O uso da furosemida é benéfico no tratamento da lesão renal aguda na população Pediátrica incluindo neonatos? Apresentação: Isabela Testi, Paula Migowski Coordenação: Paulo R. Margotto Faculdade de Medicina da Universidade Católica de Brasília Internato- 6ª Série- Neonatologia-HMIB/SES/DF www.paulomargotto.com.br Brasília, 8 de outubro de 2016 Cenário 1 • Menino, 2 anos com quadro de diarreia associada a vômitos e oligúria. Ao exame apresentava sinais de desidratação. • Foi feita reposição volêmica adequada porém não houve alteração da diurese. • Hemograma + bioquímica + EAS confirmaram Injúria Renal Aguda (IRA). • O uso de furosemida pode ajudar na reversão da oligúria, diminuição da necessidade de diálise e prevenção da insuficiência renal a longo prazo? Pergunta Clínica • Em populações pediátricas com IRA (incluindo o recém-nascido) é adequada a administração de furosemida EV subsequente a reposição volêmica em comparação a uma abordagem expectante em relação as complicações renais a curto e longo prazo? Estratégia de busca e resultado • Não foi encontrado nenhum comentário relevante na Biblioteca Cochrane. • Busca no Medline e Embase realizada em outubro de 2014 encontrou 1023 títulos utilizando as seguintes palavras-chave: “ACUTE KIDNEY INJURY” ou “acute renal failure” ou “furosemide” + Age Groups: Newborn Infant birth to 1 month ou Infant 1 to 23 months ou Preschool Child 2 to 5 years + ANOXIA ou HYPOXI OU ISCHEMIA • 329 resumos e 19 completos. • 12 foram referenciados no final do artigo. • 5 outros artigos foram encontrados das referências dos 19 originais. • Limitação do número de estudos pediátricos. • Foi realizada uma pesquisa separada, Embase e Medline, não usando nenhum limite de idade • Recente estudo de metanálise olhando para o uso de furosemida em IRA em adultos que foi concluído em 2006. • Uma outra pesquisa relacionada a todos os estudos relevantes (incluindo todas as idades) a partir de 2006. • Dos 1023 títulos identificados, 329 resumos e 19 completos. Destes, 12 foram referenciados no final do artigo. Outros 5 artigos relevantes foram identificados a partir da listas de referência do original 19. Os sumários estão na Tabela 1 Comentários • Injúria Renal Aguda (IRA): • • • • É relativamente comum em recém-nascidos (RN) e crianças8. Elevação dos níveis séricos de creatinina e outras escórias nitrogenadas8. Incidência global de 0.8 por 100000 – maior no período neonatal8. Causas pré-renais (hipotensão, hipovolemia) e danos devido a isquemia e nefrotoxinas são mais comuns8. • Causas pós-renais (obstrução ao fluxo de urina) são incomuns8. Comentários • Furosemida: • Diurético de alça de curta ação que atua no ramo ascendente da alça de Henle.9 • O efeito líquido da furosemida é criar maior osmolalidade intraluminal e redução da pressão osmótica intersticial medular, resultando em um aumento da excreção de sal e água. 9 • Essa é a hipótese de que ele auxilia no aumento da excreção de sal e água e também, ao fazê-lo, reduz o gasto de energia e, consequentemente, a necessidade de oxigênio e unidades de apuramento de detritos através do aumento do fluxo sanguíneo. 9 • Em face de tal forte hipótese fisiológica a respeito de porque a furosemida deve funcionar na IRA, Karajala et al9 sugeriram uma explicação fisiológica por que motivo isso aparentemente não é apoiada por evidência clínica. Comentários • Furosemida: • Em primeiro lugar, a furosemida diminui o volume circulante efetivo, portanto, potencialmente resultando em diminuição do fluxo sanguíneo renal e diminuição do TFG na presença de diurese induzida por furosemida que podem distrair médicos de realização de outras medidas corretivas, como melhorar o estado do volume ou o aumento do débito cardíaco ou da pressão de perfusão.10 • Vários clínicos pediátricos e neonatais clínicos tem usado a furosemida no tratamento de IRA.8,9,11-15 O mais recente Guideline da IRA – Kidney Disease: improving Global Outcomes (KDIGO): • Não sugerimos o uso de diuréticos para tratar IRA, exceto se sobrecarga de volume. • Dado o potencial de reduzir a sobrecarga de líquido, mas também pode piorar a função renal e eventualmente, causar lesão renal, mais estudos são necessários para esclarecer a segurança de