O Rim e as Doenças Sistêmicas Prof. Lenicio Carneiro - 2007 Doença Sistêmica Nefropatia Doença Sistêmica Doenças Sistêmicas que causam nefropatias: Hipertensão Arterial Sistêmica Diabetes Mellitus Mieloma Múltiplo Lúpus Eritematoso Sistêmico Esclerose Sistêmica Progressiva Endocardite Bacteriana Esquistossomose Mansônica Complicações das Doenças Renais Anemia Desnutrição Déficit de Crescimento Hipertensão Arterial Dislipidemia Insuficiência Cardíaca Aterosclerose Osteodistrofia Mecanismos Imunológico Ex: Lupus Eritematoso Sistêmico Esquistossomose Endocardite Infecciosa Hemodinâmico / Vascular Ex: Hipertensão Arterial Sistêmica Anemia Falciforme Vasculites Sistêmicas Metabólico Ex: Mieloma Múltiplo - Hipercalcemia Gota - Hiperuricemia Diabetes - Hiperglicemia Tóxico Ex: Anemias Hemolíticas Rabdomiólise Infiltração do Parênquima Ex: Amiloidose Linfoma Rim e Diabetes Diabetes Mellitus Diabetes Mellitus é uma doença caracterizada por um distúrbio do metabolismo dos carboidratos e cursa com níveis elevados de glicose sérica e leva a complicações agudas e crônicas. Diabetes Tipo 1 Caracteriza-se pela ausência completa ou quase completa de insulina devido à destruição (geralmente auto-imune) das células beta das ilhotas pancreáticas Diabetes tipo 2 A hiperglicemia crônica é causada por uma resistência tecidual à insulina associada a uma baixa sensibilidade das células beta à glicose Complicações Agudas Cetoacidose Diabética Estado Hiperosmolar Não-cetótico Complicações Renais Insuficiência Renal Aguda Pré-renal Necrose Tubular Aguda Manifestações Renais Crônicas do Diabetes Glicosúria por Hiperglicemia Poliúria Acidose Tubular Renal tipo IV Nefropatia por contraste Nefropatia Diabética Nefropatia Diabética Complicação renal crônica do diabetes mellitus que cursa com lesão glomerular, proteinúria progressiva e alterações na filtração glomerular, associado a lesões histológicas específicas. No mundo todo é a principal causa de DRC em estágio terminal 10-20% dos DM tipo 2 e 20-40% dos DM tipo 1 vão cursar com envolvimento renal A doença renal pode interferir no tratamento do diabetes e de suas comorbidades A lesão renal se desenvolve depois de cerca de 10 anos do início do diabetes Raramente se inicia depois de 20 anos Geralmente já estão presentes lesões de Retinopatia Diabética As principais estruturas renais danificadas pelo diabetes são os Glomérulos Espessamento da Membrana Basal do Capilar Glomerular Esclerose Glomerular Progressiva Expansão Mesangial Acelular (PAS positivo) Glomeruloesclerose Difusa ( + comum) Glomeruloesclerose Nodular ( + Específica) Nódulo de Kimmelstiel-Wilson Classificação Estágio I - Fase Inicial Aumento do Fluxo Sangüíneo Renal e do Ritmo de Filtração Glomerular Hipertrofia glomerular Aumento do volume renal Controle glicêmico estrito pode prevenir as lesões Estágio II - Fase Silenciosa Microalbuminúria após exercícios Estágio III - Fase Incipiente Microalbuminúria persistente Albuminúria entre 30-300mg/24h Lesão histológica presente A pesquisa anual de microalbuminúria é essencial para o diagnóstico precoce Estágio III - Fase Incipiente Evolui para fases mais avançadas com freqüência maior no DM tipo 1 Fator de risco cardiovascular independente Estágio IV - Nefropatia Clínica Proteinúria > 300mg/24h detectável no dipstick Mais de 10 anos de doença HAS, Obesidade, dislipidemia são freqüentes Estágio IV - Nefropatia Clínica Alta freqüência de eventos cardiovasculares Diminuição progressiva do RFG Aumento progressivo da proteinúria Estágio V - Rins Terminais Clearance de Creatinina < 10ml/min Evolução para síndrome urêmica Necessidade de Terapia Substitutiva Renal Fatores de Risco Controle Glicêmico Inadequado Duração do Diabetes HAS Hipercolesterolemia Tabagismo Retinopatia diabética História familiar Tratamento Controle Glicêmico Estrito Pode reverter parcialmente a hipertrofia glomerular e a hiperfiltração Pode retardar o início da microalbuminúria ou estabilizá-la Não é certo se tem efeito sobre proteinúria declarada Manter a Hb