A norma ISO 26000 e a utilização da responsabilidade social como ferramenta de marketing Francisco Edmilson Dias Araújo (UERN) [email protected] Ana Carla de Castro Freire (UERN) [email protected] Aylla Arli Araújo Souza (UFRN) [email protected] Magno Marcio de Lima Pontes (UERN) [email protected] Priscila de Paulo Martins (UNESPAR) [email protected] Resumo As atividades de Responsabilidade Social Corporativa (RSC) são usadas como forma de aliar valor e conceitos à imagem da empresa, seja pela promoção de campanhas sociais, seja pelo engajamento em ações de Marketing Social. Neste trabalho discute-se a importância da comunicação social responsável e da necessidade de que a responsabilidade social esteja integrada em toda a organização. Com isso, pretende-se desmitificar práticas de empresas que apenas se dispõe a divulgar suas ações, numa tentativa de amenizar atitudes irresponsáveis que se repetem constantemente. Isso mostra o papel forte que a RSE deve ter em uma organização, devendo nortear todas as suas atividades, sendo necessária a observação da legislação pertinente, a avaliação dos impactos de suas atividades na sociedade e no meio ambiente e a constante necessidade do desenvolvimento da cidadania empresarial, considerandose que a governança corporativa deve prevalecer nos processos decisórios, tratando-se com transparência, ética e respeitos aos direitos humanos. Conclui-se que o futuro apresenta muitas oportunidades para as empresas, mas estas devem ter uma consciência social a respeito pelos interesses das partes envolvidas nos seus modelos de negócios, observando o arcabouço legal e a conjuntura política que envolve o ambiente no qual atuam. Palavras chave: ISO 26000, Responsabilidade Social Corporativa, Marketing. The ISO 26000 standard and the use of social responsibility as a marketing tool Abstract The corporate social responsibility activities (CSR) used as a way to combine value and concepts to the company's image, is the promotion of social campaigns, either by engaging in social marketing actions. This paper discusses the importance of responsible media and the need for social responsibility integrated throughout the organization. It intended to demystify practices of companies that only publish their actions in an attempt to soften irresponsible attitudes that repeated constantly. This shows the strong role that CSR should have in an organization, should guide all its activities, observing the relevant legislation is necessary, the assessment of the impacts of their activities on society and the environment and the constant need for the development of citizenship business, considering that corporate governance must prevail in decision-making, dealing with transparency, ethics and respect for human rights. It concluded that the future presents many opportunities for businesses, but they must have a social conscience about the interests of the parties involved in their business models, observing the legal framework and political context surrounding the environment in which they operate. Key-words: ISO 26000, Corporate Social Responsibility, Marketing. 1 Introdução As atividades de Responsabilidade Social Corporativa (RSC) são frequentemente usadas como forma de aliar valor e conceitos à imagem da empresa, seja pela promoção de campanhas sociais, seja pelo engajamento em ações de Marketing Social. Nesse contexto da RSC, usam-se ainda fundações corporativas para associar o nome da empresa a ações de filantropia e, com isso, agregar às organizações ganho de imagem e reputação (BORGES; MIRANDA; VALADÃO JÚNIOR, 2007). Trabalhos como os de Higuchi et al. (2007) e Garay (2004) avaliam que a RSC é uma estratégia de marketing que visa, sobretudo, ao reforço da imagem de marca. Desenvolveu-se, portanto, um estudo de caráter bibliográfico com o objetivo de desmitificar práticas de empresas que apenas se dispõe a vincular na mídia suas ações, numa tentativa de amenizar atitudes irresponsáveis que se repetem constantemente ou pelo simples fato de a consciência social e ambiental estar “na moda”. Para uma melhor compreensão dessa dimensão mercadológica da RSC, faz-se necessário explorar os conceitos de Marketing em suas diversas modalidades e explanar definições de responsabilidade social, para se chegar a análise da Responsabilidade Social Corporativa/Empresarial. É imprescindível também o conhecimento da Norma Internacional ISO 26000 – Diretrizes sobre Responsabilidade Social, através da versão em português da norma, a ABNT NBR ISO 26000, que fornece orientações para todos os tipos de organização e indica que a responsabilidade social deve estar integrada em toda a organização e ser aplicada em suas relações, levando em conta os interesses das partes interessadas. 