10 CAPA / PATOLOGIA OCULAR Figura 12. Úlcera indolente. Observa-se a filtração de fluoresceína por debaixo do rebordo desprendido. tro. Aminoglicósídeos como a tobramicina ou a gentamicina são eficazes contra bactérias gram negativas. A frequência com que apli‑ camos o tratamento dependerá da gravidade da úlcera, e a aplicação poderá variar de 4 a 24 vezes ao dia no tratamento intensivo para úlceras muito complicadas. Em todos os casos de úlceras complicadas surge uma uveíte associada. Assim, está indi‑ cado o uso de anti­‑inflamatórios não esteroi‑ des e corticoides orais. A aplicação de corti‑ coides tópicos está totalmente contraindicada no tratamento de úlceras corneais devido ao facto de que atrasam a cicatrização e poten‑ ciam a ação das colagenoses. A utilização de cicloplégicos aliviará o espasmo da muscula‑ tura ciliar e evitará a formação de sinequias. Nas úlceras colagenolíticas (melting) apli‑ caremos produtos anticolagenoses para inibir precisamente o seu efeito. Produtos como o soro autólogo, EDTA, tetraciclinas e N­‑acetil‑ cisteína têm um elevado poder anticolageno‑ se. Podem ser aplicados de hora a hora nos casos graves. Nestes casos recomendamos hospitalizar o animal e fazer um acompanha‑ mento da evolução da lesão durante as pri‑ meiras 24 horas de uma forma mais próxima. Se, apesar do tratamento intensivo não se produz uma melhoria da lesão, então reco‑ mendamos um tratamento cirúrgico através da realização de enxertos conjuntivais. Os enxertos conjuntivais têm vantagens, como: suporte tectónico em córneas debili‑ tadas e aporte vascular contínuo com elevado conteúdo em fatores de crescimento e subs‑ tâncias anticolagenose. No nosso hospital, o tratamento cirúrgico mais utilizado nestes casos é o enxerto con‑ juntival pediculado (figura 9). Alguns autores 6 ANIMAL CLÍNICA Figura 13. Aspeto que se observa depois de realizar uma queratotomia punctata. propõem também o uso de biomateriais como a submucosa intestinal suína ou a membrana amniótica, entre outros. Nas úlceras com uma perda maior de 50% da espessura do estroma ou em descemeto‑ celes, está sempre indicado um tratamento cirúrgico devido ao risco de perfuração cor‑ neal que conduz à perda de humor aquoso, prolapso da iris e contaminação da câmara anterior. As técnicas cirúrgicas mais utilizadas são o uso de enxertos conjuntivais pedicula‑ dos, avanços córneo­‑conjuntivais ou quera‑ toplastias lamelares. Para úlceras profundas, utilizamos enxertos conjuntivais pediculados ou avanços córneo­‑conjuntivais, enquanto em úlceras descemetocélicas optamos pela queratoplastia lamelar com córnea congelada (figura 10). As perfurações corneais são consideradas uma urgência oftalmológica (figura 11). A exploração do segmento posterior é difícil. Assim, a avaliação dos reflexos fotopupilar consensual e de deslumbramento dá­‑nos in‑ formação necessária para formular um prog‑ nóstico sobre a integridade e funcionalidade do olho afetado, antes da cirurgia. As úlceras indolentes são defeitos epiteliais que se caracterizam pela não aderência do epitélio ao estroma causado por um defeito na união das células do epitélio basal ao es‑ troma superficial. Surgem principalmente em animais geriátricos e em cães de raça Boxer. São úlceras que não invadem o estroma e, normalmente, não estão associadas a um pro‑ cesso infecioso. Caracterizam­‑se pela presen‑ ça de fluoresceína por baixo do rebordo desprendido e são consideradas úlceras com‑ plicadas dado o seu carácter crónico (figura 12). O tratamento de eleição é cirúrgico e consiste na eliminação do epitélio não aderi‑ do e, criando uma abrasão que facilite a união do epitélio ao estroma. A técnica mais utilizada é a queratotomia em grelha ou punctata. Faz­‑se uma instilação prévia de anestésico tópico e realizamos múl‑ tiplos pontos ou linhas verticais e horizontais no estroma com uma agulha de 25G, confor‑ me o objetivo seja o de fazer uma punctata ou em grelha, respetivamente (figura 13). Atual‑ mente utilizamos o diamond burr, que permi‑ te que as úlceras cicatrizem com uma menor fibrose. De seguida aplicamos um tratamento tópico com antibiótico e um cicloplégico. Aminoglicósídeos como a tobramicina ou a gentamicina são eficazes contra bactérias gram negativas. Conclusão As lesões ulcerativas representam uma per‑ centagem importante relativamente ao con‑ junto das alterações que podem ocorrer na córnea. Se não forem tratadas corretamente, o risco de complicações que podem levar à perda da visão é elevado. Pensamos assim que um bom protocolo de exploração permitir­‑nos­‑á realizar um diagnóstico corre‑ to e aplicar o tratamento mais adequado em cada situação. o Bibliografia disponível em www.argos. grupoasis.com/bibliografias/ulceras171.doc