SÍNDROME DO DESCONFORTO RESPIRATÓRIO AGUDO: ATUALIDADES Harrison Carlos da Silva¹, Rodrigo Martins Tadine² RESUMO: A síndrome do Desconforto Respiratório agudo (SDRA) manifestase como resposta excessiva a inflamação pulmonar aguda. O objetivo foi realizar a revisão bibliográfica, em busca das atuais estratégias, métodos e técnicas de assistência ventilatória para o tratamento da (SDRA). Os descritores: Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo, Estratégia Protetora de Ventilação Mecânica, Monitorização Pulmonar, foram buscados na MEDLINE, SciELO, BIREME, LILACS. No congresso de Berlin, ficou estabelecido uma nova definição para a síndrome. O (TIE) equipamento capaz de reproduzir 50 imagens por segundo permite realizar diagnóstico, monitorização pulmonar continua. A ECMO mostra-se um mecanismo mais seguro no tratamento da (SDRA). Tem-se observado avanços no tratamento, as melhorias tecnológicas de equipamentos estão proporcionando maiores possibilidades de sobrevida aos pacientes. Palavras Chaves: síndrome do desconforto respiratório agudo; estratégia protetora de ventilação mecânica; monitorização pulmonar. ¹ Fisioterapeuta: Pós-graduado em Fisioterapia Hospitalar – REDENTOR. Mestrando em Terapia Intensiva pela Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva – SOBRATI. ² Fisioterapeuta: Doutor pela Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva SOBRATI. Autor para correspondência: Harrison Carlos da Silva. Presidente Afonso Penna 457. Morada do Sol. Cuiabá (MT) CEP: 78043-505 [email protected] 1 ACUTE RESPIRATORY DISTRESS SYNDROME: CURRENT AFFAIRS ABSTRACT: The acute respiratory distress syndrome (ARDS) manifests as excessive response to acute lung inflammation. The objective: was to conduct a literature review in search of current strategies, methods and techniques of assisted ventilation to treat (ARDS). The descriptors: Acute Respiratory Distress Syndrome, Protective Mechanical Ventilation Strategy, Monitoring Pulmonary, were searched in MEDLINE, SciELO, BIREME, LILACS. At the Congress of Berlin, was established a new definition for the syndrome. The (TIE) equipment capable of reproducing 50 images per second allows for diagnosis, monitoring lung continues. ECMO is shown a more secure mechanism for the treatment of syndrome (ARDS). It has been noted advances in treatment, technological improvements in equipment are providing greater possibilities of survival for patients. Key-words: acute respiratory distress syndrome; protective mechanical ventilator strategy; pulmonary monitoring. 2 INTRODUÇÃO A síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA) é a forma mais grave da lesão pulmonar aguda (LPA), evidenciada por falência respiratória aguda, infiltrados difusos bilateral na radiografia de tórax e redução da relação P / F (pressão parcial de oxigênio / fração inspiratória de oxigênio). Estima-se que aproximadamente 7% dos pacientes admitidos na unidade de terapia intensiva desenvolvem esta síndrome, com mortalidade em torno de 40% dos casos 1. Realizar o diagnóstico precoce é de suma importância no tratamento da SDRA, realizado precocemente através de sinais clínicos, e exames complementares como: gasometria arterial, radiografia de tórax, tomografia computadorizada e ecocardiograma, possibilita recuperação dos pacientes acometidos pela doença em torno de 70% 4. Com o entendimento da patogênese, a intervenção nas primeiras 72 horas determinará o sucesso do tratamento, esse período é caracterizado como fase exudativa, ocorre formação de edema intersticial e alveolar, causando atelectasia. Nesta fase ainda não ocorre deposição de colágeno e miofibroblastos que alteram a estrutura alveolar. A aplicação de pressões positivas nesta fase ameniza o processo fisiopatológico 11. A evolução tecnológica dos ventiladores mecânicos microprocessados, melhorou consideravelmente a monitorização da mecânica respiratória nas unidades de terapia intensiva (UTI). Possibilitam intervenções em tempo real em uma série de parâmetros, com mais segurança e sincronia para o paciente. Através dos gráficos e alarmes que auxiliam na monitorização, as manobras de recrutamento alveolar puderam ser realizadas de forma menos lesivas e mais protetoras na última década 6. A aplicação de um protocolo de estratégia de ventilação mecânica, é relevante para proporcionar uma ventilação mais adequada, evitar shunt pulmonar, atelectasia, diminuir os efeitos adversos da lesão induzida pela ventilação mecânica, prevenir infecções advindas do aparelho e aumentar as chances de um bom prognóstico 7. 