Centro de Ensino Superior dos Campos Gerais – CESCAGE http://www.cescage.edu.br/midiaecontexto ISSN: / Vol. I nº1 / Jan – Jul / 2014 USO DAS MÍDIAS DIGITAIS COMO FERRAMENTA PARA POSICIONAMENTO E REPOSICIONAMENTO DE MARCA Liziana A. de Freitas¹; Maira C. Zimermann Silveira ² ¹ Centro de Ensino Superior dos Campos Gerais – CESCAGE. ² Centro de Ensino Superior dos Campos Gerais – CESCAGE. Resumo: Este artigo busca, por meio de estudo de caso, exemplificar como as empresas podem utilizar as mídias digitais para influenciar positivamente o posicionamento dessas marcas junto aos seus diferentes públicos de interesse. Com a popularização do acesso à internet as formas de consumo foram modificadas e as empresas precisam ficar atentas ao que os públicos estão comentando sobre as suas marcas nos mais diferentes espaços e, cada vez mais, também nas mídias digitais. Informações erradas, potencializadas pela divulgação na rede mundial de computadores, podem destruir a imagem de uma corporação e provocar danos irreparáveis. Este artigo busca compreender o processo de viralização de um vídeo negativo a respeito da rede de fast-food Spoleto e as estratégias adotadas pela empresa para gerenciar a crise. Palavras-chave: Mídias Digitais, Marketing 3.0, Monitoramento, Gerenciamento de Crise, Posicionamento, Reposicionamento da Marca. USE OF DIGITAL MEDIA AS A TOOL FOR POSITIONING AND BRAND REPOSITIONING ABSTRACT: This article intends, through a case study, to give na example about how the companies can use the digital medias to influence in a positive way the positioning of these marks when it comes to their different targets. With the popularization of the internet access, the consume ways have been modified and the companies have to pay attention in what what their targets are talking about their marks on the different channels and also on the digital medias. Wrong information, if stronger with the disclosing on the world wide web, can destroy the image of a corporation e cause irreparable damage. This article tries to understand the viralization process of a negative video about the fast food company called Spoleto and how strategies was adopted by the company to handle with the crises. Keywords: Digital Media, Marketing Positioning, Brand repositioning. 3.0, Monitoring, Crisis Management, 1 INTRODUÇÃO 12 Centro de Ensino Superior dos Campos Gerais – CESCAGE http://www.cescage.edu.br/midiaecontexto ISSN: / Vol. I nº1 / Jan – Jul / 2014 Uma informação ou notícia publicada na internet pode ser acessada rapidamente por milhões de pessoas de qualquer lugar do mundo. Atualmente, não há critérios muito claros e definidos para que algo seja publicado. Assim, qualquer pessoa pode lançar na rede as informações que desejar. Essa rápida disseminação de algo na rede mundial de computadores pode ser um perigo no âmbito empresarial. As opiniões e avaliações feitas pelos consumidores em relação a produtos e serviços podem ser amplamente divulgadas, principalmente nas mídias digitais, que estão se tornado importantes ferramentas na persuasão de pessoas. As corporações que ignoram esse fenômeno podem entrar em um campo perigoso, perder a credibilidade e manchar, em poucos minutos, uma imagem consolidada de anos. As novas descobertas e avanços tecnológicos tiveram papel fundamental na mudança do comportamento do novo consumidor. Um estudo da Conectmedia, desenvolvido pela área de Learning & Insights, do IBOPE Media, aponta para três formas de consumo: exclusivamente tradicional, apenas digital (online) e tradicional + digital (online). Segundo a pesquisa, o que mais impulsiona as pessoas a esse tipo de consumo é a interação social, pois é possível perceber que a maior parte dos internautas usa a internet para acesso aos e-mails e mídias sociais. A ascensão dessas mídias sociais está totalmente ligada às novas tecnologias. KOTLER (2010) classifica as mídias sociais em colaborativas, que inclui sites como Wikipedia, Rotten Tomatoes e Craiglist; e expressivas, que compreendem os blogs, o Twitter, o Facebook, os sites de compartilhamento de fotos e o Youtube. São as mídias sociais expressivas que compreendem o conteúdo deste trabalho. Para mostrar a importância e os resultados positivos