2 Marketing O termo marketing possibilita diversas definições e interpretações. Segundo Giuliani (2006), Kotler (1981) define o marketing numa visão de valor, caracterizando-o como uma atividade humana dirigida a satisfazer necessidades e desejos por meio do processo de trocas; já para Zaltman (1987), marketing seria conectar a organização com o meio ambiente e com valores, normas e cultura geral da sociedade; o autor, por sua vez, entende por Marketing um “conjunto de esforços criativos e táticos que devem ser utilizados para tornar acessível o produto-serviço ao mercado frente às mudanças ocorridas no macroambiente, gerenciando o relacionamento entre clientes, organizações e seus stakeholders” (GIULIANI, 2006, p. 8). Em 2008, a American Marketing Association (AMA), criou uma nova definição de Marketing, que diz: “Marketing é a atividade, conjunto de instituições e processos para criar, comunicar, oferecer e trocar ofertas que tenham valor para consumidores, clientes, parceiros e para a sociedade como um todo” (KOTLER; KARTAJAYA; SETIAWAN, 2010, p.18). Entende-se, portanto, o Marketing numa postura mais ampla e estruturada, abordando seus aspectos de valor, imagem, necessidades e expectativas. Sendo assim, pode-se conceituar Marketing como uma estratégia de consolidação dos objetivos pretendidos frente às ações propostas, ou seja, identificar os anseios e necessidades da sociedade e buscar formas de valores para saciá-los. O Marketing existe para servir e, por isso, deve estar voltado para o cliente final. 2.1 O Marketing e os marketings Diante da complexidade de conceitos englobados pelo termo “Marketing”, segue-se uma revisão sobre alguns dos principais ramos do marketing e suas interligações. De acordo com os setores nos quais o marketing está sendo aplicado, percebe-se a presença de uma “modalidade”. Sendo assim, para efeito deste estudo consideraram-se pertinentes: Marketing Ambiental: toma foco nas necessidades dos clientes ecologicamente corretos e desenvolve atividades destinadas a minimizar os efeitos negativos sobre o ambiente, visando a melhoria na qualidade de vida (DIAS, 2009); Marketing de Causas Relacionadas: relaciona as contribuições da empresa em prol de determinada causa com a disposição dos clientes para manter transações com essa empresa e, assim, gerar receita pra ela (KOTLER; KELLER, 2006); Marketing de Relacionamento: diz respeito ao relacionamento com os stakeholders. Essa modalidade está relacionada à fidelização dos clientes e à manutenção da clientela cativa (KOTLER, 2000); Marketing Social: está voltado para execução de programas e campanhas que tem como objetivo influenciar um comportamento ou mudar comportamentos, ou ainda promover ideias ou práticas sociais (DIAS, 2009); Marketing Socialmente Responsável: compreende o Marketing interno combinado com forte senso de responsabilidade social. É praticar o Marketing de forma ética e socialmente responsável (KOTLER, 1978); Marketing Societal: esta orientação convoca as empresas a incluir considerações éticas e sociais em suas práticas de Marketing. Elas devem equilibrar os critérios de lucros empresariais, satisfação do cliente e interesse público (KOTLER; KELLER, 2006). Estes são os tipos de marketing mais utilizados nas atividades de responsabilidade social nas organizações. No entanto, não anula a possibilidade do uso de outros, sendo essa classificação apenas para fins didáticos deste estudo. 3 Responsabilidade social A Responsabilidade Social diz respeito à forma como a empresa trata seus stakeholders (acionistas ou proprietários, funcionários, prestadores de serviço, clientes, fornecedores, consumidores, governo, concorrentes, colaboradores, comunidade, organizações nãogovernamentais e sociedade). O Instituto Ethos (2002) define Responsabilidade Social Empresarial (RSE) como uma forma de conduzir os negócios, o que torna a empresa parceira e corresponsável pelo desenvolvimento social. A empresa socialmente responsável é aquela que possui a disposição de ouvir os interesses dos diferentes públicos com os quais interage (stakeholders) e conseguir incorporá-los ao planejamento de suas atividades, buscando atender às demandas de todos, não apenas dos acionistas ou proprietários. Segundo ABNT (2010), Responsabilidade Social é: Responsabilidade de uma organização pelos impactos de suas decisões e atividades na sociedade e no meio