diuréticos de alça no tratamento de doentes com IRA”.16 Conclusões • Embora comumente usado em IRA há pouco consenso sobre a indicação para uso furosemida. • Há consenso que é contra-indicado em hipovolemia, amplamente aplicado em sobrecarga de volume e usado seletivamente em pacientes euvolêmicos. Isto também é prática comum para tentar converter IRA oligúrica a não oligúrica usando diuréticos.17 • Vários dados disponíveis sugerem que diuréticos de alça podem realmente aumentar a mortalidade em pacientes adultos com IRA, enquanto outros dados sugerem nenhum dano. 16 • Dois estudos em adultos (metanálises) confirmaram nenhuma evidência de melhoria na mortalidade com apenas uma vantagem na diminuição para a subsequente terapia de substituição da função renal (em um dos estudos).4.6 • Desde que a furosemida atua inibindo o transporte ativo no ramo ascendente da alça de Henle, o aumento da produção de urina após a administração do fármaco pode apenas ocorre na presença de alguns resíduos de filtração glomerular e lesão tubular insignificante. • Assim, uma resposta diurética para furosemida pode servir como um sinal de prognóstico em relação à gravidade da lesão renal e qualquer potencial benefício terapêutico é susceptível de ser limitado aos pacientes com a capacidade de respondem à droga • O uso de furosemida em adultos com IRA não altera mortalidade ou necessidade de diálise renal, mas pode reduzir o tempo de diálise, se necessário (grau A). • ▸ uso de furosemida em crianças com IRA é amplamente baseado em dados de mecanismo e não há nenhuma base de forte evidência que apóia a sua utilização (Grau D). • ▸ A única justificativa para administrar furosemida é para o gerenciamento de sobrecarga de líquidos em pacientes não dialisados em vista das limitadas opções de tratamento disponíveis , embora não altere o resultado global (Grau D) Nota do Editor do site, Dr. Paulo R. Margotto Consultem também! Aqui e Agora! Tratamento da asfixia perinatal com teofilina ao nascer ajuda a reduzir a severidade da disfunção renal nos neonatos a termo Raina A, Pandita Harish R, Yachha M, Jamwal A. Apresentação:Camila Valadares Recch, Sylvia Chicarino, Vinicius Lourenço de Faria, Paulo R. Margotto • Estudos têm demonstrado que a adenosina tem uma atuação renal vasoconstritora após a hipoxemia; causa vasoconstrição préglomerular e vasodilatação pós glomerular, contribuindo dessa forma para uma queda na taxa de filtração glomerular (TFG), especialmente nos cinco primeiros dias de vida. Esta vasoconstrição pré-glomerular pode ser inibida por antagonistas dos receptores de adenosina não específicos, como a teofilina. • As diretrizes do Kidney Disease Improving Global Outcomes 2012 (KDIGO) sugerem que uma dose única de teofilina pode ser dada em recém-nascidos com asfixia perinatal grave, que estão em alto risco de desenvolver lesão renal aguda • Neste estudo (Um total de 159 pacientes preencheram os critérios de inclusão de asfixia perinatal: 78 recém-nascidos foram inscrito no grupo teofilina e 81 foram incluídos no grupo do placebo) o tratamento de recém-nascidos a termo com asfixia perinatal grave com uma dose única de teofilina (5mg / kg) na primeira hora pósnatal foi benéfica. • Houve uma diminuição significativa com relação ao grupo placebo da: • Creatinina sérica • Hematúria • Proteinúria Conclusão: • Teofilina desempenha um papel benéfico nas lesões renais causadas por asfixia. • Estudos prospectivos multicêntricos adicionais são necessários, especialmente aqueles que incidem sobre o uso de hipotermia terapêutica. • Ao considerar os resultados do presente estudo e os dos trabalhos anteriores realizados em todo o mundo, recomendamos que uma única dose de teofilina pode ser considerada para todos os bebês com asfixia grave com objetivo de melhorar disfunção renal. Diálise peritoneal Marsha M. Lee, Annabelle N. Chua,Peter D. Yorgin. Apresentação:Marília Carolinna Milhomem • DP é um modo básico, racional e viável de diálise para RN que têm insuficiência renal. • Em casos agudos , DP contínua é um método tecnicamente simples realizado em UTIN em RN com IRA promovendo remoção de solutos e fluidos e realizando correção de distúrbios eletrolíticos com menos risco de instabilidade