de empresas que souberam contornar a situação depois de uma crise de imagem na internet, este artigo utiliza o caso da rede Spoleto, uma franquia de fast-food de comida italiana que conta com 278 lojas espalhadas pelo Brasil. Em agosto de 2012, o Spoleto enfrentou uma crise de imagem quando um vídeo, produzido pelo canal de humor Porta dos Fundos e publicado no site também 13 Centro de Ensino Superior dos Campos Gerais – CESCAGE http://www.cescage.edu.br/midiaecontexto ISSN: / Vol. I nº1 / Jan – Jul / 2014 de humor Kibe Loco1, fazia criticas ao atendimento oferecido pela franquia. A partir da reação da empresa mediante à situação, outras marcas perceberam uma nova oportunidade de utilizar as mídias digitais a favor de seus produtos. 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 O NOVO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR A cada dia, mais pessoas têm acesso à rede mundial de computadores. Segundo pesquisa divulgada pelo IBOPE Media, o total de pessoas com acesso á internet no Brasil no primeiro trimestre de 2013 chegou a aproximadamente 103 milhões, 9% a mais se comparado com o terceiro trimestre do ano anterior. No Brasil, as mídias digitais campeãs de acesso são o Facebook e Twiter. Segundo dados do Netview, do IBOPE Media, havia 53,5 milhões de usuários ativos de internet no Brasil em janeiro de 2013. Destes, mais de 46 milhões acessam a redes sociais mencionadas, o que representa 86% dos usuários navegando neste período. O valor é 15% maior em relação ao mesmo período de 2012. O aumento da utilização da rede pelas pessoas inspira a atuação das marcas nesse novo espaço. A importância de se estra onde os públicos de interesse estão faz com que as empresas revejam algumas estratégias e procurem atuar também nesses novos mercados. Ao identificar as mudanças de comportamento dos consumidores, pode-se dizer que, ao longo dos anos, o marketing foi evoluindo e se transformando de acordo com o contexto econômico e cultural da sociedade. Dentro das fases pelas quais o marketing passou, é possível afirmar que, atualmente, o mercado vive a era do marketing 3.0. Kotler (2010) defende que a era atual do marketing é voltada para valores, considerando que o consumidor 3.0 não só tem como une mente, coração e espírito quando escolhe um produto, serviço ou marca. 1 O vídeo foi veiculado pela primeira vez em 13 de agosto de 2012, no site de humor Kibe Loco. http://kibeloco.com.br/2012/08/13/porta-dos-fundos-fast-food/) 14 Centro de Ensino Superior dos Campos Gerais – CESCAGE http://www.cescage.edu.br/midiaecontexto ISSN: / Vol. I nº1 / Jan – Jul / 2014 O Marketing 3.0 leva o conceito de marketing à arena das aspirações, valores e espírito humano. O Marketing 3.0 acredita que os consumidores são seres humanos completo, cujas outras necessidades e esperanças jamais devem ser negligenciadas. Desse modo, o Marketing 3.0 complementa o marketing emocional com o marketing do espírito humano. Em épocas de crise econômica global, o Marketing 3.0 adquire relevância ainda maior para a vida dos consumidores, na medida em que são afetados por rápidas mudanças e turbulências nas esferas social, econômica e ambiental. (KOTLER, 2010, p. 05) O Marketing 3.0 colocou as marcas e empresas nas mãos dos consumidores. São eles que se consideram donos do que consomem. Não existe mais a passividade, o consumidor não recebe mais os conteúdos oriundos das empresas em formato engessado e sem possibilidade de interagir, de se manifestar. Esse novo modelo faz com que as empresas tenham que se atualizar e se ajustar à realidade de consumo do século XXI. Para Tavares (2010), o esforço das marcas torna-se ineficiente quando não há a percepção para a mudança: A comunicação de marketing, como vem sendo utilizada por grande pare das empresas, está fadada ao fracasso. A velha propaganda, a mais forte „filha‟ de todas as comunicações de marketing está perdendo forças ao longo dos anos. Os consumidores evoluíram e mudaram seus comportamentos de compra, comunicação, percepção e valores. A propaganda perde credibilidade. Outras velhas e novas técnicas de comunicação vêm adquirindo força em investimentos e retorno para empresas anunciantes. (TAVARES, 2010, p. 83) A partir do poder