Referências Bibliográficas

Propaganda
Marketing Político – uma nova chance para a democracia através do uso
das mídias digitais em campanhas eleitorais.
Grasiela Grosselli – [email protected]
Resumo: O marketing político eleitoral transformou-se em um instrumento indispensável para o bom
desempenho dos candidatos a cargos eletivos. O presente trabalho busca apresentar uma argumentação sobre a
estratégia de campanha eleitoral através das mídias digitais favorecer a efetivação da democracia, contribuindo
para a participação efetiva dos cidadãos, além de estudar qual seria a forma adequada de uso das novas
tecnologias em prol do marketing político em campanhas eleitorais. Por fim, investigar a importância dada a este
canal de comunicação bem como o profissionalismo na elaboração das mensagens no meio eletrônico e como
estas mensagens estão sendo aplicadas na propaganda eleitoral e na participação política. As novas tecnologias
de comunicação ocupam um papel-chave na reconfiguração das relações sociais contemporâneas, pois oferecem
vantagens como a bilateralidade na comunicação, controle quase nula de conteúdo e crescente acesso de todas as
classes sociais. No entanto, apesar do esforço dos marqueteiros em introduzir os candidatos nesta era digital
ainda pode se perceber que a importância dispensada pelos partidos para a web ainda é pequena, utilizada apenas
para repasse de informações. Sabe-se que a Internet é portadora de um fermento de desenvolvimento, mais
particularmente para países que, até então, tiveram um acesso limitado a essas tecnologias, pois numerosos
fatores econômicos, sociológicos ou políticos influem na expansão da Internet, no entanto, ainda falta muito para
que a tecnologia seja utilizada efetivamente por parte de candidatos e cidadãos.
Palavras-chave: marketing político; democracia; mídias digitais.
Sumário
Introdução
A proposta de um novo modelo de Estado: Democracia
As exigências da democracia na era digital
A Influência das Novas Tecnologias na Formação Política
Marketing político e a participação democrática
Profissionalização do marketing político
As novas tecnologias e o marketing político em campanhas eleitorais
Marketing político: democracia, novas tecnologias e as campanhas eleitorais
Conclusões
Referências
A proposta de um novo modelo de Estado: Democracia
"Vivemos sob a forma de governo que não se baseia nas instituições de nossos vizinhos; ao
contrário, servimos de modelo a alguns ao invés de imitar os outros. Seu nome, como tudo o
que depende não de poucos mas da maioria, é democracia"
Péricles, Oração fúnebre, in Tucidides:
A Guerra do Peloponeso, Livro II, 37.
O exercício da democracia direta remonta as cidades-Estado da Grécia antiga, entre os
séculos IV e V a. C. Mas foi a partir dos movimentos revolucionários, iniciados no fim do
século XVIII e princípio do século XIX que os princípios de democracia ganharam maior
dimensão e filiados.
Para Bobbio, democracia direta engloba “todas as formas de participação no poder”,
com prevalência do agente popular sobre o político. Diferentemente, na democracia
semidireta, repousa um sistema mais bem-sucedido, pois contempla equilíbrio pela operação,
de um lado, da representação política e, de outro, da soberania popular direta (1987, p. 459).
Maria Victoria Benevides sublinha: “a expressão democracia direta, quando utilizada
isoladamente - e sem outras referências históricas - pode prestar-se a equívocos” (1996, p.
15).
Bonavides reforça a ação equilibrada da democracia semidireta dizendo que sua
prática limita a “alienação política da vontade popular”. Nessa esfera, “a soberania está com o
povo, e o governo, mediante o qual essa soberania se comunica ou exerce, pertence ao
elemento popular nas matérias mais importantes da vida pública” (2003, p. 275).
No Brasil, a Constituição de 1988 introduziu figuras que se situam no campo da
participação política, como orientadores dos princípios fundamentais da República brasileira e
compõem o binômio representação-participação, também denominado princípio democrático:
“todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos, ou
diretamente, nos termos desta Constituição” (art. 1°, parágrafo único).