hemodinâmica. • Do lado de fora do hospital, DP é um modo prático de • diálise para crianças que têm insuficiência renal crônica • e permite uma terapia diária de substituição renal Link Para Download: https://drive.google.com/open?id=0B5b9fOW0rJ3SRkRpUFMwVUxJZjA Injúria renal aguda Autor(es): Paulo R. Margotto, Márcia Pimentel de Castro • Uréia e creatinina • São produzidas endogenamente e excretadas na urina primariamente por filtração glomerular. A uréia é produzida no fígado como produto final do ciclo ornitina-arginina-uréia e novamente é reabsorvida a nível tubular na proporção de 30% da concentração filtrada. A creatinina é produto final da degradação da creatina encontrada no músculo esquelético sendo, portanto, proporcional à massa muscular. A excreção por filtração é igual à produção, mantendo-se constante o nível sérico. • Ao nascimento refletem os valores maternos, até por volta de 48 horas de vida. Na IRA a uréia está em níveis superiores a 28 mg%, e a creatinina acima de 1 mg% (níveis médios normais de creatinina: 0,75 mg% e a partir dos 7 dias de vida: 0,68 mg%: nos RN abaixo de 29 semanas e peso <1000g, existe um retardo do decréscimo da creatinina sérica, em relação aos RN de 29 a 32 semanas que se estende até por volta do 6º dia de vida, segundo Auron A e MJ Mhanna-vide figuras a seguir). E mais... DISTÚRBIOS RENAIS • Alguns fatores podem determinar o aumento de uréia: dieta rica em proteínas, oferta aumentada de proteínas na Nutrição Parenteral Total (NPT), hemorragia gastrintestinal e desidratação, por exemplo. Portanto, não é o melhor indicador para avaliar a função renal. A creatinina expressa a função tubular, uma vez que é secretada pelo túbulo e não mais reabsorvida. O aumento de creatinina da ordem de 0,5mg% dia indica uma redução severa da TFG. Quando a creatinina sérica dobra, a TFG cai 50%%. Quando a relação uréia/creatinina é maior que 20, deve-se suspeitar de um aumento da produção de uréia ou aumento de sua reabsorção a nível tubular. Condições que resultam em diminuição do volume intravascular acarretam um aumento da reabsorção tubular de água e de uréia, sem alteração significativa da função glomerular. • • • • Uso do diurético: Furosemida possui uma base fisiopatológica para ser usada na IRA. É uma sulfonamida, cujo sítio de ação primário é o ramo ascendente da alça de Henle. A droga se liga fortemente às proteínas (98%), e apenas uma pequena parte é filtrada pelo glomérulo. O seu efeito farmacológico não é percebido até que ela atinja o túbulo proximal (seja secretada). No interior do túbulo (lúmen) ela age inibindo a reabsorção ativa de Na+ , K+ e Cl-. O acúmulo desses íons afeta a carga ao nível de membrana, inibindo a reabsorção passiva de potássio, cálcio e magnésio. Ela também atua inibindo a reabsorção de NaCl a nível de túbulo proximal e distal por mecanismos indeterminados envolvendo a anidrase carbônica. Uma vez reduzindo o transporte ativo, furosemida tem um efeito protetor, pois reduz o consumo de O2 e a energia gasta pelas células tubulares, que estão vulneráveis ou já danificadas. Antes do seu uso, especial atenção deve ser dada à correção da hipotensão e da acidose importante. A droga deve ser administrada preferencialmente por via endovenosa, e a resposta diurética pode ser vista em 2 –5 minutos após a infusão, com pico de 30 minutos (com função renal preservada). Na IRA, depois de uma dose adequada, a resposta pode ocorrer em 2 – 4 h. Dose recomendada in bolus: 0,5 a 1 mg/Kg. -Para RN com IG >= 32 semanas, a droga deve ser administrada a cada 12 horas -Para RN < 32 semanas, a droga deve ser administrada de 24/24 horas, devido a meia vida longa. Assim, o risco de ototoxicidade pode ser evitado. • Infusão contínua ou de horário? Estudos em pós-operatório de cirurgia cardíaca em RN demonstraram que infusão contínua é segura e melhora o débito urinário. Em pacientes com IRA não há indicação para infusão contínua a menos que haja resposta depois de uma dose inicial de furosemida in bolus. Dose inicial: 0,1 mg/Kg/hora. Considerando-se o conhecimento sobre a liberação e ação da droga na IRA, a administração in bolus é mais comumente utilizada Obrigado!! Ddos Isabela, Nayra, (Dr. Paulo R. Margotto), André e Paula