sobre as marcas adquirido pelos consumidores, as empresas percebem as mídias digitais como um novo canal de relacionamento com os públicos e buscam usar a convergência a favor dos negócios. A cultura das mídias alternativa e corporativa e a interação entre os poderes do produtor de mídia e do consumidor (JENKINS, 2009). A convergência não deve ser tratada somente como uma questão tecnológica. É necessária uma análise mais holística do contexto de mercado e comportamento do consumidor para entender o conceito: A convergência altera a relação entre tecnologias existentes, indústrias, mercados, gêneros e públicos. A convergência letra a lógica pela qual a indústria midiática opera e pela qual os consumidores processam a notícia e o entretenimento. Lembrem-se disso: a convergência refere-se a um processo, não a um ponto final. (...) A convergência não é algo que vai acontecer um dia, quando tivermos banda larga suficiente ou quando descobrirmos a configuração correta dos aparelhos. Prontos ou não, já estamos vivendo numa cultura da convergência (JENKINS, 2009, p. 43) 15 Centro de Ensino Superior dos Campos Gerais – CESCAGE http://www.cescage.edu.br/midiaecontexto ISSN: / Vol. I nº1 / Jan – Jul / 2014 2.2 O NOVO CONSUMIDOR NAS MÍDIAS DIGITAIS Com o poder de fluxo das mídias, os consumidores passam também a ter controle sobre o que querem ou não receber das empresas e marcas e também o controle, mesmo que indireto, sobre o que elas transmitem. São os consumidores que decidem o que e como irá chegar até eles e, a partir disso, disseminam os conteúdos e interagem com outros consumidores. “As promessas desse novo ambiente de mídia provocam expectativas de um fluxo mais livre de ideias e conteúdos. Inspirados por esses ideais, os consumidores estão lutando pelo direito de participar mais plenamente de sua cultura.” (JENKINS, 2009, p. 46) A partir do momento em que acontece a inversão de controle e influência sobre as marcas, tornando os consumidores como grande parte de detentores dessa autoridade, cabe às empresas rapidamente administrar o papel de coadjuvante sobre seus próprios nomes. As equipes, os planejamentos e as estratégias de marketing precisam estar alinhadas e atentas, inclusive, às mudanças contextuais e às eventuais crises de imagem que venham a surgir com a dinâmica e, de certa forma, incontrolável velocidade dos acontecimentos e a repercussão nos meios digitais. Não cabe mais às empresas e marcas decidir se querem ou precisam estar nos meios digitais e fazer uso deles. Não se trata de uma escolha unilateral. A qualquer momento, uma empresa pode transitar, seja de forma positiva ou negativa, pelas ferramentas digitais, pelas mídias sociais ou qualquer outra parte do ambiente online. Isso acontece porque, atualmente, são as pessoas que colocam as empresas na plataforma virtual. São os públicos de interesse que decidem colocá-las na rede. E sem qualquer espécie de consulta prévia. Então, cabe às marcas estarem presentes no ambiente online, mesmo que de forma indireta. Mesmo que a marca não tenha uma política de ações ativa na internet, o mínimo que se recomenda é que façam o monitoramento de seus nomes, produtos, serviços e demais assuntos relacionados à marca. O monitoramento dará suporte às empresas que prefiram o marketing e a comunicação reativos, ou seja, quando uma crise começa a nascer no ambiente 16 Centro de Ensino Superior dos Campos Gerais – CESCAGE http://www.cescage.edu.br/midiaecontexto ISSN: / Vol. I nº1 / Jan – Jul / 2014 virtual, será logo identificada para ser administrada. As empresas que desenvolvem estratégias e contemplam atividades no meio virtual com seus públicos de interesse também terão a possibilidade de reagir rapidamente a problemas, mas terão a vantagem de agir inteligentemente a oportunidades que o meio proporciona. Garfiel (2012) analisa a familiarização das empresas com os meios digitais como meio de sobrevivência. Aliás, para quem quer sobreviver nos meios de comunicação no marketing, na política ou em qualquer outra instituição acostumada a gerir seus assuntos de cima para baixo, esse é o presente. A sobrevivência depende da institucionalização do diálogo com todas as pessoas potencialmente envolvidas na sua