Tese - IBRATI

Propaganda
SOCIEDADE BRASILEIRA DE TERAPIA INTENSIVA
MESTRADO EM TERAPIA INTENSIVA
MARISTELA CUCHI
HUMANIZAÇÃO EM UNIDADES DE TERAPIA
INTENSIVA: AVALIAÇÃO DA PERCEPÇÃO DO
PROFISSIONAL DE UM HOSPITAL PÚBLICO EM MATO
GROSSO
SORRISO-MT
2009.
MARISTELA CUCHI
HUMANIZAÇÃO EM UNIDADES DE TERAPIA
INTENSIVA: AVALIAÇÃO DA PERCEPÇÃO DO
PROFISSIONAL DE UM HOSPITAL PÚBLICO EM MATO
GROSSO
Tese de Mestrado apresentada à
Sociedade Brasileira de Terapia
Intensiva-SOBRATI, como requisito
para a obtenção do título de Mestre
em Terapia Intensiva.
Orientação Professor: Dr. Douglas
Ferrari
SORRISO-MT
2009
CUCHI, Maristela.
Humanização em Unidades de Terapia Intensiva: avaliação da
percepção do profissional de um hospital público em Mato Grosso.
Maristela Cuchi. Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva-SOBRATI,
2009..
72p.
Orientador Professor: Dr. Douglas Ferrari.
Tese de Mestrado do Curso de Medicina Intensiva. Sociedade
Brasileira de Terapia Intensiva-SOBRATI, 2009.
1. HUMANIZAÇÃO; 2. UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA; 3.
PROFISSIONAIS DE SAÚDE. I. Título.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE TERAPIA INTENSIVA
MESTRADO EM TERAPIA INTENSIVA
MARISTELA CUCHI
HUMANIZAÇÃO EM UNIDADES DE TERAPIA
INTENSIVA: AVALIAÇÃO DA PERCEPÇÃO DO
PROFISSIONAL DE UM HOSPITAL PÚBLICO EM MATO
GROSSO
COMISSÃO EXAMINADORA
_________________________________________
Orientação Professor: Dr. DOUGLAS FERRARI
___________________________________
Professor
___________________________________
Professor
SORRISO-MT
2009.
DEDICATÓRIA
Dedico a felicidade deste momento a todos que amo. Aos
anjos do céu pela paz e proteção.
Em especial à toda minha família, pe lo amor, carinho e
apoio.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, agradeço a Deus, pela vida e tudo de
bom que ela nos oferece.
À minha família, pelo amor.
A todo corpo docente da SOBRATI, pelos ensinamentos
indispensáveis.
Aos colegas e amigos de curso, pelo companheirismo.
A todos que colaboraram de alguma forma para mais esta
caminhada.
Muito obrigada!!
“Tudo o que um sonho precisa para ser
realizado é alguém que acredite que ele
possa ser realizado”
(Roberto Shinyashiki)
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Leitos de UTI credenciados no período de 2003 a
2009 ......................................................................... 21
Tabela 2. Leitos de UTI habilitados pelo SUS ............................. 22
Tabela 3. Propostas de ação para a humanização das relações
na equipe .................................................................. 31
Tabela 4. Diretrizes da Política Nacional de Humanização
relacionadas ao atendimento em Unidades de Terapia
Intensiva ................................................................... 33
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Fachada do Hospital Regional de Sorriso ............................... 38
Figura 2. Proporção dos participantes da pesquis a, em relação ao
gênero ............................................................................................... 40
Figura 3. Distribuição da idade dos participantes da pesquisa ................ 40
Figura 4. Distribuição do estado civil dos participantes da pesquisa ........ 41
Figura 5. Distribuição da escolaridade dos participantes da pesquisa ...... 42
Figura 6. Distribuição da renda familiar dos participantes da pesquisa ..... 42
Figura 7. Distribuição das atividades e funções dos participantes da
pesquisa ............................................................................................ 43
Figura 8. Distribuição do tempo em que exerce a profissão dos
participantes da pesquisa .................................................................... 44
Figura 9. Distribuição da opinião dos participantes se considera o
trabalhar em UTI um fator estressante .................................................. 44
Figura 10. Distribuição do conhecimento da existência de um Programa
de Humanização da Assistência Hospitalar no Hospital Regional de
Sorriso entre os participantes .............................................................. 45
Figura 11. Distribuição da opinião dos participantes se recebeu formação
profissional adequada e suficiente para a atuação junto a pacientes de
UTI .................................................................................................... 46
Figura 12. Distribuição da opinião dos participantes referente ao que é
assistência humanizada ...................................................................... 47
Figura
13.
Distribuição
da
opinião
dos
participantes
referente
à
classificação como sendo mais importante na assistência dentro de uma
unidade de terapia intensiva ................................................................ 48
Figura 14. Distribuição da opinião dos participantes referente as
dificuldades encontradas pelo profissional, em relação a permanência
dos familiares junto ao paciente em UTI ............................................... 49
Figura 15,
Distribuição da opinião dos participantes se o ambiente da
UTI do hospital pode proporcionar conforto ao paciente ......................... 50
Figura 16. Distribuição da opinião dos participantes referente aos fatores
quem possam preocupar durante o horário de visita familiar .................. 51
LISTA DE ABREVIATURAS
% - Porcentagem
ABNT: Associação Brasileira de Normas Técnicas
ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária
CNES – Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde
COFEN – Conselho Federal de Enfermagem
et al. – entre outros
EUA – Estados Unidos da América
ISS: Inventário de sintomas de estresse
MS – Ministério da Saúde
Nº - número
º - grau
p. ex. – por exemplo
PNH: Política Nacional de Humanização
PNHAH: Programa de Humanização da Assistência Hospitalar
SUS – Sistema Único de saúde
UTI: Unidade de Terapia Intensiva
RESUMO
Introdução: Humanização na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) tem
sido uma grande preocupação por parte dos profissionais da saúde com
intuito de oferecer uma assistência com qualidade.
Objetivos: Assim, este estudo consiste de uma pesquisa que buscou
explorar a humanização na Unidade de Terapia Intensiva, com o objetivo
de identificar as dificuldades do profissional que trabalha neste ambiente
em relação ao estresse da rotina, à permanência de familiares junto ao
paciente hospitalizado, as dificuldades enfrentadas, e em especial,
avaliar o grau de percepção dos funcionários sobre a assistência
humanizada no atendimento de pacientes na Unidade de Terapia
Intensiva de um Hospital Público na cidade de Sorriso, Estado do Mato
Grosso.
Método: Para a coleta e análise dos dados utilizou-se como método o
estudo descritivo e qualitativo exploratório, através de questionário semiaberto como instrumento que foi aplicado a 243 profissionais de saúde
que trabalham na UTI em um hospital público do município de Sorriso em
Mato Grosso, contendo 18 leitos, no período de janeiro a março de 2012.
Resultado: para a maioria dos profissionais que participaram da
pesquisa – 40,0% há incompreensão da equipe multiprofissional nas
diferentes situações que envolvem a dinâmica da assistência prestada,
porém 12,0% não vê nenhuma dificuldade, desde que bem orientado (a) e
esclarecida a importância da família na recuperação do paciente.
Conclusão: Considera-se relativamente satisfatório o conhecimento dos
profissionais em relação à assistência humanizada dentro da UTI, pois a
maioria referiu ter conhecimento e empregabilidade da assistência
humanizada. Porém, sugere-se haver necessidade de uma proposta
educativa e continuada que repense a formação e capacitação dos
profissionais da área da saúde, sobre os limites humanos, a fim de
prestar uma assistência qualificada, integral e humanizada aos pacientes
em processo de internação em UTI.
Palavras-chave:
Humanização;
Unidade
Profissionais de Saúde.
de
Terapia
Intensiva;
ABSTRACT
Introduction: Humanizes in the Unit of Therapy Intensive (UTI) has been
a great concern on the part of the professionals of the health with intention
offering assistance with quality.
Objectives: Thus, this study it consists of a research that it searched to
explore the humanizes in the Unit of Intensive Therapy, with the objective
to identify the difficulties of the professional who works in this environment
in relation stresses to it of the routine, to the permanence of familiar next
to the hospitalized patient, the faced difficulties, and in special, to
evaluate the degree of perception of the employees on the assistance
humanized in the attendance of patients in the Unit of Intensive Therapy of
a Hospital Public in the city of Smile, State of the Mato Grosso.
Method: For the collection and analysis of the data it was used as method
the descriptive study and qualitative exploratory, through half-open
questionnaire as instrument that was applied the 243 professionals of
health whom they work in the UTI in a public hospital of the city of Smile in
Mato Grosso, contends 18 stream beds, in the p eriod of January the
March of 2012.
Result: for the majority of the professionals who had participated of
research - 40.0%, it has incomprehension of the multi professional team in
the different situations that involve the dynamics of the given assistance ,
however 12.0% do not see no difficulty, since that guided well and clarified
the importance of the family in the recovery of the patient.
Conclusion: The knowledge of the professionals in relation to the
humanized
assistance
of
the
UTI
is
considered
inside
relatively
satisfactory, therefore the majority related to have knowledge and job of
the humanized assistance. However, it is suggested to have necessity of a
proposal
educative
and
continued
that
rethink
the
formation
and
qualification of the professionals of the area of the health, on the human
limits, in order to give a qualified assistance, integral and humanized to
the patients in process of internment in UTI.
Keywords: Humanizes; Unit of Intensive Therapy; Professionals of Health.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................... 13
2 UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA ........................................ 16
2.1 Histórico da UTI ......................................................... 17
2.2 Alguns Números de UTIs no Brasil .............................. 19
2.3 A estressante rotina em UTI ........................................ 21
2.4 O paciente e o Familiar ............................................... 23
2.5 A equipe multidisciplinar ............................................. 24
2.5.1 A interação da equipe ..................................... 27
2.6 Normativas generalistas existentes em nível nacional
quanto as rotinas de UTI .................................................. 30
2.7 Humanização em Terapia Intensiva ............................. 33
3 ANÁLISE DOS RESULTADOS ................................................ 37
3.1 Dados do Local de Estudo .......................................... 37
3.2 Análise dos resultados ................................................ 38
4 DISCUSSÃO.......................................................................... 52
5 PROPOSTAS E SUGESTÕES ................................................. 57
CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................ 60
REFERÊNCIAS ........................................................................ 62
APÊNDICE ............................................................................... 69
1 INTRODUÇÃO
Humanização na unidade de terapia intensiva (UTI) tem
sido uma grande preocupação por parte dos profissionais da saúde
com intuito de oferecer uma assistência com qualidade.
A “humanização” não é apenas um conceito, é uma ação
solidária, uma mão estendida, o silêncio que comunica, a lágr ima
enxugada, o sorriso que alegra, a dúvida desfeita, a confiança
restabelecida, a informação que esclarece.
Segundo Ferreira
(2001), humanização é o ato ou efeito de humanizar, é dar
condições humanas, civilizar-se, é assegurar o máximo conforto
material e moral ao paciente, e respeitar os seus desejos,
inquietações e suas lembranças.
Nas
ações
da
humanização
procuramos
resgatar
o
respeito à vida humana, a nossa e a do paciente, criando assim um
vínculo entre quem cuida e quem é cuidado. Humanização na
unidade de terapia intensiva está além de cuidar de sinais e
sintomas físicos apresentados pelo paciente, mas é identificar os
problemas e assistir o indivíduo em sua plenitude, visando suprir
suas necessidades básicas, procurando avaliar a assistência
prestada para garantir a eficácia do trabalho e o contato mais
próximo com os familiares (RODRIGUES; CARLOS; SOUZA, 2004).