3 Além das estratégias existentes no tratamento da SDRA, novos métodos de tratamento vêm sendo utilizados com resultados significantes: a tomografia por impedância elétrica (TIE), em estudo experimental proporcionou eficácia no diagnóstico e monitorização pulmonar, com baixo custo a beira leito 2. Outra técnica que foi aperfeiçoada tecnologicamente (ECMO), oxigenação extracorpórea por membrana, dispositivo que realiza trocas gasosas externas, permite auxílio na recuperação do processo patológico pulmonar, também é considerada como terapia de resgate para pacientes com hipoxemia refrataria grave 3. O objetivo do estudo foi realizar a revisão bibliográfica, em busca das atuais estratégias, métodos e técnicas de assistência ventilatória para o tratamento da Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo. METODOLOGIA O método utilizado foi pesquisa bibliográfica, realizando levantamento do que já se produziu sobre o assunto. A busca ocorreu no período de janeiro a julho de 2012. Os descritores foram: Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo, Estratégia Protetora de Ventilação Mecânica, Monitorização Pulmonar. As bases de dados MEDLINE, SCIELO, BIREME, LILACS, além de livros, anais de congresso, periódicos impressos e site da internet, relacionada ao tema foram consultados. Após análise somente 26 referências foram incluídas por estarem publicadas na íntegra e serem pertinente ao tema proposto. DISCUSSÃO Definição: O conceito da Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo foi definido na Conferência Americana e Europeia de Consenso em SDRA em 1994. 4 A síndrome caracteriza-se por hipoxemia aguda grave refratária a oxigênio, infiltrados difusos bilateral observado na radiografia de tórax, relação PaO2/FiO2 ≤ 200 mmHg, (PCP) Pressão Capilar Pulmonar < 18 mmHg sem presença de hipertensão arterial esquerda, verificado através do estudo ecocardiográfico 4. Em maio de 2012, no congresso europeu de SDRA, realizado em Berlin na Alemanha, ficou estabelecido uma nova definição para a síndrome 5. 1. Tempo: inicio em no máximo uma semana após o insulto agudo ou piora dos sintomas respiratórios. 2. Imagem: opacidades bilaterais, que não se explicam somente por derrame pleural, nódulos ou atelectasia (sugere-se fazer radiografia simples ou tomografia computadorizada), 3 ou 4 quadrantes acometidos sugere-se quadro grave. 3. Origem do edema: afastar origem cardíaca ou hiper-hidratação, preferencialmente com método objetivo ( ex: ecocardiograma) 4. Oxigenação: relação PaO2 / FiO2 ( 201- 300) leve; (101- 200) moderada; e grave ( menor que 100 mmHg), associada a uso de PEEP ≥ 5 cmH2O. De acordo com a nova definição os estudos que já foram realizados os pacientes que desenvolveram a síndrome se enquadrariam: 22% leve; 50% moderada; 28% grave. O índice de mortalidade aumenta de acordo com a gravidade 27% leve, 32% moderada, 45% grave. A progressão da piora na primeira semana de leve para moderada ocorre em 29% dos pacientes e de moderada para grave 13% 5. Fisiopatologia: Em decorrência de uma inflamação aguda o organismo aumenta a produção de neutrófilos e mecanismos pró-inflamatório que iniciam ou exacerbam a resposta inflamatória em pacientes com SDRA. A lesão inflamatória difusa ocorre devido a liberação excessiva de endotoxinas; inicialmente são produzidas (fator de necrose tumoral alfa) TNF- α e 5 ( interleucina 1β) IL -1 responsáveis pela inflamação aguda, desencadeando extravazamento de líquido protéico para o espaço alveolar, diminuição da atividade dos pneumócitos tipo I e II, que altera a função do surfactante promovendo o aumento da tensão superficial alveolar, causando atelectasia e redução da complacência pulmonar 8. As citocinas Interleucina 6 (IL-6) e Interleucina 8 (IL-8), são predominantes no segundo momento, regulam a produção de colágeno a proliferação de fibroblastos. Baixos níveis de citocina no pulmão mantém a integridade celular funcional para resolução de processos inflamatórios, no entanto, a excessiva liberação sistêmica das citocinas provoca como consequência lesão endotelial alveolar 8. Fatores Causais: Os agentes causadores da SDRA podem ser diretos como: broncoaspiração, pneumonia e contusão pulmonar. E indiretos: sepse, politraumatismo, pancreatite aguda, transfusões etc. Estudo de coorte prospectivo com 1.113 pacientes com SDRA, demonstrou-se que o principal fator de risco é a sepse de foco pulmonar (46%), em seguida sepse de outra origem (33%) seguidos de aspiração de conteúdo gástrico (11%), politraumas, múltiplas transfusões e pancreatite (3%) respectivamente entre outras em porcentagens decrescente 9. Outros fatores de comorbidade relacionados à incidência da SDRA estão: etilismo crônico; provoca a diminuição da produção de glutamina, antioxidante protetor do epitélio, e a obesidade que está relacionada ao estado de inflamação e estresse oxidativo excessivo com maior produção de citocinas inflamatórias. Por outro lado, o diabetes mellitus associa-se a redução do risco devido aos neutrófilos terem menor adesão ao endotélio, liberando menor quantidade de citocinas inflamatórias 9. A genética molecular vem sendo usada como outro modo de identificar populações de risco, existem evidências de que o polimorfismo gênico é variante para o desenvolvimento da SDRA em pelo menos 1% da população mundial. Esses genes pode influenciar na suscetibilidade da doença, 6 intensidade da inflamação, necessidade de tratamento especifico, prognóstico e mortalidade. O polimorfismo do gene FNT- α aumenta a mortalidade, o do gene IL- 6, aumenta a suscetibilidade da doença e o polimorfismo do gene IL- 8 aumenta o tempo de ventilação mecânica 10. Incidência / Tratamento: Estima-se que ocorrem aproximadamente 75 novos casos a cada 100 mil habitantes por ano ( EUA), com mortalidade entre 30% e 60%. Como não existe tratamento específico para SDRA, o manejo da doença baseia-se no controle dos fatores causais, como por exemplo, nos pacientes com quadro de choque séptico devem ser imediatamente tratados com antibióticos e reposição volumétrica. Da mesma maneira doentes com infecções de foco abdominal, receber intervenção cirúrgica quando indicado 11. A hipoxemia grave está presente em todos os casos devido ao edema epitelial, colapsos alveolares e redução da mecânica pulmonar. A oxigenoterapia utilizada por máscaras e aparelhos de ventilação mecânica não invasiva durante a insuficiência respiratória inicial, apenas proporcionará alívio temporário, não devendo retardar a instituição da ventilação mecânica invasiva, o seu prolongamento levará o paciente a falência respiratória 12. O pulmão em condições normais em contato com elevadas doses de oxigênio podem suportar dias sem grandes agravos para o organismo, entretanto a toxicidade causada pelos radicais livres e substâncias reativas em quantidades moderas de oxigenação, quando associados a lesão tecidual podem causar danos irrepavéis ao tecido pulmonar 12. Estratégia protetora: No 3° consenso de ventilação mecânica, ficou sugerido que estratégia protetora de ventilação utilize modo pressórico (PCV) volume corrente ≤ 6 ml/kg do peso corporal predito, com pressão platô ≤ 30 cmH2O, não inverter a relação I : E para não aumentar a pressão média de via aérea, FIO 2 ≤ 60% para manter PaO2 ≥ 60 mmHg ou Sat O2 ≥ 90%. O mesmo autor descreve ainda, que pacientes com SDRA ventilados com