Disciplina FCSE em História e Filosofia das Ciências Ficha descritiva 2º Semestre Evolução das Ideias em Física Designação SAHFC Departamento responsável Rui Moreira Coordenador da disciplina Docentes que participam na leccionação Rui Moreira 3 ECTS Número de créditos (2T ) Total de horas de leccionação (presencial) Esta cadeira pretende realçar a profunda relação entre a física e a filosofia. Desde os Objectivos primórdios, na Grécia Clássica, que essa relação é evidente. A Física, que talvez mais do Curso acertadamente se devesse denominar como Filosofia Natural, lembrando os filósofos naturalistas gregos e o título da obra prima de Newton “Philosophiæ Naturalis Principia Mathematica”, ou seja, Princípios Matemáticos da Filosofia Natural, é a área científica em que, quando estudamos a sua evolução, mais se evidencia quão embrenhada esteve, desde sempre, nos mais profundos problemas filosóficos. O que é conhecer? O que podemos conhecer? Como podemos conhecer? Haverá limites para o nosso conhecimento? São algumas das questões filosóficas a que a Física esteve frequente e inevitavelmente ligada. A revolução científica do século XVII tem na Física a manifestação que mais alterou a nossa relação com o mundo. A mutação ontológica e epistemológica que então se verificou merece um estudo atento. É importante fazê-lo, porque entendê-lo é adquirir ferramentas conceptuais mais sólidas para entender o que a Física foi depois disso, o que a Física é nos dias de hoje e antever o que Física poderá ser no futuro próximo. Após a revolução científica do século XVII, a Física nunca foi uma “pacífica” área do saber. Foi sempre palco de várias controvérsias científico-filosóficas. Se nos cingirmos à evolução da Física durante o século XX, verificamos que se trata de um século em que a discussão sobre os seus fundamentos filosóficos foi das mais acesas. Karl Popper considerou que na Física Quântica aconteceu o que ele apelidou de Cisma. Dois campos, que sofreram ambos várias ramificações, confrontaram-se. O campo da chamada Escola de Copenhaga, pretendia que a Mecânica Quântica estabelecera definitivamente um limite para a nossa capacidade de entendimento racional do mundo microfísico. Mas, ele próprio, também está longe de poder representar uma visão monolítica da Física, já que, por exemplo, Bohr tinha uma visão diferente da de Heisenberg, para citar apenas dois dos mais significativos nomes associados a essa Escola. Do outro lado, vamos encontrar nomes não menos sonantes, tais como, Einstein, Schrödinger e Louis de Broglie, que, embora não concordando entre si numa interpretação comum do formalismo quântico, não aceitaram os fundamentos filosóficos em que se apoiavam as interpretações desse formalismo adoptadas pelas diferentes facções da Escola de Copenhaga. Várias causas contribuíram para que a interpretação de Copenhaga se implantasse como paradigma dominante, para usar uma terminologia kuhniana. Convém analisá-las com cuidado. É ainda importante analisar a profunda relação entre os problemas fundamentais com que se debateu a Física ao longo do século XX e a evolução do pensamento epistemológico ao longo desse mesmo século. É possível reconhecer aquilo a que poderemos chamar uma tautologia entre certas correntes epistemológicas e a génese e evolução das duas principais teorias físicas construídas no início desse século, a saber, a já citada Mecânica Quântica e a Relatividade Restrita. Sabemos a profunda influência que o empirocriticismo de Ernst Mach exercera sobre o jovem Einstein. A qual facilmente se detecta na forma como ele chegou à introdução dos dois postulados dessa teoria. Em seguida, muitos neo-positivistas e positivistas lógicos se interessaram em analisar esta teoria. A incomensurabilidade da Thomas Kuhn é o fruto de uma determinada análise histórica que se baseia no estudo da revolução astronómica do século XVII, mas em que sobressai também uma determinada análise da evolução da Física do século XIX para o século XX. A incomensurabilidade Programa Bibliografia recomendada kuhniana, acaba por desaguar no cepticismo anarquista de Feyerabend e no cepticismo ontológico que transparece em todas as posições epistemológicas instrumentalistas. Inserida neste tipo de análise, é interessante reavaliar toda a controvérsia gerada em torno da existência e propriedades de um éter que servisse de suporte, quer às ondas electromagnéticas, quer às forças eléctricas e magnéticas, durante todo o século XIX, com particular acuidade nas décadas de 80 e 90. Esta análise permite, à luz dos conhecimentos actuais, entender as hesitações, os erros inevitáveis cometidos e as diversas contribuições ao longo de todo esse processo, que culminou na emergência da Relatividade Restrita de Einstein em 1905. A Mecânica Quântica, que também teve várias contribuições para a sua emergência, com vários nomes e diversas concepções associadas a cada um deles, acabou por adoptar uma posição bem próxima das posições epistemológicas anteriormente citadas. Isto, porque, em larga medida, adulterou, na essência, as convicções do próprio Bohr que foi um personagem singular neste processo, dado que foi ele quem introduziu o Princípio de Complementaridade como “pedra de toque” da sua interpretação do formalismo quântico. Bohr e Einstein acabaram por entrar em rota de colisão, porque Einstein, afastando-se das posições epistemológicas que inicialmente o inspiraram, não aceitou a interpretação dada por Bohr ao formalismo quântico. A principal manifestação desse conflito foi o paradoxo levantado em 1935 por Einstein, Podolsky e Rosen (EPR). Mais uma vez, agora neste conflito, transparecem as fortíssimas relações entre a Física e a Filosofia. Tratou-se, de facto, de um conflito filosóficocientífico de que Bohr saiu a ganhar. Podemos chamar, por isso, ao século XX, na Física, o século de Bohr, tal como ao século XVIII podemos chamar o século de Newton. São estes apenas alguns dos problemas que esta cadeira do Mestrado de História e Filosofia das Ciências pretende abordar, e que devem fazer parte da formação daqueles que pretendem conhecer com rigor o terreno que pisam e a disciplina que ensinam. É uma cadeira que tem como alvo todos os professores do ensino básico e secundário e, em geral, todos aqueles que pretendem complementar a formação adquirida no curso de Física, onde estes temas raramente são abordados, por falta de tempo, ou por qualquer outra razão. 1 - A herança grega. 2- A revolução científica do século XVII na física 3 - A mecânica e a gravitação newtonianas num espaço absoluto (vazio) e num tempo absoluto (independente das observações). 4 - O "século XVIII" como o “século de Newton”. 5 - O século XIX: a emergência do conceito de campo e a "vitória" de uma física das ondas num mundo preenchido de "matéria" (éter). O electromagnetism de Maxwell. 6 – O estudo da interacção entre a radiação e a matéria, isto é, o estudo da interacção entre o “mundo newtoniano” e o “mundo maxwelliano”. 7 - A primeira tentativa de conciliação: a relatividade restrita e a relatividade geral. 8 - A segunda tentativa de conciliação: a mecânica quântica. 9 - As controvérsias científicas durante o século XX. 10 - As controvérsias filosóficas durante o século XX. 11 - O estado da arte. 1 – Diálogos sobre física quântica. Dos paradoxos à não-linearidade. José Croca e Rui Moreira, Esfera do Caos, 2007. 2 – Quanta grãos e campos. Andrade e Silva e G. Lochak. INP, 1990. Métodos de ensino Métodos de avaliação Lições seguidas de debate. Língua de ensino Português Trabalho escrito (5-10 páginas), duas semanas de preparação.