1 Estudo comparativo entre o alongamento em cadeia muscular e alongamento ativo no ganho de flexibilidade dos músculos isquiotibiais Thalisson Barreto da Silva1 [email protected] Dayana Priscila Maia Mejia2 Pós-graduação em Fisioterapia em Ortopedia e Traumatologia com ênfase em Terapia Manual – Faculdade Ávila Resumo A flexibilidade muscular é um fator importante, tanto na prevenção quanto na reabilitação de lesões, apresentando grande relação com a qualidade de vida e o bem estar do ser humano, por esta ter uma intima ligação com a motricidade. A amplitude de movimento de uma dada articulação depende primariamente da estrutura e função do músculo, tecido conectivo e osso. Sendo assim a flexibilidade ganha em importância na qualidade de vida, este estudo teve como objetivo investigar qual técnica de alongamento é mais eficaz para obter ganho de flexibilidade dos músculos isquiotibiais. Sabemos que a flexibilidade pode ser definida como a amplitude articular máxima em uma articulação ou em grupos articulares, ou até memso pela relação existente entre o comprimento e a tensão de um músculo alongado. Para o treinamento da flexibilidade, ou seja, na realização das técnicas ou manobras de alongamentos, propicia o aumento do comprimento da unidade músculo-tendão. Fisiologicamente a estrutura destes tecidos assim como a função, são afetados sendo uma variável extremamente importante associada não somente com a qualidade de vida, mas também com a longevidade. Partindo deste princípio O presente artigo procurou através de uma ampla revisão bibliográfica, comparar de forma sucinta duas técnicas de alongamento muscular, na tentativa de concretizar qual seria mais eficaz no ganho de flexibilidade dos músculos isquiotibiais. Palavras-chave: alongamento, flexibilidade, cadeia muscular. 1. Introdução A flexibilidade pode ser definida como a amplitude articular máxima em uma ou mais articulações, ou pela relação existente entre o comprimento e a tensão de um músculo alongado. O treinamento da flexibilidade propicia o aumento do comprimento da unidade músculo-tendão. Fisiologicamente a estrutura destes tecidos assim como a função, são afetados sendo uma variável extremamente importante associada não somente com a qualidade de vida, mas também com a longevidade (CORBIN; NOBLE, 1980). Muitas pessoas se equivocam ao pensar que alongamento e flexibilidade são antônimos, mas devemos atentar para a diferença entre os dois. Onde flexibilidade pode ser definida como a amplitude de movimento (ADM), ou seja, o grau de amplitude em que uma estrutura pode se afastar da outra. Já o alongamento pode ser definido como qualquer 1 2 Pós Graduando em Ortopedia e Traumatologia Orientadora 2 exercício ou manobra terapêutica que tem por objetivo alongar estruturas de tecido mole, e, portanto, aumentar a amplitude de movimentos (ADM). Então com as definições acima, podemos dizer que flexibilidade é considerada a valência física e o alongamento o meio para desenvolver esta valência, a flexibilidade (LORETE, 2002) Há diversos tipos de alongamento, eles são determinados de acordo com o objetivo, a indicação e viabilidade de cada caso. Pode ser realizado de forma ativa, passiva e/ou mecânica e assistida. Também pode ser estático, progressivo estático e cíclico. Quanto à velocidade, pode ser lento ou balístico e de alta ou baixa intensidade (KISNER; COLBY, 2005). Os tipos mais comuns de alongamento são: estático, balístico e facilitação neuromuscular proprioceptiva (FNP) (ROSÁRIO, 2004). Outra técnica de alongamento muito eficaz é a técnico de alongamento por Cadeia Muscular que pode ser definida como um conjunto de músculos de mesma direção e sentido que trabalham como um só músculo. São geralmente poliarticulares e se recobrem como telhas de um telhado (MÉZIÈRES, 1947). Esses Grupos musculares possuem as mesmas características histológicas e fisiológicas, interligadas por uma rede aponeurótica, a fáscia, que por sua vez foi definida como uma faixa de tecido fibroso que envolve os grupos musculares e separa suas diversas camadas ou grupos (SOUCHARD, 2001). Sendo como principais cadeias musculares; Cadeia Posterior, Cadeia Mestra Anterior, Cadeia Respiratória, Cadeia Superior do Ombro, Cadeia Anterior do Braço, Cadeia Ântero-interna do ombro, Cadeia Ânterointerna do quadril, Cadeia Lateral do Quadril (BUSQUET, 2001). Ainda que o alongamento seja amplamente difundido e apesar de inúmeras publicações, existe uma grande dificuldade na determinação do protocolo apropriado. Com isto, este estudo tem como objetivo determinar qual a técnica de alongamento dentre as duas apresentadas é mais eficaz para o ganho de flexibilidade dos músculos isquiotibias. 2. Referencial Teórico 2.1 Músculo Esquelético O tecido mais abundante do corpo humano é o músculo esquelético, que representa 40 a 45% do peso corporal total. O corpo humano é formado por mais de 430 músculos esqueléticos, vistos ao longo do corpo. Porém, menos de 80 pares produzem movimentos mais vigorosos. Os grupos musculares, e não somente músculos individuais proporcionam força e proteção ao esqueleto, distribuindo cargas, absorvendo choque, permitem que os ossos se movam nas articulações e promovam a manutenção da postura do corpo contra força. Os músculos esqueléticos executam trabalho dinâmico e estático. A locomoção e o posicionamento dos segmentos corporais no espaço são realizados através do trabalho dinâmico. A posição e a postura corporal são mantidas através do trabalho estático (NORDIN; FRANKEL, 2003). A fibra muscular, uma célula cilíndrica longa, é a unidade estrutural do músculo esquelético, que possui muitas centenas de núcleos. Fibras musculares variam em espessura de aproximadamente 10 a 100 μm e em comprimento de aproximadamente de 1 a 30 cm. A fibra muscular é envolvida por uma membrana delicada de plasma denominada sarcolema. O sarcolema consiste em uma membrana celular verdadeira, constituído por fina camada de material polissacarídeo, que contém inúmeras e finas fibrilas colágenas (GUYTON; HALL, 2002). A fibra muscular é composta por centenas a milhares de subunidades sucessivamente menores, as miofibrilas, que se acomodam paralelamente umas às outras, suspensas no 3 citoplasma da fibra muscular denominado sarcoplasma (NORDIN; FRANKEL, 2003). No interior do sarcoplasma há uma rede organizada de túbulos e bolsas conhecidas como retículo sarcoplasmático. Esses túbulos se acomodam paralelos às miofibrilas e têm importância na contração muscular. O retículo sarcoplasmático será mais extenso quanto maior for a velocidade e importância da produção de contração muscular (GUYTON; HALL, 2002). 