ambiente, por meio de um comportamento ético e transparente que - contribua para o desenvolvimento sustentável, inclusive a saúde e bem-estar da sociedade; - leve em consideração as expectativas das partes interessadas; - esteja em conformidade com a legislação aplicável e seja consistente com as normas internacionais de comportamento; e - esteja integrada em toda a organização e seja praticada em suas relações (ABNT, 2010, p. 4). Isso mostra o papel forte que a RSC/RSE deve ter em uma organização, devendo nortear todas as suas atividades, sendo necessária a observação da legislação pertinente, a avaliação dos impactos de suas atividades na sociedade e no meio ambiente e a constante necessidade do desenvolvimento da cidadania empresarial. RSE é, na definição da Comissão das Comunidades Europeias, um comportamento que as empresas adotam voluntariamente, indo além dos requisitos legais, porque consideram ser esse o seu interesse de longo prazo. Ela implica, portanto, em uma abordagem, por parte das corporações, que coloca no cerne das estratégias empresariais as expectativas de todas as partes envolvidas e o princípio de inovação e aperfeiçoamento contínuos (YANAZE, 2006). Vaaland, Heide e Grønhaug (2008, p. 931) definem a RSC como “gestão do interesse do stakeholder para atos de responsabilidade e irresponsabilidade em relação ao fenômeno ambiental, ético e social de forma a criar um benefício corporativo”. Nesse sentido, há que se considerar a RSC como um fator passível de monitoramento pelos públicos com os quais as empresas se relacionam e que pode afetar nos resultados de seus negócios, já que eles esperam minimamente uma atitude responsável das corporações com as quais se relacionam. Carroll (1991) defende que independentemente do nível de importância de cada grupo para cada empresa, todos os stakeholders impactam e são impactados pelas ações da organização e por isso precisam ser considerados em um projeto de Responsabilidade Social Corporativa (RSC). O autor desenvolveu um modelo denominado de Pirâmide da Responsabilidade Social, composto de quatro dimensões, cada uma referente às demandas desses públicos: a dimensão econômica estaria relacionada ao retorno financeiro para a organização; a legal, diz respeito ao cumprimento pela empresa de todas as normas legais vigentes; a dimensão ética, corresponderia a respeito ao tratamento justo e equitativo de todos os públicos da organização; e a filantrópica, tratando-se das ações de filantropia que a empresa realiza entre as comunidades com as quais se relaciona. Destarte, acrescenta que as quatro dimensões são dinâmicas e que se complementam, tendo cada uma importância específica na execução da RSC na empresa. No entanto, a sua organização na Pirâmide obedece ao nível de importância que cada uma desempenha para a sobrevivência da empresa (CARROLL, 1991). Respectivamente, as dimensões econômica e legal, ficariam na base, sendo que o cumprimento dos seus preceitos é essencial à sustentação da organização, especialmente no curto prazo. Por outro lado, as dimensões ética e filantrópica, ficariam em seguida, nas camadas superiores seguintes pois, embora possuam grande relevância na construção do sucesso organizacional a longo prazo e sejam muito importantes para constituir uma organização socialmente responsável, não impactam tanto na sustentabilidade da empresa no curto prazo. Sobre essas quatro dimensões, Barbieri e Cajazeira (2009) discutem as responsabilidades de cada uma dessas dimensões: as econômicas consiste em a empresa ser lucrativa; para as legais, em obedecer as leis; as éticas em fazer o certo e evitar danos; e as filantrópicas em ser uma empresa cidadã. Assim, essas dimensões atendem aos anseios da sociedade da seguinte forma: Econômicas: produzir bens e serviços que a sociedade deseja e vendê-los com lucro; Legais: a sociedade espera que se cumpra a missão econômica em uma estrutura legal; Éticas: comportamentos e atividades que atendem a situações não cobertos por leis ou aspectos econômicos do negócio; Filantrópicas: comprometimento em ações e programas para promover o bem-estar humano. Portanto, a implementação de uma política de responsabilidade social a organização não é uma tarefa fácil, devendo ser planejada e avaliada constantemente, considerando-se que a governança corporativa deve prevalecer nos processos decisórios, tratando-se com transparência, ética e respeitos aos direitos humanos. Por outro lado, a adoção de práticas de Responsabilidade Social é, ao final, um jogo de ganhaganha. Não há como negar que, ao se inserir em campanhas de cunho social, a empresa se beneficia pela capitalização da imagem (sobretudo pela exposição por meio de mídia espontânea), por um maior incremento de venda de seus produtos e serviços, e as entidades e/ou projetos pela obtenção dos recursos financeiros arrecadados. 