As exigências da democracia na era digital
O surgimento e a popularização da internet parecem ter criado um novo marco na
democracia, com a chamada “democracia digital”. A grande rede se torna, cada vez mais, uma
ferramenta de incentivo e fomento da democracia, facilitando até certo ponto a participação
popular na vida política de cidades, estados e do país como um todo.
Para Wilson Gomes, a democracia digital se refere à experiência da internet e de
dispositivos que lhe são compatíveis, todos eles voltados para o incremento das
potencialidades de participação civil na condução dos negócios públicos.
Isso significa que a internet é uma ferramenta com capacidade de promover a
participação da sociedade civil em assuntos de interesse público, participação esta que
configura de maneira efetiva a luta por uma sociedade cada vez mais justa e democrática.
Deste modo, podemos afirmar que a democracia digital deve assegurar a participação civil nas
decisões políticas de uma nação (CIRÍACO, 2009, p. 01).
Isto que é chamado de “democracia digital” permite tanto o acesso a ações
governamentais quanto a cobrança sobre aqueles que exercem a política em nosso país. Além
disso, a internet pode servir também como ferramenta de articulação e de expressão de atores
sociais diversos, uma espécie de fuga ao “sufocamento” imposto pela mídia monopolizada
existente no Brasil.
Para o professor Gomes a democracia digital se apresenta como uma alternativa para a
implantação de uma nova experiência democrática fundada numa nova noção de democracia,
ou seja, esta democracia reforçada pela internet possui uma vocação renovadora inclusive no
conceito que temos sobre esta ciência e, principalmente, no modo como se faz política no
Brasil (2005a, p. 14 ).
Não há como negar que a internet influencia cada vez mais em campanhas políticas.
Seja por campanhas eleitorais levadas a cabo nos diversos portais e redes sociais da web
(como YouTube, Twitter, Orkut e Facebook) ou mesmo com blogs que tratam de questões
políticas e de políticos, prestando informações muitas vezes sonegadas nos meios de
comunicação convencionais, o papel da grande rede cresce de importância a cada novo pleito
eleitoral.
A chamada Web 2.0 (conceito que abrange serviços onde o usuário cria conteúdos e
que pode ser perfeitamente aplicado às centenas de redes sociais existentes no mundo) pode
ser apontada como ponto propulsor da participação política de cidadãos através da internet.
A Influência das Novas Tecnologias na Formação Política
Com o advento e, posteriormente, com a grande expansão da internet1, e, em especial,
da world wide web2 (www), muitos teóricos passaram a considerá-la como a solução dos
diversos déficits democráticos, uma vez que suas ferramentas possibilitariam a criação de
novos canais de comunicação e interação entre esfera civil e sistema político ou mesmo entre
os próprios cidadãos.
De maneira ampla, a internet oferece acesso universal, o que pode redefinir a
1
A internet tem inumeráveis formas, significados e utilizações, mas opta-se por utilizar a denominação internet
de maneira mais ampla no texto, podendo se referir a todas essas possibilidades.
2
A World Wide Web ("Rede de alcance mundial"; também conhecida como Web e WWW) é um sistema de
documentos em hipermídia que são interligados e executados na internet. Para visualizar a informação,
geralmente usa-se um programa de computador chamado navegador para descarregar informações (chamadas
"documentos" ou "páginas") de servidores web ("sites" ou "sítios") e mostrá-los na tela do usuário. O usuário
pode então seguir as hiperligações na página para outros documentos ou mesmo enviar informações de volta
para o servidor para interagir com ele. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/World_Wide_Web. Acesso em: 29 jun.
2010.
cidadania. É o primeiro meio mundial através do qual as pessoas podem se comunicar direta e
rapidamente, podendo formar comunidades políticas diversas independentes da nação. Por sua
forma não-hierárquica e com poucos filtros ou controles, a internet também age contra o
autoritarismo, o que fortalece os direitos humanos e a própria democracia (SAMPAIO, 2010,
p. 31).
Neste sentido a internet permite um acesso mais rápido e eficiente ao conhecimento,
possibilitando novas práticas de intercâmbio de informações, conceitos e abordagens (FREY,
2001, p. 36), ou seja, um acesso livre (sem filtros ou controles) a uma gama gigantesca de
informações. O que, potencialmente, facilitaria a geração de cidadãos mais bem informados e
capacitados para se inserirem no processo político.