atividade e, às vezes, com pessoas completamente estranhas. Esse diálogo serve para sondar o mercado, desenvolver produtos, estabelecer um relacionamento com os clientes, desenvolver a imagem da organização e efetuar as transações propriamente ditas. Este último benefício é especialmente importante, pois a venda de produtos e serviços dá dinheiro. (GARFIELD, 2012, p. 14-15) A necessidade de entender e gerenciar a dissolvição do fluxo vertical e unilateral de produção e disseminação de conteúdo também é abordada no conceito da cultura da convergência, descrita por Henry Jenkins (2009). Para o autor, a convergência corporativa (das empresas) coexiste com a alternativa (dos públicos): Empresas de mídia estão aprendendo a acelerar o fluxo de conteúdo de mídia pelos canais de distribuição para aumentar as oportunidades de lucros, ampliar mercados e consolidar seus compromissos com o público. Consumidores estão aprendendo a utilizar as diferentes tecnologias para terem um controle mais completo sobre o fluxo da mídia e para interagir com outros consumidores. As promessas desse novo ambiente de mídia provocam expectativas de um fluxo mais livre de ideias e conteúdos. Inspirados por esses ideais, os consumidores estão lutando pelo direito de participar mais plenamente de sua cultura. (JENKINS, 2009, p. 46) O rompimento do poder que os profissionais de marketing e publicidade tinham de determinar o que seria consumido pelo público deu espaço à economia do ouvinte, denominada e patenteada por Garfiel de Listenomics. Segundo ele, essa ciência implica em uma política contínua de ouvir e dividir com o consumidor. Está escutando? Lá longe? É uma multidão se juntando - a multidão que você costumava chamar de „audiência‟. Ainda é uma audiência, mas não necessariamente estão escutando você. Estão escutando uns aos outros, ouvindo o que eles próprios têm a dizer sobre você. E estão usando seus produtos, suas marcas, seus logotipos, seus slogans, suas marcas registradas, seus projetos gráficos, sua boa vontade, tudo, como se lhe 17 Centro de Ensino Superior dos Campos Gerais – CESCAGE http://www.cescage.edu.br/midiaecontexto ISSN: / Vol. I nº1 / Jan – Jul / 2014 pertencessem - o que, de certo modo, é verdade, pois não é fato que você gastou anos e anos e trilhões de dólares para convencê-los exatamente disso? Parabéns. Funcionou. (GARFIELD, 2012, p. 19) A transformação no comportamento do consumidor, provocada pelos recursos digitais, também tem modificado a percepção do público sobre a credibilidade do conteúdo oriundo das marcas. As empresas devem se preocupar com a linguagem e o formato do conteúdo a ser disponibilizado para atenuar o máximo possível o rechaço por parte de quem irá receber as informações. Muitas vezes, o assunto toma dimensões muito divergentes da intenção da marca justamente pelo domínio de informação e diálogo entre os próprios consumidores, Adolpho (2012) interpreta essa realidade como o fato do consumidor estar se tornando também fonte de conteúdo e informações verídicas: Por outro lado, o consumidor se torna veículo gerando seu próprio conteúdo, influenciando e divulgando para uma grande quantidade de pessoas seus gostos e opiniões, sejam elas positivas ou negativas. Utiliza a rede mais como ambiente e menos como mídia [...]. Pessoas „consomem‟ pessoas hoje em dia. (ADOLPHO, 2012, p. 200) Para entender o porquê de as pessoas trocarem informações e confiarem mais umas nas outras do que na própria marca, sugere-se fazer um raciocínio simples e se perguntar o que, imparcialmente, é mais confiável: o conteúdo sobre a marca produzido pela própria marca ou a informação vinda de um grande número de pessoas que efetivamente consome tal produto ou serviço? Essa tem sido a linha seguida por autores e estudiosos para compreender e delinear o novo comportamento do consumidor e a nova forma de fazer mídia para o público. Um estudo feito pela Yankelovich, em 2004, nos Estados Unidos, e citado por Garfield, apontou que “65% dos consumidores acreditam piamente em testemunhos de boca a boca - contra 27% que se dizem influenciados pela propaganda” (GARFIELD, 2012, p. 81) 2.3 O POSICIONAMENTO DAS MARCAS E O CONSUMIDOR DA ERA DIGITAL 18 Centro de Ensino Superior