3.1 A Norma ISO 26000 e as ações mercadológicas De acordo com o DIEESE (2013), as normas da Organização Internacional para a Normalização (ISO – International Organization for Standardization) oferecem especificações técnicas de vasto leque de produtos e processos. A norma ISO 26000 foi publicada em dezembro de 2010 e o Brasil foi bastante ativo na elaboração dessa norma, sendo incorporadas ao seu conteúdo inúmeras sugestões e propostas vindas do país. Em essência: A norma fornece orientações sobre princípios e práticas de responsabilidade social dirigidas a organizações de qualquer natureza, não apenas para empresas. Sendo uma norma de orientação, a ISO 26000 não é passível de certificação, pois não contém a especificação de requisitos a serem verificados para a outorga de um certificado (DIEESE, 2013, p. 3). Entende-se, portanto, que não é uma normatização punitiva ou com objetivos de classificação, mas que serve como orientação técnica para a implantação dos princípios da responsabilidade social, sendo que suas orientações podem ser aplicadas em qualquer tipo de organização. Logo em sua introdução, a Norma ISO 26000 traz que o seu objetivo é fornecer orientações sobre os princípios subjacentes à responsabilidade social, reconhecendo a responsabilidade social e o engajamento das partes interessadas, os temas centrais e as questões pertinentes à responsabilidade social e formas de integrar o comportamento socialmente responsável na organização. Esta Norma salienta a importância de resultados e melhorias no desempenho em responsabilidade social (ABNT, 2010, vii). No decorrer do documento são traçadas diretrizes sobre os temas centrais: governança organizacional; direitos humanos; práticas de trabalho; meio ambiente; práticas leais de operação; questões relativas ao consumidor; e envolvimento e desenvolvimento da comunidade. O tema das questões relativas ao consumidor trata de responsabilidades que incluem: prover educação e informações precisas, usar informações de marketing leais e processos contratuais justos, transparentes e úteis, e promover o consumo sustentável e o design de produtos e serviços que ofereçam acesso a todos e cuidem, quando apropriado, dos mais vulneráveis e desprivilegiados. O termo consumidor refere-se àqueles indivíduos ou grupos que fazem uso do resultado de decisões e atividades das organizações, e não necessariamente significa que os consumidores paguem monetariamente por produtos e serviços. As responsabilidades também envolvem minimizar riscos decorrentes do uso de produtos e serviços por meio de procedimentos de design, fabricação, distribuição, prestação de informações, serviços de suporte, retirada de produto do mercado e recall. Muitas organizações coletam ou trabalham com informações pessoais e têm responsabilidade de proteger a segurança das informações e a privacidade dos consumidores. Os princípios dessa subseção se aplicam a todas as organizações em seu papel de servir aos consumidores; entretanto, as questões podem ter uma relevância muito diferente, de acordo com o tipo de organização (como organizações privadas, serviços públicos, organizações locais voltadas ao bem-estar social e outras) e com as circunstâncias. As organizações têm oportunidades significativas de contribuir para o consumo sustentável e o desenvolvimento sustentável por meio dos produtos e serviços que oferecem e as informações que prestam, entre as quais informações sobre uso, reparos e descarte (ABNT, 2010, p. 54). Dessa forma, destaca-se que, apesar de não ter caráter certificatório ou punitivo, o teor da norma é relevante, sendo dever de toda organização de qualquer natureza prezar pelo tratamento responsável com seus clientes, incluindo assim a forma clara de se relacionar com eles. Mais do que princípios organizacionais, a Norma apresenta princípios éticos que devem estar presentes em todas as empresas. 