2.2 Fáscia Muscula Segundo Achour (2006), o sistema conectivo que une os ossos aos elementos contráteis, os quais permitem que o sistema fibroelástico exerça tensão, é conhecido como fáscia dos músculos, que nada mais é do que uma estrutura de tecido conectivo em forma de camada membranosa. A expressão fáscia dos músculos significa banda ou bandagem. Ela consiste em bainhas, lençóis ou agregados de outros tecidos conectivos, sendo identificada como o segundo componente que mais resiste à extensibilidade durante exercícios de alongamento passivo. A fáscia é dividida em três partes gerais ou tipos. A fáscia superficial que se encontra diretamente abaixo da derme é composta de duas camadas, a camada externa chamada de panículo adiposo e a camada interna que é uma membrana fina que geralmente não tem gordura. Em muitas partes do corpo a fáscia superficial desliza sobre a fáscia profunda produzindo a mobilidade da pele. A fáscia profunda está logo abaixo da fáscia superficial, sendo mais rígida, firme e compacta que a fáscia superficial, protegendo e sendo fundida com os músculos, ossos, nervos, vasos sanguíneos e órgãos do corpo. A fáscia subserosa é mais profunda em volta das cavidades do corpo formando a camada fibrosa das membranas serosas que cobrem e sustentam a víscera (ALTER, 1999). As fáscias dos músculos apresentam espessuras diferenciadas que permitem liberdade de movimentos à pele e agem como isolante térmico, ramos de nervos e vasos linfáticos subcutâneos encontra-se no tecido conectivo, isto contribui para a eficiência do retorno venoso, uma vez que seus tecidos exercem um efeito de bombeamento sobre as veias profundas durante as contrações. O músculo está dentro da fáscia e conectado a ela, sendo elemento altamente contrátil para contrair e relaxar; e a fáscia é uma unidade de sustentação, com elasticidade tridimensional: de frente para trás, da esquerda para a direita, de um lado para o outro (ACHOUR, 2006). Há pelo menos três funções prováveis de tecido conjuntivo intramuscular, fornecer uma estrutura que ligue o músculo e assegure o alinhamento adequado das fibras musculares, vasos sanguíneos, e assim por diante. Outra função é permitir que as forças, ativamente desenvolvida pelo músculo ou passivamente imposta sobre o músculo, sejam transmitidas por todo tecido de forma segura e eficaz. Por último também fornecem as superfícies lubrificadas necessárias entre as fibras musculares e os feixes de fibra muscular que permitem que o músculo altere sua forma (ALTER, 1999). Ainda sobre o mesmo autor acima citado, a fáscia representa o segundo fator mais importante que limita a amplitude de movimento, isto porque o tecido conjuntivo constitui 30% da massa muscular fazendo com que o músculo possa mudar de comprimento. Durante o movimento passivo a soma da fáscia muscular é responsável por 41% da resistência total ao movimento. Com uma pessoa que tenha o estilo de vida pouco ativo, a fáscia profunda pode perder sua capacidade elástica e a maleabilidade conferida pela glicosaminoglicana. O aumento da rigidez pode afetar o movimento localizado ou outras partes do corpo. Por isso, 4 movimentos ou posturas mantendo a rigidez podem ser dolorosos e provocar perda da capacidade total de deslizamento (ACHOUR, 2006). Muitos profissionais da saúde vêem o corpo a partir de um ponto de vista míope determinado por seu campo de atuação, por exemplo, os quiropráticos estão relacionados com a sub-luxação das vértebras, os osteopatas com uma lesão osteopática, os acumpunturistas com o tratamento de um meridiano, e assim por diante. Mas o que acontece se o problema é com as fáscias e não com as articulações, músculos ou nervos? A fáscia tem a capacidade de adaptar-se a várias condições. Além disso deve-se lembrar que as fáscias são contínuas (podem ser seguidas de um lado área do corpo para outra) e são contíguas (todas se tocam), resumindo, se uma parte do corpo “se deforma” todas as outras “se deformarão” para compensar (ALTER, 1999). 2.3 Tipos de fibra muscular O músculo esquelético não é apenas um grupo homogêneo de fibras com propriedades metabólicas e funcionais semelhantes. Cada músculo do corpo é constituído por uma combinação de fibras musculares, que exibem diferenças nas suas taxas de contração, desenvolvimento de tensão e suscetibilidade para fadiga. Os tipos de fibra muscular são basicamente diferenciados pelas vias metabólicas através das quais geram ATP e a taxa nas quais sua energia é disponibilizada ao sistema contrátil do sarcômero, o qual determina a velocidade de contração. Os três tipos de fibras musculares são classificados como: tipo I, fibra de contração lenta oxidativa; tipo IIa, fibra rápida oxidativa-glicolítica e tipo IIb intermediária glicolítica (NORDIN; FRANKEL, 2003). Fibras tipo I ou de contração lenta são caracterizadas por uma baixa atividade de miosina ATPase na fibra muscular e, conseqüentemente um tempo de contração lento. Elas possuem baixa atividade glicolítica (anaeróbia), porém, são compostas por grande quantidade de mitocôndrias, responsáveis pela alta atividade oxidativa (aeróbia). Tendo em vista a alta taxa de fluxo sangüíneo e a conseqüente entrega de oxigênio e nutrientes, podem manter o ritmo lento de hidrólise de ATP com maior resistência à fadiga, produzem pouca tensão e são bem adaptadas para trabalhos prolongados de baixa intensidade. As fibras tipo I são também denominadas de fibras vermelhas, por conterem alto teor de mioglobina ligada ao oxigênio, conferindo ao músculo aspecto avermelhado (MOREIRA; RUSSO, 2006; NORDIN; FRANKEL, 2003,). As fibras tipo IIa são consideradas intermediárias entre o tipo I e tipo IIb. Elas têm capacidade moderadamente bem desenvolvida para ambas as atividades enzimáticas, glicolítica e oxidativa. Também possuem bom aporte sangüíneo e podem manter a atividade contrátil por longos períodos, no entanto, a elevada taxa de atividade e de hidrólise de ATP excedem as capacidades glicolíticas e oxidativas para prover ATP, conferindo-lhes maior tendência à fadiga. As fibras tipo IIa contém alto teor de mioglobina, categorizando o músculo como vermelho (MOREIRA; RUSSO, 2006; NORDIN; FRANKEL, 2003). Dependendo principalmente da atividade glicolítica para produção de ATP, as fibras tipo IIb recebem poucos vasos capilares e contém pouca mioglobina, sendo chamadas de músculo branco. Seu retículo sarcoplasmático é mais extenso que das fibras de contração lenta, que pode ativar e desativar rapidamente o sistema contrátil. Embora possam produzir ATP rapidamente, elas se cansam facilmente em virtude das altas taxas de hidrólise de ATP que rapidamente consomem o glicogênio necessário à glicólise. Geralmente são de diâmetro grande e por isso podem produzir maior tensão, mas por curtos períodos (MOREIRA; RUSSO, 2006; NORDIN; FRANKEL, 2003). 