volume corrente ≤ 6 ml/kg do 7 peso predito,com pressão platô ≤ 30 cmH2O, obtiveram menor taxa de mortalidade comparados com paciente ventilados com 12 ml/kg de volume corrente com pressão platô ≤ 30 cmH2O 13. O uso da estratégia protetora na SDRA caracteriza-se por aplicação de baixo volume corrente, embora o baixo volume excessivo possa provocar o desrecrutamento alveolar com abertura e fechamento cíclico da ventilação mecânica. Por este motivo a PEEP (pressão expiratória final positiva) é importante e benéfica para o tratamento da doença, níveis mais elevados de PEEP evita maiores concentrações de oxigênio 14. PEEP: Em sua publicação Briel 13, descreveu que coletaram dados de paciente com SDRA durante uma semana de tratamento com diferentes níveis de platô abaixo de 30 cmH2O, fração inspirada de oxigênio, PEEP alta e baixa. O grupo em que se encontrou PEEP menos elevada, os níveis de oxigenação eram mais altos predispondo a toxicidade. O grupo com SDRA que utilizaram PEEP mais altas tiveram redução da mortalidade em (32.8%) contra (28.5%) que estavam com PEEP mais baixa. Diversos trabalhos foram publicados discutindo quais valores de PEEP devem ser utilizados, muitos autores defendem o uso acima do ponto de inflexão inferior da curva P x V, (pressão/volume) que representa abertura alveolar, amenizando os efeitos da lesão pulmonar induzida pela ventilação mecânica (LPIVM). O ponto de inflexão superior representa limite seguro de pressão suportada pelos pulmões, sendo ponto de distensão alveolar máxima sem causar hiperdistensão, essa técnica é caracterizada como uma medida protetora, não sendo considerado método de excelência 15 . Recrutamento Alveolar: A ventilação mecânica é utilizada como suporte básico de vida em pacientes com SDRA, o principal objetivo é corrigir a hipoxemia grave, acidose respiratória e evitar fadiga muscular respiratória. A aplicação da manobra de recrutamento tem sido proposta para abrir unidades alveolares colapsadas e 8 melhorar a oxigenação arterial, apesar da heterogeneidade das áreas colabadas a manobra de recrutamento, justifica-se tanto pela fisiopatologia da SDRA e pela taxa de mortalidade nas unidades de terapia intensiva ser considerável 17. Para a aplicação da manobra de recrutamento os fatores etiológicos devem ser considerados: fase e gravidade da doença, perfusão pulmonar, medicamentos administrados, estratégia ventilatória, posicionamento do paciente. Vários protocolos de recrutamento alveolar foram descritos. Segundo Santos 18, descreve que a insuflação sustenta e insuflação gradual são as técnicas de recrutamento mais aceitas e práticas: Insuflação Sustentada: paciente obrigatoriamente sedado, monitorização contínua do ECG, PA e SaO2. Ventilação no modo CPAP, ajustar a PEEP em 40 cmH2O, por tempo de 40 segundos. Insuflação gradual: paciente obrigatoriamente sedado, monitorização contínua do ECG, PA, SaO2. Ventilação no modo PCV. Ajustar o valor da PI em 15 cmH2O; FR de 10 ciclos por minuto; relação l ; E : em 1:1 aumentar a PEEP gradativamente de 5 em 5 cmH2O a cada 5 segundos até alcançar o valor de 30 cmH2O e manter por 2 minutos 18. O recrutamento alveolar recomendado pela SOBRATI (sociedade brasileira de terapia intensiva) deve ser realizado em fases, com o paciente profundamente sedado ou curarizado,com monitorização ECG, PA, SaO 2, na modalidade pressão controlada, frequência respiratória entre 10 a 15 ipm, para manter PaCO2 menor 80mmHg. Iniciar a técnica com FiO2 100%, ajuste de pressão de pico 40 a 45 cmH2O. Ajustar PEEP de 12 com delta de pressão 15 cmH2O, permanecendo por 2 a 3 minutos. Subir 2 pontos de PEEP gradativamente a cada 2 a 3 minutos até chegar a PEEP de 20 sempre com delta de 15 cmH2O. A redução da PEEP deve ser também a cada 2 a 3 minutos, buscando a PEEP final que mantenha saturação de O 2 de 92 a 96% com pressão de platô de 25 a 30cmH2O, e a FiO2 preferencialmente inferior a 60% nas primeiras 72 horas da doença. 