Unidade de Terapia Intensiva é um ambiente estressante,
tanto para o paciente, quanto para os familiares, bem como para os
profissionais que ali atuam. Fatores como baixa luminosidade
natural, temperatura controlada, a eminência de procedimentos de
reanimação e ainda os incessantes ruídos dos diversos aparelhos
monitores e mantenedores vitais, mesclados à rotina também
14
estressante de todos que compõem a equipe da unidade, podem
proporcionar ambientes de estresse (BARBOSA; SAMPAIO, 2003).
Toda alteração das rotinas normais de qualquer indivíduo
leva-o a apresentar alguma alteração emocional. Quanto maior o
número de mudanças, maior a probabilidade de o paciente e
também profissional apresentar estresse, considerando então o
imaginário coletivo das Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) são
vistas por muitos como a ante-sala da morte, é esperado que desde
o paciente, ou de seus familiares ap resentem alguma manifestação
de estresse (MARTINS et al., 2003).
Não obstante a isto, temos ainda os profissionais que
vivem as maçantes rotinas neste ambiente insalubre, além de não
ser possível fugir do fato de que o convívio com a morte é
relativamente constate.
Percebendo o estresse como conseqüência da resposta
dos indivíduos às alterações em suas vidas, busca -se levantar as
diferentes possibilidades de fatores estressantes ao paciente, ao
familiar e aos funcionários das salas de UTI, de forma à demonstrar
a possibilidade de convívio, e por que não, da superação.
Identificar as dificuldades do profissional que trabalha na
Unidade de Terapia Intensiva junto ao paciente hospitalizado, e
avaliar o conhecimento destes profissionais sobre assistência
humanizada
e
sua
empregabilidade
dentro
deste
ambiente
proporciona melhorar a qualidade do atendimento, bem como maior
conforto e confiança ao paciente.
No
presente
estudo
delineou-se
avaliar
o
grau
de
percepção dos funcionários sobre a humanização no atend imento
de pacientes em Unidade de Terapia Intensiva de um Hospital
Público na cidade de Sorriso, Estado do Mato Grosso , bem como
investigou-se o atendimento humanizado em Unidade de Terapia
Intensiva
e
suas
dificuldades,
descrevendo
as
normativas
15
generalistas existentes em nível nacional quanto as rotinas de UTI,
levantando bibliografias descritoras de melhoria no quadro clínico
de pacientes a partir da presença familiar no ambiente terapêutico,
e por fim buscou-se conhecer, através da análise do questionár io
aplicado, a percepção dos funcionários do hospital estudado para o
tratamento humanizado aos pacientes em UTI, a presentando os
resultados e socializando-os à comunidade interessada.
2 UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA
A UTI é a Unidade de Terapia Intensiva existente nos
hospitais e destinada ao acolhimento de pacientes em estado grave
com chances de sobrevida, que requerem monitoramento constante
(24 horas) e cuidados muito mais complexos que o de outros
pacientes.
O percentual de leitos de UTI nos hospitais varia de 7% a
15%
dependendo
das
características
de
cada
hospital
(por
exemplo, hospitais de grandes centros costumam ter mais leitos de
UTI por receberem pacientes de diversos lugares) e a necessidade
por mais leitos tende a crescer conf orme aumenta a expectativa de
vida da população expondo-a a maiores chances de complicações
e traumas relacionados a doenças degenerativas e acidentes, além
do aumento de índices como a criminalidade (PEREIRA JUNIOR et
al., 1999).
A observação contínua dos pacientes em um local próprio
e afastado dos demais doentes, que se fazia necessária em
decorrência da gravidade da saúde dos pacientes é um dos
princípios do cuidado ao paciente crítico, estabelecido quase um
século antes por Florence Nightingale (SILVA; ARAÚJO; PUGINA,
2009).
O objetivo básico das UTI é recuperar ou dar suporte às
funções vitais dos pacientes enquanto eles se recuperam. Assim,
as Unidades de Terapia Intensiva são equipadas com aparelhos
capazes de reproduzir as funções vitais dos inte rnados como
respiradores artificiais (por exemplo, a criação e uso destes
aparelhos reduziu de 70% para 10% a morte de recém -nascidos
17
(PESSINI, 2004), aparelhos de hemodiálise que substituem a
função dos rins e diversos outros. A criação das UTIs represent ou
um grande marco na história da medicina uma vez que possibilitou
o atendimento adequado dos pacientes garantindo -lhes melhores
condições de recuperação e reduzindo os óbitos em cerca de 70%
(ARONE; CUNHA, 2007).
2.1 Histórico da UTI
A história do surgimento das UTIs remete ao início do
século
XX
quando
foram
criadas
as
chamadas
“salas
de
recuperação” para onde os pacientes eram levados após alguma
neurocirurgia no Hospital Johns Hopkins (EUA). Já no Brasil elas
só começaram a ser implantadas na décad a de 70, primeiramente
no hospital Sírio Libanês em São Paulo com apenas dez leitos
(1971) (BERTHELSEN; CRONQVIST, 2003).
Em 1854, a Inglaterra, a França e a Turquia declararam
guerra à Rússia, a chamada Guerra da Crim éia. Visto que muitos
soldados feridos estavam morrendo no Hospital Barrack, na
Turquia, Florence foi convocada pelo governo inglês para liderar
um grupo de voluntárias que atenderia os soldados feridos. Ao
deparar-se com as condições precárias de atendimento e higiene,
Florence institui um dos princípios básicos da moderna terapia
intensiva, separando os pacientes mais graves e colocando -os em
uma situação que favorecia o cuidado por meio da observação
constante (NIGHTINGALE, 1946; LINO; SILVA, 2003).
Embora a intervenção baseada na observa ção contínua do
paciente
tenha
iniciado
com
Florence,
as
UTIs,
como
são
18
conhecidas atualmente, tiveram origem na década de 1950, com a
evolução dos avanços tecnológicos na área da saúde.
Outro fator a ser destacado é a instrumentalização da
assistência: uso de raio X para o diagnóstico de injúria pulmonar,
suporte de oxigênio em concentrações elevadas, inicialmente de
modo não invasivo e em seguida, invasivo, uso de sonda gástrica
para
hidratação
descobrimento
e
de
alimentação
fármacos
e
antibioticoterapia.
anestésicos
e
Com
o
antibióticos,
o
aprimoramento de técnicas cirúrgicas e o desenvolvimento de
equipamentos que permitiam oferecer um suporte ventilatório aos
pacientes com insuficiência no sistema respiratório, surgiram as
primeiras unidades de atenção aos pacientes graves, como as
unidades de choque, de queimados e neurocirúrgicas nos Estados
Unidos e as salas de observação na Dinamarca (SILVA; ARAÚJO;
PUGGINA, 2009).
No Brasil, as primeiras UTIs foram estabelecidas no início
do ano de 1960, no Rio de Janeiro e em São Paulo, que se
aprimoraram e expandiram por todo o país na década seguinte
(PESSINI, 2004).
As UTIs foram concebidas com a finalidade de oferecer
atenção contínua e suporte avançado aos pacientes críticos, com
risco de morte, lançando mão de recursos de alta tecnologia que
auxiliam ou substituem a função de órgãos vitais. Na presença de
falência pulmonar, os ventiladores substituem os pulmões; os
cardiotônicos,
conseguem
os
manter
antiarrítmicos
o
e
funcionamento
os
fármacos
vasoativos
cardiocirculatório;
e
os
dializadores fazem o trabalho renal (SILVA; ARAÚJO; PUGGINA,
2009).
Alguns dos equipamentos encontrados nas Unidades de
Terapia
Intensiva:
termômetro,
oxímetro
de
pulso
(mede
a
oxigenação nos tecidos do paciente), eletrocardiográ fico (mede a
19
frequência cardíaca e a pressão arterial), monitor de pressão
arterial, monitor cardíaco, sonda naso-enteral (para alimentar o
paciente), sonda vesical (para coletar a urina); máscara e cateter
de oxigênio (auxiliam a respiração), cateter (dis positivo que auxilia
a circulação sanguínea), tubo orotraqueal (auxilia a respiração do
paciente), ventilador mecânico (injeta e retira ar dos pulmões do
paciente quando este não consegue respirar sozinho) (PESSINI,
2004).
No entanto, os avanços tecnológicos e os aparelhos
sofisticados não são capazes de aliviar a dor dos pacientes,
identificada como o maior estressor e a pior lembrança da UTI
(JONES, 1979; STANIK-HUTT, 1998).
São inegáveis os benefícios advindos do progresso da
ciência. Sem a utilização da tecnologia na recuperação da saúde e
manutenção da vida, provavelmente a expectativa de vida não teria
crescido tanto nas últimas décadas. Os recém-nascidos em idade
gestacional
precoce
não
sobreviveriam,
as
crianças
ainda
morreriam em decorrência de crises asmáticas e adultos com rins
que não exercem mais suas funções também morreriam (SILVA;
ARAÚJO; PUGGINA, 2009).
2.2 Alguns Números de UTIs no Brasil
Atualmente, hospitais de médio e grande portes vêm cada
vez mais investindo na criação de leitos de Unidades de Terapia
Intensiva. O Ministério da Saúde, entre o período de 2003 e 2010
credenciou 6.399 novos leitos de UTI e reclassificou , em todo o
país, 1.668 leitos de UTI Tipo I para Tipo II e/ou III (com maior
exigência técnica) (BRASIL, 2009). A portaria GM/MS 3432 de 12
20
de agosto de 1998 possivelmente colaborou com este aumento, vez
que
determina
algumas
situações
em
que
os
hospitais
obrigatoriamente têm de oferecer leitos de UTI.
Tabela 1. Leitos de UTI credenciados no período de 2003 a 2010.
Ano
Ampliação de Leitos de UTI
Total
ampliado
2003
Adulto
822
Pediátrico
168
Neonatal
312
2004
519
152
270
941
2005
331
78
245
654
2006
361
85
159
605
2007
594
97
217
908
2008
483
142
193
818
2009
354
69
171
594
2010
365
62
150
577
3829
853
1717
Total .......
1302
6399
Fonte: BRASIL, 2011.
Em consulta ao Cadastro Nacional de Estabelecimentos
de Saúde (CNES, 2011), o Brasil possui um total de 27.737 leitos
de UTI, sendo 17.357 leitos (62,57%) disponibilizados aos usuários
do Sistema Único de Saúde (SUS), assim classificados:
21
Tabela 2. Leitos de UTI habilitados pelo SUS
Tipo
Adulto
Neonatal
Pediátrico
Adulto
Neonatal
Pediátrico
Tipo
II
II
II
III
III
III
I
de
leito
Qtde.
Total
geral
7358
2912
1398
1718
635
564
2772
17357
Fonte: BRASIL, 2009.
Utilizando os parâmetros recomendados pela Portaria
GM/MS nº 1101/2002, de 12 de junho de 2002 (BRASIL, 2002),
considerando que 80% da população brasileira é usuária do
Sistema
Único
de
Saúde,
o
que
equivale
a
atualmente
a
aproximadamente 155 milhões de habitantes, seriam necessários
atualmente
15.498
leitos
de
UTI
para
atender
ao
mínimo
preconizado pela referida portaria, que é de 4% do número de
leitos
hospitalares
necessários.
Nesse
sentido,
conforme
os
números apresentados, o Brasil possui atualmente uma cobertura
hospitalar, no que se refere a leitos de UTI de 4,5% (BRASIL,
2009).
