Caso Clínico - Clínica Médica, Cirúrgica e Terapêutica Clinical Case - Medical, Surgical and Therapy Resumos 7º Simpósio Brasileiro de Hansenologia 7th Brazilian Leprosy Symposium 13 a 16 de novembro de 2013 November 13-16, 2013 Recife - Pernambuco - Brasil ÚLCERAS INDOLENTES: HANSENÍASE COMO DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Andrade, P.J.S.(1); Oliveira, P.C.B.F.(2); Messias, S.S.N.D.(2); Nery, J.A.C.(3); Mestrando, Médico, Instituto Oswaldo Cruz, Fundação Oswaldo Cruz(1) Graduando em Medicina, Universidade Gama Filho(2) Médico dermatologista, Chefe do Ambulatório Souza Araujo, Fundação Oswaldo Cruz(3) Introdução: As úlceras cutâneas podem ser venosas, arteriais, hipertensivas, por pressão, neurotróficas, dentre outras. Doenças de alta prevalência no Brasil, como diabetes e hanseníase, podem provocar úlceras neurotróficas, que possuem características bastante peculiares, tais como bordas circulares, superfície eritematosa, ocorrendo em áreas de alta pressão ou com alteração de sensibilidade. Estima-se que 1,8 milhões de pacientes hansênicos sofram de úlceras plantares no mundo, as quais se originam por ação direta do Mycobacterium leprae sobre os nervos periféricos ou por alteração nas fibras sensitivas, autonômicas e motoras. Relato de caso: Paciente sexo feminino, 61 anos, residente de São João de Meriti-RJ. Alegava há 3 anos “aparecimento de úlceras e dormência nas pernas e braços”. Atendida em 28/08/2012, relatando febre, parestesia, artralgia e dor neural em membros superiores e inferiores. Ao exame, observaramse desabamento de asa da narina direita, madarose bilateral, placas eritematovioláceas disseminadas pelo corpo sendo mais exuberantes em dorso e membros, cianose em extremidades, edema de membros inferiores, úlceras indolentes em região de calcâneo e maléolo lateral esquerdo, fissuras calcaneais em pé esquerdo. Negava comorbidades. No exame histopatológico, detectou-se presença de infiltrado linfohistiocitário composto por macrófagos vacuolados perivascular e perineural; sob a coloração de Wade foi observado BAAR com intensidade de 4+; compatível com hanseníase bordeline lepromatosa. Mitsuda negativo. Índice baciloscópico inicial de 4,25. VDRL e anti-HIV negativos. Grau de incapacidade igual a um. Foi iniciada poliquimioterapia para multibacilar(PQT-MB). Um mês após o início do tratamento, a PQT-MB foi suspensa devido à presença de anemia e hipercalemia(6,2 mEq/l). Posteriormente, em 18/10/2012, foi iniciado o esquema terapêutico alternativo com rifampicina, clofazimina e ofloxacino e sulfato ferroso. No exame neurofisioterápico, no 7ª mês de tratamento, observaram-se presença de dor espontânea intensa, do tipo em pontada, em nervos sural, peroneal e tibial esquerdos; diminuição de força muscular de nervos ulnar e tibial esquerdos; hipoestesia palmares; anestesia plantares e de córnea bilateral. Além disso, a paciente apresentou sinais de insuficiência venosa em membros inferiores e úlceras varicosas em maléolo lateral direito e no tendão calcâneo do pé esquerdo. Através de eletroneuromiografia, identificou-se lesão sensitiva e motora com padrão axonal de membros inferiores e fraqueza do pé esquerdo. Diante do quadro de dor neuropática em membro inferior esquerdo, optou-se por iniciar amitripitilina 25mg/kg/dia. Em 23/09/2013, paciente recebeu alta do tratamento poliquimioterápico com índice baciloscópico final de 3,25. Apresentava lesões cicatriciais antigas em involução e melhora significativa da dor neuropática, porém ainda em tratamento com amitripitilina. Conclusão: A paciente supracitada percorreu ao longo de três anos mais de dez unidades hospitalares, onde foi tratada para doença de etiologia vascular ou, por vezes, para infecção secundária. Apenas quando procurou atendimento especializado em dermatologia foi levantada a suspeita clínica de hanseníase. Tanto na lepra quanto nas outras doenças que afetam a perda de sensibilidade, o aparecimento de úlceras crônicas infectadas podem levar à osteomielite e à amputação de membros. Contudo, é válido ressaltar que profissionais da saúde devem estar preparados para o diagnóstico de úlceras, definindo com exatidão a sua etiologia, pois o tratamento adequado evita sequelas. Palavras-chaves: hanseníase, úlceras, sequelas. Hansen Int. 2013; 38(Supl 1): 154 ISSN: 19825161 (on-line) Hansenologia Internationalis