Responsabilidade Social, Sustentabilidade e suas Normas

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RESPONSABILIDADE SOCIAL, SUSTENTABILIDADE E SUAS NORMAS
Alessandra Cabral Nogueira Lima
Ariadne Cedraz
Léa Monteiro Rocha
Luciana Cristina Andrade Costa Franco
Tássia Luana Alves Andrade Silva
Os primeiros indícios da responsabilidade social no mundo surgiram
na Europa através de movimentos sindicais. Nesse momento, a sociedade
motivada pelos problemas trabalhistas, se mobilizaram, pressionando o
governo e indústrias a solucionarem os problemas que a industrialização
acarretou.
No final do Século XIX e início do Século XX, o tema da
responsabilidade social, ganhou força e foi inserido na pauta do mundo dos
negócios como uma necessidade de mudança. Portanto nesse período, em
consequência aos problemas industriais, o entendimento das obrigações da
empresa para com seus funcionários começou a se modificar e com a nova
política keynesiana, que consolidou o modelo de produção em massa. Tais
mudanças no cenário econômico e de produção, fez com que a sociedade pósindustrial buscasse e questionasse, quanto ao aumento da qualidade de vida,
valorização do ser humano, respeito ao meio ambiente.
Assim, a sociedade pós-industrial foi a responsável pela base de
formação de um conceito para a responsabilidade social, em que as
companhias passaram a observar o contexto social e econômico aos quais
estão inseridas, e o quanto suas ações têm o poder de influenciar e ser
influenciadas pela sociedade a sua volta. Dessa forma a visão voltada apenas
para os interesses dos acionistas perdeu força, dando espaço para a
incorporação de objetivos sociais nos negócios, como forma de integrar as
organizações à sociedade.
Com isso o tema responsabilidade social, emergiu das preensões da
sociedade para com as ações empresariais e foi nesse momento que os
impactos das ações organizacionais começaram a ser analisados, gerando
assim uma cobrança de ações benéficas a sociedade. Dessa forma, resultados
econômicos e financeiros deixaram de ser as únicas prioridades das
organizações, e passaram a alinhar-se a fatores como credibilidade,
responsabilidade social e ambiental.
Este conceito é reforçado por Tenório (2006, p.25) quando afirma
que
A responsabilidade social nasce de um compromisso da
organização com a sociedade, em que sua participação vai
mais além do que apenas gerar empregos, impostos e lucros.
O equilíbrio da empresa dentro do ecossistema social depende
basicamente de uma atuação responsável e ética em todas as
frentes, em harmonia com o equilíbrio ecológico, com o
crescimento econômico e com o desenvolvimento social.
Apesar de ser comum encontrar a defesa que o conceito de
responsabilidade social está em constante construção uma vez que possui
tamanha
amplitude
e
complexidade,
os
estudos
que
tratam
da
responsabilidade social, continuam ganhando um espaço cada vez maior, e
devido essa popularização, é possível encontrar na literatura vários conceitos,
em que salientam que os termos estão ligados a uma postura de fazer o bem, a
sociedade, ao meio ambiente e aos negócios.
Quanto à visão das organizações, o Instituto Ethos, entidade
responsável pela promoção de práticas socialmente responsáveis, entende que
responsabilidade social empresarial como a gestão baseada no relacionamento
ético e transparente com todos que estão em torno da empresa, desde a
elaboração de metas coerentes com o desenvolvimento sustentável da
sociedade, preservando os recursos do meio ambiental e cultural para as
gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das
desigualdades sociais.
Nesse contexto, e em decorrência das inovações tecnológicas, e do
crescimento populacional, houve um crescente aumento no consumo dos
recursos naturais que satisfazem as necessidades humanas, esses, que até
pouco tempo, eram considerados inesgotáveis, hoje a humanidade percebeu
que são limitados e necessitam de cuidado. Destaca-se também o ímpeto
capitalista da sociedade que até então, apenas se preocupava em extrair do
meio ambiente o que necessita, e não com a forma de como era realizado esse
processo e suas consequências. Utilizando-se do argumento de ser cada vez
mais lucrativas, os problemas sociais, como fome, pobreza, violência e
exclusão social eram apenas de cunho governamental.