Além disso, a internet permitiria que seu usuário não apenas acessasse tal informação,
mas que também a criasse. Os internautas poderiam divulgar aquilo que “meios industriais de
notícias não conseguem, não querem ou não podem divulgar" (GOMES, 2005b, p. 66), o que
permitiria superar a informação industrial. Essa informação ainda poderia ser mais sofisticada
se comparada aos meios antigos de comunicação pela possibilidade de se usar texto, imagem,
som e vídeo de acordo com a necessidade em particular (GOMES, 2005b, p. 65-66).
Barber, por sua vez, afirmou que para se alcançar uma democracia forte, participativa,
as tecnologias de comunicação teriam um papel vital. Primeiramente, elas ofereceriam uma
possível solução para os dilemas de escala. Elas poderiam unir indivíduos e instituições em
redes que poderiam fazer uma discussão participativa real, possibilitando debates através de
longas distâncias. Poderiam ser criadas reuniões de populações inteiras que não seriam
capazes de se comunicar de outra forma. As tecnologias poderiam ser usadas para enquetes
entre regiões. Debates ao vivo poderiam ser realizados sobre diversos temas a serem votados
(1984, p. 289). As novas tecnologias facilitariam outras formas de votação e participação
direta, o que permitiria votações mais frequentes e em mais questões.
Em resumo, a linha otimista defende que a internet poderia modificar de maneira
radical e estrutural a relação entre esfera civil, esfera política e os meios de comunicação de
massa. Tal modificação tenderia a significar grandes avanços nas deficiências das
democracias representativas contemporâneas, havendo, em especial, um enorme potencial de
inserção de inputs, ou, simplesmente, participação política por parte dos cidadãos
(SAMPAIO, 2010, p. 33).
Contudo, ao contrário do argumento otimista, a corrente negativista defende que a
distribuição desigual de perícias e recursos financeiros levaria a uma amplificação das
desigualdades sócio-econômicas, uma vez que seriam as elites que possuiriam maior acesso à
internet e às perícias adequadas para utilizá-la com relevância política (SAMPAIO, 2010, p.
35). E ainda, apesar do acesso familiar à internet estar crescendo, a exclusão digital também
aumenta em relação aos grupos sociais menos privilegiados, nos quais não apenas a renda,
mas o nível educacional e a raça também são fatores determinantes para estar conectado ou
não. Ou de forma mais simples, o número de usuários realmente está aumentando, mas em
uma proporção muito superior nas camadas com maior renda e educação da sociedade.
Além disso, se o voto pela internet pode ser considerado mais conveniente, por outro
lado, ele afastaria a política da habitação pública. A democracia seria afastada dos espaços
simbólicos importantes para o bem público, ou seja, os locais de votação. A internet
encorajaria julgamentos privados em questões públicas, podendo erodir a cidadania orientada
para o público. Seria uma democracia de referendo, ou seja, ela seria direta ao dispensar
intermediários, mas também perderia nas interações. Seria uma democracia direta de
indivíduos isolados e distintos, não de participantes que interagem (SARTORI, 1994, p. 157).
Em relação à informação política, ao invés de ajudar as pessoas a se tornarem
melhores cidadãos, a internet acarretaria em um excesso de informações, que impossibilitaria
aos usuários distinguir as informações relevantes das errôneas, distorcidas e falsas. O excesso
de informação não alteraria o limite da capacidade cognitiva do ser humano. Na verdade, ele
poderia até atrapalhar suas capacidades de julgamento (SAMPAIO, 2010, p. 40).
Percebe-se assim, que não é com a simples provisão de novos meios tecnológicos para
se informar, para se comunicar e para interagir com os representantes políticos que fará com
que os cidadãos desenvolvam o sentimento de participação política ou interesse pela mudança
nas relações de poder. No entanto, não se pode negar que a internet possibilita um aumento
nas conexões e interações com outros indivíduos, e que estas interações não precisam estar
mais limitadas geográfica e temporalmente, o que por si só já tem grande potencial para
ampliar as discussões políticas e deliberações informais, elementos valorizados nas teorias
democráticas mais recentes.
