIOTERAPIA NA DISTROFIA MUSCULAR DE DUCHENNE E DE BECKER PHYSICAL THERAPY DUCHENNE MUSCULAR DYSTROPHY AND BECKER Pâmela Melo Santana1 RESUMO: A Distrofia Muscular de Duchenne caracteriza-se pela deficiência ou ausência da proteína distrofina. Essa proteína é essencial para a manutenção estrutural e mecânica das células musculares. Porém, na Distrofia Muscular de Becker, a produção dessa proteína resulta numa molécula maior que o normal que não funciona de modo adequado, ambas caracterizam-se pela degeneração progressiva e irreversível da musculatura esquelética, levando a uma fraqueza muscular generalizada. Como consequência, os músculos deixam de funcionar corretamente. Deste modo, aumenta trabalho respiratório, diminuindo a expansão pulmonar, resultando em uma fadiga muscular respiratória, hipoventilação progressiva e potencial para falência respiratória. A fisioterapia respiratória tem por objetivo principal recondicionar a força dos músculos respiratórios, visto que, com o evoluir da doença os pacientes adquirem uma fraqueza dos músculos respiratórios, e também promover a expansão plena dos pulmões melhorando e mantendo a função de ventilação. A inserção da Ventilação Mecânica Não-Invasiva proporciona maior conforto ao paciente, mantendo sua capacidade de comunicação e deglutição e está associada a menor incidência de pneumonia quando comparada com a ventilação invasiva. Como não há até o momento tratamento que possibilite a cura, os esforços são direcionados para retardar a progressão da doença e melhorar a qualidade de vida do paciente. Palavras chaves: Distrofia Muscular de Duchenne. Distrofia Muscular de Becker. Ventilação Mecânica Não-Invasiva. ABSTRACT: The Duchenne muscular dystrophy is characterized by a deficiency or absence of dystrophin protein. This protein is essential for maintaining structural and mechanical muscle cells. However, in Becker muscular dystrophy, the production of this protein results in a larger molecule than normal does not work properly, both are characterized by progressive and irreversible degeneration of skeletal muscles, leading to a generalized muscle weakness. As a result, the muscles stop working properly. Thus increased work of breathing, decreased lung expansion, resulting in a respiratory muscle fatigue, progressive hypoventilation and potential respiratory failure. Respiratory therapy aims to refurbish the main respiratory muscle strength, as with the evolution of the disease the patients acquire a respiratory muscle weakness, and also promote the full expansion of the lungs improving and maintaining the ventilation function. The insertion of Noninvasive Mechanical Ventilation provides greater patient comfort by keeping your communication skills and swallowing and is associated with lower incidence of pneumonia compared with invasive ventilation. As yet there is no treatment that enables cure, efforts are directed to slow disease progression and improve quality of life of patients. Key words: Duchenne Muscular Dystrophy. Becker Muscular Dystrophy. Non-Invasive Mechanical Ventilation. _________________________ 1 Fisioterapeuta, Esp. Fisioterapia em Unidade de Terapia Intensiava , E-mail: [email protected] 4 INTRODUÇÃO A Distrofia Muscular de Duchenne (DMD) é um distúrbio genético ligado ao cromossomo X, que afeta principalmente crianças do sexo masculino. Caracteriza-se pela degeneração progressiva e irreversível da musculatura esquelética, levando a uma fraqueza muscular generalizada, devido à ausência da proteína distrofina na membrana muscular. As complicações respiratórias são as maiores causas de morbidade e mortalidade neste tipo de enfermidade (FONSECA & FRANÇA, 2004). A distrofina, que é parte do citoesqueleto muscular, proporciona flexibilidade e força à membrana para que a fibra muscular atue com considerável distorção durante a contração. Na sua ausência, ocorre disrupção com entrada de cálcio na fibra muscular e ativação de protease que precipita necrose focal e hipercontração acompanhada por necrose cíclica ao final