5 2.4 Fuso neuromuscular O fuso muscular é um receptor de estiramento muscular, composto por 3 a 12 células modificadas, chamadas de fibras intrafusais, dispostas dentro do músculo, paralelamente às fibras musculares (fibras extrafusais). Cada fibra intrafusal é uma fibra muscular esquelética, porém com menor diâmetro e função distinta (GUYTON; HALL, 2002). Na região central de cada fibra intrafusal, não há filamentos de actina e miosina ou há poucos. Em razão disto, a região central das fibras do fuso não se contraem junto com as extremidades. Ao invés disso, ela funciona como um receptor sensorial ao estiramento muscular e à velocidade com que esse estiramento ocorre (GUYTON; HALL, 2002; SMITH et al, 1997). Há dois tipos de fibras intrafusais: as nucleares em bolsa e as nucleares em cadeia. As do tipo bolsa são bastante volumosas, pois contêm grande número de núcleos aglomerados em bolsas localizadas no centro da área receptora. Nas fibras em cadeia nuclear, os núcleos estão alinhados em cadeia por toda a área receptora (GUYTON; HALL, 2002). Cada fuso muscular contém dois tipos de terminação nervosa sensorial aferente localizados na área receptora central, a terminação primária e terminação secundária. A primária circunda a parte central de cada fibra muscular intrafusal tipo bolsa, formando a chamada terminação anuloespiralada com fibra do tipo Ia, transmitindo sinais sensoriais à medula espinhal em resposta às alterações dinâmicas do comprimento do músculo e a secundária faz conexão com fibras em cadeia e formam a chamada terminação tipo ramo de flor com fibras tipo II, e, retransmitem os impulsos para a medula, porém são menos sensíveis à distensão que as anuloespiraladas (MOREIRA; RUSSO, 2006). Os fusos musculares também contêm fibras contráteis, que são as extremidades estriadas contráteis das fibras musculares, controladas por impulsos nervosos via axônios motores de pequeno diâmetro, os neurônios motores eferentes tipo Aγ. Conforme os neurônios motores α estimulam a contração das fibras extrafusais, a descarga dos neurônios motores γ causa contração das fibras intrafusais (SMITH et al, 1997). Há duas formas de ativar os receptores do fuso muscular: quando o alongamento de todo o músculo causa também o estiramento das fibras do fuso a ativa seus receptores ou quando as fibras contráteis, nas extremidades do próprio fuso são ativadas por impulsos provenientes dos nervos motores γ, contraem-se e estiram a porção central tipo bolsa e ativa seus receptores (GUYTON; HALL, 2002). Com a ativação dos receptores sensitivos, os impulsos são transmitidos através das fibras nervosas aferentes, e fazem conexões sinápticas com a medula espinhal, centros cerebrais superiores e com neurônios motores Aα, acarretando uma ativação reflexa (SMITH et al, 1997). Isso induz o músculo a se contrair com mais força e a se encurtar, e, por fim, reduz o estímulo de distensão proveniente dos fusos (McARDLE et al, 1998). Os fusos estão presentes em quase todos os músculos, mas são mais numerosos nos músculos das mãos e dos pés (SMITH et al, 1997), pois quanto mais refinado for o movimento, maior será a quantidade de fuso muscular ativado (MOREIRA; RUSSO, 2006). 6 2.5 Órgão tendinoso de golgi (OTG) Diferentemente dos fusos musculares, que ficam localizados paralelamente às fibras musculares extrafusais, os órgãos tendinosos de Golgi estão conectados em série com até 25 fibras extrafusais dentro do tendão, perto da sua inserção na fibra (MOREIRA; RUSSO, 2006). Os OTGs são mecanorreceptores encapsulados sensíveis à variação de tensão produzida pelo feixe de fibras ao qual estão ligados (SMITH et al, 1997). Assim eles fornecem ao sistema nervoso informações instantâneas sobre o grau de tensão em cada segmento do músculo (GUYTON; HALL, 2002). Eles funcionam como dispositivos de segurança e impedem que a força incida excessivamente sobre o músculo, prevenindo lesões. Podem ser acionados em resposta a duas situações: tensão por distensão passiva do músculo ou por tensão criada na contração concêntrica (MOREIRA; RUSSO, 2006). Quando os OTGs de um músculo são estimulados pelo aumento da tensão, os sinais são transmitidos por fibras de condução rápida, tipo Ib, à medula espinhal a ao cerebelo. O sinal medular local excita um só interneurônio inibitório, que inibe, por sua vez o neurônio motor anterior. Esse circuito inibe diretamente o músculo de forma individual, sem atingir os músculos adjacentes. Assim, esse reflexo é inteiramente inibitório produz um mecanismo de feedback negativo que impede o desenvolvimento de elevada tensão muscular (GUYTON; HALL, 2002) 2.6 Flexibilidade A amplitude de movimento de uma dada articulação depende primariamente da estrutura e função do osso, músculo e tecido conectivo e de outros fatores tais como o desconforto e a habilidade para gerar força e potência muscular suficiente (SHRIER, 2000). O envelhecimento afeta a estrutura destes tecidos assim como a função, sendo uma variável extremamente importante associada não somente com a qualidade de vida na terceira idade, mas também com a longevidade (CORBIN; NOBLE 1980). Flexibilidade é a capacidade de movimentar uma articulação através de sua ADM disponível, sem atingir demasiado estresse musculotendíneo. A flexibilidade deve ser considerada uma qualidade física na influência da motricidade humana (DÍAZ et al, 2003). A flexibilidade, como elemento essencial da aptidão física, propicia o aumento do comprimento da unidade músculotendínea, enriquece a eficácia do movimento, promove redução da diminuição da distensão muscular, melhora a qualidade da postura e simetria, proporciona relaxamento de estresse e de tensão, a habilidade nos esportes, não sendo este aumento imediatamente reversível, devido às propriedades viscosas, resultando em adaptações do tecido alongado (HAMILL; KNUTZEN, 1999; GAJDOSIK, 1999; ALTER, 1999). Diversos trabalhos evidenciam a relevância da flexibilidade e de seu treinamento, demonstrando serem efetivos na melhoria das capacidades funcionais. Atualmente existe ainda a preocupação na promoção da saúde vinculada na manutenção ou melhoria de uma vida fisicamente ativa e independente (ACHOUR, 2004). A mobilidade articular é definida como a habilidade das estruturas ou dos segmentos do corpo de serem movidos de modo a permitir a presença de movimentos amplos para as atividades funcionais (ADM funcional). Pode ser ainda definida como a habilidade de 7 um indivíduo iniciar, controlar e manter os movimentos ativos do corpo para desempenhar tarefas motoras simples ou complexas (mobilidade funcional). A mobilidade ativa (flexibilidade dinâmica) refere-se à ADM ativa, o grau em que uma articulação se move por uma contração muscular e a mobilidade passiva (flexibilidade passiva) é o grau que uma articulação pode ser movida passivamente por meio da ADM disponível. A mobilidade, quando relacionada com ADM funcional, está associada à integridade articular (KISNER; COLBY, 2005). A promoção de maiores níveis de flexibilidade ocorre pelo emprego sistematizado de estímulos denominados alongamentos, que são solicitações de aumento da extensibilidade do músculo e de outras estruturas, mantidas por um determinado tempo. Os alongamentos baseiam-se no princípio de ativação de fusos musculares e órgãos tendinosos de golgi, sensíveis às alterações no comprimento e velocidade e, na tensão