Marketing político e a participação democrática
A teoria de Marketing é versátil e universal, possibilitando sua aplicação em diversos
mercados, o que origina os vários “tipos” de Marketing.
Para COBRA (1992) o marketing pode ser dividido também em agrícola, industrial, de
serviços de saúde e de instituições que não visam lucro: O marketing agrícola está ligado a
venda de produtos e serviços agropecuários que podem ser regidas por técnicas
mercadológicas como pesquisas, serviços ao cliente etc. O marketing industrial é a
especificação do produto, no processo de pré-venda, a instalação do produto ou serviço e as
garantias de pós-venda que fazem parte das técnicas da marketing que podem ser adotadas
para produtos e serviços industriais. Marketing de serviços de saúde se volta para os serviços
médicos, odontológicos e de saúde em geral, como hospitais. Estes serviços começam a
compreender que o marketing não administra a demanda de doenças, mas pode orientar a
população sobre o melhor uso de serviços preventivos e de saúde em particular.
Existe de um modo geral o marketing de instituições que não visam lucro que segundo
COBRA (1992) uma empresa que não visa lucro muitas vezes transfere a posse de um
produto ou serviço como uma pessoa lucrativa, mas não recebe dinheiro em troca. Os serviços
públicos em geral hoje fazem marketing, sobretudo pesquisa da aceitação de seus serviços,
publicidade do uso e da importância dos seus serviços etc.
Existe também o marketing social, ligado às relações ser humano-consumidor e meio
ambiente. Ele é uma estratégia de mudança de comportamento. “É voltado para o aumento da
disposição de aceitação de uma idéia ou prática social em um ou mais grupos de adotantes
escolhidos como alvo” (KOTLER, 2000).
Os produtos a serem colocados no mercado são: idéias sociais, práticas sociais e
objetos tangíveis como pílulas anticoncepcionais, cinto de segurança, para estabelecer um
comportamento social. As pesquisas são baseadas nas necessidades humanas.
Existe o marketing de pessoas, ou marketing pessoal, que
é similar àquele utilizado pelo marketing de produtos e serviços. Os profissionais de
marketing de pessoas começam com uma cuidadosa pesquisa e análise de mercado
para descobrir as necessidades dos consumidores e segmentar o mercado. Em
seguida, vem o desenvolvimento do produto – o estudo das atuais qualidades e da
imagem da pessoa e o trabalho para transformá-la de modo a que ela melhor se
adapte às necessidades e expectativas do mercado. Finalmente, o profissional de
marketing desenvolve programas para valorizar, promover e transmitir ao público a
celebridade. Algumas pessoas possuem naturalmente as habilidades, aparência e
comportamento que o público-alvo valoriza. Mas, para a maioria, o status de
celebridade em qualquer campo deve ser ativamente desenvolvido através de um
ativo marketing de pessoas” (KOTLER, 2000)
Dentro do marketing pessoal, tem-se o marketing político, que é definido por um dos
conceitos centrais do marketing que segundo KOTLER “é um processo social e gerencial pelo
qual indivíduos e grupos obtêm o que necessitam e desejam através da criação, oferta e troca
de produtos de valor com outros” (2000). A partir disso pode-se perceber que o marketing
político também é um processo social e gerencial pelo qual indivíduos e grupos obtêm o que
necessitam e desejam (que é o voto, ou o melhor candidato), através da criação, oferta e troca
de produtos com outros (no caso o candidato lança uma campanha de criação e oferta de suas
qualidades e habilidades para agradar o seu eleitorado).
As novas tecnologias e o marketing político em campanhas eleitorais
Com a entrada em cena dos novos meios de comunicação, particularmente da internet,
parece surgir um mecanismo adequado para melhorar a qualidade democrática das sociedades
contemporâneas, porque trazem consigo muitas vantagens suplementares para o incremento
da participação democrática.