Dessa forma destaca-se que o tema responsabilidade social vem
sendo de uma fundamental importância para as organizações, tornando-se um
exercício inevitável para as empresas aumentarem a credibilidade, e
consequentemente
exercendo
impactos
positivos
em
seus
objetivos,
estratégias e no próprio significado da empresa. É baseando nesse contexto
que o termo passou a ganhar espaço no mundo dos negócios, sendo assim
denominado de Responsabilidade Social Empresarial – RSE.
Segundo Dias (2007) percebe-se que em conjunto aos debates a
conquista
sobre
a
Responsabilidade
Social
Empresarial
–
caminha
concomitantemente com a evolução do conceito de sustentabilidade.
O conceito de sustentabilidade foi criado em 1987, por membros da
Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU, onde
ficou definido que desenvolvimento sustentável é “aquele que procura
satisfazer as necessidades das populações actuais, sem comprometer a
capacidade das gerações futuras satisfazerem as suas próprias necessidades”.
Segundo, Szabó (2005), vários marcos históricos científicos, contribuíram para
que fosse percebido a insustentabilidade adotada até então pelo atual modelo
de desenvolvimento.
Quanto ao Brasil, a Comissão de Políticas de Desenvolvimento
Sustentável (CPDS) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio do
Exterior, coordenou as primeiras discussões sobre o desenvolvimento
sustentável. Em 1997 foi assinado o Protocolo de Kyoto considerado o tratado
mais ambicioso até então, propondo que os 35 países mais poluidores do
mundo reduzissem 5% suas emissões de gases poluentes, para assim
controlar o aumento do buraco da camada de ozônio e consequentemente o
aquecimento global. Em 2007, a sustentabilidade passou a alcançar novas
dimensões e aceitação da sociedade, com a disseminação mais veemente do
conceito de desenvolvimento sustentável através dos meios de comunicação
(DIAS, 2007).
Baseando-se nos aspectos do desenvolvimento sustentável, vários
modelos de gestão empresarial foram criados com o propósito de englobar
toda extensão da sustentabilidade. Um dos modelos mais utilizados é o triple
botton line, que foi criado pela empresa britânica de consultoria Sustain-Ability.
As iniciativas adotadas por esse modelo devem estar de acordo com os
objetivos e as diretrizes estratégicas da organização, para assim garantir de
forma eficaz a implementação das três dimensões básicas da sustentabilidade:
econômica, ambiental e social (TACHIZAWA, 2008).
Para que uma empresa seja considerada sustentável, é necessário
que ela busque reunir os conceitos e objetivos que se relacionem de forma
consistente ao desenvolvimento sustentável a suas políticas. Uma empresa
incorporadora desses objetivos é aquela que adota estratégias de negócios
pensando em atender as necessidades dela, de seus stakeholders. Dessa
forma, o ato de proteger, mantém e aumenta os recursos humanos e naturais
que serão de extrema importância para atender as necessidades e a
continuidade da humanidade (BARBIERI; CAJAZEIRA, 2009).
O conceito de empresa sustentável nasce a partir da união de dois
movimentos, o da responsabilidade social e do desenvolvimento sustentável,
representa o auge, de um longo caminho na qual a gestão empresarial foi aos
poucos incorporando comprometimentos para atender as necessidades da
sociedade a sua volta (AFONSO, 2006).
A preocupação com os aspectos econômicos e financeiros como a
obtenção de lucro, expansão de mercado, fixação da marca, e a distribuição
dos lucros, já não garantem necessariamente eficiência da gestão. Atualmente,
a forte demanda mundial pela sistematização da gestão da qualidade, da
preservação do meio ambiente, da saúde e segurança ocupacional e pela
responsabilidade social demonstra às organizações o que a sociedade atual
está buscando (BARBIERI; CAJAZEIRA, 2009).
A dimensão econômica, focando no campo empresarial, reconhece
que uma empresa necessita dar lucro e ter o seu valor de mercado sempre
crescente, para que dessa forma gerem riquezas para seus acionistas, porém
atualmente é necessário que os lucros sejam associados às dimensões sociais
e ambientais, dessa forma, caracterizando assim desenvolvimento sustentável.
Barbieri e Cajazeira (2009) afirmam que, associados a essas ações
socialmente responsável e sustentáveis o marketing social passa a ser usado
como uma ferramenta lucrativa.