No entanto, se considerarmos a população total brasileira,
que é de aproximadamente 200 milhões de habitantes, bem como
considerando o total de leitos de UTI exist entes, que atualmente é
de 27.737 leitos de UTI (SUS e não SUS), a cobertura assistencial
é de 5,72% (ANVISA, 2011).
2.3 A estressante rotina em UTI
O aumento de número entre outras possíveis observações,
também nos leva a imaginar o crescente número de profissionais
22
de saúde que passam a atuar neste ambiente hospitalar com
características tão peculiares. Características essas que podem
gerar
estresse
em
todos
os
envolvidos.
Conforme
afirmam
Stacciarini e Trócolli:
“A UTI é percebida pela equipe que nela atua, assim
como por pacientes e familiares, como um dos ambientes
mais agressivos, tensos e traumatizantes do hospital.
Dentre os fatores, presentes no ambiente de terapia
intensiva que geram estresse na equipe, encontram -se: o
pouco preparo para lidar com a constante presença de
mortes, as freqüentes situações de emergência, a falta
de
pessoal
e
material,
o
ruído
constante
das
aparelhagens; o despreparo para lidar com as freqüentes
mudanças do arsenal tecnológico, o sofrimento dos
familiares,
o
conflito
no
relacionamento
entre
os
profissionais; dentre outros. Em estudo realizado com
1.800
enfermeiros,
93%
afirmaram
sentirem -se
estressados no trabalho.” (2001).
As características dos pacientes remetidos ao tratamento
intensivo remetem ao imaginário coletivo, a imagem de que a UTI é
uma espécie de "ante-sala da morte". Uirizzi e Corrêa (2007) assim
descreveram:
“O medo da morte no contexto da hospitalização na UTI
relaciona-se ao estigma que esse local imprime. Para a
família e o paciente, a UTI sign ifica estar entre a vida e a
morte, com a possibilidade de uma ida sem volta ”.
Apesar de todo esse estigma, “a finalidade da UTI é tratar
pacientes graves com chance de recuperação; pacientes que
precisam de cuidados intensivos” (ALELUIA, 2008).
Esta
necessidade
de
cuidados
intensivos
unida
ao
desenvolvimento tecnológico do atendimento em saúde, levam para
dentro das UTI’s, cada vez mais aparelhos tecnológicos, com
23
funções cada vez mais importantes para a manutenção da vida, e
que favorecem o aumento da permanência dos pacientes em UTI.
Em
paralelo
a este, o
aumento
dos conhecimentos
relacionados à contaminação, infecção e disseminação de doenças
e
patógenos,
fazem
da
UTI
um
setor
isolado,
onde
há
a
necessidade de manutenção de cuidados específicos, c omo uso de
vestimentas
apropriadas,
odores
característicos,
relativa
constância na realização de procedimentos de ressuscitação, e em
alguns casos com a morte, são fatores determinantes para o
estresse do funcionário de UTI (SILVA et al., 2008).
Percebendo
o
estresse
como
“uma
situação
tensa,
fisiológica ou psicológica; que pode afetar as pessoas em todas as
suas dimensões. A resposta ao estresse é influenciada pela
intensidade, duração e âmbito do agente estressor e pelo seu
número presente no momento” (BITTENCOURT et al., 2007).
Ainda para estes autores
“a identificação destes estressores é importante para a
implementação de medidas que, atuando nesses fatores,
possam facilitar a humanização do ambiente da UTI. ”
(BITTENCOURT et al., 2007).
2.4 O paciente e o Familiar
Como cita Carvalho et al.:
“Apesar da UTI ser um local ideal para o atendimento
aos pacientes agudos recuperáveis, é um ambiente
extremamente agressivo, tenso e traumatizante e além
da situação crítica em que o paciente se encontra
existem
outros
fatores
prejudiciais
a
sua
estrutura
psicológica, como falta de condições favoráveis ao sono,
intercorrências terapêuticas freqüentes, isolamento da
24
família, suposição da gravidade da doença e do risco de
vida.” ( CARVALHO; TUERLINCKX; LUNARDI, 2008).
Alteração normalmente abrupta do ambiente natural de
convívio do paciente leva-o a apresentar algum nível de estresse. E
uma das formas de reduzir essa alteração tão severa, é a presença
do familiar. Conforme Uirizi e Corrêa (2007):
“Cabe salientar, também, que diante do enfrentamento
das incertezas da vida no período de internação, a
família, ao vivenciar o presente, em algumas ocasiões,
vislumbra o futuro permeado também por inseguranças e
incertezas expressas pelo medo da morte. ”
Desta forma:
“a restrição do horário de visitas, que impossibilita um
maior contato com os familiares (…); são apontados
como pontos negativos para a educação em saúde
durante o período de internação na UTI” (CARVALHO et
al., 2008).
2.5 A equipe multidisciplinar
O profissional que trabalha nas UTIs é chamado de
intensivista e a equipe é sempre formada por diversos profissionais
como
fisioterapeutas,
psicólogos,
nutricionistas,
assistentes
sociais, enfermeiros e outros, além dos médicos. Outra função dos
intensivistas, principalmente dos enfermeiros e assistentes sociais,
é dar conforto e suporte aos familiares dos pacientes uma vez que
a situação de internação de algum parente em UTI é sempre
delicada para estes (DESLANDES, 2004).
É fundamental no processo de humanização, entender a
equipe, de maneira interdisciplinar, atuando e potencializando as
25
ações
entre
si,
respeitando
o
potencial
de
cada
um.
Os
profissionais da saúde que trabalham em UTI são confrontados
diariamente com questões relativas a morte; o qu e pode ser
relacionado as causas geradoras de estresse. Vários estudos
Chiattonne
(1997),
Souza
et
al.
(1985),
Sebastian
(1998),
assinalam a violenta gama de estímulos emocionais nocivos aos
quais os profissionais de saúde estão intermitentemente expostos
entre eles: A atitude (muitas vezes interpretada como agressiva
e/ou invasiva) de lidar com a intimidade emocional e corporal do
paciente; Conviver com limitações técnicas, pessoais e materiais
em contraponto ao alto grau de expectativas e cobranças lançad as
sobre este profissional pelos pacientes, familiares, instituição
hospitalar e até mesmo do próprio profissional; A solicitação
intermitente de decisões rápidas e precisas, a cruel e desumana
tarefa de “selecionar” quem usa este ou aquele equipamento, po is
o número de urgências graves é quase sempre superior aos
recursos; Nos berçários de alto risco, estas equipes têm que optar
em atender uma superpopulação de bebês gravemente enfermos,
expondo-os a riscos de contaminação e infecção hospitalar e,
conseqüentemente, à morte ou dizer não a pais desesperados, que
sabem que as chances de encontrar um outro hospital com
recursos necessários é pequena.
Diante destes questionamentos espera -se que as equipes
estejam
treinadas
e
experimentadas
para
lidar
com
essas
situações. Molter (1979) diz que lidar com o corpo do paciente,
suas excreções e dores, na prestação de cuidados de enfermagem
revela
sobremaneira
a
quantidade
de
ansiedade
suportável,
desencadeando nos enfermeiros defesas rigidamente estruturadas.
Hudak et al. (1994) aponta que o sofrimento psíquico da equipe
hospitalar pode ser identificada pelas jornadas prolongadas e ritmo
acelerado de trabalho, a quase inexistência de pausas para
26
descanso ao longo do dia, a intensa responsabilidade por cada
tarefa a ser executada com a pressão de ter “uma vida nas mãos”.
As intercorrências inesperadas como mudanças repentinas
no estado clínico de um paciente que estava bem, aumentam a
tensão e a ansiedade. Estas situações geram inquietude na equipe
como um todo e os faz avaliar as capacidades pessoais de conviver
no ambiente da UTI. Estes sentimentos podem levar a frustração,
raiva, depressão e falta de confiança em si próprio, diminuindo a
satisfação com o trabalho (CHIATTONE, 1997).
É importante que a equipe esteja atenta e colabore para o
trabalho interativo, contribuindo para o saber multidisciplinar,
facilitando sempre o processo comunicacional. Uma equipe coesa
facilitará o trabalho interacional, podendo estruturar grupos para
reuniões
científicas,
discussão
de
casos
clínicos,
buscando
aperfeiçoar o atendimento aos pacientes, através da estruturação
de condutas discutidas em equipe. Muitas vezes, há necessidade
de esclarecimentos, trocas de informações e conhecimentos, que
permitirão aos profissionais preparar m elhor o paciente com
informações esclarecedoras. O trabalho em equipe como nos fala
Sebastian (1998), além de acrescentar conhecimentos e dividir
ansiedades, favorece o surgimento de soluções (PESSINI, 2004).
Vale
lembrar
que
o
cuidado
emocional
é
de
responsabilidade de toda a equipe de saúde, que precisa estar em
condições
emocionais
de
trabalhar
com
os
pacientes,
seus
familiares e comunidades. Ser saudável é uma conquista que deve
ser buscada não só para os pacientes, mas também para a vida
dos profissionais que atuam em UTI. Sebastian (1998) comenta
ainda que: o bom senso, as trocas de conhecimentos entre os
profissionais, o autoconhecimento, a interajuda, o apoio entre os
membros da equipe facilitarão a atuação de cada um em benefício
próprio, do paciente e da instituição. Pequenas atitudes dos
profissionais podem indicar o processo da humanização, e resgatar
27
a dignidade do ser humano, muitas vezes abalada pela situação de
internação.
2.5.1 A interação da equipe
A dificuldade em trabalhar em equipe em decorrência da
desumanização das relações é um fato comum que traz muitas
aflições aos membros que fazem parte do cuidado intensivo. A
impessoalidade e os conflitos que ocorrem nas relações entre os
profissionais na UTI estão diretamente relacionados ao cuidando
do
paciente
crítico.
Algumas
características
são
do
próprio
cotidiano de trabalho. A sobrecarga física e emocional, as perdas e
as mortes constantes, a não liberação das emoções, a autonomia e
os limites do trabalho da equipe são, indubitavelmente, fatores que
interferem na relação interpessoal entre os membros da equipe e
entre o profissional e o paciente (SILVA; ARAÚJO, FUGGINO,
2009).
A integração do trabalho da equipe nas UTIs é marcado
por
inúmeras
contradições.
É
necessário
provocar
dor
em
intervalos de tempo regulares para que se possa manter a vida e
cuidar de pessoas que “não dão sinais” de que continuam vivas.
Para o profissional, parece ainda não haver relação de troca na
interação com alguns pacientes, em razão da imobilidade e
impossibilidade de verbalização (PINHO; SANTOS, 2008).
Convive-se com sentimentos dicotômicos oriundos desses
paradoxos, por vezes desejando algo contrário a seus princípios,
tal como a morte de alguém a quem se dedica o cuidado. Além
desses
paradoxos,
há
a
sobrecarga
física
e
emocional.
É
fisicamente extenuante cuidar de pacientes com o dobro do seu
28
peso corpóreo e que são totalmente dependentes da equipe para a
higienização e mobilização freqüentes (VILA; ROSSI, 2002).
A sobrecarga emocional da equipe de saúde como um
todo na UTI tem sido amplamente discutida na literatura (VILA;
ROSSI,
2002;
LEITE;
VILA,
2005;
ESSLINGER,
2004),
que
identifica diversos fatores que contribuem para o esgotamento
psíquico do trabalhador.