Emergidas as Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) essas potencialidades
geram, no entanto, inúmeros debates sobre seu verdadeiro alcance transformador. Os mais
entusiastas acreditam que a Internet reúne todas as condições necessárias para uma inovação
das experiências comunicacionais e, consequentemente, para novas formas de discussões
políticas restabelecendo, inclusive, o sentido da democracia direta, ou ainda, o
desenvolvimento de uma prática de democracia deliberativa. Entre os mais céticos ou críticos,
no entanto, a Internet não passaria de uma forma de adaptação do Estado onde seriam
mantidas as mesmas relações de distanciamento entre governantes e governados (SOUZA e
JAMBEIRO, 2005, p. 01).
A partir de uma perspectiva otimista, a Internet é um ambiente, um meio, pleno de
possibilidades. Mas também, que para poder retirar tudo o que ela pode oferecer de vantajoso
aos processos de decisão política, é necessário que tanto a sociedade como o Estado estejam
aptos a explorar essas possibilidades. Como afirma Frey,
Isso implica, por um lado, na necessidade de adaptar os modos de operação e
processos administrativos à maior rapidez e dinâmica da era digital e por outro, o
estabelecimento de formas de governança, dando prioridade à criação de redes
sociais e políticas, cooperação, participação e parcerias públicas em detrimento da
abordagem burocrática tradicional que focaliza o princípio de autoridade do Estado
(2001, p. 45).
Nesse mesmo sentido entusiasta, o autor Wilson Gomes afirma que os novos meios de
comunicação têm o potencial de remover os obstáculos de tempo e espaço para a participação
política. Potencialmente todo indivíduo pode se comunicar com qualquer outro indivíduo, não
apenas da cidade, da região ou do estado, mas ultimamente de qualquer lugar do mundo.
Além disso, pode ser posta on-line informação de departamentos governamentais, escritórios
de atendimento ao público, bibliotecas, câmaras ou qualquer outra instituição pública. Todo
documento que é parte de procedimentos legislativos normais ou processos de consulta
podem ser disponibilizados instantaneamente (2005a, p. 13).
A dispensa do deslocamento espacial, da submissão às condições hostis,
desconfortáveis e cansativas das assembléias presenciais, a possibilidade de intervir desde o
conforto da própria estação de trabalho, no escritório ou em casa, a conveniência de fazer as
coisas no próprio ritmo e segundo as próprias disponibilidades, o fato de se poder prescindir
dos requisitos formais e rituais das instituições, ou da convivência forçada com estranhos,
depõe em favor de uma participação mais fácil e mais conveniente.
A estrutura e os
dispositivos mais comuns da internet, particularmente a Web e o correio eletrônico, fazem
com que ela forneça eficientes canais perfeitamente adaptados para fluxos de comunicação e
informação em mão dupla entre cidadãos e sociedade política (GOMES, 2005a, p. 15).
É justamente nesse ponto que a visão crítica surge e tenta demonstrar que apesar de
toda sua potencialidade, a Internet, pelo menos até o momento, não passa de “uma forma de
adaptação do Estado onde, a priori, são mantidas as mesmas relações de distanciamento entre
governantes e governados” (SOUZA e JAMBEIRO, 2005, p. 01). Não se pode esquecer que
apenas os conectados conseguem se aproveitar dos canais de democracia oferecidos pela
Internet e que ainda assim, é preciso vontade política e iniciativas efetivamente abertas à
participação para que essas relações conquistem características realmente deliberativas.
Nesse mesmo sentido Mosco ressalta que é preciso considerar que nem todos possuem
acesso à Internet, que nem todas as informações realmente relevantes estão disponíveis e que
quando estão muitas delas são extremamente caras para a maior parte dos usuários da rede.
Para ele, a afirmação de que a era da informação transcende o modo como vemos a política
atualmente porque torna o poder disponível para todos e em grande abundância, não passa de
um mito que aos poucos será dissipado (2004, p. 125, tradução nossa).
Souza e Jambeiro lembram que a informação cívica e política são peças essenciais
para que o cidadão possa vir a exercer a cidadania na sociedade contemporânea. Ressaltam,
no entanto, que esse projeto deve ser recíproco. Segundo eles, quando a noção de
interatividade é desenvolvida como um projeto unilateral por parte do Estado, este pode se
tornar um instrumento de controle, emoldurando o fluxo da informação pública, afastando a
deliberação popular e, permitindo assim, novas formas de adaptação do capitalismo
contemporâneo (2005, p. 12).