da doença (KAKULAS, 1999). Segundo Sanvito (1997), a distrofia muscular trata-se de uma miopatia, caracterizada por uma progressão degenerativa de cunho genético. Adams (1991), afirma que as distrofias musculares são doenças hereditárias degenerativas progressivas do músculo esquelético. A distrofia muscular de Duchenne é o tipo mais comum e grave de distrofia muscular pseudo-hipertrófica; começa na infância, é crônica e progressiva sendo caracterizada por fraqueza crescente nas cinturas pélvica e escapular, pseudo-hipertrofia dos músculos seguida de atrofia, lordose e andar gingado peculiar mantendo-se as pernas separadas. A Distrofia muscular de Becker apesar da semelhança com a distrofia muscular pseudo-hipertrófica diferencia-se por seu início tardio e curso lentamente progressivo, e é transmitida como característica recessiva ligada ao cromossomo X (DICIONÁRIO MÉDICO, 1997). Ainda na DMD, observam-se alterações da função pulmonar que se tornam mais evidente com a evolução da doença. Do ponto de vista respiratório a DMD, segue um curso previsível (WALTON et al, 1988; ORETAGGIO et al, 1986). Pacientes com doença neuromuscular apresentam tiragens intercostais durante a inspiração e anormalidade no padrão respiratório. Deste modo, os pacientes com DMD têm um aumento no trabalho respiratório e uma expansibilidade pulmonar diminuída, resultando em uma fadiga muscular respiratória, hipoventilação progressiva e potencial para falência respiratória (GOZAL, 2000). Como a DMB apresenta alterações respiratórias mais discretas, o paciente precisa ser treinado para retardar a perda da função motora. O acometimento cardíaco, a médio e longo prazo, pode limitar ainda mais as atividades físicas: a hipertrofia do ventrículo esquerdo 5 (HVE) e/ou direito (HVD) podem promover o aparecimento de hipertensão arterial sistêmica e/ou pulmonar ou insuficiências mitral e/ou tricúspide, que podem levar à insuficiência cardíaca congestiva (ICC). Caso a HVE/HVD cause edema de pulmão ou aumento da pressão arterial (PA), o uso de pressão expiratória final positiva (positive end expiratory pressure – PEEP), promoveria drenagem do infiltrado para o espaço intersticial e redução do retorno venoso ao coração, diminuindo a PA (FREZZA, 2005). Pacientes com distrofias musculares são frequentes nos consultórios e clínicas de Fisioterapia. Porém, ainda há uma visão muito segmentária de atendimento fisioterapêutico destes pacientes, geralmente na clínica se faz o atendimento neurofuncional e caso seja necessário internação, no próprio hospital faz-se o atendimento cardiopneumofuncional (FREZZA, et al 2005). Segundo Aragão e Ferreira (2009), na questão de hipoventilação alveolar crônica que é provocada pela distrofia muscular, a fisioterapia tem por objetivo principal recondicionar a força dos músculos respiratórios, visto que, com o evoluir da doença os pacientes adquirem uma fraqueza dos músculos respiratórios. Ramos (2001), afirma também que a fisioterapia promove a expansão plena dos pulmões melhorando e mantendo a função de ventilação. A sobrevida de pacientes com DMD tem aumentado ao longo dos anos em decorrência de um melhor manejo da escoliose e das infecções respiratórias recorrentes. Após a introdução da ventilação mecânica nos estágios tardios da doença, a média de idade do óbito daqueles pacientes que não chegam a desenvolver severa e precoce cardiomiopatia tem aumentado para 24,3 anos (EAGLE, 2002). Segundo ABDF (Associação Brasileira de Distrofia Muscular), nos últimos anos, a expectativa de vida desses pacientes em países desenvolvidos passou de 20 a 25 anos para mais de 35 anos. No Brasil, só a concessão dos BiPAPs – aparelhos não-invasivos de respiração artificial – aumentou a expectativa de vida dos afetados pela Distrofia de Duchenne entre 12 a 15 anos. Já os afetados pelas formas mais brandas de distrofia podem ter uma vida praticamente normal se diagnosticados precocemente e tratados adequadamente. Melo (2005) questiona que os profissionais envolvidos no manejo desses pacientes deparam-se com um grande desafio: como reabilitar e melhorar a qualidade de vida de crianças que apresentam uma patologia incurável, que leva a perdas funcionais ao longo do tempo e culmina com o óbito ao final da adolescência? Como não há até o momento tratamento que possibilite a cura, os esforços são direcionados para retardar a progressão da doença e melhorar a qualidade de vida (UCHIKAWA, 2004). 