Pela natureza de seu trabalho, o con tato da equipe com o
paciente e sua família é maior e mais estreito, o que possibilita a
escuta e a identificação de necessidades. Porém, também é um
fator que causa estresse e ansiedade para o profissional, à medida
que não é possível suprir todas as demandas identificadas, seja
pelo limite de atuação profissional, seja pela sobrecarga de
atividades (SILVA; ARAÚJO, FUGGINO, 2009).
A própria equipe multidisciplinar também é um fator que
gera estresse ao profissional, sobretudo no que tange à falta de
compromisso e coleguismo de alguns membros da equipe (LEITE;
VILA, 2005). O clima de trabalho exaustivo e tenso provoca
desmotivação
e
conflitos,
produzindo
relações
de
trabalho
inadequadas, em um contexto que muitas vezes não possui um
bom delineamento dos limites de atuação profissional de cada um
dos envolvidos.
Outro
fator
agravante
da
sobrecarga
emocional
dos
trabalhadores em UTI é a instabilidade clínica e a gravidade dos
pacientes atendidos que gera uma expectativa constante de ter de
lidar com situações de emergência em que há risco de morte. Lidar
constantemente com o sofrimento do paciente e de seus familiares,
a dor física e emocional do outro, o inesperado, o limite e as
perdas e mortes freqüentes contribuem para o esgotamento
psíquico dos profissionais (PEREIRA; BUENO, 1997).
29
À medida que os profissionais são incentivados a priorizar
os aspectos técnicos de sua prática profissional, negam com
frequência, suas emoções, reprimindo-as por trás de uma aparente
frieza. Essa “neutralidade” em relação ao sofrimento causa um
distanciamento que empobrece o relacionamento com os pacientes
e familiares. Esse é o mecanismo de enfrentamento mais utilizado
pelo profissional que trabalha em UTI e paradoxalmente, também
um dos fatores que mais contribuem para a desumanização do
cuidado em um ciclo vicioso (SILVA; ARAÚJO, FUGGINO, 2009).
Diante
desses
fatores,
os
profissionais
buscam,
compulsivamente, alternativas para melhorar seu estado emocional
e suas condições de trabalho. Há a necessidade de bate -papos
informais, diversas pausas para o “café” no turno de trabalho e
horários de almoço e de descanso noturno estendidos, não apenas
para o repouso, mas para ouvir música, assistir televisão e
conversar (PEREIRA; BUENO, 1997).
Para
exercer
a
profissão
com
honra
e
dignidade,
respeitando o outro e sua condição humana, os profissionais de
saúde também precisam ser tratados com dignidade, com melhores
condições de trabalho, melhores remunerações e reconhecimento e
valorização
de
suas
atividades
e
iniciativas,
além
do
reconhecimento de seus limites profissionais (BACKES et al.,
2006).
Para humanizar o cuidado, também é necessário cuidar do
cuidador. É importante resgatar a realização pessoal, a alegria e o
prazer no trabalho, ter espaço para falar e ser ouvido e reflet ir
sobre o fazer. É necessário que cada um saiba o que é esperado
de seu trabalho, encorajando a responsabilidade do profissional
pelos próprios atos. Também é necessário deixar claro o impacto
que o trabalho de um membro tem sobre o trabalho da equipe com o
um todo (SILVA; ARAÚJO, FUGGINO, 2009).
30
A tabela abaixo apresenta algumas propostas concretas
de
ação
para
a
humanização
das
relações
na
equipe
de
enfermagem nas UTIs.
Tabela 3. Propostas de ação para a humanização das relações na
equipe
Cuidar de si mesmo: ter uma atividade de lazer prazerosa, expor
sentimentos,
chorar
as
perdas,
vivenciar
os
lutos
e
buscar
acompanhamento psicológico, quando necessário
Utilizar, de forma adequada, técnicas de comunicação interpessoal (p.
ex., comportamento empático e escuta ativa): melhora o relacionamento
com pacientes, familiares e demais membros da equipe
Ser solidário e cooperar com os colegas no trabalho
Criar um grupo de discussão, com encontros regulares com os colegas
de trabalho, para compartilhar situações vivenciadas e criar estratégias
para ancorar os princípios bioéticos de autonomia, beneficência e
justiça
Promover atividades integradoras entre a equipe, como happy hours,
confraternizações, gincanas, entre outras
Investir na educação continuada: aprimorar as habilidades relacionais
com leituras, cursos, palestras, dinâmicas e discussões de casos .
Fonte: SILVA; ARAÚJO, FUGGINO, 2009.
2.6
Normativas
generalistas
existentes
em
nível
nacional
quanto as rotinas de UTI
Para atender a essas necessidades, o governo federal, em
maio de 2000, regulamentou o Programa Nacional de Humanização
da Assistência Hospitalar (PNHAH), com a finalidade de criar uma
cultura de humanização. Com o objetivo de melhorar o atendimento
à
população,
essa
iniciativa
resgata
e
incentiva
o
bom
31
relacionamento
entre
profissionais de
saúde
e
pacientes.
O
programa destaca claramente a importância da associação entre os
aspectos
tecnológicos
da
assistência
e
as
habilidades
de
relacionamento dos profissionais de saúde para a melhora da
qualidade assistencial. Assim, considera a comunicação adequada
como o fator estratégico para um atendimento mais humano e
solidário (BRASIL, 2000; DESLANDES, 2004; OLIVEIRA; COLLET;
VIEIRA, 2006).
As propostas do PNHAH abrangeram alguns hospitais da
rede pública, capacitando os trabalhadores e estimulando o
trabalho em equipe multiprofissional e a gestão de indivíduos como
cuidadores (SILVA; ARAÚJO; PUGGINA, 2009).
Em 2004, com o objetivo de estabelecer um caráter
transversal à cultura de humanização, para atingir todos os níveis
de atenção à saúde, o Ministério da Saúde estabeleceu a Política
Nacional de Humanização (PNH), conhecida como Humaniza SUS
(BRASIL, 2004).
A PNH complementa e aprimora o programa anterior,
agregando a necessidade de melhora dos aspectos organizacionais
do atendimento à população, além de estabelecer estratégias e
diretrizes para a implementação da cultura de humanização nas
instituições, por nível de atenção (FORTES, 2004; HENNINGTON,
2008).
Nos níveis de atenção hospitalar e especializada, em que
se incluem as UTIs, algumas diretrizes da PNH (BRASIL, 2004)
podem ser visualizadas na tabela abaixo.
32
Tabela
4.
Diretrizes
da
Política
Nacional
de
Humanização
relacionadas ao atendimento em Unidades de Terapia Intensiva
Garantia de visita aberta, por meio da presença do acompanhante e sua
rede social, respeitando a dinâmica de cada unidade hospitalar e as
peculiaridades das necessidades do acompanhante
Mecanismo de recepção com acolhimento dos usuários
Mecanismos de escuta para a população e os trabalhadores
Garantia de continuidade da assistência
Definição de protocolos clínicos, garantindo a eliminação de
intervenções desnecessárias e respeitando as diferenças e as
necessidades do sujeito
Equipe multiprofissional de atenção à saúde, com horário pactuado para
atendimento à família e/ou à sua rede social
Existência de Grupos de Trabalho de Humanização, com um plano de
trabalho definido
Fonte: BRASIL, 2004.
Vale destacar que a humanização das UTIs é um dever
moral, ético e legal dos profissionais de saúde. Além da PNH,
diversas leis federais e estaduais garantem o direito
a um
atendimento à saúde mais digno (FORTES, 2004; BACKES et al.,
2006; HENNINGTON, 2008).
A própria Constituição Brasileira oferece o amparo legal à
humanização em seu art. 1º, inc. 3º, ao afirmar a dignidade da
pessoa humana como um dos fundamentos do Estado Democrático
de Direito (BRASIL, 2008).
Em relação aos enfermeiros, o Código de Ética dos
Profissionais de Enfermagem, quanto aos princípios fundamentais
da profissão, em seu art. 3º, norteia a prática profissional para o
respeito à vida, à dignidade e aos direitos do ser humano, em todas
as suas dimensões (COFEN, 2007).
Visto que existem um Código de Ética Profissional, um
Programa Nacional e uma Constituição Federal que asseguram e
33
estimulam o respeito à dignidade do ser humano, por que ainda
precisamos falar para os profissionais de todas as especialidades
em saúde acerca da humanização? Isso ocorre porque, além da
responsabilidade
ética,
o
comportamento
dos
profissionais
depende, em principal, do compromisso individual de cada pessoa
(SILVA; ARAÚJO; PUGGINA, 2009).
Sem mudança de atitude na relação com o outro, é
impossível humanizar o cuidado e a assistência. Não é possível
sustentar o discurso do humanismo se não tomarmos cuidado com
as palavras que utilizamos na conversa, se nos esquecermos da
importância de prestar atenção ao outro, de ouvir o que o outro
está falando sem deixar o pensamento divagar e de cumprimentar o
outro com um sorriso ou aperto de mãos e se fingirmos não
perceber os sentimentos e as necessidades do outro.
Para humanizar a assistência em UTI, é necessário
atentar para todas as dimensões do cuidado: o ambiente, o
paciente, a família e a equipe, em seus aspectos biológico,
emocional, espiritual e social.
2.7 Humanização em Terapia Intensiva
As UTIs oferecem monitoração hemodinâmica invasiva,
mas nem sempre permitem que uma esposa visite seu marido fora
de
horários
visualização
preestabelecidos.
de
pequenas
Os
alterações
tomógrafos
permitem
morfológicas
dentro
a
do
organismo, mas os pacientes ficam sem seus óculos. Há a
preocupação em informar à família que, em decorrência da bactéria
multirresistente X, o antibiótico Y foi substituído pelo Z e que por
essa razão eles precisam usar luvas e avental ao entrar no quarto,
mas esquecem o nome do paciente. Contudo, de que adianta ter
ciência e tecnologia sofisticadas ao alcance se esquecem-se que o
34
objetivo do trabalho em saúde é assistir o ser humano, em sua
totalidade e complexidade? (SILVA; ARAÚJO; PUGGINA, 2009).
Se a assistência não for empregada levando -se em conta
os valores humanos e éticos, ela perde seu sentido de existência.
Um valor produzido pelo conhecimento deve derivar -se do valor
pela vida. Se o uso da tecnologia e dos processos de trabalho é
decorrente do conhecimento humano, mas obscurece o próprio ser
humano, pode-se concluir que o homem se perdeu em alguma
etapa do processo ou deixou-se dominar pela máquina (PESSINI,
2004).
Pode-se afirmar que, na atualidade, todo o sistema de
saúde está passando por uma crise de valores e identidade, na
qual o processo e a tecnociência parecem ser valorizados em
detrimento do indivíduo. De acordo com Pessini (2004), com
frequência, são observados ambientes tecnicamente perfeitos, mas
sem alma e ternura humana. Essa desumanização do cuidado é
ainda mais notória nas UTIs, em que, por conta do domínio
operacional dos aparelhos e a
realização
de procedimentos
técnicos, o cuidador e o ser cuidado parecem estar afastados.
Para
Barnard
(1997),
os
profissionais
de
saúde,
envolvidos na ciência do cuidar, são norteados por conceitos
humanísticos, mas de modo pouco crítico, t êm adotado valores
mecanicistas, que modificaram profundamente sua prática nas
últimas
décadas.
Essa
mudança
paradigmática
tem
revelado
cuidadores altamente especializados e capacitados para o domínio
de
equipamentos,
relacionamento
no
mas
pouco
trabalho
afetivos,
em
com
equipe
e
problemas
de
dificuldades
no
atendimento às necessidades humanas básicas dos pacientes. No
contexto da terapia intensiva, a tecnologia e a humanização devem
ser indissociáveis e complementares em prol da integralidade da
assistência. Sem dúvida, trata-se de um grande desafio a ser
gerenciado por todos (ARONE; CUNHA, 2007).