Gomes questiona, por sua vez, a qualidade da informação política disponível na
Internet e destaca a pouca ou quase nenhuma exploração do potencial de transparência da rede
por parte do Estado, uma vez que sua comunicação on-line com o público é majoritariamente
a produção de materiais destinados a produzir unidirecionalmente opinião favorável ou, no
melhor dos casos, a prestação de informações básicas sobre o seu funcionamento (2005a, p.
20).
A informação política qualificada predominante continua sendo a dos meios de
massa, agora em formato Web e a informação política mais extensamente disponível
é, em geral, de pouca serventia para o público, pois representa normalmente uma
massa disforme de dados desprovida, ademais, de marcadores de credibilidade. E o
Estado se fecha ainda em reserva, silêncio e segredo, protegendo-se do olhar
público, como sempre o faz (GOMES, 2005a, p. 21).
Barbosa Filho também parece demonstrar cautela ao avaliar o uso das TICs como
ferramentas potencializadoras da participação política. Sua análise parte do fato de que esta
nova ordem implica em questões sobre mudanças radicais de atitude e comportamento entre
os indivíduos, principalmente em relação aos benefícios agregados ao uso das ferramentas
digitais. Para ele, há indícios perturbadores de que os novos recursos de informação possam
ampliar a brecha entre aqueles que têm acesso à informação e aqueles que dela são privados,
em seu sentido estrito. Trata-se de um paradoxo típico destes tempos de mudanças de hábitos,
onde as facilidades disponibilizadas pela tecnologia não estão, em verdade, disponíveis para
todos (2005, p. 04).
Se a idéia de soberania popular sustenta uma dada forma de governo, esta idéia há de
se materializar em meios e modos pelos quais o mandante político, o povo, faz-se valer na
esfera restrita da produção da decisão política, ocupada pelos representantes ou mandatários.
A noção de interatividade política ancorada na internet se refere a uma comunicação contínua
e de iniciativa recíproca entre esfera civil e agentes políticos, uma comunicação que deve
servir para um recíproco feedback entre cidadania e sociedade política.
Conclusões
O homem é um ser essencialmente social e político. Quando lhe falta esta
compreensão ou quando nega esta condição, torna-se um ser amorfo, ausente, potencialmente
manipulável, um mero ocupador de espaços físicos, ou simplesmente um conformado
observador das decisões do mundo que o cerca. A compreensão da essencialidade política do
homem torna-se exigência ao próprio entendimento da sociedade em que vive. Não há como
separar, dissociar o indivíduo do seu meio social, não há como deixar de reconhecê-lo na
definição ou emissão das ações políticas que definem a complexidade das relações de poder
na sociedade.
Os efeitos do potencial interativo da Internet como meio capaz de incrementar a
participação democrática ainda não foram totalmente determinados. Até o momento, o que se
vê é uma ampla discussão sobre as possibilidades que a rede pode proporcionar a partir de
seus recursos tecnológicos e o que de fato se conquistou até o momento.
A internet é um ambiente, um meio que está pleno de elementos a serem explorados,
desde que as sociedades consigam dela retirar tudo o que de vantajoso à democracia pode
oferecer. E aparentemente a sociedade civil e o Estado não têm ainda conseguido explorar
plenamente as possibilidades favoráveis à democracia que a internet contém.
Superada a questão sobre como explorar as possibilidades ofertadas pela Internet
como palco para novas formas de discussões e participações políticas, será necessário
encontrar também, caminhos para garantir que os debates políticos realmente atendam as
necessidades e demandas da população.
Na verdade a questão primordial hoje não é tanto descobrir como a internet vai mudar
a vida política, mas, sobretudo, o que pode motivar mais pessoas a verem-se como cidadãos
de uma democracia, a envolver-se na política e – para aqueles que têm acesso – a empregar as
possibilidades que a rede ainda oferece.
Sua presença traz possibilidades e modificações diversas que são importantes ao se
analisar processos políticos, em particular, ao tratar de movimentações políticas por parte da
sociedade civil. Não há como negar que ela facilita – e em determinados casos possibilita por suas características diversos processos que podem fomentar valores democráticos, como a
participação política, mobilização social, discussão política e deliberação pública.