6 1. REFERENCIAL TEÓRICO 1.1 Fisiopatologia A DMD caracteriza-se pela deficiência ou ausência da proteína distrofina na superfície da membrana da célula muscular, também chamada de sarcolema (CAROMANO, 1999). Essa proteína é essencial para a manutenção estrutural e mecânica das células musculares, a ausência desse produto genético leva à degeneração dessas células. A sua gravidade e prognóstico associado dependem, sobretudo, das características das mutações ocorridas neste gene. Se na Distrofia de Duchenne, a ausência é quase completa, na de Becker, a produção da proteína resulta numa molécula maior que o normal que não funciona de modo adequado (CONCHA & NORELLI, 2004). Como consequência, os músculos deixam de funcionar corretamente e as células musculares degeneradas são progressivamente substituídas por tecido adiposo e fibroso. Quando o músculo não é utilizado ou enfraquece, encurta-se, bem como os ligamentos e articulações. Estas últimas tornam-se rígidas, devido à sedimentação da fibrose e dão origem a contraturas ou deformidades com encurtamento dos tendões. Nos pacientes com esta distrofia, as contraturas surgem mais frequentemente nas ancas, joelhos e tornozelos, criando posições rígidas que dificultam, as tarefas do cotidiano (APN, 2007). As manifestações clínicas normalmente aparecem em torno dos 3 a 5 anos de idade, e os sinais iniciais da DMD, são de debilidade e/ou fraqueza muscular da cintura pélvica, principalmente nos músculos extensores e abdutores do quadril, atingindo posteriormente os músculos da cintura escapular (ARAGÃO & FERREIRA, 2009). Devido à fraqueza dos músculos da cintura pélvica e dos paravertebrais, a criança faz báscula alternada de quadril e desenvolve lordose lombar (MURAHOVSCHI, 1994). A marcha é bamboleante e débil com muita dificuldade para subir e descer escadas. Para ficar em pé a partir do decúbito prono, desenvolvem uma escalada sobre si mesma, conhecida como manobra de Gowers ou levantar miopático (WOLFF, 2000). Com o tempo de evolução, os portadores de DMD começam a caminhar na ponta dos pés, devido ao surgimento de contraturas nos tendões de Aquiles. Outras complicações que podem associar-se são as deformidades em articulações e na coluna (escoliose severa). As contraturas e deformidades esqueléticas se intensificam após o confinamento à cadeira de rodas (ZATZ, 2002). 7 A insuficiência respiratória é uma causa frequente de mortalidade nas crianças que apresentam essa doença. A paresia ou paralisia dos músculos auxiliares da respiração, principalmente dos músculos da parede abdominal e dos músculos grande dorsal e ECOM, impossibilita a inspiração e a expiração normais e, por conseguinte, a eliminação do muco contido nas vias aéreas. No estágio inicial, o diafragma e a musculatura facial são as únicas musculaturas capazes de contrair ativamente (RAMOS, 2001). Entretanto, os primeiros sinais de DMB ocorrem após os 10anos e sua evolução é mais lenta. A perda da capacidade de andar ocorre após os 25anos, às alterações respiratórias são mais discretas, mas o acometimento cardíaco é mais sério (hipertrofia ventricular direita e/ou esquerda – HVD/HVE)( SLUTZKY, 1997). De acordo com Levy (1989) a DMB pode-se observar um quadro clínico similar entre a DMD, o portador tem uma deambulação atrasada, evidenciando uma deambulação sobre os artelhos e a marcha anserina. Adota-se uma lordose acentuada para equilibrar o corpo. Usam a característica manobra de Gower. Apresentam também contraturas, pois, os tecidos são substituídos por tecido adiposo e conjuntivo, os íleo-tibiais limita a flexão do quadril, as contraturas do tendão calcâneo são responsáveis pela deambulação sobre os artelhos. 