dos músculos, respectivamente. Os impulsos destes receptores provocam respostas reflexas, que por sua vez induzem adaptações nas unidades musculotendíneas, as quais são benéficas para o ganho da mobilidade articular (BAGRICHEVSKY, 2005). A flexibilidade ou extensibilidade sofre influência de três fatores principais: a estrutura óssea da articulação, a quantidade de tecido periarticular e a extensibilidade de tendões, ligamentos e tecido muscular que cruzam a articulação (ALLSEN, 1999). Estas são qualidades necessárias para que ocorram movimentos irrestritos e sem dor durante as atividades funcionais da vida diária. A ADM necessária para desempenhar tais atividades não corresponde necessariamente à ADM completa ou “normal” (KISNER; COLBY, 2005). Ela pode ser limitada por tecidos moles circunjacentes à articulação, excesso de gordura ou massa muscular. Os indivíduos obesos tendem a apresentar limitações mecânicas pelo excesso de volume (gordura) no abdome ou em outras áreas do corpo que possam impossibilitar a mobilidade. O mesmo pode acontecer quando há hipertrofia muscular, o próprio excesso de massa muscular limita a ADM completa da articulação. Outras limitações mecânicas podem ainda ser causadas por encurtamentos musculares causados freqüentemente por habilidades esportivas (ACHOUR, 2006). Ela pode variar entre as articulações de um mesmo indivíduo, podendo ser explicada através da unilateralidade das habilidades esportivas, pelas situações de trabalho, devido a lesões e pela influência genética (FORLÉO, 1995). Esta última permite obtenção de altos níveis de flexibilidade com exercícios vigorosos de alongamento. Já em menores índices de flexibilidade a herança genética pode aumentar as possibilidades de desenvolvimento posterior da mesma, entretanto nos casos onde já exista grande amplitude de movimento, menores serão os ganhos. Levando a crer que quanto maior a ADM, mais difícil será o desenvolvimento das estruturas que a limitam, portanto menores serão os resultados dos exercícios para ganho da flexibilidade (ACHOUR, 2004). 2.7 Encurtamento Muscular Achour (2004), afirma que o estilo de vida pouco ativo e a falta de exercícios específicos de alongamento geralmente levam à incapacidade para execução de movimentos amplos, em virtude da diminuição da flexibilidade, (figura 01). O termo encurtamento muscular é em geral utilizado para descrever não apenas a aproximação dos sarcômeros durante a contração, mas também um estado de aproximação duradouro dos sarcômeros, isto é, o fato de haver tecidos (colágeno) além da quantidade normal. O 8 encurtamento pode comprometer a biomecânica do movimento, a postura e ainda comprimir algumas fibras nervosas, provocando dor aguda. Figura 01: Mensuração do ângulo poplíteo, mostrando encurtamento dos isquiotibiais.. Fonte: http://www.scielo.br/img/revistas/aob/v15n2/a07fig1 (07/05/2013 às 23;16) A condições que podem levar ao encurtamento adaptativo dos tecidos moles ao redor de uma articulação e perda subseqüente da amplitude de movimento incluem imobilização prolongada, mobilidade restrita, doenças do tecido conectivo ou neuromusculares, processos patológicos nos tecidos devido a trauma e deformidades ósseas congênitas adquiridas (KISNER; COLBY, 2005). O encurtamento ou retração refere-se à redução leve do comprimento de uma unidade musculotendínea que permanece saudável, resultando em limitação na mobilidade articular. Um músculo retraído pode ser quase completamente alongado, exceto nos limites extremos de sua amplitude, o que comumente ocorre em músculos biarticulares.( POLACHINI; et al, 2005). Se houver rigidez ou nódulos em um dos feixes de um determinado grupo muscular, pode haver prejuízo na execução das atividades de vida diária. Alguns exercícios de força, se realizados em músculos insuficientemente alongados, podem comprometer o sistema musculoesquelético. Um sistema muscular com insuficiência de flexibilidade pode não realizar com a máxima eficácia as habilidades esportivas, particularmente uma habilidade complexa com amplitudes consideráveis de movimentos. Músculos encurtados e/ou com lesões crônicas podem calcificar próximo às articulações, limitando o movimento, o que favorece as desordens musculoarticulares (ACHOUR, 2004). 9 2.7 Encurtamento dos Músculos Isquiotibiais A musculatura posterior da coxa corresponde a um grupo muscular conhecido como isquiotibiais. Composto pelos músculos bíceps femoral, semimembranoso e semitendinoso, a ação muscular desse grupo é complexa, em decorrência do fato de serem estruturas biarticulares atuando na extensão do quadril e na flexão do joelho. Como há uma interdependência das ações desempenhadas por esse grupo muscular, a efetividade dos isquiotibiais como extensores do quadril está relacionada ao posicionamento da articulação do joelho. Com essa articulação estendida, esses músculos são alongados otimamente para agir no quadril. A flexão da coxa ocorre livremente com os joelhos flexionados, sendo limitada pelos isquiotibiais quando ocorre a extensão do joelho.( POLACHINI; et al, 2005). Os músculos isquiotibiais (figura 02), formam uma grande massa muscular que está envolvida diretamente nos movimentos do quadril e joelho. Esse grupo desempenha importante influência na inclinação antero-posterior da pelve, afetando indiretamente a lordose lombar. Portanto, a flexibilidade alterada desses músculos pode ocasionar desvios posturais significativos e afetar a funcionalidade da articulação do quadril e coluna lombar (HAMILL; KNUTZEN, 1999). Figura 02 - Músculos Isquiotibiais Fonte: OLSON, 1996, p. 217 Para Shuback et al (2004), particularmente na área da reabilitação, a flexibilidade dos músculos isquiotibiais é importante no equilíbrio postural, na manutenção completa da ADM do joelho e do quadril, na prevenção de lesões e na otimização da função musculoesquelética. 10 Por sua vez, uma postura lombar sem a curvatura, somada algumas vezes pelo encurtamento dos isquiotibiais, provoca uma inclinação posterior pélvica que sobrecarrega a coluna nas atividades de levantamento e condução de peso (ACHOUR, 2004). 