35
O descontentamento com esse cenário que coisifica e
desvaloriza o ser humano, por enfocar o aspecto técnico do
cuidado, tem levado os profissionais a repensar sua prática e
resgatar os valores humanísticos que embasam a profissão. Nas
UTIs, observam-se movimentos de humanização, na tentativa de
aliar a competência técnico-científica ao humanismo, que prega a
compaixão e o respeito à dignidade humana (PESSINI, 2004).
Humanizar
conhecimento
a
assistência
nas
técnico-científico,
UTIs
a
é
integrar
ao
responsabilidade,
a
sensibilidade, a ética e a solidariedade no cuidado ao paciente e
seus familiares e na interação com a equipe. Pressupõe aliviar a
dor e o sofrimento do outro; compaixão, ou seja, empatia traduzida
em ação solidária concreta; respeito à dignidade e autonomia do
outro; compreensão do significado da vida, em seus aspectos
éticos, culturais, econômicos, sociais e educacionais; e valorização
da dimensão humana do paciente em detrimento de sua patologia
(SILVA; ARAÚJO; PUGGINA, 2009).
O movimento de humanização não é restrito às UTIs, mas
a todo o sistema de saúde brasileiro:
“(...) Na avaliação do público, a forma de atendimento, a
capacidade demonstrada pelos profissionais de saúde
para compreender suas demandas e suas expectativas
são fatores que chegam a ser mais valorizados que a
falta de médicos, a falta de espaço nos hospitais e a
falta
de
medicamentos.
(...)
As
tecnologias
e
os
dispositivos organizacionais não funcionam sozinhos –
sua eficácia é fortemente influenciada pela qualidade do
fator humano e do relacionamento que se estabelece
entre
profissionais
e
usuários
atendimento.” (BRASIL, 2000).
no
processo
de
36
A experiência de estar internado em uma UTI e de passar
pelo estado de coma é um processo complexo, que pode deixar
marcas profundas nos indivíduos que vivenciam essa situação.
Muitas dessas marcas não estão somente ligadas ao coma em si,
mas às experiências de ter sido “descuidado” durante esse
processo, levando muitos doentes a precisar se recuperar não
apenas da doença, mas também do fato de terem se tornado
“pacientes”. Isso ocorre porque, apesar dos avanços teóricos
acerca
do
cuidado,
a
prática
ainda
está
baseada,
quase
exclusivamente, em ações profissionais despersonalizadas, em que
o ser se torna a doença, o objeto passivo da investigaç ão e do
tratamento (SILVA; SCHLICKNANN; FARIA, 2002).
O cuidado do profissional de saúde, com certeza é um dos
itens mais difíceis de ser implementado. Em decorrência da rotina
diária e complexa que envolve o ambiente da UTI, os membros da
equipe esquecem de tocar e conversar com o ser humano que está
à sua frente (VILA; ROSSI, 2002). Ao realizar uma atividade
técnica,
sem estar presente de
profissional não
está
realmente
corpo, mente e espírito, o
cuidando,
realizando um procedimento (WALDOW, 2001).
mas
tão somente
3 ANÁLISE DOS RESULTADOS
3.1 Dados do Local de Estudo
O Hospital Regional de Sorriso foi inaugurado em 18 de
maio de 1989 e está localizado na Av. Porto Alegre, 2984, no
Centro do município de Sorriso em Mato Grosso.
É
uma
procedimentos
de
unidade
pública
média
alta
e
com
atendimento
complexidade,
de
ambulatorial,
internação, emergencial e de acordo com a demanda da clientela
espontânea e referenciada, que atende a população de mais de 15
cidades no norte do Estado, com convênio da Secretaria Estadual
de Saúde e a Fundação Nacional de Saúde (FUNASA).
Atualmente disponibiliza 120 leitos no total, distribuídos
nas mais diversas especialidades, entre eles 9 leitos de UTI adulto
e 9 de neonatal somente não tem leito de pediátrica.
38
Figura 1. Fachada do Hospital Regional de Sorriso.
Fonte: CUCHI, 2009..
3.2 Análise dos resultados
Participaram da pesquisa um total de 25 funcionários do
Hospital Regional de Sorriso, que voluntariamente, responderam ao
questionário proposto, sendo destes participantes 18 mulheres e 7
homens (figura 2).
39
72,0%
Gênero
80,0%
70,0%
60,0%
50,0%
40,0%
28,0%
30,0%
20,0%
10,0%
0,0%
Fem
Mas
Figura 2. Proporção dos participantes da pesquisa, em relação ao gênero.
Fonte: CUCHI, 2009..
A idade dos entrevistados ficou distribuída entre 18 e
acima de 50 anos, sendo que 24,0% estão na faixa etária entre 18
e 25 anos, 16,0% encontram-se entre 26 e 33 anos, seguidos de
28,0% entre 34 e 41 anos, 20,0% entre 42 e 49 anos e 12,0%
acima de 50 anos de idade (figura 3).
30,0%
28,0%
Idade
24,0%
25,0%
20,0%
20,0%
16,0%
15,0%
12,0%
10,0%
5,0%
0,0%
18-25 anos
26-33 anos
34-41 anos
42-49 anos
> 50 anos
Figura 3. Distribuição da idade dos participantes da pesquisa.
Fonte: CUCHI, 2009..
40
Entre os participantes da pesquisa, 56,0% são solteiros,
20,0% estão casados, seguidos de 16,0% que são divorciados e
8,0% amasiados (figura 4).
56,0%
60,0%
Estado civil
50,0%
40,0%
30,0%
20,0%
20,0%
16,0%
10,0%
8,0%
0,0%
Solteiro
Casado
Divorciado
Amasiado
Figura 4. Distribuição do estado civil dos participantes da pesquisa.
Fonte: CUCHI, 2009.
A Escolaridade dos participantes ficou assim distribuída:
48,0%
ensino
médio,
especialistas (figura 5).
32,0%
ensino
superior
e
20,0%
são
41
50,0%
48,0%
Escolaridade
45,0%
40,0%
32,0%
35,0%
30,0%
25,0%
20,0%
20,0%
15,0%
10,0%
5,0%
0,0%
Ensino Médio
Ensio Superior
Especialista
Figura 5. Distribuição da escolaridade dos participantes da pesquisa.
Fonte: CUCHI, 2009.
A renda familiar refere 48,0% entre 1-3 salários mínimos,
seguidos de 32,0% entre 7-10 SM e 20,0% com renda superior a 11
SM (figura 6).
50,0%
48,0%
Renda familiar
45,0%
40,0%
32,0%
35,0%
30,0%
25,0%
20,0%
20,0%
15,0%
10,0%
5,0%
0,0%
1-3 SM
7-10 SM
> 11 SM
Figura 6. Distribuição da renda familiar dos participantes da pesquisa.
Fonte: CUCHI, 2009.
42
A
atividade
ou
função
exercida
pelo s
funcionários
participantes da pesquisa, 16,0% são enfermeiros, 20,0% são
médicos, 60,0% são auxiliares técnicos e 4,0% são membros da
atividade administrativa do hospital (figura 7).
Atividade/função
60,0%
60,0%
50,0%
40,0%
30,0%
16,0%
20,0%
20,0%
10,0%
0,0%
4,0%
Enfermeiro
Médico
Auxiliar técnico
Administrativo
Figura 7. Distribuição das atividades e funções dos participantes da pesquisa.
Fonte: CUCHI, 2009..
Quanto ao tempo em que exerce a profissão, 8,0% está
entre 1-3 anos, 48,0% tem entre 4 e 6 anos de profissão, seguidos
de 24,0% que possui entre 7-10 anos e 20,0% possui mais de 11
anos exerce a mesma profissão (figura 8).
43
48,0%
50,0%
Tempo que exerce a profissão
45,0%
40,0%
35,0%
30,0%
24,0%
25,0%
20,0%
20,0%
15,0%
8,0%
10,0%
5,0%
0,0%
1-3 anos
4-6 anos
7-10 anos
> 11 anos
Figura 8. Distribuição do tempo em que exerce a profissão dos participantes da
pesquisa.
Fonte: CUCHI, 2009.
Questionados se considera o trabalhar em UTI um fator
estressante para sua vida pessoal ou profissional , obteve-se que
20,0% considera sim o trabalho em UTI um fator estressante,
seguidos de 56,0% que não considera e 24,0% referem que nem
sempre é estressante o trabalho em UTI (figura 9).
60,0%
56,0%
Considera estressante trabalhar em UTI
50,0%
40,0%
30,0%
20,0%
24,0%
20,0%
10,0%
0,0%
Sim
Não
Nem sempre
Figura 9. Distribuição da opinião dos participantes se considera o trabalhar em
UTI um fator estressante.
Fonte: CUCHI, 2009.
44
Se o Hospital tem um Programa de Humanização da
Assistência Hospitalar, 76,0% dos entrevistados responderam que
sim, seguidos de 24,0% que refere não saber da existência do
programa (figura 10).
76,0%
80,0%
O Hospital tem um Programa de Humanização
da Assistência Hospitalar
70,0%
60,0%
50,0%
40,0%
24,0%
30,0%
20,0%
10,0%
0,0%
Sim
Não sei
Figura 10. Distribuição do conhecimento da existência de um Programa de
Humanização da Assistência Hospitalar no Hospital Regional de Sorris o entre
os participantes.
Fonte: CUCHI, 2009.
Buscou-se ainda, conhecer se o funcionário recebeu uma
formação profissional adequada e suficiente para a atuação junto a
pacientes de UTI, sendo que 76,0% informa que recebeu, seguidos
de 8,0% que afirma não ter recebido formação adequada e 16,0%
acredita que poderia ser melhor capacitado para trabalhar em UTI
(figura 11).
45
80,0%
76,0%
70,0%
Recebeu formação adequada
para atuar em UTI
60,0%
50,0%
40,0%
30,0%
20,0%
16,0%
8,0%
10,0%
0,0%
Sim
Não
Eu poderia ser
melhor capacitado
Figura 11. Distribuição da opinião dos participantes se recebeu formação
profissional adequada e suficiente para a atuação junto a pacientes de UTI.
Fonte: CUCHI, 2009.
Assistência humanizada para 60,0% é recolher o paciente
também
como
ser
digno
de
amor
e
livre
biológica
e
psicologicamente, sendo capaz de determinar -se por si próprio nas
suas ações e com liberdade de escolha, de opção, além de
prestação de cuidado, e para 8,0% é ter como ponto final do seu
trabalho apenas o cuidado de atendimento/procedimentos, não a
manutenção da vida a qualquer custo e para 32,0% é Colocando-se
no lugar do próximo, utilizando palavras simples co mo bom-dia,
obrigada, posso ajudar? (figura 12).
46
60,0%
Assistência humanizada é
60,0%
50,0%
40,0%
32,0%
30,0%
20,0%
8,0%
10,0%
0,0%
Recolher o paciente também
como ser digno de amor e livre Ter como ponto final do seu
biológica e psicologicamente, trabalho apenas o cuidado de
sendo capaz de determinar-seatendimento/procedimentos, não Colocando-se no lugar do
por si próprio nas suas ações ae manutenção da vida a qualquer próximo, utilizando palavras
simples como bom-dia,
com liberdade de escolha, de
custo
obrigada, posso ajudar?
opção, além de prestação de
cuidado
Figura 12. Distribuição da opinião dos participantes referente ao que é
assistência humanizada .