dos Campos Gerais – CESCAGE http://www.cescage.edu.br/midiaecontexto ISSN: / Vol. I nº1 / Jan – Jul / 2014 As mídias sociais estão cada vez mais intrínsecas nas organizações, não há mais como se estabelecer estratégias sem levar em conta a modificação que esse meio fez nas relações entre os clientes e as corporações. Com base nos autores citados nesse artigo, sugere-se que as marcas usufruam positivamente do fato do comportamento do consumidor estar pautando o marketing das empresas. É preferível que a preocupação esteja voltada à maneira como as empresas irão lidar com isso, à velocidade de adaptação que os setores e agências de mídia irão se adequar para que o novo modelo seja benéfico às marcas. Jenkins (2009) sugere que as ideias e informações vindas dos consumidores podem ser muito úteis tanto as empresas quanto aos próprios consumidores: Como explica um célebre guia de negócios, “o marketing num mundo interativo é um processo cooperativo, em que o profissional de marketing ajuda o consumidor a comprar, e o consumidor ajuda o profissional de marketing a vender. Essa busca por „consumidores inspiradores‟ está começando a impactar o modo como o público da televisão é avaliado e o modo como os anunciantes pensam a venda de produtos.” (JENKINS, 2009, p. 111) O exemplo citado por Jenkins foi no âmbito televisivo, mas pode ser aplicado a outras mídias e plataformas. Utilizar os consumidores para construir ou melhorar os produtos e serviços das marcas, incute neles o sentimento de pertencer, de fazêlo sentir de que ele está sendo útil para ele mesmo e para aqueles que compartilham do mesmo gosto por determinadas marcas e produtos. Por consequência, isso busca fidelizar, os torna engajados e as marcas passam a vender mais e melhor para aqueles que realmente querem consumir seus produtos ou serviços. Neste aspecto a força de uma marca pode influenciar diretamente na escolha do consumidor. Muitas vezes o conceito que se cria em torno de uma determinada marca é tão forte, que o produto passa a ser conhecido não pela sua denominação, mas pelo nome da marca como os famosos casos como a Maisena (amido de milho), Xerox (fotocópia) e tantas outras. Um longo processo se passa para que a marca se torne tão conhecida a ponto de valer mais do que a própria empresa. As marcas se transformam em grandes patrimônios. O consumidor passa a criar uma identificação com o que aquela marca representa, os vínculos chegam a se tornar emocionais. Mas esse 19 Centro de Ensino Superior dos Campos Gerais – CESCAGE http://www.cescage.edu.br/midiaecontexto ISSN: / Vol. I nº1 / Jan – Jul / 2014 sentimento se consolida por meio de boas experiências que o consumidor tem com a marca, o grau de satisfação ao adquirir o produto ou serviço. De acordo com Talarico (1998) a identificação do público com a marca estabelece vinculo sólido de lealdade. [...] o conjunto de benefícios funcionais e emocionais promovem o diferencial da marca em relação aos concorrentes e os atributos dão suporte e credibilidade aos benefícios oferecidos. Vale ressaltar que a qualidade é um atributo importante associado à marca, que também tem peso na formação da identidade e na percepção de valor. (TALARICO, 1998, p.44) As marcas também precisam ter um posicionamento claro e definido, a principal a ideia que a empresa deseja passar para o consumidor. Para isso a empresa precisa encontrar seu papel na sociedade conhecer seu público alvo, ter um diferencial em relação aos concorrentes e conseguir manter uma identificação com o consumidor. Segundo Kotler (2006, p.321) posicionamento é “o ato de desenvolver a oferta e a imagem da empresa para ocupar um lugar destacado na mente dos clientes-alvo.” Porém, diante de uma crise ou de mudança de perfil do consumidor a empresa muitas vezes precisa passar por um processo de reposicionamento para tentar resgatar a confiança e lealdade do cliente. Para Talarico (1998), acredita-se que existam quatro fases para construir um reposicionamento de uma marca. A primeira seria de planejamento fazendo uma análise interna e externa do ambiente, conhecendo melhor consumidores, concorrência, missão e valores da empresa. A segunda fase passa por um processo de identidade da marca, a terceira fase se dá em avaliar o posicionamento da concorrente e reavaliar preços, na quarta e última fase é necessária a criação de uma eficiente comunicação para inserir esse novo posicionamento adotado pela marca. 