1.2 Complicações Respiratórias O fator primordial para alterações respiratórias é a fraqueza de sua musculatura, que predispõem a redução da sua capacidade vital (CV), consequentemente sua capacidade inspiratória e expiratória evoluindo para um distúrbio respiratório restritivo, com hipoventilação alveolar crônica e áreas de microatalectasia, pneumonias recorrentes e posteriormente insuficiência respiratória (FARIA et al, 2008). À medida que a DMD progride, a fraqueza dos músculos cervicais, acessórios, abdominais e respiratórios evolui. A falta de força destes grupos musculares pode acarretar insuficiência respiratória e tornar a tosse ineficaz. Isso predispõe à estase e broncoaspiração, que leva a pneumonias (principalmente de lobos inferiores). Medidas desobstrutivas, medicamentos, suporte nutricional e respiração por pressão positiva intermitente (RPPI) nasal ajudam a prolongar a vida do paciente (FREZZA et al., 2005). Os problemas respiratórios são agravados pela fraqueza da musculatura intercostal e pela deformidade na coluna, ocorrendo redução da pressão inspiratória e expiratória máximas. Com a progressão da doença ocorre uma redução significativa na capacidade pulmonar total e aumento no volume residual. O primeiro sinal de falência respiratória é a hipoventilação noturna, com queda na pressão de O2 e acúmulo de CO2. Os pacientes com hipercapnia diurna 8 não sobrevivem mais que 9,7 meses se não for ofertada uma adequada assistência respiratória (MCDOLNALD, 1999). A hipoventilação, de provável origem periférica, ocorre primeiro durante o sono e, com a fraqueza progressiva, prejudica a qualidade de vida deste paciente, ocorrendo hipoxemia e hipercapnia. Além do mais, crianças com fraqueza da musculatura respiratória têm reduzida habilidade para tossir, tendo, como consequência, ineficiência para remover secreções das vias aéreas (BIRNKRANT, 2002). Do ponto de vista respiratório, a DMD freqüentemente segue um curso previsível. O declínio progressivo da função pulmonar quase sempre inicia após o confinamento à cadeira de rodas, e está associado com o aumento da insuficiência respiratória (IR) e da ineficiência da tosse. Pacientes com insuficiência respiratória crônica compensada podem se apresentar bem e sem queixas, devido à pequena demanda do sistema respiratório necessária para manter uma boa função pulmonar quando se está confinado à cadeira de rodas (BACH et al, 1997). A hipoventilação alveolar crônica tem sido descoberta em pacientes com distrofia muscular. A hipóxia, a retenção de dióxido de carbono e a acidose respiratória manifestam-se por: fadiga, pesadelos, cefaléia pela manhã, confusão mental, falta de apetite, perda de peso e vista embaçada (STEVEN, 1989; LOSSOW, 1990; WEST, 1998). Segundo Schilz (2000) a redução da complacência pulmonar e da mobilidade da caixa torácica observada nos pacientes com doenças neuromuscular aumenta a carga mecânica sustentada a cada respiração pela musculatura já enfraquecida. Os pacientes com restrição pulmonar acentuada sem adequada limpeza das secreções traqueobrônquicas frequentemente evoluem para falência respiratória, necessitando de internação, intubação traqueal para sucção de secreções e ventilação mecânica invasiva. Ainda, essa secreção traqueobrônquica represada nos brônquios rapidamente leva à traqueobronquite e/ou à pneumonia bacteriana ( BACH, 1997) 1.3 Alterações Musculares e Insuficiência Respiratória Um achado comum da DMD nos estágios iniciais é a hipertrofia de panturrilhas, que ocorre, pelo menos em parte, pelo excesso de tecido adiposo e conectivo, e, por esta razão, o termo “pseudo-hipertrofia” é amplamente utilizado na prática clínica. Mas, a hipertrofia real também pode ser compensatória à fraqueza de outros músculos (EMERY & MUNTONI, 2003). 