Fonte: CUCHI, 2009.
O participante classifica como sendo mais importante na
assistência dentro de uma unidade de terapia intensiva, para 12,0%
é um cuidado tecnológico de alta complexidade, sendo que para
12,0% um cuidado voltado à patologia do paciente, para 44,0% um
cuidado com calor humano e 32,0% considera um cuidado holístico,
com calor humano e de qualidade (figura 13).
47
45,0%
40,0%
Mais importante na
assistência em UTI
44,0%
35,0%
32,0%
30,0%
25,0%
20,0%
15,0%
12,0%
12,0%
10,0%
5,0%
0,0%
Um cuidado
tecnológico de Um cuidado
voltado à
alta
patologia
do
complexidade
paciente
Um cuidado
com calor
humano
Um cuidado
holístico, com
calor humano e
de qualidade
Figura 13. Distribuição da opinião dos participantes referente à classificação
como sendo mais importante na assistência dentro de uma unidade de terapia
intensiva.
Fonte: CUCHI, 2009.
As dificuldades encontradas pelo profissional, em relação
à permanência dos familiares junto ao paciente em UTI. Para
32,0% ocorre a falta de espaço, área física, sendo que para 16,0%
há uma incompreensão dos familiares relacionada aos horários de
procedimentos, visitas e passagem de plantão , para 40,0% há
i ncompreensão da equipe multiprofissional nas diferentes situações
que envolvem a dinâmica da assistência prestada e 12,0% não vê
nenhuma dificuldade, desde que bem orientado da importância da
família na recuperação do paciente (figura 14) .
48
40,0%
40,0%
32,0%
35,0%
Permanência de familiares
junto ao paciente em UTI
30,0%
25,0%
20,0%
16,0%
15,0%
12,0%
10,0%
5,0%
0,0%
Falta de espaço, área física
Incompreensão dos
familiares relacionada aos Incompreensão da equipe
horários de
multiprofissional nas
procedimentos, visitas e diferentes situações que
passagem de plantão
envolvem a dinâmica da
assistência prestada
Nenhuma dificuldade,
desde que bem
orientado(a) da
importância da família na
recuperação do paciente
Figura 14. Distribuição da opinião dos participantes referente as dificuldades
encontradas pelo profissional, em relação a permanência dos familiares junto
ao paciente em UTI.
Fonte: CUCHI, 2009.
A questão do ambiente da UTI do hospital proporciona r
conforto ao paciente é entendida por 40,0% que sim, 24,0%
acredita que não, sendo que 36,0% refere que o mais importante é
o tratamento adequado do paciente (figura 15).
49
40,0%
40,0%
O ambiente da UTI do hospital
proporciona conforto ao paciente
36,0%
35,0%
30,0%
24,0%
25,0%
20,0%
15,0%
10,0%
5,0%
0,0%
Sim
Não
Mais importante
é o tratamento
Figura 15. Distribuição da opinião dos participantes se o ambiente da UTI do
hospital pode proporcionar conforto ao paciente .
Fonte: CUCHI, 2009.
Determinados fatores são referidos pelos participantes
como preocupantes durante o horário de visita dos familiares ,
assim para 40,0% referem ter medo de alguém da família destratar
(tratar mal) à você ou à alguém da equipe, seguido de 32,0% dizer
ter medo que o familiar visitante, por ser um desconhecedor das
normas
de
biossegurança,
traga
para
dentro
da
unidade
contaminação externa, sendo que 16,0% tem medo que o familiar
acuse a equipe de ser culpada pelo estado de seu ente internado,
para 4,0% a visita impede que o profissional desenvolva todas as
obrigações
dentro
dos
prazos
estipulados,
atrapalhando
os
procedimentos e para 8,0% tem receio que aconteça imprevistos
durante a visita, tais como óbito, PCT, entre outros que levem à
quebra da rotina normal da visita.
Os
participantes
ainda
alegam
outros
fatores
que
preocupam, tais como: o sofrimento da família, o médico quase não
explica nada para família, não poder ajudar a família, entre outros
(figura 16).
50
40,0%
Fatores preocupantes durante
o horário de visita familiar
40,0%
35,0%
32,0%
30,0%
25,0%
20,0%
16,0%
15,0%
10,0%
8,0%
5,0%
4,0%
0,0%
Medo de alguém
Medo que o
da família
Medo que o
destratar (tratar familiar visitante, familiar acuse a A visita impede
por ser um
Receio que
mal) à vc ou à
que eu
equipe de ser
aconteça
alguém da equipedesconhecedor culpada pelo desenvolva todas
das normas de
imprevistos
as minhas
estado
de
seu
biossegurança,
obrigações dentro durante a visita,
traga para dentro ente internado
tais como óbito,
dos prazos
da unidade
estipulados, PCT, entre outros
contaminação
que levem à
atrapalhando os
externa
procedimentos quebra da rotina
normal da visita
Figura 16. Distribuição da opinião dos participantes referente aos fatores quem
possam preocupar durante o horário de visita familiar .
Fonte: CUCHI, 2009.
Quanto às dificuldades que os profissionais encontram
para trabalhar em UTI, algo que os incomode, tais como condições
de trabalho, organização, interações socioprofissionais, ambiente,
entre outros, os participantes relatam que são necessários mais
técnicos
para
ajudar,
tem
muito
barulho
no
ambiente,
são
necessários mais médicos para dar mais atenção ao paciente, a
circulação de crianças na UTI adulto, são fatores que dificultam o
bom desenvolvimento do trabalho de toda a equipe.
Foi solicitando, ainda, que os participantes indicassem o
que precisa melhorar na UTI do hospital, sendo que, de forma
sucinta, foi sugerido: que o atendimento seja mais humano, que os
médicos devem atender e dar atenção também à família, mais
51
funcionários para ajudar nos procedimentos e rotinas da UTI,
acabar com os contratos de trabalho e fazer concurso público, mais
interesse de alguns profissionais, humanizar como, por exemplo,
em homenagem colocar o nome do Dr. Jardel que ajudou muito
para a UTI ficar 100% e morreu aqui.
4 DISCUSSÃO
A humanização na unidade de terapia intensiva (UTI) tem
sido uma grande preocupação por parte dos profissionais da saúde
com intuito de oferecer uma assistência com qualidade.
Segundo Ferreira (2001), humanização é o ato ou efeito
de humanizar, é dar condições humanas, civilizar -se, é assegurar o
máximo conforto material e moral ao paciente, e respeitar os seus
desejos,
inquietações
e
suas
lembranças.
Nas
ações
da
humanização procura-se resgatar o respeito à vida humana, a do
profissional e a do paciente, criando, assim, um vínculo entre quem
cuida e quem é cuidado.
Para Carlos, Rodrigues e Souza (2005), Humanização na
unidade de terapia intensiva significa estar envolvido com o
paciente e a família, pois além de cuidar de sinais e sintomas
físicos
apresentados
pelo
paciente,
busca-se
identificar
os
problemas e assistir o indivíduo em sua plenitude, visando suprir
suas necessidades básicas, procurando avaliar a assistência
prestada para garantir a eficácia do trabalho e o contato mais
próximo com os familiares.
Segundo Tânia (2003), a competência do profissional que
atua em UTI, independentemente da faixa etária, ocupa espaço
social para o fortalecimento de uma consciência crítica sobre a
prática das rotinas e procedimentos, possibilitando ao profissional
de agora os instrumentos simbólicos necessários à compreensão
do seu posicionamento da sociedade e assegurando a sua
identidade profissional e ética.
53
Martins et al. (2003) refere haver hoje um número mínimo
significativo de profissionais que se especializam cada vez mais
para atender às expectativas médico-hospitalares.
Segundo Santos (1999), para que se possa conhecer a
realidade do cuidado de UTI é necessário compreender como o
trabalho acontece neste ambiente, e o significado cultural que os
profissionais dessa área atribuem à humanização.
Segundo
Santos
(1999),
assistência
humanizada
é
aquela que visa qualificar o indivíduo em sua totalidade, buscando
suprir as necessidades do paciente internado.
Sobre conhecimento da assistência humanizada, segundo
Barbosa (2003), é imprescindível a participação dos profissionais
envolvidos
com
educação
continuada,
fazendo
com
que
desenvolvam suas atividades de maneira eficiente, planejada e
contínua.
Neste
sentido,
para
Caccarro
(1997),
é
durante
a
prestação dos cuidados que a arte pode emergir. A obra de arte
surge quando o profissional e o seu cliente se aproximam,
estabelecendo laços afetivos e intuitivos, concretos e imaginários,
que se reforçam a partir do cuidado do “espírito” de ambos.
Também para Watson (1985), o cuidado da enfermagem e
a ação da equipe multiprofissional são primordiais no atendimento
dos pacientes que leva à dignidade humana.
O mais importante no cuidado em UTI, segundo Martins;
Optz; Évora; Fávero e Trevizan (2003), cabe à equipe estar
construindo o trabalho passo a passo, criar novos processos de
rotinas,
inovar,
buscar,
não
ter
medo
de
errar,
vencer
o
conformismo e a submissão, não esquecendo nunca que
o
profissional que atua nessa área é “gente que cuida de gente”, e o
trabalho
deve
incessantemente
buscar
a
humanização
nos
54
aspectos éticos, dentre outros, obtendo, assim, a realização
profissional.
Em
trabalho
realizado
por
Neman
e
Souza
(2003)
confirmam que a presença da família é importante no tratamento de
forma a investir nas possibilidades de recuperação do paciente.
Segundo Gomes (1988), não é suficiente deixar a família
entrar na UTI. É necessário “trabalhá -la” para potencializar o
trabalho do profissional; é preciso questioná-la sobre as dúvidas,
observar-lhe as reações e os comportamentos, entender -lhe as
emoções.
Para Silva (2001), o profissional que atua em UTI sente-se
preparado para lidar com os pacientes na presença dos familiares,
porém acredita que os mesmos dão trabalho devido a suas
expectativas, e por querer que alguém lhes dê alguma certeza.
Por
isso,
ainda
para
Neman
e
Souza
(2003),
complementam que a família é uma parte da equipe de saúde,
atuando como recurso na promoção do conforto e bem-estar do
paciente.
Santos,
profissionais
que
Toledo
e
trabalham
Silva
na
(1999)
UTI
afirmam
devem
criar
que
um
os
bom
relacionamento com a família, buscando facilitar sua participação
no tratamento do paciente, e elaborar um plano de visita que possa
atender, na medida do possível, as necessidades do paciente, da
família e equipe.
Os profissionais da saúde que trabalham em UTI são
confrontados diariamente com questões relativas a morte; o que
pode ser relacionado com as causas geradoras de estresse. Vários
estudos de Chiattonne (1997), Sebastian (1997), Salício (2006),
assinalam a violenta gama de estímulos emocionais nocivos aos
quais os profissionais de saúde estão intermitentemente expostos,
55
onde
espera-se
que
as
equipes
estejam
treinadas
e
experimentadas para lidar com essas situações.
Gaiva (2006) diz que lidar com o corpo do paciente, suas
excreções e dores, na prestação de cuidados de UTI revela
sobremaneira
desencadeando
a
quantidade
nos
de
ansiedade
suportável,
defesas
rigidamente
profissionais
estruturadas.
Deslandes (2004) aponta que o sofrimento psíquico da
equipe hospitalar pode ser identificada pelas jornadas prolongadas
e ritmo acelerado de trabalho, a quase inexistência de pausas para
descanso ao longo do dia, a intensa responsabilidade por cada
tarefa a ser executada com a pressão de ter “uma vida nas mãos”.