glicosilada < ou = 7% Controle da HAS Previne a microalbuminúria Diminui a proteinúria Diminui a velocidade da queda do RFG Diminui a mortalidade em portadores de nefropatia clínica PA alvo < 130 x 80mmHg ou < 120 x 75 se proteinúria importante Inibidores da ECA e ARA II Previnem a evolução da microalbuminúria Diminuem a proteinúria Lentificam a progressão da doença Úteis mesmo em normotensos Efeito incerto na profilaxia primária Restrição Proteica Retarda a progressão da proteinúria Parece retardar a perda de função renal Levar em conta questões nutricionais Recomenda-se 0,8g/kg/dia Outras Medidas Parar de fumar Controlar o peso Tratar a dislipidemia Estágios IV e V Tratamento conservador da IRC Terapia Dialítica Transplante Renal Tratamento Conservador IRC Anemia Acidose metabólica Distúrbios do cálcio e do fósforo Controle volêmico Terapia Dialítica Indicação mais precoce que em IRC de outras etiologias (ClCr = 20ml/min) Menor sobrevida em diálise Transplante Renal Tendência a melhor sobrevida que na diálise Muitos pacientes não são bons candidatos cirúrgicos Recorrência comum no enxerto Rara a perda do enxerto Benefício do transplante rim-pâncreas Rim e Lúpus O Que é Lúpus? Doença auto-imune crônica Focos inflamatórios em vários sistemas Distúrbio da imunidade humoral Períodos de remissão e exacerbação Que órgãos são mais afetados? Pele SNC Atriculações Serosas Rim Que outros órgãos podem ser atingidos? Olhos Coração Pulmão Sangue Vasos Sangüíneos Et cetera 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. Como eu dou o diagnóstico? Rash Malar Rash Discóide Fotossensibilidade Úlceras orais Artrite não erosiva Serosite (pleurite ou pericardite) Distúrbio renal Distúrbio neurológico (convulsão ou Psicose) Como eu dou o diagnóstico? 9. Distúrbios hematológicos Anemia hemolítica auto-imune Leucopenia < 4000 Linfopenia < 1500 Plaquetopenia < 100.000 Como eu dou o diagnóstico? 10.Distúrbio Imunológico Anti-DNA + Anti-Sm + Anticorpo antifosfolipídeo + VDRL falso-positivo 11.FAN Positivo Qual o critério renal do LES? Proteinúria Cilindrúria Persistente >0.5g/dia > 3+ Hemáticos Leucocitários Granulares De que formas o LES afeta o Rim? Glomerulopatia Vasculite Nefrite Intersticial Nefrite Intersticial Isolada ou associada a glomerulopatias Disfunção renal + sumário normal Alterações da função tubular: - Glicosúria - Aminoacidúria - ATR Vasculites Depósitos vasculares imunes Vasculopatia necrosante não inflamatória Microangiopatia trombótica Arterite necrosante Nefrite Lúpica Acometimento Glomerular Diagnosticado em 50-75% dos pctes Pode estar presente em até 90% Amplo espectro de gravidade Aumenta a morbi-mortalidade do LES 20% evoluem para IRC Responde por 1.2% dos pctes em diálise Patogênese: Hiperatividade dos Linfócito B Defeito regulatório de linfócitos T Ativação autógena de linfócitos B Outras disfunções da imunorregulação Patogênese Formação de Auto-anticorpos Anti-DNA de hélice simples ou dupla Anti-ribonucleoproteínas Anti-Histonas Anti-proteínas da matriz extracelular - Laminina - Colágeno tipo IV - Heparan sulfato Patogênese Deposição crônica de imunocomplexos circulantes A localização dos depósitos depende de: - Tamanho, carga elétrica - Avidez dos complexos - Capacidade de clareamento do mesângio Patogênese Ativação da Cascata do Complemento Ativação de Fatores Pró-coagulantes Infiltração de Leucócitos inflamação Liberação de Enzimas Proteolíticas Liberação de Citocinas Classificação Histológica Histologia Clínica Classe I Classe II Classe III Classe IV Classe V Classe VI Classe I Alterações Mesangiais Mínimas Glomérulos normais à Microscopia óptica Depósitos imunes na região mesangial (vistos à Imunoflorescência) Clinicamente assintomática Pode haver: - Hematúria leve - Proteinúria < 1.0 g/d Classe II Alterações Proliferativas Mesangiais Hipercelularidade mesangial à M.O. Depósitos imunes mesangiais à IMF Proteinúria e hematúria discretas Função renal normal Transformação p/ GN difusa em 20% Classe III GN Proliferativa Focal Proliferação