Segundo Tenório (2006), com o passar do tempo, associado às
mudanças de valores impostas pela sociedade, que passou a se mobilizar,
exigindo uma nova postura por parte das organizações, de valorização do ser
humano, o respeito ao meio ambiente, buscando uma sociedade mais justa e
empresas que possuam objetivos variados, forçando a agregação de uma nova
visão voltada a atender as necessidades sociais, agregando valor social ao
negócio e a redefinição dos objetivos de marketing das empresas. Dessa forma
mediante esse contexto, em 1971 surge o termo marketing social, que surgiu
para explicitar o uso de princípios e técnicas de marketing para a promoção de
uma causa, ideia ou comportamento social.
A partir desse momento o marketing social passou a ser utilizado
como uma forma de gestão direcionada a efetivar mudanças sociais, ligadas ao
projeto. Implantando e controlando programas, com o objetivo de convencer a
população a aceitarem ideia ou uma prática social desenvolvidas pelas
organizações.
Para Vaz (1995) marketing social é uma modalidade estratégica de
ação adotada pelo mercado, que é utilizada para minimizar ou eliminar os
problemas sociais, e as carências da sociedade, voltada principalmente para as
carências básicas necessárias para a sobrevivência da humanidade, como:
saúde, educação, alimentação, saneamento básico, trabalho, moradia e
transportes.
Dessa forma, os programas desenvolvidos se baseando no
marketing social são criados a partir de uma pesquisa extremamente criteriosa,
que procura encontrar a verdadeira raiz dos problemas enfrentados pela
sociedade, descobrindo e assim definindo os pontos fortes a fragilidade da ou
das problemáticas, determinando um planejamento com ideia e propostas
definidas para dar apoio à campanha de melhoria.
Portanto, o marketing social tem o poder de criar e administrar todos
os processos e ações, destinados a construção e agregação de valor aos
produtos.
Quanto
aos
projetos
assistenciais,
mesmo
pertencentes
à
organização não consegue agregar valor de forma satisfatória ao conceito da
empresa, pois ela não é capaz de gerenciar, nem possui o controle do projeto,
este assim caminha conforme as demandas da sociedade beneficiada.
(KOZEL,1997).
INDICADORES DE RESPONSABILIDADE SOCIAL E A NBR ISO 26.000
A responsabilidade social tem sido entendida como uma realidade
no contexto empresarial, o que tem trazido alterações gradativas de
comportamentos e de valores nas organizações. Para atender a esta realidade
mundial, foram analisados e desenvolvidos indicadores de responsabilidade
social, onde através de suas mensurações as empresas têm tido condições de
traçar suas estratégias, metas e avaliar a eficácia de suas ações, relacionadas
a esse tema.
As iniciativas para fomentar essa nova cultura, foram muitas, como a
norma SA8000 (Social Accountability 8000) que foi elaborada de acordo com
os princípios da Organização Mundial do Trabalho (OMT) e concentra-se no
respeito aos direitos humanos e dos trabalhadores. Já a norma AA 1000 (2000)
busca avaliar as relações da empresa com a comunidade onde está inserida, e
a norma BS 8000 está voltada para as relações de condições de segurança e
saúde do trabalhador. Deixando claro que para um diagnóstico mais preciso
faz-se necessário recorrer a normas como a ISO 9000 (referente à qualidade
dos produtos) e a ISO 14000 (relativa às questões ambientais)
No entanto tornar-se necessário dizer que essas normas deliberam
sobre temas específicos, relacionados à gestão da responsabilidade social,
entretanto não sendo este o seu principal objetivo. Tendo como foco a gestão
da RSE, propriamente dita, podemos elencar os indicadores Ethos de
responsabilidade social, que permitem à empresa identificar seu desempenho
em relação às práticas socialmente responsáveis através de um questionário
de auto avaliação.
Conforme Franco e Nogueira, (2009, p. 7)
pode-se dizer que a empresa, ao adotar tais princípios, está adotando
práticas de responsabilidade social, à medida que vai além da obrigação de respeitar as leis, pagar impostos e observar as condições adequadas de segurança e saúde para os trabalhadores por um cumprimento, mas sim por acreditar que assim será uma empresa melhor e
estará contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa e
sustentável.