Entretanto, a internet não foi criada para solucionar os diversos problemas da
democracia. É preciso uma conjunção de fatores para que possa ser usada para fomentar
valores democráticos, a citar: disponibilização de ferramentas digitais de boa qualidade; a
geração de efeitos reais de tais ferramentas no sistema político; e, finalmente, uma política
que busque manter tais canais e oportunidades abertos.
Assim, a participação qualificada de uma parte significativa dos indivíduos e
organizações da esfera civil está relacionada a uma cultura cívica e a uma cultura política de
participação, questões muito mais complexas de serem desenvolvidas e promovidas se
comparadas à provisão de ferramentas digitais. Destaca-se, entretanto, que se trata de algo
importante, senão vital, que tais canais sejam abertos e mantidos para as ocasiões em que os
cidadãos desejem se manifestar e com isso viabilizar a participação política e a consecução
última dos Estados Democráticos, o respeito a dignidade humana e a efetivação da cidadania.
Referências Bibliográficas
ÁGUILA, Rafael Del. La Participación Politica como generadora de educación cívica y
gobernabilidad. Revista Iberoamericana de Educación, número 12. Disponível em:
<http://www.campus.oie.org>. Acesso em: 25 jul. 2010.
ALBUQUERQUE, Cleamy. MONTEIRO, Gilson Vieira. e-Participação Política? In:
SIMPÓSIO NACIONAL DA ABCIBER, 3. Vigilância, Ciberativismo e Poder. Disponível
em:<http://www.abciber.com.br/simposio2009/trabalhos/anais/pdf/artigos/3_vigilancia/eixo3
_art5.pdf>. Acesso em: 28 jul. 2010.
AMORIM, Maria Salete Souza de. Cultura Política e decisão eleitoral no Oeste do Paraná.
Porto Alegre: UFRGS, 2006.
BARATA-MOURA, José. A Cidadania como Cultivo. Philosophica. n. 22, Lisboa:
Departamento de Filosofia da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2003, p. 83-98.
BARBER, Benjamin. Strong Democracy: Participatory Politic for a New Age. Berkeley:
University of California Press, 1984.
BARBOSA FILHO, André. Sobre uma Nova Ordem Tecnológica: o quadro de enlaces e
dissonâncias no cenário das políticas públicas de comunicação no Brasil. In: ENLEPICC –
Encontro Latino de Economia Política da Informação, Comunicação e Cultura, 5., Salvador,
Nov. 2005. Disponível em: <http://www.gepicc.ufba.br/enlepicc/>. Acesso em: 26 jun. 2010.
BENEVIDES, Maria Victoria. A cidadania ativa : referendo, plebiscito e iniciativa popular.
2. ed. São Paulo : Ática, 1996.
BOBBIO, Norberto. Qual socialismo? : debate de uma alternativa. Tradução de Iza de Salles
Freaza. Rio de Janeiro : Paz e Terra, 1983.
_______. Estado, governo, sociedade. São Paulo : Paz e Terra, 1987.
BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de política.
8. ed. Brasília: UnB, 1995.
BONAVIDES, Paulo. Ciência política. 10. ed. São Paulo : Malheiros, 2003.
BORBA, Julian. Democracia direta na era digital. Disponível em: <http://www.tresc.gov.br/site/legislacao-e-jurisprudencia/resenhas/v-14-2007/doutrina/a-democracia-diretana-era-digital/index.html>. Acesso em: 05 Jul. 2010.
CASTELLS, Manuel. A sociedade em Rede. 6. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1999.
COBRA, Marcos Henrique Nogueira. Marketing Básico: uma perspectiva brasileira.- 4 ª
ed. -São Paulo: Atlas, 1997.
DAHL, Robert. Análise Política Moderna. Tradução Sérgio Bath. Brasília: UnB, 1981.
DAHLGREN, Peter. The Internet, Public Spheres, and Political Communication: Dispersion
and Deliberation. Political Communication, Philadelphia, v. 2, n. 22, 2005. p. 147–162.
FREY, Klaus. Governança Eletrônica: experiências de cidades européias e algumas lições
para países em desenvolvimento. Revista IP – Informática Pública, Belo Horizonte, v. 3, n.