2.8 Alongamento Muscular De acordo com Kisner e Colby (2005) alongamento é o termo geral usado para descrever qualquer manobra fisioterapêutica elaborada para aumentar a mobilidade dos tecidos moles e subseqüentemente melhorar a amplitude de movimento (ADM) por meio do alongamento de estruturas que tiveram encurtamento adaptativo e tornaram-se hipomóveis com o tempo. Com isso, não só o músculo é alongado, além dele, estruturas como o tendão, fáscia, tecido conectivo e pele também sofrem esta ação. Também podendo ser definido como técnica utilizada para aumentar a extensibilidade musculotendinosa e do tecido conjuntivo periarticular, de tal modo contribuindo para aumentar a flexibilidade articular (HALL; BRODY, 2001). É comumente aplicado em relação à atividade física e reabilitação de pacientes com desordens músculo esqueléticas (HARVEY et al, 2002; KELL et al, 2001). Tendo como intuito o reforço das estruturas miotendinosas para torná-las capazes de serem submetidos a esforços de tração (ACHOUR, 2006), aumentar o rendimento de atletas, prevenir e tratar lesões músculo esqueléticas e distúrbios posturais, recuperar funções em pós-operatório ou pós-imobilização e promover saúde (PLATE, 1995). O alongamento baseia-se no princípio de ativação de fusos musculares e órgãos tendinosos de Golgi, sensíveis às alterações no comprimento, velocidade e na tensão dos músculos. Os impulsos desses receptores provocam respostas reflexas, que por sua vez induzem adaptações nas unidades musculotendíneas, as quais são benéficas para o ganho da mobilidade articular (MAGNUSSON et al, 1996). De acordo com a literatura, a intensidade de tensão no alongamento deveria ser aplicada até o sujeito referir um incômodo, desconforto, tensão sem dor, leve sensação de alongamento ou até o terapeuta sentir uma rigidez ou restrição ao movimento (FELAND et al, 2001) A atuação do alongamento ocorre sobre a estrutura histológica do tecido conjuntivo, sobre as fibras de colágeno e elastina, e muscular, aumentando o comprimento da fibra muscular; portanto, quando um músculo é alongado passivamente, o alongamento inicial ocorre no componente elástico em série e a tensão aumenta agudamente; após certo ponto ocorre um comprometimento mecânico das pontes transversas à medida que os filamentos se separam com os deslizamentos e ocorre um alongamento brusco nos sarcômeros (KISNER; COLBY, 2005). Com o passar do tempo ocorrem várias mudanças na função fisiológica das unidades contráteis dentro do músculo, que ocorrem durante exercícios ou imobilização em uma posição alongada ou encurtada por longos períodos de tempo (KISNER; COLBY, 2005). No alongamento, os filamentos de actina são retirados da faixa A e as faixas H tornam-se mais longas, numa extensão igual ao aumento do comprimento das faixas I. O sarcômero resiste à deformação do alongamento por meio de sua capacidade de tensão de repouso, e a resistência à extensão aumenta com o alongamento mais intenso (DEYNE, 2001). O alongamento deve ser realizado até a sensação de uma leve tração no músculo, mantendo a posição, no entanto durante a realização do alongamento não deve haver a sensação de dor, parestesias, tonturas, se caso houver o aparecimento de alguns desses 11 sintomas, o exercício deve ser imediatamente interrompido (MOFFAT; VICKERY, 2002). O alongamento proporciona decréscimo da rigidez muscular diretamente através das mudanças viscoelásticas ou indiretamente pela inibição reflexa e conseqüente mudanças viscoelásticas em razão da redução das ligações cruzadas de actina e miosina. Portanto, reduzir a rigidez muscular iria então permitir aumento da amplitude de movimento articular (BEST, 1995; GARRET, 1990). 2.8 Indicação do Alongamento O músculo precisa ser longo o suficiente pra permitir mobilidade normal nas articulações e ser curto o suficiente para contribuir efetivamente com estabilidade articular. (KENDALL et al), sendo assim o alongamento é indicado quando os tecidos moles perderam sua extensibilidade, como resultado de aderências; em contraturas e formação de tecido cicatricial tendo como conseqüências limitações ou incapacidades funcionais; prevenção de deformidades estruturais; fraqueza muscular e encurtamento de tecido opositor; manutenção da postura; prevenção de lesões musculoesqueléticas e com intuito de minimizar potencialmente a dor muscular pós-exercício (KISNER; COLBY, 2005). 2.9 Contra-indicação do Alongamento O alongamento não deve ser realizado quando há bloqueio ósseo, pois limita a mobilidade articular; após fraturas recentes; sempre que houver evidências de processos inflamatórios ou infecciosos agudos ou quando a regeneração dos tecidos moles puder ser perturbada nos tecidos retraídos e na região ao redor (KISNER; COLBY, 2005). Nos casos de dor aguda; quando forem observados hematomas ou traumas nos tecidos, hipermobilidade, quando as contraturas ou os tecidos moles encurtados estejam provendo aumento da estabilidade articular no lugar da estabilidade articular normal ou do controle neuromuscular; quando a contratura ou os tecidos moles encurtados são as bases de habilidades funcionais melhoradas em pacientes com paralisia ou fraqueza muscular grave (KISNER; COLBY, 2005). 2.10 Duração do Alongamento Há várias pesquisas acerca dos efeitos dos exercícios de alongamento, porém a duração mínima necessária para obter ganho de flexibilidade de tecidos moles ainda não foi determinada, eis que são poucos os estudos que abordam essa linha de pesquisa. Os experimentos investigativos existentes com relação à duração do alongamento se contradizem e ainda são realizados sem um protocolo apropriado, o que os leva a vários achados. O alongamento só ocorre quando a tração é mantida por tempo suficiente para que haja deformação do tecido conectivo (LIANZA, 2001). O tempo de tração deve ser relativamente longo, já que a duração da tração é diretamente proporcional à capacidade de deformação visco elástica do músculo (TRIBASTONE, 2001). Segundo Madding et al. (1987), 15 segundos oferece resultados efetivos para aumento de ADM de abdução de quadril, em alongamento estático com apenas uma série, 12 quando comparado com outros estímulos superiores (45 e 120 segundos), concordando assim com Shrier e Gossal (2000) que em ampla revisão literária concluíram que um alongamento de 15 a 30 segundos por grupo muscular é suficiente para a maioria das pessoas, mas algumas pessoas ou grupos musculares requerem maior duração ou mais repetições. No que se refere aos estímulos (30 e 60 segundos) investigados por Bandy et al.(1994) constatou-se não haver diferença do ganho de flexibilidade entre o alongamento estático de 30s e 60s dos músculos isquiotibiais e que a duração de um alongamento por mais de 30 segundos deve ser questionada. O trabalho de Taylor et al (1990) feito com animais sugere que o maior alongamento muscular ocorre durante os primeiros 12 a 18 segundos de um alongamento estático e durante os primeiros quatro alongamentos estáticos de uma série de 10. Em um estudo comparativo sobre duas “doses ideais” de alongamento ativo realizado durante três semanas, Grandi (1998) utilizou duas propostas, a primeira sugerida por Bandy indica 1 repetição de 30s na musculatura isquiotibial do MID e uma segunda indicando 4 repetições de 18s da musculatura isquiotibial do MIE proposta por Taylor. Ao final, Grandi sugere que as duas doses são igualmente eficazes para ganho de flexibilidade desses músculos. Já Bonvicine et al. (2005), em estudo realizado com 30 sujeitos, concluíram que o ganho de ADM para os músculos isquiotibiais é maior em 1 série de alongamento passivo com duração de 60 segundos que em 2 séries de 20 segundos, ao final de 4 semanas. Em um estudo realizado por, Amaro e Maia (2007), foi possível observar ganho de ADM na