Ainda que os indicadores ethos trouxessem a orientação de como
ser responsável socialmente, faltava algo dirigido e elaborado, ate regulador, se
fosse o caso, foi aí que
A ISO - International Organization for Standardization, constituiu, em
2005, o Grupo de Trabalho de Responsabilidade Social, um fórum
internacional que contava com a participação de mais de 360 experts
e observadores de mais de 60 países (dados de junho de 2006) representantes de delegações nacionais e de organizações
internacionais de renome no campo da Responsabilidade Social. Este
grupo (foi o) responsável pela elaboração da norma internacional de
Responsabilidade Social - a ISO 26000, prevista para publicação em
2008 (TAKAOKA, 2011).
A NBR ISO 26000 teve sua elaboração finalizada e publicada em 01
de novembro de 2010. Contou com a participação de aproximadamente 90
países e 42 organizações integrantes do WGSR (Wosking Group on Social
Responsibility) sob a liderança conjunta da ABNT (Associação Brasileira de
Normas Técnicas), do Brasil e do SIS (Swedish Institute of Standardization), da
Suécia (ISO 26000:2010).
Baseando-se num consenso internacional tem com objetivo de
orientar a implantação da RSE, fornecendo orientações sobre os princípios de
responsabilidade social, apresentando formas de integrar as estratégias da
organização a comportamentos socialmente responsáveis. Destinada a ser
aplicada a todos os tipos de organização que operam diferente das outras
normas, pois não possui uma certificação, ou seja, a organização que decidir
utilizar as normas, não será concedida o direito de exibir um selo ou declaração
de “socialmente responsável” ou “sustentável”. O principal motivo dessa
decisão,
diz
respeito
ao
reconhecimento
das
ações
de
um
tema
demasiadamente amplo, que não pode ser reduzido a uma lista prédeterminada de requisitos uniformemente aplicáveis e verificáveis.
A NBR ISO 26000 (2010) possui uma estrutura, baseada em
conceitos, termos, e definições referentes à responsabilidade social e
desenvolvimento sustentável para todo e qualquer tipo de organização,
independente de porte ou localização.
Fornece orientações para todos os tipos de organizações,
independentemente do porte ou localização, sobre conceitos, termos,
definições
e todas as questões referentes à responsabilidade social e
desenvolvimento sustentável e sua implementação nas organizações e possui
a finalidade de orientar as organizações para a definição do escopo para a
adoção das práticas socialmente responsáveis. Para isso, definiu questões
relevantes que estabelecem prioridades para atuação organizacional, através
de temas centrais e questões de responsabilidade social, considerando os
impactos econômicos, sociais e ambientais das atividades organizacionais,
alem de relacionar os temas da responsabilidade social que devem ser
considerados na esfera de influência e na cadeia de valor da organização,
incluindo, por exemplo, seus fornecedores, parceiros comerciais, distribuidores
e clientes (REDE PRESENÇA, 2011).
Uma das coisas que mais chama a atenção de todos os envolvidos é
o caráter voluntário e orientador da norma, uma vez que ela não implica em
certificação e nem verificação externa por terceiros, ou seja, a empresa que
decidir por adotá-la não obterá nenhum selo.
REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Diretrizes sobre Responsabilidade Social. NBR ISO 26000. Rio de Janeiro, 12010. 110p.
BARBIERI, J. C.; CAJAZEIRA, J. E. R.. Responsabilidade social empresarial
e empresa sustentável: da teoria à prática. São Paulo: Saraiva, 2009.
DIAS, R. Gestão ambiental: responsabilidade social e sustentabilidade. São
Paulo: Atlas, 2007.
KOZEL, J., J.. O Top do Marketing Brasileiro. São Paulo, Scipione, 1997
FRANCO, Luciana C. A. C. NOGUEIRA, Alessandra C. Sou Socialmente
Responsável? Um Estudo de Caso nas Indústrias Têxteis Sergipanas. In
ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS PROGRAMAS DE
PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO, 33,2009. Anais. São Paulo:
ANPAD, 2009. CD ROM.
TAKAOKA. Política ambiental. Disponível em
http://www.takaoka.eng.br/politicaAmbientalCertificado/ISO26000.asp acesso
em 21 de março de 2011.
TENÓRIO, F. G.. Responsabilidade Social Empresarial. 2 ed. Rio de Janeiro:
FGV, 2006
VAZ, G.N.. Marketing Institucional. São Paulo: Pioneira, 1995.
REDE PRESENÇA. Notícias. Disponível em:
http://www.redepresenca.com.br/petroleo-offshore-noticias/1169-petrobras-eabnt-realizam-o-seminario-iso-26000, acesso em 21 de março de 2011.
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