1, p. 31-48, maio 2001. Disponível em: <http://www.ip.pbh.gov.br>. Acesso em: 05 Jun.
2010.
GOMES, Wilson. Internet e Participação Política em Sociedades Democráticas. Revista
Famecos, Porto Alegre, v. 1, n.17, 2005a. Disponível em:
<http://www.gepicc.ufba.br/enlepicc/pdf/WilsonGomes.pdf>. Acesso em: 15 jun. 2010.
______. Internet e participação política em sociedades democráticas. Revista Famecos, Porto
Alegre, v. 2, n. 27, p. 58-78, ago. 2005b.
HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre facticidade e validade. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 2003.
KOTLER, P., Administração de Marketing: edição do novo milênio. São Paulo: Prentice
Hall, 2000.
MAIA, Rousiley C. M.. Redes cívicas e internet: do ambiente informativo denso às condições
da deliberação pública. In: EISENBERG, J.; CEPIK, M. (Org.) Internet e política: Teorias
da democracia eletrônica. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2002, p. 46-72.
MARQUES, Francisco Paulo Jamil Almeida. Participação Política e Internet: meios e
oportunidades digitais de participação civil na democracia contemporânea, com um estudo do
caso do Estado Brasileiro. Salvador, 2008. Disponível em: <http://www.poscom.ufba.br/
arquivos/Poscom-Producao_Cientifica-Francisco_Paulo_Jamil_Almeida_.pdf>. Acesso em:
05 jun. 2010.
MOSCO, Vincent. The Digital Sublime. Massachusetts: MIT Press, 2004. p. 17-140.
PATEMAN, Carole. Participação e Teoria Democrática. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.
PATROCÍNIO, Tomás. Para uma genealogia da cidadania digital. Educação, Formação &
Tecnologias; vol.1(1), 2008. p. 47-65. Disponível em: <http://eft.educom.pt>. Acesso em: 03
jul. 2010.
POSTER, Mark. Citizens, digital media and globalization. 2002. Disponível em:
<http://www.arts.uwa.edu.au/MotsPluriels/MP1801mp.html>. Acesso em: 25 jul. 2010.
SACHETO, Rachel. A Participação Política na Internet sob a perspectiva da economia
política da comunicação. Disponível: < http://www.ulepicc.org.br/arquivos/tics_raquel.pdf>.
Acesso em: 25 jul. 2010.
SAMPAIO, Rafael Cardoso. Participação Política e os potenciais democráticos da internet.
Revista Debates, Porto Alegre, v. 4, n. 1, p. 29-53, 2010.
SARTORI, Giovanni. A teoria da democracia revisitada: debate contemporâneo. São
Paulo: Editora Ática, 1994.
SCHNAPPER, Dominique. Os limites da expressão ‘empresa cidadã’. In: MORIN, Edgar.
PRIGOGINE, Ilya. (orgs.). A Sociedade em Busca de Valores: Para Fugir à Alternativa
entre o Cepticismo e o Dogmatismo. Lisboa: Instituto Piaget, 1998, p. 91-100.
SILVA, Sivaldo Pereira da. Participação política e Internet: propondo uma análise teóricometodológica a partir de quatro conglomerados de fatores. In: CONGRESSO ANUAL DA
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES DE COMUNICAÇÃO E POLÍTICA,
GT INTERNET E POLÍTICA, 1, 2006, Salvador-BA. Disponível em:
<http://www.fafich.ufmg.br/compolitica/anais2006/Silva_2006.pdf>. Acesso em: 15 Jul.
2010.
SMITH, Gordon. Governance without governments. 2002. Disponível em:
<http://www.reformwatch.net/fitxers/76.doc>. Acesso em: 25 jul. 2010.
SOUZA, Leandro. JAMBEIRO, Othon. Cidades Digitais e Controle da Informação. In:
ENLEPICC – Encontro Latino de Economia Política da Informação, Comunicação e Cultura,
5, 2005, Salvador. Disponível em: <http://www.gepicc.ufba.br/enlepicc/>. Acesso em: 26 jun.
2010.
Download