articulação do joelho, dos participante que realizaram o alongamento ativo dos músculos isquiotibiais, em uma série realizada em um único dia, com duração de 30, 60, 90, 120s. Os grupos que alongaram por 60s, 90s e 120s, obtiveram ganho significativo de flexibilidade dos músculos isquiotibiais, portanto, os resultados indicaram que o tempo mínimo necessário para obter ganho de flexibilidade aguda dos músculos isquiotibiais por meio de alongamento ativo é de 60s. 2.11 Cadeias Musculares Na década de 50, surgiu na França uma nova proposta de atuação que revolucionava a forma de trabalhar o corpo. De acordo com Méziéres apud Bertherat (1987),o deslocamento das massas do corpo - cabeça, abdômen, costas - faz com que as curvas vertebrais se acentuem mais ainda. A manutenção da posição da cabeça obriga os músculos ligados às vértebras cervicais a se agruparem e as vértebras a manterem-se num arco côncavo. O mesmo se verifica com os músculos e vértebras lombares. Essa curva e o achatamento da musculatura posterior só tendem a agravar-se com o passar dos anos. Segundo (BUSQUET, 2001), As cadeias musculares representam circuitos anatômicos através dos quais se propagam forças organizadas do corpo. A técnica permite compreender melhor a lógica das disfunções e a origem das dores e deformidades. Visa libertar bloqueios articulares, aderências, contraturas musculares e encurtamentos neurais. Procura também reequilibrar as tensões internas através de manobras viscerais. Surgiu o termo “cadeias” articulares e musculares, que refere-se a um procedimento preventivo e terapêutico através da organização do sistema locomotor em grupos e cadeias, que permite uma visão unificada do corpo em situações de análise da postura. 13 A solidariedade das estruturas corporais não se limita ao sistema locomotor, mas abrange a unidade da estrutura humana como um todo. Essas cadeias, segundo DenysStruyf (1995), formam conjuntos “psiconeuromusculares” que se fazem e se desfazem conforme a expressão corporal, postural e gestual. Como Souchard (2005) descreve, ilustrando os princípios das cadeias musculares. Numa fila de pessoas de mãos dadas, se uma delas tropeça, seu desequilíbrio se transmitirá às outras. Da mesma forma, qualquer tração efetuada em uma extremidade de uma cadeia muscular se traduz imediatamente por uma compensação em um ponto qualquer da cadeia. Conforme Bertherat (1987), a questão do desequilíbrio postural, não está na “fraqueza” da musculatura posterior, mas no excesso de força, sugerindo que a solução seria “soltar” os músculos posteriores para que eles libertem as vértebras mantidas num arco côncavo. A referida autora ia mais longe em suas considerações teóricas, afirmando que “não é somente o esforço para ficar em equilíbrio que encurta os músculos posteriores mas, também, todos os movimentos de média e grande amplitude executados pelos braços e pernas, solidários com a coluna vertebral”. Esta nova proposta baseou-se na seguinte observação: cada vez que se tentava tornar menos acentuada a curva de um segmento da coluna vertebral, a curva era deslocada para outro segmento. Desta forma, era necessário considerar o corpo em sua totalidade e cuidar dele enquanto tal. A causa única, porém, de todas as deformações era o encurtamento da musculatura posterior, em função da maior tensão, conseqüência inevitável dos movimentos cotidianos do corpo sob a ação da gravidade. Na abordagem clássica dos problemas musculares e articulares, o corpo é tratado de forma segmentada. Por exemplo, uma dor na região lombar é geralmente vista como um problema local, e o tratamento envolve apenas os músculos presentes nessa região. Já a proposta das cadeias musculares considera o sistema muscular de forma integrada, em que os músculos se organizam em cadeias. Utilizando esta técnica, é possível identificar o comprometimento de cada cadeia muscular e, a partir daí, tratar as causas e as conseqüências. Sendo assim, uma dor na região do ombro pode ser causada pelo desequilíbrio das cadeias envolvidas e sua análise e tratamento vão além da análise e tratamento das estruturas da coluna lombar. Assim como os sintomas de um entorse de tornozelo pode ter se originado em uma lesão no ombro. A finalidade das cadeias é utilizar os sintomas como orientação para chegar a origem da lesão (BERTHERAT, 1987) . 3. Metodologia A metodologia utilizada para a elaboração deste artigo foram pesquisas bibliográficas de aspecto descritivo, pois as informações contidas são de várias fontes e diversos autores e também porque apresentam muitas definições e procedimentos relacionados ao tema abordado. Uma vez que a metodologia é a parte de um trabalho que visa descrever os procedimentos a serem utilizados durante a pesquisa, já uma pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em materiais já publicados, como artigos científicos e livros. Diante disto, este artigo visou comparar duas técnicas de alongamento, na tentativa de diagnosticar qual das duas é mais eficaz para o ganho de flexibilidade, tendo como base as definições e conceitos já existentes. 4. Resultados e discussão 14 O presente estudo durante seu desenvolvimento encontrou resultados interessantes por meio das pesquisas bibliográficas, entretanto ficou claro que ainda há muito o que pesquisar a respeito deste assunto, mas ficou muito claro que é importante o profissional fisioterapeuta ou educador físico ter amplo conhecimento quanto a anatomia muscular global e biomecânica das articulações, para realizar a técnica de alongamento que julgue mais eficaz naquele momento, e que principalmente, seja realizada com segurança, sem causar nenhum tipo de trauma e lesão muscular ou articular. Ficou bem evidente também, que hoje o conhecimento das cadeias musculares é de grande importância quando se quer ganhar flexibilidade, uma vez que já existem vários resultados comprovando a eficácia desta técnica. Em estudo realizado por Marques et al, (1994), onde avaliaram 20 pacientes com fibromialgia, e após a avaliação realizaram tratamento por meio de alongamento em cadeias musculares, diagnosticaram que as cadeias mais comprometidas com encurtamento muscular eram a cadeia ântero-interna do ombro e a cadeia posterior, ao final do tratamento todos os pacientes não só apresentaram um índice de flexibilidade normal e próximos do normal como postura ereta, fazendo crer que houve alongamento significativo da cadeia posterior como também uma melhorar na conscientização da postura ao nível das cadeias musculares. Em estudo posterior, Cabral et al, (2007), confirmaram o resultado obtido no estudo anterior descrito, só que desta vez foi feito um estudo que visou comparar a eficácia do alongamento muscular na recuperação funcional de pacientes Com síndrome femoropatelar (SFP). Foram selecionadas 20 mulheres jovens sedentárias com SFP, divididas em dois grupos, um grupo que realizou alongamento dos músculos da cadeia posterior pela técnica