Nova droga contra distrofia muscular Cientistas realizam com sucesso 1.º teste de remédio que cancela mutação genética responsável por doença Denise Grady Pesquisadores de universidades da Holanda e da Bélgica desenvolveram um medicamento que, se vencer todas as fases de avaliação clínica, poderá ser usado no tratamento de crianças com distrofia muscular de Duchenne, uma doença genética que só atinge pessoas do sexo masculino e totaliza 250 mil casos em todo o mundo. Na média, aos 12 anos as vítimas ficam em cadeiras de rodas e com 20 a 35 anos morrem por problemas respiratórios e cardíacos. Na primeira avaliação em humanos - um estudo de segurança feito com apenas quatro meninos -, a droga estimulou no organismo dos pacientes a produção de uma proteína muscular essencial, totalmente ausente nos casos de Duchenne. Não foi produzida uma quantidade de proteína suficiente para auxiliar de fato os pacientes, mas sua mera presença é considerada pelos especialistas uma “prova de conceito”: a nova abordagem tem potencial para surtir efeito, portanto vale a pena continuar investindo. O desenvolvimento da droga experimental já consumiu mais de US$ 15 milhões. A droga, chamada de componente “antisense”, funciona por meio do cancelamento dos efeitos de certas mutações genéticas. Trata-se de uma forma sintética, alterada quimicamente, da molécula RNA, que adere à original e impede que partes dela funcionem. É similar ao DNA, que produz os genes, e ajuda a cumprir as instruções codificadas nele. Só uma droga antisense, antiviral, já chegou ao mercado. “Não acho que podemos desejar um resultado melhor para um estudo preliminar como este”, diz Sharon Hesterlee, vice-presidente da Associação de Distrofia Muscular, com sede em Tucson, Arizona (EUA). PRÓXIMAS ETAPAS Embora promissora, a pesquisa ainda tem um longo caminho pela frente. Os quatro meninos, com idades entre 10 e 13 anos, receberam apenas uma injeção no músculo da perna. Não ocorreram efeitos adversos. Mas são necessários testes clínicos mais longos - e doses muito mais altas aplicadas sistematicamente, de maneira que a droga chegue a todos os músculos - para se testar a segurança e a eficácia do medicamento. Se, após a fase mais ampla e delicada da pesquisa, for comprovado o pleno sucesso do tratamento, ele deverá ser adotado por toda a vida do paciente. 1 “Ainda estamos muito longe da primeira aplicação”, admite Gert-Jan van Ommen, chefe do departamento de genética humana do Centro Médico da Universidade Leiden (Holanda) e autor de artigo sobre a droga publicado pelo New England Journal of Medicine. A próxima rodada de testes envolverá injeções para levar a droga aos músculos de todo o corpo. Um editorial que acompanha o artigo afirma que o novo estudo “pode anunciar a alvorada da medicina molecular personalizada”, caso a nova droga possa ser usada regularmente e seja viável criar diferentes versões, para tratar centenas de mutações que geram a doença. Mas Eric Hoffman, autor do editorial e diretor do centro de pesquisa de medicina genética do Children’s National Medical Center, em Washington, pondera que a terapia antisense é uma abordagem cara. Cada série de aplicações, necessárias num intervalo de alguns meses, custa US$ 250 mil. Hoffman acrescenta, porém, que sua equipe avaliou o tratamento em cães com distrofia muscular e concluiu que ele é eficaz. 2