2.4 OS INFLUCENCIADORES DIGITAIS Esse ciclo compartilhado e cooperativo facilita a segmentação e otimiza as campanhas e as ações das empresas. GARFIELD (2012) propõe que as marcas 20 Centro de Ensino Superior dos Campos Gerais – CESCAGE http://www.cescage.edu.br/midiaecontexto ISSN: / Vol. I nº1 / Jan – Jul / 2014 busquem, em todo o espaço virtual, onde estão os públicos, os influenciadores, o que publicam, como é a opinião daqueles que interagem com os canais etc., para detectar oportunidades de mercado, de inovação e de atuação: O mais importante é que a oportunidade de angariar ideias verdadeiramente úteis a respeito de sua marca, candidato ou programa político é imensamente mais valiosa que doze imbecis atrás de um vidro espelhado nas entranhas de um shopping center. Além de tudo isso, o volume da informação é alto o suficiente para que a mesma seja entendida como um conjunto de dados com base nos quais você pode agir - ao contrário da papagaiada dos grupos de discussão, que, além de não representar a opinião da população total, às vezes não representa sequer o que aquelas pessoas realmente pensam. Dada a dinâmica natural dos grupos pequenos, o que elas dizem é facilmente influenciado pelo moderador ou pelo maioral entre elas. É óbvio que os posts e comentários em blogs são muito menos sujeitos a esse tipo de contaminação. Assim, a acumulação de buzz lhe permite descobrir coisas a respeito de você e de seu público que provavelmente jamais se revelariam no ambiente fechado da sede da empresa. (GARFIELD, 2012, p. 86) Os influenciadores citados por GARFIELD (2012) têm um papel importante para as marcas na rede e não devem ser subestimados. Ainda não existe um conceito literário definido sobre influenciadores, mas é uma nomenclatura sendo comumente utilizada para caracterizar pessoas ativas na rede que se destacam e têm o poder de influenciar as ideias e ações das outras pessoas que recebem o conteúdo. Foi a partir da ação de influenciadores formadores de opinião que as marcas começaram a ser surpreendidas pela velocidade de disseminação de informações e pela recepção do público, o que as fez repensar as estratégias de atuação no ambiente digital. 2.5 O CASO SPOLETO O exemplo utilizado neste artigo será o caso do Spoleto, rede brasileira de restaurantes de comida italiana no formato fast-food. Um famoso blog de humor brasileiro, chamado Kibe Loco, hospedava um canal de vídeos curtos denominado Porta dos Fundos, que produzia semanalmente vídeos de sátira a situações do dia a dia. Um dos vídeos produzidos foi uma crítica sarcástica sobre o atendimento presenciado nas franquias do restaurante Spoleto. Na produção, um ator representa 21 Centro de Ensino Superior dos Campos Gerais – CESCAGE http://www.cescage.edu.br/midiaecontexto ISSN: / Vol. I nº1 / Jan – Jul / 2014 o atendente apressado, impaciente e grosseiro, enquanto que uma atriz faz o papel do cliente pressionado por ter que decidir logo a refeição que irá pedir. Após rápida disseminação na internet, o vídeo atingiu mais de sete milhões de visualizações por parte do público do blog e foi disseminado rapidamente no Youtube. Essa propagação instantânea e com alto índice de alcance é denominada viralização e “não é uma estratégia; é um acaso feliz” (GARFIELD, 2012, p. 65). A repercussão, em princípio, não pareceu ter sido feliz para a marca, que estava sendo atingida negativamente com vários consumidores endossando a crítica exposta pelo canal. Para o professor de marketing Robert Kozinets, citado por Jenkins, os consumidores passam a fazer suas próprias exigências às empresas: On-line, os consumidores avaliam a qualidade juntos. Discutem padrões de qualidade. Moderando os significados do produto, criam e recriam o conceito da marca, juntos. Indivíduos dão grande importância ao julgamento dos membros da comunidade de consumo. As reações coletivas ajustam a recepção individual das comunicações de marketing. Organizações de consumidores podem fazer, com êxito, exigências que consumidores individuais