As intercorrências inesperadas como mudanças repe ntinas
no estado clínico de um paciente que estava bem, aumentam a
tensão e a ansiedade. Estas situações geram inquietude na equipe
como um todo e os faz avaliar as capacidades pessoais de conviver
no ambiente da UTI. Estes sentimentos podem levar a frustração,
raiva, depressão e falta de confiança em si próprio, diminuindo a
satisfação com o trabalho (SALÍCIO, 2006).
É importante que a equipe esteja atenta e colabore para o
trabalho interativo, contribuindo para o saber multidisciplinar,
facilitando sempre o processo comunicacional. Uma equipe coesa
facilitará o trabalho interacional, podendo estruturar grupos para
reuniões
científicas,
discussão
de
casos
clínicos,
buscando
aperfeiçoar o atendimento aos pacientes, através da estruturação
de condutas discutidas em equipe. Muitas vezes, há necessidade
de esclarecimentos, trocas de informações e conhecimentos, que
permitirão aos profissionais preparar melhor o paciente com
informações esclarecedoras. O trabalho em equipe como nos fala
Oliveira (2006), além de acrescentar conhecimentos e dividir
ansiedades, favorece o surgimento de soluções.
56
Vale
lembrar
que
o
cuidado
emocional
é
de
responsabilidade de toda a equipe de saúde, que precisa estar em
condições
emocionais
de
trabalhar
com
os
pacientes,
seus
familiares e comunidades. Ser saudável é uma conquista que deve
ser buscada não só para os pacientes, mas também para a vida
dos profissionais que atuam em UTI. Oliveira (2006) comenta ainda
que
o
bom
senso,
as
trocas
de
conhecimentos
entre
os
profissionais, o autoconhecimento, a interajuda, o apoio entre os
membros da equipe facilitarão a atuação de cada um em benefício
próprio, do paciente e da instituição. Pequenas atitudes dos
profissionais podem indicar o processo da humanização, e resgatar
a dignidade do ser humano, muitas vezes abalada pela situação de
internação.
5 PROPOSTAS E SUGESTÕES
Para a promoção de ações que visam a humanização do
paciente crítico, o grande desafio é mudar comportamentos, uma
vez que o comportamento humano é modificado ape nas com
motivação própria.
Como
resultado
de
nossa
pesquisa,
considera-se
relativamente satisfatório o conhecimento dos profissionais em
relação à assistência humanizada dentro da UTI, pois a maioria
referiu
ter
humanizada
conhecimento
na
rotina
do
e
empregabilidade
trabalho.
Porém,
da
assistênc ia
sugere-se
haver
necessidade de uma proposta educativa e continuada que repense
a formação e capacitação dos profissionais da área da saúde,
sobre os limites humanos, a fim de prestar uma assistência
qualificada, integral e humanizada aos pacientes em processo de
internação em UTI.
Para humanizar é preciso, antes de tudo, humanizar -se.
Assim,
apresentam-se
algumas
propostas
de
ação
para
a
humanização do paciente de UTI, contemplando o paciente em si.

Orientar a equipe a tratar o paciente pelo nome. Nesse
sentido, é útil colocar pequenas identificações na cabeceira, no pé
da cama ou próximo à entrada do boxe/quarto;

Colocar um painel do lado do leito do paciente para que ele
possa afixar fotos de amigos e familiares, recadinhos, mensagens,
entre outros;
58

Explicar, com antecedência, os procedimentos que serão
realizados,
independentemente
do
nível
de
consciência
do
paciente;

Estar atento aos sinais não verbais emitidos pelos pacientes:
desenvolver a percepção de quando algo agrada ou incomoda.
Cuidar para não invadir seu espaço pessoal sem pedir licença;

Proporcionar
orientação
temporal
ao
paciente,
disponibilizando relógio e calendários, posicionados de forma que
sejam facilmente visualizados pelo paciente;

Oferecer jornais, revistas, livros, televisão ou música. Caso o
paciente utilize óculos, aparelhos auditivos e/ou próteses dentárias,
devolvê-los assim que possível;

Reconhecer o paciente como parte integrante de uma família,
com funções e necessidades específicas. Facilitar a aproximação;

Incluir a dor como o quinto sinal vital, promovendo avalia ção
frequente e alívio adequado;

Preservar a privacidade e a confiança do paciente, evitando
comentários pessoais sobre ele ou outro paciente em voz alta na
UTI ou nos elevadores;

Usar um tom de voz adequado para questionar o paciente
sobre aspectos de sua intimidade (p. ex., evacuação);

Mexer nos pertences pessoais do paciente, por exemplo,
escova de dente, chinelos, pente, e outros, somente com a sua
autorização. Cuidar para não invadir seu território sem pedir
licença;

Olhar o paciente nos olhos antes de iniciar os procedimentos ;

Informar aos familiares sobre o que acontece, mantendo a
comunicação clara, honesta e freqüente, é o elemento essencial
que permite uma vivência mais serena e tranquila, sem gerar
expectativas que não podem ser atendidas .
59
O que o paciente solicita é não ser abandonado, é ser
cuidado até o final e não sofrer sem necessidade, princípios
básicos da humanização na assistência,
porque a dor e o
sofrimento são, para os pacientes críticos, piores que a própria
morte.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No Brasil ainda é pequena a discussão de políticas de
intervenção considerando os aspectos de humanização, assim
como ainda não está no rol das prioridades da maioria dos
gestores. A dimensão subjetiva da qualidade da atenção, como o
conforto, o acolhimento e a satisfação dos usuários é algo que
parece ainda um discurso ideal e distante do real.
Apesar das discussões e posições teóricas sobre a
humanização em UTI, ainda hoje é impressionante a flagrante
violação dos direitos e da dignidade dos usuários desses serviços.
Ninguém questiona a importância da existência da tecnologia
porque ela em si mesma não é benéfica nem maléfica, tudo
depende do uso que fazemos dela.
Diante
de
fatos
concretos
e
importantes
vimos
a
necessidade da equipe multiprofissional que atua em UTI que está
assistindo nas 24 horas o paciente, a responsabilidade por prestar
um cuidado que valorize a intersubjetividade dos sujeitos, os
direitos e a cidadania. Finalmente, que busque melhores condições
de trabalho, valorizando assim sua categoria e ocupando seu
espaço no contexto dos serviços de saúde.
Das considerações feitas até aqui, vale
ressaltar a
necessidade de que seja dada a necessária ênfase às relações
humanas. Dessa forma, será possível a concretização de ações
primordiais: assegurar a reintegração da equipe multiprofissional,
possibilitar a discussão e a reflexão sobre os dilemas da prática
profissional e viabilizar o desenvolvimento de mecanismos de
adaptação que tornem a equipe apta para lidar com a morte e com
a família, no contexto da terapia intensiva.
61
Em nosso trabalho, no discurso dos entrevistados aparece
claro o que é humanização, e por outro lado, a realidade do
cotidiano das UTIs está longe de oferecer uma assistência
humanizada, tendo entre os principais elementos dificultadores a
ausência de um filosofia assistencial nas instituições e falta de
comprometimento da equipe de saúde.
Ainda como resultado de nossa pesquisa, considera-se
relativamente satisfatório o conhecimento dos profissionais em
relação à assistência humanizada dentro da UTI, pois a maioria dos
profissionais
referiu
ter
conhecimento
e
empregabilidade
da
assistência humanizada.
Porém, sugere-se a educação continuada e elucidativa
que repense a formação e capacitação dos profissionais da área da
saúde sobre os limites humanos, a fim de prestar uma assistência
qualificada, integral e humanizada aos pacientes em processo de
internação em UTI.
REFERÊNCIAS
ALELUIA, Ieda. Morte na UTI: uma Tentativa de Humanizar.
Publicado
em
14
ago
2008.
Disponível
em:
http://www.hsf.org.br/dicas/medicas&id=6 . Acesso: 22 mar 2012.
ALVES, Alessandra. A Família na UTI. Publicado em 15 ago 2008.
Disponível em: www.clinicasaovicente.com.br/.pdf. Acesso: 22 mar
2012.
ANDRADE, Maria M. de. Introdução à metodologia do trabalho
científico: elaboração de trabalhos na graduação. 8ed. São Paulo:
Atlas, 2007.
ARONE,
E.M.;
CUNHA,
I.C.K.O.
Tecnologia
e
humanização:
desafios gerenciados pelo enfermeiro em prol da integralidade da
assistência. Rev Bras Enferm 2007;60(6):721-3.
BACKES, D.S.; LUNARDI, V.L.; FILHO, W.D.L. A humanização
hospitalar
como
expressão
da
ética.
Rev
Lat-Am
Enferm.
2006;14(1):132-5.
BARBOSA, R.C.; SAMPAIO, C.E. Educação continuada no controle
de infecção hospitalar em terapia intensiva. Revista Enfermagem
Atual. p. 14-8, 2003.
BARNAND, A. A critical review of belief that technology is a neutral
object and nurses are its master. J Adv Nurs 1997;26(1):126-31.
63
BERTHELSEN, P.G.; CRONQVIST, M. The first intensive care unit
in
the
world:
Copenhagen
1953.
Acta
Anaesthesiol
Scand
2003;47(10):1190-5.
BITENCOURT, A.G.V. Análise de estressores para o paciente em
unidade de terapia intensiva. Rev Bras Ter Int 2007;19(1):53-9.
BRASIL.
Cadastro
Nacional
de
Estabelecimentos
de
Saúde
(CNES). Unidades de Terapias Intensivas habilitadas pelo SUS.
Brasília: CNES, 2011.
____________. Constituição da República Federativa do Brasil .
Brasília: Presidência da República, 1988. Publicado em 20 dez
1988.
Disponível
em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/htm. Acesso em 22
mar 2012.
____________.
Intensivas.
Ministério
Publicado
da
em:
Saúde.
17
Unidades
ago
2004.
de
Terapias
Disponível
em:
http://portal.saude.gov.br/portal/ aplicacoes/cfm? Acesso: 22 mar
2012.
____________.
Política
Nacional
de
Humanização.
Brasília:
Ministério da Saúde, 2004.
____________. Portaria GM/MS 3432 de 12 de agosto de 1998 .
Estabelece
Tratamento
critérios
de
Intensiva
classificação
–
UTI.
para
as
Unida des
Disponível
de
em:
http://www.anvisa.gov.br/servicosaude/ avalia/legis.htm. Acesso: 22
mar 2012.
____________. Portaria GM/MS nº 1101/2002, de 12 de junho de
2002. Classifica e estabelece o número de UTIs por atendimento no
SUS. Brasília: Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS),
2002.
64
____________.
Programa
Nacional
de
Humanização
da
Assistência Hospitalar. Brasília: Ministério da Saúde, 2000.
____________. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de
Atenção Especializada. Coordenação Geral de Atenção Hospitalar.
Credenciamento de leitos de UTI. Publicado em 14 set 2010.
Disponível
em:
https://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/uti_
credenciamento.pdf+leitos. Acesso: 22 mar 2012.
CACCAVO, P.V. A arte da enfermagem: efêmera grauisa e
perene. Texto e Contexto de Enfermagem. Florianópolis. v. 6, n. 3,
p. 23, 1997.
CARLOS, Cleide de Lima; RODRIGUES, Conceição de Maria
Cristal; SOUZA, Gilmara de Farias. Humanização na unidade de
terapia intensiva: enfermeira, paciente e família. São Paulo:
UNIFESP, 2005.