3.2 Ações de Responsabilidade Social A ISO 26000 destaca que a percepção e a realidade do desempenho da organização em responsabilidade social podem influenciar fatores como: sua vantagem competitiva; sua reputação; sua capacidade de atrair e manter trabalhadores e/ou conselheiros, sócios e acionistas, clientes ou usuários; a manutenção da moral, do compromisso e da produtividade dos empregados; a percepção de investidores, proprietários, doadores, patrocinadores e da comunidade financeira; e sua relação com empresas, governos, mídia, fornecedores, organizações pares, clientes e a comunidade em que opera (ABNT, 2010). Portanto, as ações de Responsabilidade Social Corporativa apresentam efeitos para com os diferentes públicos (stakeholders), conforme abordagem de Pinto (2004): Para acionistas e proprietários: busca da melhor remuneração sobre o capital; transparência nas informações; participação nas decisões estratégicas; Para Clientes: oferta de bens e serviços de qualidade, a preços compatíveis; qualidade no atendimento; resolutividade no atendimento pós-venda; conforto nas instalações e boa capilaridade dos pontos de distribuição; equipamentos ergonômicos e sistemas amigáveis (autoatendimento); Para Fornecedores: pagamentos em dia; cumprimento das demais cláusulas contratuais; relação de parceria (transparente e duradoura); Para o Governo: cumprimento das leis; pagamento dos tributos; colaboração nas Campanhas (Marketing Social); Para Colaboradores: ambiente de trabalho com qualidade física (espaço, iluminação, temperatura, ergonomia dos equipamentos) e social (clima organizacional saudável); respeito pelas individualidades e diversidades; oferta de programas de capacitação; incentivo ao autodesenvolvimento; salários compatíveis com as atribuições e a contribuição individual e de equipe; oportunidades de crescimento pessoal e profissional; assistência às famílias; Para Concorrentes: concorrência leal; alianças estratégicas (clusters); Para a Sociedade: atividades de marketing social; campanhas filantrópicas; ações de preservação e recuperação ambiental; ações de voluntariado. Desse modo, pode-se perceber que a responsabilidade social deve perpassar todos os setores da organização e sua aplicação deve ser incorporada à cultura da empresa. A RSE é, assim, estratégica; além da produção de bens e serviços de qualidade e a preços adequados, significa um posicionamento em relação ao ambiente de atuação, fazendo parte da estratégia organizacional. 3.3 Comunicação Social Responsável Como discorrem Kotler e Keller (2006), o futuro apresenta muitas oportunidades para as empresas. Os avanços tecnológicos em energia solar, redes online, televisão a cabo ou por satélite, biotecnologia e telecomunicações e redes sociais estão revolucionando o atual mundo corporativo. Independente de definições e conceitos, o fato é que o mundo vive um momento em que as empresas devem se mobilizar na busca de soluções que respondam positivamente aos anseios da sociedade. No entanto, as atividades de RSC devem ser acompanhadas de atitudes condizentes com o que se propõe a divulgar. A empresa deve não apenas reparar erros que ela mesma cometeu, mas também evitá-los. Uma corporação só pode se dispor a ser socialmente responsável quando priorizou anteriormente atitudes éticas e de cidadania corporativa. Desse modo, a RSC, mesmo quando usada para fortalecimento de uma marca, não deve ser vista apenas como uma mera estratégia mercadológica. Srour (2003) assinala que o atual processo de universalização do ensino e acesso à informação levou às sociedades contemporâneas a uma reorganização dos seus conceitos, aumentando o poder de influência dos cidadãos junto às organizações estatais e empresariais, influenciando a essas instituições a buscarem cada vez mais formas de proporcionar uma qualidade de vida melhor à sociedade. E afirma: A bem da verdade, em ambiente competitivo as empresas têm uma imagem a resguardar, uma reputação, uma marca. E, em países que desfrutam de estado de direito, a sociedade civil reúne condições para mobilizar-se e retaliar as empresas socialmente irresponsáveis ou inidôneas (SROUR, 2003, p. 43). Assim, uma corporação que consegue ser socialmente responsável em algum aspecto do seu setor de atuação, não terá feito muito se não manter isso como princípio da sua cultura organizacional. Do contrário, ela será vítima de suas próprias promoções, uma vez que a sociedade se encontra bem mais informada e cada vez menos se deixando enganar por discursos efêmeros e irreais, que pouco contribuem para a equidade social (CREDIDIO, In: YANAZE, 2007). Portanto, não adianta estar presente na mídia veementemente tentando criar uma imagem idealizada e irreal. Boa parte dos consumidores atuais não está interessada em pactuar com campanhas publicitárias que ressaltam atributos inexistentes das marcas. Estas precisam ter compromissos de fato, praticados e comprovados na vida real para serem válidos. 