9 Métodos Alternativos: Outra estratégia muito discutida em relação à SDRA é a aplicação da posição pronacão, a maioria dos autores relatam melhora da oxigenação em mais de 70% dos casos, conforme Beraldo2 ,isso se deve ao fato que em decúbito ventral ocorre, “ótima distribuição entre o colapso e a perfusão pulmonar, e não pela diminuição do colapso e da hiperdistensão pulmonar“. (2011, p.60). Apesar do benefício esta técnica deve ser muito bem avaliada para sua realização, em decorrência de contra indicações, como em queimadura ou ferimentos na face, lesões na região ventral do corpo, instabilidade da coluna vertebral, hipertensão intracraniana, arritmias graves e hipotensão severa. No entanto ainda não foi comprovado diminuição da mortalidade com o uso deste decúbito 19. A aspiração traqueal procedimento frequente em pacientes em ventilação mecânica, tem como principais efeitos adversos a despressurização e hipoxemia. Pagoto 20 , descreveu que PaO2 diminuiu 18% e aumentou PaCO2 em 8%, com sistema de aspiração aberto em seu estudo. O sistema fechado de aspiração (track care) promove maior segurança na remoção de secreções pulmonares, uma vez que não é necessária a desconexão do sistema respiratório, beneficiando a manutenção da pressão expiratória final, volume corrente, além de previnir a incidência de infecções causada pela ventilação mecânica. A técnica de TGI (tracheal gás insulflation) que consiste em injetar gás na traqueia, é utilizado como método adjunto em pacientes com SDRA, permite menor hiperinsuflação pulmonar diminuindo trabalho respiratório em situações de baixa complacência e volume corrente reduzido. A técnica não provoca alteração sobre a oxigenação, e reduz em média 30% da PaCO2 associado a hipercapnia, também há relato que ocorre diminuição da pressão de pico em torno de 15%, porém o inconveniente da técnica e aumento da PEEP intrínseca 21. Com o avanço tecnológico a tomografia computadorizada (TC), aprimorou a qualidade da imagem anatômica com muita mais agilidade. Isso contribuiu substancialmente para confirmar que a lesão da SDRA adota padrão 10 heterogêneo, o que facilitou o melhor entendimento fisiopatológico. A (TC) tem papel fundamental para o diagnóstico (padrão ouro) e auxilia na busca de uma ventilação mais protetora, além de ser uma importante ferramenta de monitorização das técnicas de recrutamento alveolar. Porém os inconvenientes da realização do exame é deslocamento do paciente ao tomógrafo e desconexões da ventilação mecânica 22. Pesquisadores do departamento de Pneumologia da FMUSP em parceria com Escola Politécnica (SP), juntamente com uma empresa biomédica desenvolveram o tomógrafo de impedância elétrica equipamento capaz de reproduzir 50 imagens por segundo, através de potencial elétrico com corrente de baixa amplitude. Utilizado a beira leito, sem a necessidade de deslocamento do doente e não radioativa, projeta imagens seccionadas da área do corpo a ser estuda, permite realizar diagnóstico, monitorização pulmonar regional continua de pacientes mecanicamente ventilados 23. Estudos realizados utilizando a (TIE) em pacientes com LPA/SDRA mostrou-se eficaz no diagnóstico e monitorização pulmonar comparados com a TC. Colapsos e distensões alveolares podem ser observados em tempo real, tornado esta ferramenta em um grande aliado para titulação da PEEP ideal e volume corrente 24 . As primeiras tentativas em realizar as trocas gasosas de forma artificial através da ECMO, ocorreram por volta de 1971 25, tentativas sem sucesso devido à mortalidade ser maior que 90%, em decorrência das complicações existentes como: sangramentos, eventos vasculares e tromboembólicos. No entanto recentemente com o desenvolvimento de novas membranas e sistemas de biocompatibilidade revestidos por heparina tem mudado esse paradigma. Com a publicação de novos estudos realizado na Inglaterra, Áustria e Nova Zelândia, após a epidemia da influenza A (H1n1) a utilização da ECMO mostra-se um mecanismo mais seguro no tratamento da SDRA. Um estudo realizado no Reino Unido, incluindo 180 pessoas com SDRA, comparando-se a utilização da ECMO e estratégia protetora de ventilação mecânica. Dos pacientes tratado com a ECMO a sobrevida em seis meses com boa capacidade funcional foi de 63%, enquanto que os submetidos à estratégia protetora o índice foi de apenas 47% 26. 