SÍNDROME DO INTESTINO CURTO Caroline Del Castanhel Laís Fernanda Bozza Lucas Vatanabe Pazinato Lucas Vieira Marília Porto Bonow Sheila Liebl SÍNDROME DO INTESTINO CURTO Estado de má absorção de macro e micronutrientes após ressecção maciça do intestino delgado. Mesmo com a capacidade de adaptação após ressecções extensas, este mecanismo adaptativo pode ser sobrepujado se houver mais de 70% de ressecção ou menos de 200 cm de intestino delgado. SÍNDROME DO INTESTINO CURTO Causas no adulto: doença de Crohn, câncer, radiação, oclusão mesentérica, vólvulo do intestino médio, lesão traumática dos vasos mesentéricos superiores, insuficiência vascular. Causas no RN e crianças: enterocolite necrosante intestinal e anomalias congênitas. SÍNDROME DO INTESTINO CURTO Apresentação clínica: Diarréia, Distúrbios hidroeletrolíticos; Má absorção; Desnutrição. Os sintomas associados com a ressecção intestinal são altamente dependentes da fisiologia do restante do intestino. CONSIDERAÇÕES FISIOLÓGICAS A motilidade do íleo é 3 vezes mais lenta que a do jejuno. O processo de absorção é diferente no jejuno e no íleo. O íleo absorve mais água (70%) e mais sódio (72%), sendo importante na conservação de líquidos e eletrólitos. A vitamina B12 e os sais biliares são absorvidos quase que totalmente no íleo. Os sais biliares são essenciais para a absorção de gordura e vitaminas lipossolúveis. Ressecção ileal aumento da perda de sais biliares absorção de gordura é reduzida e a absorção de água e sal no cólon também é reduzida diarréia. EFEITOS DA RESSECÇÃO INTESTINAL Motilidade Aumenta a motilidade gástrica. Ressecção proximal não acelera o trânsito. Ressecção ileal acelera o trânsito Contribuição do cólon reduz trânsito Absorção hídrica e eletrolítica Dependem da extensão e do local Ressecções proximais: não resultam em distúrbios intestinais. Ressecção ileal: cólon recebe uma carga muito maior de líquidos, eletrólitos e sais biliares redução da capacidade de absorver sal e água diarréia Ressecção do cólon: capacidade de manutenção da homeostase hídrica e eletrolítica é prejudica. EFEITOS DA RESSECÇÃO INTESTINAL Absorção de nutrientes Remoção exclusiva do jejuno não resulta em má absorção. Íleo mantém a absorção adequada. Remoção do íleo absorção prejudicada (perda de 100cm esteatorréia) Comprimento da ressecção: intensidade da má absorção e a variedade de nutrientes malabsorvidos. Absorção de gorduras e carboidratos: entre 50 a 75% do ingerido. Absorção de nitrogênio: 81% do ingerido. até 33% não resultam em desnutrição até 50% podem ser toleradas acima de 75% suporte nutricional EFEITOS DA RESSECÇÃO INTESTINAL Cólon na absorção dos nutrientes Carboidratos malabsorvidos que chegam ao cólon podem ser fermentados para ácidos graxos de cadeia curta e os produtos absorvidos são usados como fonte de energia PRESENÇA DO CÓLON É IMPORTANTE NA CAPACIDADE DE RECUPERAÇÃO NA SÍNDROME DO INTESTINO CURTO. COMPLICAÇÕES Colelitíase Redução do ciclo êntero-hepático dos sais biliares Quantidade de SB nas fezes > capacidade de síntese hepática = ↓ SB na bile ↓ ácido quenodesoxicólico = ↑ secreção do colesterol [BILE LITOGÊNICA] COMPLICAÇÕES Cálculos renais Hiperoxalúria devido ↑ absorção de oxalato pelo cólon (sais biliares no cólon aumentam a absorção de oxalato) Hiperoxalúria está relacionada com cálculos, e a propensão para sua formação é diminuída pela redução de citrato. Tratamento: - Dieta pobre em oxalato - Administração de colestiramina para quelar SB - Citrato para prevenir formação de cálculos COMPLICAÇÕES Acidose D-Láctica “Fala arrastada”, ataxia e labilidade emocional Fermentação de carboidratos malabsorvidos no cólon para D-lactato e a absorção desses metabólitos - Tratamento: dieta pobre em carboidratos Hipersecreção gástrica e úlcera péptica Hipersecreção transitória (*úlcera péptica) Bloqueadores de bomba de prótons TRATAMENTO NUTRICIONAL Extensão do intestino remanescente Localização da resseção Presença do cólon e de válvulo íleocecal íntegra Tempo de adaptação Ressecção jejunal com manutenção do íleo e cólon Observação Recuperação total função intestinal Ressecção íleo terminal < 100cm Quelantes sais biliares (Colestiramina 4-12g/dia) TRATAMENTO INICIAL Controle da diarréia Fluídos intravenosos Alimentação oral Eletrólitos suplementares