não podem. (JENKINS apud KOZINETS, 2009, p. 119) E a exigência latente, nesse caso, era a melhoria do serviço. Ao absorver a dimensão que o conteúdo produzido havia tomado - e aqui se evidencia a importância do monitoramento contínuo da marca no ambiente digital -, o Spoleto deparou-se com o desafio de reagir rapidamente para conter o início da crise de imagem que começava a se instaurar. Como descreve Pinho J. B. (2003) os sete primeiros dias de uma crise em uma empresa são os mais difíceis e exigem que os administradores tomem decisões rápidas em meio ao clima de pressão e stress. Segundo exemplo de Wilcox, Ault & Agee (1989), há três posições que a empresa pode tomar para gerenciar uma crise. A primeira, seria negar que existe o problema; a segunda, trata-se da divulgação de informações parciais e tardias de notícias sobre o que está acontecendo com a empresa. Já a última atitude citada, é assumir o problema. A terceira atitude, a mais recomendada, é praticar uma política de comunicação franca e aberta. A empresa mantém a mídia pronta e suficientemente informada dos fatos enquanto providencia uma verificação (ou apuração) mais aprofundada do problema em toda a sua extensão (PINHO. J. B. apud Wilcox, Ault & Agee. 2003. p. 174) 22 Centro de Ensino Superior dos Campos Gerais – CESCAGE http://www.cescage.edu.br/midiaecontexto ISSN: / Vol. I nº1 / Jan – Jul / 2014 A internet pode ser um meio muito interessante para esclarecer o público, pois não á limite de tempo e espaço, o que permite uma divulgação ampla do que está acontecendo. “Nos momentos de crise, o site da empresa costuma ser procurado por seus públicos como uma fonte de informação; portanto deve apresentar dados atualizados e importantes para o esclarecimento dos navegantes” (PINHO. J. B, 2003, p 177). Diante da repercussão do vídeo, que em agosto de 2013, já somava mais de seis milhões de visualizações, a empresa tomou uma atitude surpreendente. A resposta rápida ao público às criticas sofridas utilizou como principal ferramenta o site da empresa. Os mesmo humoristas foram contratados para fazer uma nova versão do vídeo com o mesmo formato e a mesma linguagem. O segundo vídeo produzido pelo canal Porta dos Fundos tinha cerca de três minutos, um pouco mais longo que o primeiro2. Nesta versão, o funcionário irritado é chamado pelo gerente para conversar. Dessa vez, o funcionário está sendo avaliado e reavaliado - para mostrar aos consumidores que a reclamação tinha chegado ao conhecimento da empresa e que providências seriam tomadas para reverter a situação. A marca encerrou o vídeo com a mensagem “Isso nunca deve acontecer, mas de vez em quando foge ao nosso controle” e disponibilizou um e-mail de contato para as reivindicações. Novamente, o vídeo viralizou. A repercussão que esse vídeo teve foi grande da mesma forma que o primeiro. O que significa que usar a mesma linguagem e personagens se mostrou eficiente para atingir o público. A estratégia reativa eficiente resultou, inclusive, em um terceiro vídeo, no qual a marca promovia o lançamento de uma edição limitada da coleção de pratos com layout diferente. 2.6 PORTA DOS FUNDOS E OUTRAS MARCAS 2 O vídeo foi veiculado pela primeira vez em 29 de agosto de 2012, no site do canal do Spoleto no youtube http://www.youtube.com/watch?v=ebe-3s4TLfQ 23 Centro de Ensino Superior dos Campos Gerais – CESCAGE http://www.cescage.edu.br/midiaecontexto ISSN: / Vol. I nº1 / Jan – Jul / 2014 O caso Spoleto reforçou para outras organizações o potencial das mídias digitais para conquistar o público. Neste caso, reconheceu-se o poder de alcance do influenciador Porta dos Fundos. A Revista Exame e o site Adnews noticiaram os nomes das empresas que utilizaram o humor e o alcance do canal para a divulgação de novos produtos. A Lacta contratou a produtora para a divulgação do então novo sabor do chocolate BIS, o BIS Yogo. A campanha só foi divulgada na internet, no canal do Youtube e no portal da Lacta. A Coca-Cola também se aproveitou positivamente de uma sátira feita pelo canal de humor. Em um vídeo que faz alusão aos nomes nas latinhas da Coca Cola Zero, os atores interpretam personagens com nomes ironizados e pouco comuns e satirizam o fato disso ser o principal