de reeducação postural global, (RPG), e um segundo grupo que realizou alongamento segmentar dos isquiotibiais e gastrocnêmios, Após a realização do tratamento os grupos mostraram que obtiveram melhora na capacidade funcional, encurtamento dos isquiotibiais, melhora do ângulo Q e flexibilidade, porém, só o primeiro grupo relatou melhora na intensidade da dor e comparando o grupo 01 com o grupo 02, o primeiro grupo também teve maior ganho de flexibilidade, concluído que as técnicas de alongamento em cadeias musculares são mais eficazes tanto na melhora da dor de pacientes com síndrome femoropatelar, quanto na melhora da flexibilidade dos músculos isquiotibiais. Ainda partindo da mesma linha de pesquisa, no estudo de Vivolo et al, (2007), onde foi feito um estudo com objetivo de comparar a eficácia de uma sessão de alongamento muscular segmentar e alongamento muscular global, através do ganho de flexibilidade e amplitude de movimento para extensão dos joelhos. A amostra contou com 60 participantes, todos adultos, 30 homens e 30 mulheres, cada grupo contou com 30 participantes, sendo 15 mulheres e 15 homens, foi realizada goniometria de joelho antes do tratamento e logo em seguida dele. Ao final do tratamento chegarm ao seguinte resultado, o alongamento muscular global mostrou ser mais eficaz que o alongamento segmentar no ganho de amplitude de movimento da extensão de joelho, não se verificando o mesmo no ganho de flexibilidade. Como existem muitas divergências quanto ao tempo, frequência e tipo de alongamento, os resultados aqui obtidos nos remetem à necessidade de realizar outros estudos clínicos. ROSÁRIO et al, (2008), também fizeram o mesmo estudo comparativo, comparando o alongamento segmentar e o global pela técnica de RPG quanto ao ganho de flexibilidade, ADM e força muscular. 30 mulheres foram distribuídas aleatoriamente em três grupos: o grupo global fez alongamento de cadeias musculares; o grupo segmentar realizou alongamento segmentar; e o grupo controle não fez alongamento. Antes e depois do tratamento, em todos os grupos, foram avaliadas a ADM de extensão da 15 perna, flexibilidade pelo teste 3o dedo-solo e força isométrica de flexão da perna em 45° e 90°. Os dois grupos experimentais realizaram oito sessões de alongamento de 30 minutos cada, duas vezes por semana. Os resultados dos grupos global e segmentar foram semelhantes entre si e superiores aos do grupo controle na ADM, flexibilidade e força muscular em 45° e 90°. Na avaliação intra-sessões, os dois grupos também tiveram desempenhos semelhantes, com ganho relativo da ADM maior nas primeiras e decrescendo ao longo das sessões. Ambas as técnicas de alongamento foram pois igualmente eficientes no aumento de flexibilidade, ADM e força muscular. Descrevendo ainda sobre o mesmo assunto, tem o estudo de Moreno et al, (2007), que desta vez fez um estudo com objetivo de avaliar o efeito do alongamento da cadeia muscular respiratória, pelo método de Reeducação Postural Global (RPG), sobre a força muscular respiratória e a mobilidade toracoabdominal de homens jovens sedentários. Estudo realizado com 20 voluntários, divididos em dois grupos de 10: grupo controle e grupo submetido à intervenção pelo método de RPG. O protocolo foi constituído por um programa de alongamento da cadeia muscular respiratória na postura rã no chão com os braços abertos, realizado com a regularidade de duas vezes por semana, durante 8 semanas, totalizando 16 sessões. Os dois grupos foram submetidos à avaliação da medida da pressão inspiratória máxima, pressão expiratória máxima e cirtometria toracoabdominal, antes e após o período de intervenção. Depois do tratamento proposto chegaram ao seguinte resultado; Os valores das pressões respiratórias máximas e da cirtometria do grupo controle antes e após o período de intervenção não apresentaram alterações significativas (p > 0,05). No grupo RPG, os valores de todas as variáveis apresentaram diferenças estatisticamente significativas após o protocolo de intervenção (p < 0,05). Chegando a conclusão que o protocolo de alongamento da cadeia muscular respiratória proposto pelo método de RPG mostrou ser eficiente para promover o aumento das pressões respiratórias máximas e das medidas da cirtometria toracoabdominal, sugerindo que pode ser utilizado como um recurso fisioterapêutico para o desenvolvimento da força muscular respiratória e da mobilidade toracoabdominal. 5. Conclusão O alongamento tem sido ao longo da história uma das ferramentas mais importantes para o tratamento de patologias causadas por tempo prolongado de imobilização, inicialmente o alongamento muscular tornou-se conhecido apenas como método eficaz para ganhar amplitude de movimento, com o passar dos anos, novas técnicas fisioterapêuticas foram surgindo ao redor do mundo e tendo como base o alongamento muscular. Hoje o termo alongamento é muito amplo, pois existem várias técnicas diferentes, e em muitas vezes com o mesmo objetivo. Fisioterapeutas utilizam esta técnica para tratar e reabilitar diferentes tipos de pacientes, por esse motivo, este estudo, diante de tantas literaturas pesquisadas, visou esclarecer qual das duas técnicas que hoje vem mostrando excelentes resultados, é mais eficaz para o ganho de flexibilidade dos músculos isquiotibiais. Depois de verificar toda anatomia e fisiologia muscular, particularidades do alongamento e pesquisas realizadas com intuito de comparar o alongamento em cadeia muscular e o alongamento ativo, Chegamos a conclusão que todas as técnicas que de alongamento, proporcionam um ganho de flexibilidade e consequentemente uma melhor qualidade de vida, porém estudos já comprovam que a técnica de alongamento que é mais eficaz no ganho de flexibilidade e até mesmo, na diminuição da intensidade do quadro álgico em certos tipos de patologias, é o alongamento em cadeias musculares, uma técnica que tornou- 16 se muito conhecida na década de 80 junto com o método de Reeducação Postural Global (RPG), que traz em seu principio ativação das cadeias musculares. Portanto ficou claro que todos da área da saúde deveriam conhecer de uma forma mais profunda as cadeias musculares, pois elas hoje proporcionam um tratamento mais eficiente e duradouro quando se tem o objetivo de ganhar flexibilidade e de diminuição da dor. Manter as articulações do corpo livres é importantíssimo na prevenção de lesões e no aparecimento de deformidades durante o envelhecimento. Este estudo comprova que o alongamento muscular deve ser realizado por todos e frequentemente, e de uma forma global, ou seja, fazendo uso das técnicas de alongamento em cadeias musculares. Referências ACHOUR, Abdallah Júnior. Exercícios de Alongamento: Anatomia e Fisiologia. 2. ed. Barueri, SP: Manole, 2006. ACHOUR, Abdallah Júnior. Flexibilidade e alongamento: saúde e bem-estar. Barueri, SP: Manole, 2004. ALLSEN, P. E; HARRINSON, J. M; BARBARA, V. Exercício e qualidade de vida: uma abordagem personalizada. 