O Formalismo no Brasil como Estratégia de Mudança Social Belmiro Valverde Jobim Castor, PhD DELIMITAÇÃO DOS SISTEMAS SOCIAIS 5a. unidade Mestrado FAE 2007 Relembrando: as patologias habituais das teorias de desenvolvimento O serialismo O etnocentrismo O modernismo O setorialismo ou uni-dimensionalismo Serialismo Existe uma noção disseminada de que um país em desenvolvimento é como um trem, correndo sobre os mesmos trilhos das nações industrialmente desenvolvidas mas que se encontra a algumas estações (isto é fases de desenvolvimento) atrás. [Na realidade] não é verdade que aquilo que foi passado para os passageiros do trem desenvolvido será necessariamente o futuro para os passageiros do trem atrasado Bertrand de Jouvenel A essa visão serialista da história, Guerreiro Ramos contrapunha uma visão possibilística do desenvolvimento. O desenvolvimento não é uma sucessão inevitável de etapas necessárias e sim a exploração de um conjunto de possibilidades (Teoria N versus Teoria P) O etnocentrismo A maioria das teorias de desenvolvimento é alicerçada na experiência histórica e nas estruturas produtivas e sociais dos países industrialmente desenvolvidos. A que se contrapõe a noção de que os episódios históricos vividos em um determinado país ou região respondem a suas peculiaridades não podendo ser transplantados incriticamente. Exemplo: no Brasil , diferentemente da Europa, não existia um proletariado urbano e um campesinato como duas estruturas socio-produtivas diferentes. O operário industrial brasileiro era o agricultor que migrou para uma área urbana em busca de melhor padrão de vida O modernismo Desenvolver significa aproximar as estruturas produtivas , sociais , políticas e culturais de um país “atrasado” dos padrões vigentes nas sociedades “modernas” que é contestado pela noção de que o que chamamos de sociedades modernas são manifestações de um episódio histórico claramente delimitado: a sociedade industrial de massa. As sociedades modernas não garantem a obtenção dos padrões de bem estar material e psíquico que se espera das sociedades desenvolvidas. O setorialismo (unidimensionalidade) Desenvolvimento = afluência material e seus vetores são programas de investimentos em áreas críticas visando eliminar estrangulamentos infraestruturais que se contrapõe à noção de que o desenvolvimento é um processo multi-dimensional que depende de uma visão igualmente multi-dimensional, sistêmica, da realidade. Em grande medida, o desenvolvimento consiste na multiplicação dos espaços sociais e produtivos . Desenvolver-se é criar condições de produção dentro e fora da economia. O Paradigma Paraeconômico Turba SUBMISSÃO INTEGRAL A NORMAS Isonomias Fenonomias Isolados AUSÊNCIA TOTAL DE NORMAS ORIENTAÇÃO INDIVIDUAL ORIENTAÇÃO PARA A COMUNIDADE Economia Anômicos Os espaços sociais produtivos Economias Isonomias organizações que têm objetivo maximizar o lucro ou resultado financeiro ou material auferido com seu funcionamento organizações “de iguais” , baseadas no trabalho cooperativo, de natureza lucrativa ou não, onde o moto principal do trabalho não é a maximização do lucro material e sim a satisfação de necessidades psíquicas ou valores pessoais Fenonomias Organizações “demonstrativas” em que o moto principal da atividade não é a maximização do lucro material e sim a expressão das habilidades científicas e artísticas do indivíduo Essa visão “substantivista” do processo de desenvolvimento guarda coerência com o Modelo Ecológico de Fred Riggs A tipologia de Fred Riggs utiliza a metáfora da luz para identificar três tipos de sociedades Sociedades Concentradas Sociedades Prismáticas Sociedades Difratadas A concentração e a difração da luz O prisma A luz branca é concentrada A difração da luz separa a luz branca em sete cores componentes Nas sociedades simples, as estruturas sociais são concentradas cumprem diversas funções ao mesmo tempo Nas sociedades modernas, as estruturas sociais são difratadas Cumprem funções especializadas e singulares O prisma é o elemento mediador entre a luz difratada e a luz concentrada Uma sociedade prismática está no meio do caminho entre as outras duas O Brasil seria uma sociedade prismática. Os Estados Unidos, uma sociedade difratada As diferenciações de acordo com Riggs Grau de formalismo Grau de heterogeneidade Discrepância entre a conduta social e a norma prescrita que supostamente a regula. O formalismo é residual nas sociedades concentradas e nas difratadas. Alto nas sociedades prismáticas Coexistência do antigo e moderno, novo e velho, atrasado e moderno Alto nas sociedades prismáticas. Pequeno nas sociedades concentradas e nas difratadas. Grau de superposição Superposição é o cumprimento de mais de uma função social pela mesma estrutura. Alto nas sociedades concentradas e prismáticas O coronelismo, o clientelismo Em síntese, o Brasil é uma sociedade prismática caracterizada por alto grau de formalismo alto grau de heterogeneidade alto grau de superposição No entanto, Guerreiro Ramos não é totalmente crítico do formalismo no Brasil e argumenta que ele foi e é na realidade uma estratégia para a mudança social É necessário diferenciar entre vários tipos de formalismo O formalismo crônico das elites Formalismo como manifestação de deslocamento de objetivos Robert K. Merton, ritualismo burocrático O formalismo como acomodação O formalismo como estratégia facilitadora de mudanças O formalismo crônico das elites As elites tendem a se considerar imunes aos códigos sociais aplicados ao resto da população. Para ela, as normas são para ser cumpridas pelos outros, não por seus membros. O formalismo como deslocamento de objetivos Burocratas são formalistas porque o formalismo atende a seus interesses de manter o status-quo e evitar mudanças que lhe sejam danosas. Burocratas não pensam nos objetivos finais das burocracias públicas, nem na população: pensam nos seus próprios interesses que são protegidos pela rígida observância das normas por mais estúpidas que sejam. Formalismo como acomodação Os indivíduos adotam as formas dominantes para facilitar seu processo de absorção social. O jeitinho é uma modalidade de acomodação formalista. E as funções estratégicas do formalismo segundo Guerreiro Ramos O formalismo não é característica bizarra, traço de patologia social nas sociedades prismáticas mas uma fato normal e regular que reflete a estratégia global dessas sociedades afim de superar as fases em que se encontram O formalismo nas sociedades prismáticas é uma estratégia de mudança social imposta pelo caráter dual de sua formação histórica e do modo particular como se articula com o resto do mundo Utilização estratégica do formalismo Formalismo para absorver ou dirimir conflitos sociais O bacharelismo da sociedade brasileira O formalismo como estratégia para promover a mobilidade social vertical A sociedade dos mulatos O formalismo e o peneiramento social O pistolão como instrumento do “peneiramento” A aceitação do compadrio e das obrigações de parentesco O jeitinho como estratégia para evitar conflitos