motivo de não haver latas do produto com os respectivos nomes. Em poucas horas depois, a marca publicou imagens das latinhas com os nomes citados no vídeo. A bandeira de cartões Visa utilizou o Porta dos Fundos na ação que faz parte dos esforços de marketing da empresa para a Copa das Confederações, que aconteceu no Brasil em 2013. A marca contratou o canal para produzir três vídeos que abordavam a preparação para o evento. Durante o período em que a montadora Fiat mantinha o tema liderança como slogan, o elenco do canal de humor foi contratado para uma série desenvolvida pela marca de automóveis, que tratava de temas relacionados ao slogan. Samsung e Dorflex são outros dois exemplos de marcas que aproveitaram o carisma, o humor e a aceitação dos vídeos produzidos pela Porta dos Fundos com os internautas como forma de atingi-los. Em entrevista ao programa Roda Viva, no canal TV Cultura, em 29 de abril de 2013, um dos atores fundadores do Porta dos Fundos esclareceu que o início da utilização do canal como ferramenta de marketing para lançamento de produtos foi mero acaso. Para reforçar que o principal objetivo do canal é o humor, o Porta dos Fundos não disponibiliza os vídeos patrocinados no canal do Youtube, somente nos canais das respectivas marcas contratantes. 24 Centro de Ensino Superior dos Campos Gerais – CESCAGE http://www.cescage.edu.br/midiaecontexto ISSN: / Vol. I nº1 / Jan – Jul / 2014 3 CONCLUSÃO O poder de influência e decisão que os consumidores e internautas dispõem sobre as marcas está cada vez mais evidente. No caso do Spoleto, a empresa conseguiu, de forma estratégica, transformar a crise de imagem em uma oportunidade de reposicionamento de marca com relação ao relacionamento com o consumidor, a partir do momento que se dispôs a demonstrar que as reclamações eram válidas e seriam reparadas. SPENDOLINI (1994, p.10) define benchmarking como “um processo contínuo e sistemático para avaliar produtos, serviços e processos de trabalho de organizações que são reconhecidas como representantes das melhores práticas, com a finalidade de melhoria organizacional”. Inspiradas nessa definição, outras grandes marcas não esperaram a crise de imagem aparecer para utilizarem-se dos formadores de opinião da internet. O monitoramento da marca no ambiente digital foi ponto fundamental para abrir os olhos das organizações às oportunidades em utilizar mídias digitais e os formadores de opinião a favor do posicionamento. No caso Spoleto, a partir do monitoramento, foi possível identificar a visão negativa dos consumidores na rede e traçar estratégias para positivar a crise. O avanço das novas tecnologias, a adesão das mídias digitais por parte dos consumidores e a influência comportamento de consumo disso são nas fatos mudanças irreversíveis. e transformações de Cabe às organizações incorporar as ferramentas digitais nas estratégias de marketing e comunicação de forma séria e planejada. Mesmo com a rápida velocidade de disseminação de informações, um planejamento estratégico que contempla o digital com total importância, permite às marcas evitar deslizes banais, entender melhor o consumidor e reagir rapidamente às possíveis crises. Além disso, as mídias digitais podem ser peças fundamentais na eficácia de ações e campanhas específicas, pois a segmentação e a análise do público e do comportamento dos públicos de interesse podem ser mais e melhor direcionadas. 25 Centro de Ensino Superior dos Campos Gerais – CESCAGE http://www.cescage.edu.br/midiaecontexto ISSN: / Vol. I nº1 / Jan – Jul / 2014 De qualquer forma, é importante que as marcas utilizem as facilidades digitais de forma versátil e criativa para que o formato não se torne desinteressante devido ao grande número de ações feitas a partir da mesma ideia. Nesse caso, o canal de humor. REFERÊNCIAS ARAÚJO, Leonardo. Porta dos Fundos é Destaque em Cannes. Disponível em <http://exame.abril.com.br/marketing/noticias/porta-dos-fundos-e-destaque-emcannes>. Acesso em: 04 de maio de 2013. GARFIELD, Bob. Cenário de Caos: com o colapso da mídia de massa, as empresas só têm uma escolha: ouvir ou quebrar. 1. ed. São Paulo: Cultrix, 2012. HERING, Stephanie. 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