4 Conclusão A constante evolução do mercado, principalmente como observado nos últimos anos, tem despertado na sociedade uma série de discussões de caráter ético, social e ambiental que tem inevitavelmente efeitos diretos sobre os negócios e que norteiam a atuação das empresas. As organizações devem ter uma consciência social a respeito dos interesses das partes envolvidas nos seus modelos de negócios, observando o arcabouço legal e a conjuntura política que envolve o ambiente no qual atuam. Ao mesmo tempo, é preciso reconhecer que as forças ambientais estão impondo limites às práticas de Marketing e de negócios, pelo fato de exigirem padrões de qualidade e responsabilidade cada vez maiores, sendo um desafio constante equilibrar os interesses de todas as partes envolvidas, enquanto precisa também ser sustentável para garantir competitividade no mercado. Infere-se, desse modo, que a adoção da Normal ISO 26000, embora não tenha finalidade de certificação, contribui decisivamente para a instituição de práticas sustentáveis e socialmente responsáveis nas empresas, voltando-se para os públicos com os quais ela se relacionada. Nesse sentido, permite aliar o discurso à prática, desenvolvendo atividades que trazem benefícios a curto e longo prazo e fortalem a imagem da organização junto à sociedade. Referências ABNT. NBR ISO 26000 - Diretrizes sobre responsabilidade social. Rio de Janeiro: 2010. Disponível em: <http://www.pessoacomdeficiencia.gov.br/app/sites/default/files/ arquivos/[field_generico_imagens-filefield-description]_65.pdf> Acesso em: 10 Jun. 2016. BARBIERI, J. C.; CAJAZEIRA, J. E. R. Responsabilidade Social Empresarial e Empresa Sustentável: Da teoria à prática. São Paulo: Saraiva: 2009. BORGES, J. F.; MIRANDA, R.; VALADÃO JÚNIOR, V. M. O Discurso das Fundações Corporativas: Caminhos de uma “Nova” Filantropia?. Revista de Administração de Empresas, v. 47, n. 4, p. 101 - 115, 2007. CARROLL, A. B. The Pyramid of Corporate Social Responsibility: Toward the Moral Management of Organizational Stakeholders. Business Horizons, v. 34, n. 4, p. 39-48, JulyAugust 1991. DIAS, R. Marketing Ambiental: ética, responsabilidade social e competitividade nos negócios. São Paulo: Atlas, 2009. DIEESE. – Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos. Normas sobre responsabilidade social das empresas a ISO 26000 e o GRI. Nota Técnica nº 121, março/2013. Disponível em: <https://www.dieese.org.br/notatecnica/2013/notaTec121 DesempenhoResponsabilidadeSocial.pdf> Acesso em: 10 Jun. 2016. GARAY, Â. B. S. Voluntariado Empresarial: Modismo ou Elemento Estratégico?. In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO DE PÓS GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO – ENANPAD, 2001, Campinas, SP. Anais... GIULIANI, A. C. (org.). Marketing Contemporâneo: novas práticas de gestão com estudos de casos brasileiros. São Paulo: Saraiva, 2006. HIGUCHI, A. K.; VIEIRA, F. G. D. Responsabilidade Social Corporativa e Marketing Social Corporativo: uma proposta de fronteira entre estes dois conceitos. In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO DE PÓS GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO – ENANPAD, 2007, Rio de Janeiro, RJ. Anais... INSTITUTO ETHOS. Rede Ethos de Jornalismo. Publicação do Instituto Ethos de Empresa e Responsabilidade Social. São Paulo, 2002. KOTLER, P. Administração de marketing. São Paulo: Prentice Hall, 2000. ______. Marketing para organizações que não visam ao lucro. São Paulo: Atlas, 1978. ______; KELLER, K. L. Administração de Marketing. 12 ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006. KOTLER, P.; KARTAJAYA, H.; SETIAWAN, I. Marketing 3.0: as forças que estão definindo o novo marketing centrado no ser humano. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. PINTO, F. R. A Participação de Organizações no Planejamento de Cidades, como Estratégia de Responsabilidade Social Corporativa. Tese apresentada ao curso de Doutorado em Administração da Universidade Federal da Paraíba. João Pessoa-PB: 2004. Disponível em: <http://www.robertopinto.cpweb0018.servidorwebfacil.com/uploads/tese %20ufpb.PDF> Acesso em: 10 Jun. 2016. SROUR, R. H. Ética empresarial: a gestão da reputação. 2. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003. VAALAND, T. I.; HEIDE, M.; GRØNHAUG, K. Corporate social responsibility: investigating theory and research in the marketing context. European Journal of Marketing, v. 42, n. 9-10, p. 927-953, 2008. http:// dx.doi.org/10.1108/03090560810891082 YANAZE, M. H. Gestão de Marketing: avanços e aplicações. São Paulo: Saraiva, 2006.