9 As crianças portadoras dessa síndrome podem apresentar déficit de equilíbrio, demora em deambular, dificuldades em subir escadas, fraqueza progressiva em membros inferiores, quedas frequentes, bem como atraso do desenvolvimento psicomotor (ARAÚJO, 1992). A fraqueza muscular, principal característica da doença, é sempre bilateral e simétrica, com padrão de envolvimento altamente seletivo. Em geral, nos estágios iniciais da doença, os músculos dos membros inferiores são mais afetados que dos membros superiores, e os proximais mais que os distais. Nesta fase, os músculos predominantemente afetados são: grande dorsal, braquioradial, bíceps braquial, tríceps, iliopsoas, glúteos e quadríceps femoral. O quadríceps é mais acometido que os isquiotibiais, tríceps mais que o bíceps, extensores de punho mais que os flexores, flexores de pescoço mais que extensores e dorsoflexores do tornozelo mais que os plantiflexores. Este diferente envolvimento muscular torna-se menos claro com o avançar da doença (ARMAND, 2005). Em crianças com doenças neuromusculares, a fraqueza da musculatura respiratória, incluindo o diafragma e músculos da parede torácica, resulta em tosse ineficiente e respiração superficial (hipoventilação) (BACH, 2002). Devido à atrofia do diafragma algumas posições podem ficar limitadas, como o decúbito dorsal ou a posição inclinada, por isso deve-se ter cautela ao realizar a drenagem postural (ARAGÃO & FERREIRA, 2009). Anormalidades torácicas, como escoliose e “pectus excavatum”, são deformidades muito comuns em pacientes com doenças neuromusculares, contribuindo também para expansão pulmonar reduzida devido à restrição da parede do tórax (KENNEDY et al, 1995). A perda progressiva da força dos músculos inspiratórios nos pacientes portadores de distrofia muscular leva ao distúrbio ventilatório restritivo, e, com o tempo, esses pacientes evoluem para hipoxemia e hipercapnia noturna. Por outro lado, a perda da força muscular expiratória resulta em tosse espontânea ineficiente e acúmulo de secreção em infecções respiratórias virais comuns (FINDER, 2004). 2. OBJETIVO O presente trabalho tem por objetivo demonstrar o papel da fisioterapia como forma de suporte no tratamento da distrofia musculares de duchenne e de Becker. 3. MATERIAL E MÉTODO 10 Na presente pesquisa classifica como qualitativa descritiva e utilizou-se estudos retidos nas bases de dados: Scielo, Pub Med, Lilacs, PEDro, com os descritores: distrofia muscular de duchenne, distrofia muscular de becker, respiração artificial, ventilação não invasiva, respiração com pressão positiva nas vias aéreas. Como critérios de inclusão adotouse trabalhos que abordaram a fisiopatologia e alterações musculoesquelética da patologia em pesquisa, reabilitação musculoesquelética com ênfase no sistema respiratório e uso de ventilação não invasiva (VNI) como suporte ventilatório. Como critérios de exclusão, trabalhos que abordaram apenas a qualidade de vida dos pacientes portadores e o comportamento psicossocial mediante a patologia. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO Nas bases de dados pesquisadas foram encontrados 37 artigos com os descritores supracitos acima, porém somente 19 atenderam aos critérios de inclusão. 4.1 A Inserção da Ventilação Mecânica Não Invasiva como suporte Segundo David (2000), a fisioterapia respiratória é bastante ampla, pois, lida com a avaliação, acompanhamento e tratamento de pacientes com diversas alterações pulmonares. No tratamento da insuficiência respiratória apresenta como uma das premissas a troca gasosa pulmonar, a oxigenação tissular e a ventilação alveolar, para portadores de DMD incluem técnicas manuais que auxiliam na higiene brônquica, padrões ventilatórios profundos, e técnicas que ajudam na própria ventilação. O tratamento fisioterapêutico na insuficiência respiratória depende do quadro que o paciente apresenta (ARAGÃO & FERREIRA, 2009), mas de acordo com Birnkant (2002) os principais objetivos são prevenir acúmulo e/ou retirar secreções nas vias aéreas, melhorar a ventilação das vias aéreas, melhorar a resistência à fadiga, reduzir gastos energéticos durante a respiração, melhorar condições de expansão pulmonar, favorecer o trabalho diafragmático e manter e/ou melhorar a mobilidade torácica. Se o paciente estiver usando cadeira de rodas, é muito importante realizar alguma forma de treino da musculatura respiratória, visto que ele começará a perder capacidades e volumes pulmonares e aumentar o volume residual. Além disso, posteriormente, irá perder a eficácia da tosse (o que promoverá retenção de secreções, predispondo o aparecimento de pneumonias) e desenvolver insuficiência respiratória (COHEN, 2001). 