CARVALHO, K.K. de; TUERLINCKX, P. da S.; LUNARDI, V.L.
Educação em saúde em uma unidade de terapia intensiva : a
percepção dos trabalhadores de enfermagem. Publicado em: 14
ago 2008. Disponível em: www.ufpel.edu.br/cic/2004/arquivos.rtf.
Acesso: 22 mar 2012.
CHIATTONE, H.B.C.; SEBASTIANI, R.W. Ética em Saúde: algumas
Reflexões
Sobre
Nossos
Desafios
para
o
Século
XXI.
In:
ANGERAMI, V.A. (org). A Ética na Saúde. São Paulo: Pioneira,
1997.
COFEN. Conselho Federal de Enfermagem. Resolução COFEN n.
311/2007.
Aprova
Enfermagem.
o
Código
de
Ética
dos
Disponível
http://www.cofen.Resolu+Cofen+n.+311/2007.
2012.
Profissionais
de
em:
Acesso:
22
mar
65
DESLANDES, F.S. Análise do discurso oficial sobre a humanização
da assistência hospitalar. Ciência e Saúde coletiva. v. 9, n. 1, p.
7-14, 2004.
ESSLINGER, I. De quem é a vida afinal? São Paulo: Casa do
Psicólogo, 2004.
FERREIRA, A.B.H. Minidicionário Aurélio. 4ed. rev. e aum. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira; 2001.
FORTES,
P.A.C.
humanização
da
Ética,
direito
atenção
à
dos
usuários
saúde.
e
Saúde
políticas
e
de
Sociedade
2004;13(3):30-5.
HENNINGTON,
E.A.
Gestão
dos
processos
de
trabalho
e
humanização em saúde: reflexões a partir da ergologia. Rev Saúde
Pública, 2008;42(3):533-61.
HUDAK, M.C.; GALLO, M.B.; BENZ, J.J. Cuidados Intensivos de
Enfermagem.
Uma
Abordagem
Holística.
Rio
de
Janeiro:
Guanabara, 1994.
INABA, Luciana C.; SILVA, Maria J.P.; TELLES, Sandra C.R.
Paciente crítico e comunicação: visão de familiares sobre sua
adequação pela equipe de enfermagem. São Paulo: Rev. Esc.
Enfermagem da USP, 2005.
JONES, J. What the patients say: a study of reactions to an
intensive care unit. Int Care Med 1979;5:89-92.
LEITE, M.A.; VILA, V.S.C. Dificuldades vivenciadas pela equipe
multiprofissional na unidade de terapia intensiva. Rev Lat-Am
Enferm 2005;13(2):145-50.
LINO, M.M.; SILVA, S.C. Enfermagem em Unidade de Terapia
Intensiva: a história como explicação de uma prática.
2001;4(41):25-9.
Nurs
66
MARTINS, J.T.; OPITZ, S.P.; ÉVORA, Y.D.M.; FÁVERO, N.;
TREVIZAN, M.A. Transformações históricas na assistência de
enfermagem. Revista Enfermagem Atual. p. 19-24, 2003.
MARUITI, Marina R.; GALDEANO, Luiza E. Necessidades de
familiares
de
pacientes
internados em
unidade
de
cuidados
intensivos. Rev Acta Paul Enferm, São Paulo, (7):37-43, 2007.
MOLTER, N.C. Needs of relatives of critically ill patients : a
descriptive study. Heart & Lung, 1979,8: 332 -339.
MORGON, Fernanda H.; GUIRARDELLOS, Edinêis de B. Validação
da escala de razão das necessidades de familiares em unidade de
terapia
intensiva.
Disponível
em:
www.eerp.usp.br/rlaenf.
Rev
Latino Am Enfermagem, São Paulo, março-abril; p198-203, 2004.
NEMAN, F.; SOUZA, M.F. Experienciando a hospitaliza ção a
presença da família: um cuidado que possibilita conforto. Nursing
2003; São Paulo. v. 56, p. 28-31.
NIGHTINGALE, F. Notes on nursing: what it is and what it is not.
Philadelphia: JB Lippincot, 1946.
OLIVEIRA, B.R.G.; COLLET, N.; VIEIRA, C.S. A humani zação na
assistência à saúde. Rev Lat-Am Enferm 2006;14(2):277-84.
PEREIRA
JÚNIOR,
G.A.;
COLETTO,
F.A.;
MARTINS,
M.A.;
MARSON, F.; PAGNANO, R.C.L.; DALRI, M.C.B.; BASILE -FILHO,
A. O papel da unidade de terapia intensiva no manejo do trauma.
Medicina, Ribeirão Preto, 32: 419-437, out./dez. 1999.
PEREIRA, M.E.R.; BUENO, S.M.V. Lazer: um caminho para aliviar
as tensões no ambiente de trabalho em UTI: uma concepção da
equipe de enfermagem. Rev Lat-Am Enferm 1997;5(4):75-83.
67
PESSINI, L. Humanização da dor e do sofrimento humanos na área
da saúde. In: PESSINI, L.; BERTACHINI, L. Humanização e
cuidados paliativos. São Paulo: Loyola, 2004.
PINHO, L.B.; SANTOS, S.M.A. Dialética do cuidado humanizado na
UTI: contradições entre o discurso e a prática profissional do
enfermeiro. Rev Esc Enferm USP 2008;42(1):66-72.
SALICIO, D.M.B.S.; GAIVA, M.A.M. O significado de humanização
da assistência para enfermeiros que atuam em UTI. Rev. Eletr.
Enf. 2006;8(3):370-6.
SANTOS, C.R.; TOLEDO, N.N.; SILVA, S.C. Humanização em
unidade de terapia intensiva: paciente – equipe de enfermagem –
família. Nursing 1999; São Paulo. v.2, n.17. p. 26-9.
SEBASTIANI, R.W. Aspectos Emocionais e Psicofisiológicos nas
Situações de Emergência no Hospital Geral. In: ANGERAMI, V.A.
(org). Urgências Psicológicas no Hospital. São Paulo: Pioneira,
1998.
SILVA, M.J.P. O amor é o caminho. Revista Vida e Saúde; São
Paulo, v.2. p. 57, 2001.
SILVA, A.L.; SCHLICKNANN, C.G.; FARIA, J.G. O coma e seu
impacto no processo de ser e viver: implicações para o cuidado de
enfermagem. Rev Gaúcha Enferm 2002;23(2):81-107.
SILVA, Maria Júlia Paes da; ARAÚJO, Mônica Martins Trovo;
PUGGINA, Ana Cláudia G. Humanização em Terapia Intensiva. Rev
Bras Enferm, 2009.
SOUZA, M.de; POSSARI, J.F.; MUGAIAR, K.H.B. Humanização da
abordagem nas unidades de terapia intensiva. Rev. Paul. Enf.
1985; 5:77-79.
68
STANIK-HUTT, J.A. Pain management in the critically ill. Crit Care
Nurs 1998;18(5):85-8.
UIRIZZI, Fabiane; CORRÊA, Adriana K. Vivências de familiares em
terapia intensiva. Rev. Latino-Am Enfermagem, jul-ago de 2007.
VILA, V.S.C.; ROSSI, L.A. O significado cultural do cuidado
humanizado em Unidade de Terapia Intensiva: muito falado e
pouco vivido. Rev Lat-Am Enferm 2002;10(2):137-44.
WALDOW, V.R. O cuidado humano: reflexões sobre o processo de
enfermagem versus processo de cuidar. Rev Enferm UERJ.
2001;9(3):284-93.
WATSON, J.N. Human science and humam care. Norwalk. CT:
Appleton-Century Crofts, 1985.
APÊNDICE
QUESTIONÁRIO
1. Sexo
(
) fem
(
) masc
2. Idade
(
) 18-25 anos
(
) >50 anos
(
) 26-33 anos
(
) 34-41 anos
(
) 42-49 anos
3. Estado Civil
(
) solteiro (
) casado (
) divorciado
(
) amasiado
4. Escolaridade
(
) Ensino Médio (
) Ensino Superior
(
) Especialista
5. Renda familiar
(
) 1-3 SM (
) 4-6 SM (
) 7-10 SM (
) >11 SM
6. Atividade/função
(
) Enfermeiro
(
(
) Administrativo
) Médico (
(
) auxiliar técnico
) outro _______
7. Quanto tempo exerce a profissão
(
) 1-3 anos
(
) >11 anos
(
) 4-6 anos
(
) 7-10 anos
8. Considera o trabalhar em UTI um fator estressante para sua vida
pessoal ou profissional?
(
) sim
(
) não
(
) Nem sempre
9. O Hospital tem um Programa de Humanização da Assistência
Hospitalar?
(
) sim
(
) não
(
) não sei
10. Voce recebeu uma formação profissional adequada e suficiente
para a atuação junto a pacientes de UTI?
(
) sim
(
) não
(
) eu poderia ser melhor capacitado
11. Para você assistência humanizada é:
71
( ) Estar preparado e atento apenas para as necessidades fisi ológicas
básicas do paciente.
( ) Recolher o paciente também como ser digno de amor e livre biológica
e psicologicamente, sendo capaz de determinar-se por si próprio nas
suas ações e com liberdade de escolha, de opção, além de prestação de
cuidado.
(
) Ter como ponto final do seu trabalho apenas o cuidado de
atendimento/procedimentos, não a manutenção da vida a qualquer custo.
( ) Colocando-se no lugar do próximo, utilizando palavras simples como
bom-dia, obrigada, posso ajudar?
12.
O
que
você
classifica
como
sendo
mais
importante
na
assistência dentro de uma unidade de terapia intensiva?
(
) Um cuidado tecnológico de alta complexidade.
(
) Um cuidado voltado à patologia do paciente.
(
) Um cuidado com calor humano.
(
) Um cuidado holístico, com calor humano e de qualidade.
13. Quais as dificuldades encontradas por você, em relação à
permanência dos familiares junto ao paciente?
( ) Falta de espaço, área física.
(
)
Incompreensão
dos
familiares
relacionada
aos
horários
de
procedimentos, visitas e passagem de plantão.
(
) Incompreensão da equipe multiprofissional que nas diferentes
situações que envolvem a dinâmica da assistência prestada.
( ) Nenhuma dificuldade, desde que bem orientado(a) da importância da
família na recuperação do paciente.
14. Na sua opinião, o ambiente da UTI do hospital proporciona
conforto ao paciente?
(
) sim
(
) não
(
) o mais importante é o tratamento
15. Que fatores abaixo relacionados lhe preocupa durante o horário
de visita familiar?
(
) Medo de alguém da família destratar (tratar mal) à vc ou à alguém
da equipe.
(
) Medo que o familiar visitante, por ser um desconhecedor das normas
de biossegurança, traga para dentro da unidade contaminação externa.
72
(
) Medo que o familiar acuse a equipe de ser culpada pel o estado de
seu ente internado.
(
) A visita impede que eu desenvolva todas as minhas obrigações
dentro dos prazos estipulados, atrapalhando os procedimentos
(
) Receio que aconteça imprevistos durante a visita, tais como óbito,
PCT, entre outros que levem à quebra da rotina normal da visita.
Outro(s) fator(es): ___________________________________________
16. Cite alguma dificuldade que voce encontra ao trabalhar em UTI,
algo que lhe incomode (tipo: condições de trabalho, organização do
trabalho, interações socioprofissionais, ambiente, etc).
__________________________________________________________
__________________________________________________________
17. O que precisa melhorar na UTI do hospital
__________________________________________________________
__________________________________________________________
Download