Caso 4º ano N2 Um homem de 47 anos procura a emergência do HB com história de dor abdominal intermitente há um dia, em cólica, com vômitos biliares. Ele refere que os sintomas começaram 3 horas após o almoço e que melhoraram após ele forçar vômitos, mas retornaram algumas horas após. Ele refere que está sem evacuar ou eliminar gases desde então. Ele nega sintomas semelhantes anteriormente e diz ter boa saúde. Ele foi submetido a uma laparotomia por um trauma contuso há 10 anos. Há 4 horas ele refere que a dor diminuiu, mas ficou contínua. Exame físico Sinais vitais: T: 38º C; Pulso: 110 btm; Pressão arterial de 130 por 85 mmhg e freqüência respiratória de 26 ipm. Tórax: MV presente bilateralmente e diminuído nas bases. Precórdio: RDR sem sopros BHNF Abdome: globoso com uma cicatriz cirúrgica mediana xifo-pubiana, sensível a palpação sem massas ou irritação peritoneal. Os ruídos hidroaéreos estão diminuídos. Não se identificam hérnias. Toque retal: sem massas e sem fezes na ampola retal Exames laboratoriais: HT: 48%; Hb: 18 g/dl; leucócitos 16.000 mm3 ; 85% neutrófilos, 4% bastonetes, 10% linfócitos e 1% monócitos; amilase sérica de 135 UI/L (nl: < 200 UI/L) RX abdome: Perguntas: 1) Qual o provável diagnóstico deste paciente? 2) Quais os próximos passos na conduta inicial deste paciente? 3) Quais as complicações associadas com esta patologia? 4) Explique o manejo deste paciente 5) Quais outros exames complementares poderiam ser realizados? Porquê? 6) Quando esta indicada cirurgia nestes casos Respostas: Resposta N1 Diagnóstico: Abdome agudo tipo obstrutivo complicado. Diagnóstico anatômico: Intestino delgado O paciente apresenta sinais e sintomas e exame radiológico de uma obstrução a nível de delgado > distensão abdominal > vômitos biliosos precoces > dor abdominal em cólica > RX abdome em pé com níveis hidro aéreos > RX abdome deitado com alças delgado e ausência de ar em colo e reto Etiológico: a) Aderências pós operatória b) Hérnia interna Como o paciente apresenta laparotomia prévia e esta na 5ª década, a etiologia mais provável para este caso é aderência pós operatória ou hérnia interna. Conceitos importantes: Estrangulamento de alça na obstrução de delgado: Provocado por uma hérnia de parede ou uma hérnia interna ou até mesmo por uma aderência firme com distensão e isquemia da parede da alça, leva a isquemia, necrose e perfuração de uma alça de delgado com extravasamento de seu conteúdo para a cavidade abdominal (peritonite). Neste ponto o paciente apresenta um quadro de irritação peritoneal difusa e sinais de sepsis grave com mortalidade alta. Íleo paralítico: distensão de delgado ou cólon por causa não obstrutiva. As causas comuns incluem processos inflamatórios ou infecciosos intra abdominais ou sistêmicos, distúrbios metabólicos, cirurgia abdominal recente e efeitos adversos de medicamentos. Hérnia interna: defeito congênito ou adquirido com herniação de uma alça intestinal que pode levar a obstrução do intestino delgado Íleo biliar: obstrução mecânica do intestino delgado devido a cálculo grande no lúmen do intestino. Esta condição ocorre devido a perfuração da vesícula biliar bloqueada pelo duodeno com passagem de um cálculo que vai obstruir geralmente no íleo terminal. Sub-oclusão intestinal: paciente com quadro de obstrução intestinal incompleta (ocorre passagem do conteúdo intestinal pela área de oclusão). Classificação da obstrução intestinal: Alta e baixo sendo a alta, até a transição jejuno íleo e a baixa abaixo desta transição. Resposta N2 Este paciente apresenta um quadro de obstrução intestinal de delgado complicado com sinais de hipovolemia e SIRS ou SEPSE e a abordagem inicial deve ser a colocação de uma sonda naso-gástrica (SNG) para descomprimir o estômago Deve-se obter acesso venoso periférico de grosso calibre (gelco número 14 ou 16) e colher amostra de sangue para tipagem sanguínea e exames laboratoriais (hemograma completo com diferencial, eletrólitos, creatinina, amilase e outros quando necessário), iniciar a re-hidratação com fluídos (cristalóides) e colocar uma sonda de Foley para monitorar o débito urinário e avaliar sua resposta a re-hidratação. Uma gasometria arterial ajuda no diagnóstico e tratamento do distúrbio acido básico existente. Resposta N3 A mudança da dor para caráter contínuo, os ruídos intra-abdominais diminuídos e o quadro sistêmico de febre, taquicardia, taquipnéia e leucocitose sérica elevada indicam que este paciente já apresenta complicações associadas à obstrução intestinal. Obstrução mecânica do intestino delgado leva à função absortiva diminuída e ao acúmulo de fluido intra-luminal Distensão de alças de delgado com acúmulo e seqüestro líquido intra luminal e passagem de líquido (transudação) para o espaço intra-peritoneal Depleção de volume intravascular e perfusão diminuída de todos os órgãos Distúrbios hidroeletrolíticos como conseqüência Proliferação bacteriana intra-luminal e translocação para a corrente sanguínea e espaço intra-peritoneal Isquemia da parede das alças progredindo para necrose e perfuração intestinal Possível estrangulamento com isquemia Liberação HAD com retenção hídrica Vômitos com perda de HCL, Na+, K+. (alcalose metabólica hipoclorêmica e hipocalêmica na obstrução alta) Aspiração brônquica com pneumonia aspirativa Isquemia com hipoperfusão celular e acumulo de ácido lático (acidose) Resposta N4 Após o manejo inicial se o paciente apresenta quadro de obstrução mecânica complicada o tratamento é a laparotomia exploradora com o tratamento da causa da obstrução. Lise de aderência, correção de uma hérnia interna, ressecção de um tumor, etc. Sempre os distúrbios hidro eletrolíticos e ácido básicos devem ser corrigidos antes de o paciente ser anestesiado pois a hipovolemia pode levar a uma hipotensão profunda e os distúrbios metabólicos a arritmias e complicações fatias. Alguns pacientes com obstrução intestinal mecânica não complicada e com menos de 24 horas podem ser tratados inicialmente com medidas de suporte e observação. Após 6 a 24 horas se os mesmos não apresentam sinais de melhora devem ser operados. Todos pacientes com sinais de complicação devem ser operados imediatamente. Resposta N5 Quando o diagnóstico de obstrução mecânica é duvidoso ou existe dúvidas quanto a obstrução mecânica de intestino grosso uma tomografia de abdome deve ser solicitada Quando existe dúvidas quanto a um quadro de pancreatite aguda uma amilase deve ser solicitada, mas lembrar que pacientes com obstrução mecânica podem apresentar elevação de amilase Um transito de delgado ou uma seriografia gastrintestinal superior pode ser utilizado para diferenciar uma obstrução de um íleo paralítico. Mas em serviços que contam com TC é pouco utilizado. Lembrar que tanto a TC quanto as radiografias contrastadas utilizam contraste que pode provocar reações anafiláticas e não devem ser usadas em pacientes com IRA. Resposta N6 Ver resposta N4 Lembrar que o retardo na indicação de cirurgia em um paciente com isquemia intestinal significa necrose e perfuração intestinal com seqüelas graves e aumento na mortalidade destes pacientes “O SOL NUNCA DEVE SE POR NO CASO DE UMA BARRIGA OBSTRUIDA” Shuwartz