11 Em 2010 um grupo de pesquisadores brasileiros, em um projeto pioneiro iniciaram suas pesquisas com objetivo de aprender e desenvolver a técnica da ECMO no Brasil, profissionais médicos, enfermeiros e fisioterapeutas do (HCFMUSP) e da UTI do Hospital Sírio-Libanês, realizaram estudo experimentais em porcos inicialmente para desenvolvimento da técnica. Recentemente os estudiosos publicaram um relato de caso de um paciente com quadro de hipoxemia grave, choque séptico, infiltrados difusos na radiografia de tórax, que não respondeu bem as manobras de recrutamento alveolar, a relação PaO2/FiO2 era de 40, o uso da ECMO veno-venosa foi mantido por 6 dias, com desfecho satisfatório após receber alta para enfermaria no 14°dia de internação na UTI 25. CONSIDERAÇÕES FINAIS Nos últimos anos tem-se observado avanços no tratamento da SDRA, com entendimento mais afundo, assim como, diagnóstico precoce da doença, permitiu intervenções mais adequadas no enfrentamento desta patologia. As estratégias protetoras descritas continuam sendo o suporte básico de tratamento, as melhorias tecnológicas dos equipamentos estão proporcionando maiores possibilidades de sobrevida dos pacientes. Estudos com a monitorização por impedância elétrica estão em andamento em pacientes com SDRA, o método mostra-se eficaz para otimização ventilatória, mesmo assim a TIE não substitui a tomografia computadorizada e a ressonância magnética na obtenção de informações morfológicas. Ainda não pôde-se dimensionar estatisticamente a interferência do método na redução da mortalidade dos pacientes que desenvolvem a síndrome, por estar sobre investigação científica. É possível que em breve o tempo de ventilação mecânica, seja cada vez menor quando associados com a utilização da ECMO e TIE nos casos mais graves da SDRA, os efeitos deletérios da permanência na UTI sejam diminuídos e os índices de mortalidade diminuam. 12 SUSGETÃO DE PROTOCOLO: ESTRATÉGIA VENTILAÇÃO PROTETORA. Medidas básicas: Modo PCV. Volume Corrente (VC) ≤ 6 ml/kg do peso predito. Limitar pressão platô 25 a 30 cmH2O. FiO2 ≤ 60% para manter Sat O2 ≥ 90%. PEEP inicial 10 cmH2O posteriormente titular 2 pontos acima do ponto. de inflexão inferior da curva P/V. Frequência respiratória 12 a 18. Relação I : E limitar em 1 : 1, não inverter. Aspiração com Sistema Fechado Aspiração (track care) após intubação. Medidas suplementares: Monitorização permanente com TIE (tomografia por impedância elétrica) Recrutamento alveolar na fase exudativa, primeiras 72 horas, (período mais importante) quando apresentar queda PaO2, e piora da imagem radiológica. Pronação se houver necessidade de elevação da FiO2 acima de 60%. Iniciar (TGI) persistência PaCO2 acima 60 mmHg, com pressão platô de acima 30 cmH2O. Medida avançada: Indicação da ECMO na falha de manobras de recrutamento alveolar, relação PaO2/FiO2 ≤ 60 mmHg. com FiO2 100% por mais de 1 hora. 13 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. BRAEZ GARCIA, C.S.N.; PELOSI .P.; ROCCO, P.R.M. Síndrome do desconforto respiratório agudo pulmonar e extrapulmonar: existem diferenças?. RBTI. São Paulo, v.20, n°2, 2008. 2. BERALDO, M.A. Estudo dos efeitos da posição prona na distribuição regional da aeração e da perfusão pulmonar através da tomografia de impedância elétrica e da tomografia computadorizada multislice. 2011. 69 f. Tese (Doutorado em ciências)- USP, São Paulo, 2011. 3. BRODIE, D.M.D.; BACCHETTA, M.D. Extracorporeal Membrane Oxigenation for ARDS in Adults. The New Engand Journal of Medicine. v. 365. n°20. p 1905-1914. 17 november. 2011. 4. BARBAS, C.S.; MATOS, G.FJ. 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