inflamatória focal em < 50% dos glomérulos Depósitos imunes subendoteliais Lesões endocapilar proliferativas Lesões cicatriciais (inativas) Prognóstico semelhante ao da classe IV Classe IV GN Proliferativa Difusa Processo inflamatório difuso em > 50% dos glomérulos Pode ser difusa segmentar (IV-S) ou difusa global (IV-G) Depósitos imunes subendoteliais IMF: IgG, IgA, IgM, C1q, C4, C3, complexo de ataque à membrana C5b-9 Necrose fibrinóide, infiltração de neutrófilos, Classe IV GN Proliferativa Difusa Classe histológica mais encontrada em biópsias Proteinúria nefrótica é comum Hematúria Perda de função renal Ocasionalmente, quadro de GN crescente com IRA rapidamente progressiva Classe V GN Lúpica Membranosa Depósitos imunes predominantemente subepiteliais Hipercelularidade mesangial com depósitos de imunoglobulinas e complemento Membrana basal espessada e com espículas à coloração pela prata Síndromes nefrótica + FR preservada Hematúria micro é freqüente Classe VI GN Esclerosante Avançada Lesões cicatriciais avançadas em mais de 90% dos glomérulos Sem possibilidade de regressão histológica Insuficiência Renal Crônica Manifestações Clínicas Dependem da natureza e da gravidade das lesões histológicas subjacentes As alterações urinárias ou funcionais são concomitantes com outros sintomas sistêmicos Nefrite pode ser a manifestação inicial do LES Há uma boa correlação entre a classe histológica e o envolvimento renal Classe II Sedimento urinário pouco ativo Proteinúria < 1g Função renal normal Testes sorológicos alterados - Anti-DNAds - Complemento Classe III Hematúria/cilindros hemáticos em 50% dos casos Proteinúria (nefrótica em 30%) Hipertensão arterial freqüente Classe IV 75% têm sedimento alterado Síndrome nefrótica em > 50% Insuficiência renal moderada é comum Perda rápida da FR em 20% Classe V Síndrome nefrótica com FR preservada Sedimento ativo e HAS podem estar presentes Pode haver trombose de veia renal - aumento da proteinúria - diminuição do RFG - tromboembolismo pulmonar A médio prazo é comum a transformação de uma classe histológica em outra 25% vão progredir para IR terminal apesar do tratamento adequado Prognóstico em diálise semelhante ao de outras etiologias Manifestações sorológicas costumam remitir na fase dialítica Transplante renal costuma ser bem sucedido Recorrência no rim transplantado é rara Laboratório Detecção precoce das exacerbações é importante para o uso correto de drogas imunossupressoras Algumas alterações laboratoriais podem preceder em meses o envolvimento clínico renal Vários testes sorológicos estão altrados nos surtos de atividade lúpica: VSH, PCR, citocinas, imunocomplexos, frações do complemento, etc Testes com maior valor preditivo de atividade lúpica são: - Títulos de anti-DNAds - C3, CH50 Aumento de proteinúria e reaparecimento de hematúria indicam: - Surto de inflamação glomerular - Mudança de classe histológica Tratamento & Prognóstico Classe Histológica Função Renal Índice Atividade/ Cronicidade Classe II Não precisam de tratamento específico para a lesão renal Terapêutica direcionada para as lesões extra-renais: - Corticóides em doses baixas - Antimaláricos Classe II Sobrevida renal de 85% em 10 anos Transformação para classe mais ativa em 20-30% dos casos Classes III e IV Prognósticos e manifestações clínicas semelhantes Tratamento com corticóides em doses elevadas e citostáticos por tempo prolongado Pulsos mensais de metilprednisolona e ciclofosfamida Prednisona em doses altas com desmame lento Classe V Prognóstico de longo prazo é bom Remissão total ou parcial da proteinúria em 50% dos pacientes em 3-5 anos Terapêutica conservadora na maioria Assintomáticos com proteinúria não nefrótica não precisam de imunossupressão para a doença renal Classe V Na síndrome nefrótica não complicada: - Ciclosporina por 4-6 meses - Prednisona em doses baixas Na síndrome nefrótica avançada, mesmo esquema das formas proliferativas Controle de Longo Prazo Azatioprina, Micofenolato de Mofetil Rituximab Inibidores da ECA Estatinas