6. ed. São Paulo: Manole, 1999. AMARO, I.M et al, Tempo mínimo necessário para obter ganho de flexibilidade dos músculos isquiotibiais por meio de alongamento ativo. Monografia apresentada ao curso de Fisioterapia das Faculdades Cathedral de Boa Vista-RR, 2007. BANDY, William D.; IRON, Jean M.. The Effect of Time on static stretch on the flexibility of the hamstring muscles. Physical Therapy, v. 74, n. 9, 09/1994. BAGRICHEVSKY, Marcos. O desenvolvimento da flexibilidade: uma análise teórica de mecanismos neurais intervenientes. Revista Virtual EF. Natal – RN, v. 2, n. 20, fev/2005. BERTHERAT, T. O corpo tem suas razões: antiginástica e consciência de si. 13. ed. Tradução: Estela dos Santos Abreu). São Paulo : Martins Fontes, 1987. BEST, T.M. Muscle-tendon injuries in young athletes. Clin Sports Med, v.14, n.3, 1995. BONVICINE, Cristiane et al. Comparação do ganho de flexibilidade isquiotibial com diferentes técnicas de alongamento passivo. Acta. Fisiatra, v.12, n. 2, 2005. BUSQUET, Léopold. As cadeias musculares - volume 2, Lordoses - Cifoses - Escolioses e Deformações Torácicas. 1ª Edição. Edições Busquet, Belo Horizonte, 2001. CABRAL Cristina M. N; YUMI Cintia; SOCCO Isabel C. N, CASAROTTO Raquel A; MARQUES Amélia. .Eficácia de duas técnicas de alongamento muscular no tratamento da síndrome femoropatelar: um estudo comparativo. Fisioterapia e Pesaquisa 2007; 14 (2):48-56 CORBIN, X. B., NOBLE, L. - Flexibility a major component of physical fitness. Journal of Physical Education and Recreation, Washington, v.51, n.6, 1980. DENYS-STRUYF, G. Cadeias musculares e articulares: o método G.D.S. São Paulo: Summus, 1995 DEYNE, Patrick G. Application of passive stretch and its implications for muscle fibers. Physical Therapy, v.81, n.2, February 2001. 17 DÍAZ, E. et al. Métodos de medición de la flexibilidad de isquitibiales: análisis crítica. Kinesiologia, v.71, jun. 2003. FELAND, J. Brent. The effect of Duration of stretching of the hamstring muscle group for increasing range of motion in people aged 65 years or older. Physical Therapy, v. 81, n. 5, May, 2001. FORLÉO, L. H. A. Crianças hipermóveis sofrem no crescimento. Entrevista a Bourbe, Folha de São Paulo, p. 3, 2 de julho, 1995. GAJDOSIK, R. L. Influence of age on length and passive elastic stiffness characteristics of the calf muscle-tendon unit of women. Physical Therapy, v. 79, n. 9, 1999. GARRET, W.E. Jr. Muscle strain injuries: clinical and basic aspects. Med Sci Sports Exerc, v. 22, n. 44, 1990. GRANDI, Leonardo. Comparação de duas “doses” ideais de alongamento. Acta Fisiatra, v. 5, n. 3, 1998. HALL, M. C; BRODY, T. L. Exercícios terapêuticos: na busca da função. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001. HAMILL, J; KNUTZEN, Katheleen M. Bases Biomecânicas do Movimento Humano. 1. ed. São Paulo: Manole, 1999. HARVEY, L. et al. Does stretching induce lasting increases in joint ROM? A systematic review. Physioter Res Int, v. 7, n. 1, 01/2002. KELL, R.T. et al. Musculoskeletal fitness, health outcomes and quality of life. Sports Med, v.31, n. 12, 2001. KENDALL, Florence Peterson. et al. Músculos Provas e Funções. 4 ed. São Paulo: Manole. KISNER, Carolyn; COLBY, Lyann Allen, Exercícios Terapêuticos: fundamentos e técnicas, 4. ed. São Paulo: Manole, 2005. LIANZA, S. Medicina de reabilitação. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001. LORETE, Raphael, Aquecimento e Alongamento, Rio de Janeiro-RJ, 2002. MADDING, S.D. et al. Effects of duration or passive stretching on hip abduction range of motion. J Orthop sports Phys Ther. Baltimore, v. 8, 1987. MAGNUSSON, S.P. et al. A mechanism for altered flexibility in human skeletal muscle. Journal of Physiology, v. 497, n. 1, 1996. MARQUES Amélia P; MENDONÇA Laís. F; COSSERMELLI Wilson. Alongamento muscularem pacientes com fibromialgia a partir de um trabalho de reeducação postural global ( RPG). Comunicação Breve- Concise Report, Ver. Bras Reumalal- VaI. 34 - n 5 - Sel/Oul, 1994. McARDLE, William D.; KATCH, Frank I.; KATCHA, Victor L. Fisiologia do Exercício: energia, nutrição e desempenho humano. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1998. MÉZIÈRES, F. La, Gymnastique statique. Paris: Vuibert, 1947. MOFFAT, M.; VICKERY, S. Manual de manutenção e reeducação postural. São Paulo: Artmed, 2002. 18 MOREIRA, Demóstenes; RUSSO, André Faria. Cinesiologia Clínica e Funcional. 1. ed. São Paulo: Atheneu, 2005. MORENO Marlene A. et al. Efeito de um programa de alongamento muscular pelo método de Reeducação Postural Global sobre a força muscular respiratória e a mobilidade toracoabdominal de homens jovens sedentários. Trabalho realizado no Laboratório de Pesquisa em Fisioterapia Cardiovascular e de Provas Funcionais da Faculdade de Ciências da Saúde – FACIS – da Universidade Metodista de Piracicaba – UNIMEP – Piracicaba (SP) Brasil, J Bras Pneumol. 2007;33(6):679-686. NORDIN, Margareta; FRANKEL, Victor H. Biomecânica Básica do Sistema Musculoesquelético. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003. NORDIN, Margareta; FRANKEL, Victor H. Biomecânica Básica do Sistema Musculoesquelético. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003. PLATE, R.R.M. et al. Physical activity and public health. A recommendation from the centers for disease control and privation and the american college of sports medicine. JAMA, v. 273, n. 5, 1995. POLACHINI, L. O. et al, Estudo comparativo entre três métodos de avaliação do encurtamento de musculatura posterior de coxa, Rev. bras. fisioter. Vol. 9, No. 2 (2005) ROSÁRIO José. L. P. et al. Reeducação postural global e alongamento estático segmentar na melhora da flexibilidade, força muscular e amplitude de movimento: um estudo comparativo. Fisioterapia e Pesquisa 2008; 15(1): 12-8. ROSÁRIO, J.L.R. et al. Aspectos Clínicos do Alongamento: uma revisão de literatura. Revista Brasileira de Fisioterapia, v. 8, n. 1, Jan./Abr. 2004. SHRIER, Ian; GOSSAL, Kav. Myths and truths of Stretching. The Physician and Sportsmedicine, v. 28, n. 8, 08/2000. SHUBACK, B.; HOOPER, J.; SALISBURY, L. A comparision of a self-stretch incorporating proprioceptive neuromuscular facilitation components and a therapist-applied PNF-technique on hamstring flexibility. Physiotherapy, v.20, 2004. SMITH, Laura K. et al. Cinesiologia Clínica de Brunnstrom. 5. ed. São Paulo: Manole, 1997. SOUCHARD, Philippe-Emmanuel e OLLIER, Marc. As escolioses - seu tratamento fisioterapêutico e ortopédico. Editora Realizações, São Paulo, 2001. TAYLOR, D. C.; DALTON, J.D.; SEABER, A.V.; GARRET, W.E. Júnior. Viscoelastic properties of muscle-tendon units. The biomechanical effects of stretching. Am J. Sports Med., v. 18, n. 3, 1990. TRIBASTONE, F. Tratado de exercícios corretivos aplicados a reeducação postural. 1. ed. São Paulo: Manole, 2001. VIVOLO Fernada Z, et al. Alongamento muscular global e segmentar um estudo comparativo em adultos jovens. X Congresso de Biomecânica – Volume 2, 2006.