11 A Ventilação de Pressão Positiva Não-Invasiva (NPPV) pode ser realizada com uma variedade de ventiladores diversos. Uma escolha para tratamento em domicílio é o uso de Pressão Positiva Bifásica nas Vias Aéreas (BIPAP). Quando um paciente começa a inspiração, um fluxo negativo de ar é gerado. A unidade BIPAP capta esse fluxo e transmite a pressão positiva de respiração para uma pressão limite pré- -selecionada. A respiração mecânica é sincronizada com o padrão de respiração do paciente (FONSECA, et al, 2007). Na fase em que os pacientes estão submetidos ao uso de cadeira de rodas, pode ser realizado um suporte ventilatório, chamado de ventilação não invasiva (VNI), onde pode ser ofertada pressão positiva nas vias aéreas, sendo administrada por mascaras nasais, bucais, oronasais, ou por prongas nasais, facilitando assim a entrada de ar, auxiliando a musculatura que se encontra enfraquecida. Para a obtenção da pressão positiva, o ventilador do tipo BIPAP (bilevel positive pressure airway) e o mais popular, por ser de manipulação simples, que pode ser feita pela própria família ou pelo paciente, além de ser o mais barato (LANGER, 2000). O clearance do muco e a insuflação pulmonar podem ser realizados mecanicamente, usando o método In-Exsufflator/Cough Assist. Esta técnica de respiração transmite uma pressão positiva, seguida rapidamente de uma pressão negativa (sucção) aplicada com o uso de um bocal ou máscara facial. A pressão positiva infla os pulmões, e a pressão negativa suga (aspira) secreções para fora do trato respiratório, simulando uma tosse normal. Este método terapêutico tem por finalidade melhorar o fluxo de tosse e o clearance das vias aéreas, prevenindo, consequentemente, as complicações pulmonares (BIRNKRANT, 2002). As vantagens da ventilação não invasiva com pressão positiva (VNIPP) são muitas. Ao evitar a intubação traqueal, evita as complicações a ela associadas. Proporciona maior conforto ao paciente, mantendo sua capacidade de comunicação e deglutição. Está associada a menor incidência de pneumonia quando comparada com a ventilação invasiva (MEDURI, 1996). 4.2 Aplicação da Ventilação Mecânica Não Invasiva como suporte na DMP A VNI, inicialmente, pode ser necessária apenas nos episódios gripais. Com o evoluir da fraqueza da musculatura respiratória, seu uso passa a ser necessário no período noturno e, progressivamente, o número de horas vai aumentando até atingir às 24 horas do dia. Estudos demonstram que o uso da VNI pode diminuir, significativamente, a incidência de hospitalização devido a quadros respiratórios e prolongar a vida de pacientes com distrofia muscular e outras patologias neuromusculares, em pelo menos 10 anos, sem necessidade de traqueostomia (SANTOS et al, 2005). 12 Está indicado na presença de sinais de hipoventilação alveolar e, pelo menos, um dos seguintes critérios funcionais: saturação de oxigênio ≤ de 88% por mais de 5 minutos, pressão parcial de gás carbônico (PaCO2)≥45mmHg, PImax<60cmH20 ou CV<1.200mL ou <50% do previsto (SANTOS et al, 2005). Outro recurso terapêutico bastante utilizado para os atendimentos dos portadores de DMD e a hidroterapia, onde a agua deve ser aquecida a uma temperatura de 30 a 33˚C (BATES & HANSON, 1998). A compressão exercida pela pressão hidrostática sobre a caixa torácica altera a dinâmica respiratória, fazendo com que a musculatura trabalhe constantemente contra uma resistência. Além disso, as melhores possibilidades de posicionamento, a diminuição da ação da gravidade e a temperatura da agua auxiliam nos alongamentos musculares, inclusive da musculatura acessória da respiração (GOZAL & THIRIET, 1999). A transferência de peso em diversas posturas não é um objetivo, mas sim uma conduta, pois ao transferir o peso, o paciente está fazendo um treino muscular generalizado (inclusive treinamento respiratório inespecífico). Há que se pensar, caso seja DMD, no possível aparecimento de escoliose, pela fraqueza dos músculos do tronco (que também pode provocar alterações respiratórias). A cifoescoliose é de difícil prevenção, mas, pode-se usar cintas e aparelhos de suporte. Porém, quando a criança já está na cadeira de rodas, o papel fisioterapêutico é desanimador, pois a escoliose tende a progredir rapidamente. E, caso se instale, há controvérsias quanto à realização de cirurgias corretivas (MURAHOVSCHI, 1998). O agravamento das condições respiratórias, traduzido por fadiga, dispinéia, cefaléia matinal, é sugestivo de uma possível necessidade de suporte ventilatório associado a uma pressão inspiratória máxima menor que 60 cm de água (40 cm H2O – valor obtido no caso de estudo) sugere a implementação do tratamento de BIPAP através do Sistema Home Care que proporcionaria a este paciente atendimento domiciliar, fornecendo conforto e qualidade (PORTAL FISIOTERAPIA, 2008). Os exercícios respiratórios propostos incluem motivação como “aspirar a flor” e “apagar a vela”, desde que em decúbito dorsal a 45º de inclinação, sem exceder nem o volume de reserva inspiratório (VRI), nem o volume de reserva expiratório (VRE), sem usar os músculos acessórios, nem fazer resistência à expiração (FREZZA, 2005). Terapia de respiração profunda (insuflação pulmonar) pode ser realizada manualmente no domicílio do paciente, expandindo os pulmões com ambú, ou mecanicamente, usando Respiração com Pressão Positiva Intermitente (RPPI), ou qualquer recurso similar. Com a 13 RPPI, a pressão positiva é transmitida aos pulmões do paciente através de um bocal ou máscara facial. A pressão limite é programada para atingir uma boa expansão das bases pulmonares e da caixa torácica. Não há consenso sobre quando se deve iniciar a terapia de respiração profunda. Recomenda-se a RPPI por quinze minutos, uma ou duas vezes/dia, quando os pacientes desenvolvem disfunção pulmonar severa (BIRNKRANT, 2002). CONSIDERAÇÕES FINAIS A DMD é caracterizada como progressiva, de forma que conforme o desenvolvimento da criança a doença tende a evoluir causando inúmeros problemas funcionais levando-a a utilização da cadeira de rodas, que apesar da necessidade implica no agravamento da doença, aumentando as curvaturas anormais já existe, causando problemas respiratórios intensos. Porém a DMB também trata-se de uma doença progressiva, no entanto, sua evolução caracteriza-se por ser mais lenta e tardia quando comparada a DMD. A atuação da fisioterapia respiratória associada a vários outros tratamentos funcionais necessários para evolução desse paciente é primordial para a manutenção da força muscular respiratória e de forma paralela melhorar a qualidade de vida do mesmo. O tratamento proposto através de manobras fisioterapêuticas e principalmente incentivador mostrou-se eficiente na desaceleração da doença acometendo a mecânica respiratória. Por tanto, o tratamento deve ter caráter preventivo e de apoio. É preciso lembrar que será impossível prevenir as infecções respiratórias e as deformidades durante as fases avançadas e terminais da doença, logo, de forma geral a fisioterapia respiratória tende a oferecer uma melhor qualidade de vida a estes pacientes durante a progressão da distrofia. 14 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ABDIM, Associação Brasileira de Distrofia Muscular Disponível em: http://www.abdim.org.br/dg_distrofias.php. Acessado em: 8 de Outubro de 2011. APN, Associação Portuguesa de Doentes Neuromusculares. 2007. Disponível em: http://www.apn.pt Acessado em : 28 de Novembro de 2011 ARMAND, S.; MERCIER, M.; WATELAIN, E.; PATTE, K.; PELISSIER, J.; RIVIER, F. A comparison of gait n spinal muscular atrophy, type II and Duchenne muscular dystrophy. 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