Suplementação vitamínica Necessidade de nutrição parenteral Diarréia: ↑ da secreção ↑ da motilidade ↑ da estimulação osmótica com secreção de água pela má absorção do conteúdo intra-luminal Tratamento: Jejum IBP Controle da hipersecreção gástrica Loperamida (Imosec®), codeína ou difenoxilato (Lomotil®) Reduzir velocidade do trânsito gástrico e intestinal Fluídos intravenosos: Reposição e monitorização: cloreto de sódio, cloreto de potássio e magnésio. Alimentação oral: 60-80cm de intestino restantes Realimentação oral progressiva e gradativa Refeições pouco volumosas e isotônicas Glicose 3,4%, sódio 85-90mM/l, potássio 12mM/l, bicarbonato 9mM/l e cloro 85-90mM/l Sem lactose -> baixos níveis de lactase Injeções de 200 microgramas/mês de vitamina B12 Objetivo: Aumentar a ingesta até cerca de 60kcal/kg de peso corporal. ELETRÓLITOS SUPLEMENTARES A suplementação de potássio, magnésio e zinco deve ser administrada de acordo com a monitorização dos níveis séricos. Hipomagnesemia é particularmente um problema sério nestes pacientes A ingestão de sais de mangésio proporciona diarréia, por isso é díficil a administração via oral. Piroglutamato de magnésio Sulfato de magnésio IM SUPLEMENTAÇÃO VITAMÍNICA Conseguem absorver vitaminas hidrosolúveis Dificuldade em absorver vitaminas liposolúveis Altas doses de vitamina A, D e E para manutenção de níveis normais Suplementação de vitaminas com preparações aquosas de vitamina A e E e 1,25 deidroxi-vitamina D NUTRIÇÃO PARENTERAL Pacientes com menos de 60 cm de intestino remanescente e nos casos de ressecção combinada de intestino delgado e colón -32 kcal/kg de substrato energético misto, -1g/kg de aminoácido, -50-200 mM de sódio, -60-100 mM de potássio, 9-11 mM de cálcio, 7-15 mM de magnésio e 70-100 micromoles de zinco são infundidos por dia A alimentação oral é iniciada simultaneamente, e tenta-se reduzir a alimentação parenteral com o tempo. GLUTAMINA E OUTROS HORMÔNIOS Glutamina Neurotensina Bombesina Peptídeo 2 similar ao glucagon Hormônio de crescimento Fator de crescimento similar à insulina Estimulam o crescimento da mucosa intestinal e aumentam a absorção de vários nutrientes. TRANSPLANTE INTESTINAL Insuficiência intestinal irreversível Complicações da nutrição parenteral total Depleção de locais de acesso venoso central Episódios de sepse relacionada ao cateter insuficiência hepática com colestase progressiva CONSIDERAÇÕES ESPECIAIS CONSIDERAÇÕES ESPECIAIS Ressecção jejunal com íleo intacto e cólon: Alimentação via oral imediata, raramente têm problemas. Ressecção ileal de menos de 100 cm com o cólon amplamente intacto: Diarréia colerética Administração de 4g de colestiramina 3x/dia Quelar sais biliares não-absorvidos pelo íleo ressecado. Medir vitamina B12 Se baixa, pode ser administrada via intramuscular em doses de 100 a 200μg/mês. CONSIDERAÇÕES ESPECIAIS Ressecção ileal de mais de 100 a 200 cm de intestino delgado com o cólon amplamente intacto: Dificuldades na manutenção da nutrição com dieta oral, apresentam diarréia ácida gordurosa Restrição do consumo de gordura. Necessário reposição parenteral de B12. Ressecção de mais de 200 cm de intestino delgado e ressecções inferiores com colectomia associada: Programa de adaptação gradual. CONSIDERAÇÕES ESPECIAIS Ressecção deixando menos de 60 cm de intestino delgado ou somente o duodeno (ressecção quase total do intestino delgado): Necessitam de nutrição parenteral domiciliar indefinidamente. Muitos pacientes, mesmo nessa categoria podem apresentar um nível surpreendente de adaptação e requerer menos nutrição parenteral, podendo se beneficiar de alimentos absorvidos por via oral. * Indicações para redução da nutrição parenteral: Ganho de peso além do limite desejado e a redução da nutrição parenteral não causar desequilíbrio eletrolítico e desidratação. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS SABISTON tratado de cirurgia: a base biológica da prática cirúrgica moderna. David C Sabiston et al. 17. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, c2005. 2v., il. color. Inclui bibliografia e índice. APARELHO digestivo: clínica e cirurgia. Júlio Cezar Uili Coelho. 3. ed. São Paulo: Atheneu, c2005. 2v., il. col. (Gastrenterologia e hepatologia). Inclui bibliografia e índice. ISBN 8573797096 (enc.).